sábado, 30 de junho de 2012

Charges na rua!


Pra descontrair

EXAME PRÉ-NUPCIAL APÓS 65 ANOS
 
Numa cidade do interior, um casal de noivos de mais de 50 anos vai fazer um exame pré-nupcial, pra verificar se tudo sairá direitinho.
 
Dias depois, ela vai buscar os resultados.
 
A enfermeira lhe entrega um papel onde apenas se lê:  
"APM".
 
... A mulher não entende e a enfermeira explica:
 
- Pode ficar tranqüila.
 
APM quer dizer:
 
"Apta Para o Matrimônio".
 
A noiva fica felicíssima.
 
E pega o resultado do exame do noivo.
 
Nele está escrito:
 
"AAPM".
 
Aí é que ela fica exultante: se com um A só é considerada apta, imagine ele com dois As.
 
Deve ser um fenômeno!
 
Casam. Dez dias depois, a mulher volta ao laboratório, querendo saber porque o marido é um fracasso total na cama, já que é "AAPM" .
 
É aí que a enfermeira explica o que a sigla significa:
 
"Apto Apenas Para Mijar"*

domingo, 24 de junho de 2012

By Latuff #Charge @Operamundi – Com golpe contra Lugo, #Paraguai volta a ser o latifúndio que sempre foi


By Latuff #Charge p/Sisejufe: Rio+20, resumo da ópera


Charges na rua


Dar é dar. Fazer amor é lindo, é sublime...

Luís Fernando Veríssimo

Dar é dar.
 

Fazer amor é lindo, é sublime, é encantador, é esplêndido.
 

Mas dar é bom pra cacete.
 

Dar é aquela coisa que alguém te puxa os cabelos da nuca...
 

Te chama de nomes que eu não escreveria...
 

Não te vira com delicadeza...
 

Não sente vergonha de ritmos animais.
 

Dar é bom.
 

Melhor do que dar, só dar por dar.
 

Dar sem querer casar....
 

Sem querer apresentar pra mãe...
 

Sem querer dar o primeiro abraço no Ano Novo.
 

Dar porque o cara te esquenta a coluna vertebral...
 

Te amolece o gingado...
 

Te molha o instinto.
 

Dar porque a vida é estressante e dar relaxa.
 

Dar porque se você não der para ele hoje, vai dar amanhã, ou depois de amanhã.
 

Tem pessoas que você vai acabar dando, não tem jeito.
 

Dar sem esperar ouvir promessas, sem esperar ouvir carinhos, sem esperar ouvir futuro.
 

Dar é bom, na hora.
 

Durante um mês.
 

Para os mais desavisados, talvez anos.

 

Mas dar é dar demais e ficar vazio.
 

Dar é não ganhar. 
 
É não ganhar um eu te amo baixinho perdido no meio do escuro.
 

É não ganhar uma mão no ombro quando o caos da cidade parece querer te abduzir.
 

É não ter alguém pra querer casar, para apresentar pra mãe, pra dar o primeiro abraço de Ano Novo e pra falar: "Que que cê acha amor?".
 

É não ter companhia garantida para viajar.
 

É não ter para quem ligar quando recebe uma boa notícia.
 

Dar é não querer dormir encaixadinho...
 

É não ter alguém para ouvir seus dengos...
 

Mas dar é inevitável, dê mesmo, dê sempre, dê muito.
 

Mas dê mais ainda, muito mais do que qualquer coisa, uma chance ao amor.
 

Esse sim é o maior tesão.
 

Esse sim relaxa, cura o mau humor, ameniza todas as crises e faz você flutuar
 

Experimente ser amado...

terça-feira, 12 de junho de 2012

A verdade, acima de tudo

Por Lúcio Flávio Pinto em 05/06/2012 na edição 697
Reproduzido do Jornal Pessoal nº 514 # 1ª quinzena/junho 2012; intertítulos do OI
 
 Chico Pinheiro anunciava no Bom Dia, Brasil, o programa matinal da TV Globo, a notícia sobre a instalação da Comissão da Verdade em Brasília, ocorrida no dia anterior, no movimentado maio deste ano. Disse que seriam apurados os atos de violência política durante o regime militar. De imediato fez a correção: durante a ditadura. E seguiu em frente.

Quantas vezes a definição foi usada em qualquer dos veículos das Organizações Roberto Marinho entre a edição do AI-5, no plúmbeo dia 13 de dezembro de 1968, e a posse do primeiro presidente civil, José Sarney, mais de 16 anos depois? Talvez nem uma só. Nenhumazinha. Necas de pitibiriba.


A palavra ditadura estava vetada pelo governo. Mesmo que ele não reprimisse o seu uso, referir-se a ditadura soava como pecado, ato ilegal e iníquo passível da mais drástica punição. Mesmo sussurrando a expressão maldita, dizendo-a ao ouvido do interlocutor, sentia-se o perigo, temia-se pelas consequências. O regime era de terror. O Grande Irmão era quase onisciente e onipresente.

A tradução de Big Brother, expressão extraída da literatura antitirania de George Orwell, ainda não era sacanagem, exibicionismo, narcisismo e mediocridade. Conversão, aliás, que se deve à emissora de televisão do Grande Irmão Roberto Marinho.
 
Ontem e hoje

Se antes era sinônimo de delito, ilícito, pecado e blasfêmia chamar o governo de ditadura, hoje a definição, pela repetição ad nauseam, irrefletida e inconsequente, perdeu a sua carga expressiva, o seu significado heurístico. De elemento escatológico, passou a ser componente aleatório, mero complemento de linguagem. Além de soar falso em muitas das bocas que a pronunciam hoje.

A Globo foi parceira da ditadura até a undécima hora. Gozou de todos os benefícios do regime. Só se dissociou dele no derradeiro momento do seu naufrágio. Mas com tal senso afinado de oportunidade que foi acolhida com saudações e comemorações na nova nau, que passaria a singrar os mares do poder no Brasil. A Globo era um dos salvados do incêndio, no rescaldo de proteção que beneficiaria também José Sarney, Antônio Carlos Magalhães e outros personagens desses tempos de gatos pardos vistos como pretos.

Isso não quer dizer que o companheiro Roberto Marinho fosse um canalha completo. A tipologia cabe apenas no personagem de Nelson Rodrigues, o imaginário e arquetípico Palhares. A trajetória de um homem que assumiu ainda jovem o comando de um novo jornal, que o pai apenas fundara, morrendo logo em seguida, até montar um dos maiores impérios de comunicação do mundo, não é para ser descartada. Nem para ficar nas mãos de um áulico como Pedro Bial, biógrafo medíocre diante da riqueza do tema.
A história de Marinho é fascinante, assim como a de muitos dos capitães da “imprensa sadia”, conforme a expressão irônica que os seus críticos usavam, até os anos 1960 (o fim dessa utilização chegou com a ascensão do regime de exceção – e não foi exatamente por acaso).

Lia empolgado tudo que Gondin da Fonseca escrevia sobre os donos de jornais e sua fauna acompanhante. Gondin foi um dos maiores panfletários da história do jornalismo brasileiro, excluído da memória coletiva dos nossos dias. Mas não fiquei nele nem incorporei a maioria dos seus conceitos. Li tudo que me caiu às mãos sobre a nossa imprensa. Não é muito. Pelo contrário: é quase nada.

Há excelentes trabalhos, como o que Fernando Morais empreendeu sobre Assis Chateaubriand. Li e reli a biografia (Chatô,o rei do Brasil), apesar de volumosa. E mesmo tendo suas centenas de páginas, deixou questões importantes de lado e não respondeu a perguntas que emergem do trabalho. Deviam ter induzido novos livros. Mas o livro de Fernando parece ter saciado a curiosidade nacional.

Contar tudo, mesmo o imoral, é uma necessidade que não impede a compreensão dos personagens e a avaliação do papel que desempenharam. O Brasil constitui uma história da qual só agora os brasileiros se apercebem.

Felizmente se multiplicam os livros sobre temas do passado e de hoje. Inquieta, porém, que essa prodigalidade de resultados se estabeleça sobre uma base mesquinha de dados. Há mais trabalhos de interpretação e reinterpretação, feitos em cima de outros livros, do que de verdadeira revelação.
 
Projeto de civilização

Não se há de esperar sempre novidades e muitas vezes elas deixaram de existir. Mesmo assim é escassa a base documental de tantos livros que inundam a vasqueira rede de livrarias (em número provavelmente inferior ao de editoras).

Não é que os escritores sejam preguiçosos ou negligentes (mas muitos o são): é que os arquivos não se abrem; a pesquisa é dificultada; o governo, principal fonte de informação primária, senta sobre suas jazidas documentais.

A comissão da verdade referida por Chico Pinheiro na sua hesitante locução é absolutamente necessária. Ela poderá abrir arquivos e trazer informações com as quais se haverá de escrever uma história contemporânea mais verdadeira e rica. Mais do que isso: ajudará pessoas vivas a saberem onde foram parar no além – e de que maneira foram parar – seus parentes e amigos desaparecidos.

Um país civilizado se civiliza por conhecer sua história, preparado para encarar os fatos, quais forem, mesmo – e, sobretudo – os desagradáveis, justamente os essenciais para purgar erros e burilar lições. Também se aprimora pelo gesto nobre e profundamente humano de atender os pedidos e cobranças dos cidadãos atingidos pelos braços longos e pesados do poder estatal.

O empresário e político Rubens Paiva é o mais célebre e trágico desaparecido, fato sem explicação (e cova sem sepultura) há quatro longas décadas. Tudo indica que ele foi executado, da forma mais torpe, pelo erro e incompetência dos seus algozes. Mesmo que eles já não possam ser punidos e a punição passe a ser fato secundário, os parentes e amigos de Rubens Paiva tem todo direito de saber como foi o seu fim.

O escritor e jornalista Jason Tércio tentou fornecer essa história completa em livro recente, Segredo de Estado. A falta de dados suficientes para a demonstração o obrigaram a entremear a descrição dos acontecimentos reais com doses de imaginação por ser impossível escrever um verdadeiro livro de jornalismo ou de história.

Esse livro precisa ser escrito. Muitos desses livros precisam ser escritos. Do contrário o Brasil não enterrará todos os seus mortos, as sombras permearão a claridade, o projeto de civilização se frustrará e Chico Pinheiro titubeará entre o regime militar e a ditadura.

Numa democracia, é normal que se chame a ditadura de ditadura. Num país que pretende se consolidar sob democracia, ditaduras não podem vicejar. Têm que ser eliminadas de vez do terreno saudável para que ele fique cada vez mais forte, tornando impossível qualquer tipo de ditadura.

***

[Lúcio Flávio Pinto é jornalista, editor do Jornal Pessoal (Belém, PA)]

Charges na rua


segunda-feira, 11 de junho de 2012

25 anos do assassinato de Paulo Fonteles

11 de Junho: há 25 anos era assassinado o advogado de posseiros do Sul do Pará, Paulo Fonteles

Por Paulo Fonteles Filho
[texto extraído de seu facebook]

No transcurso do vigésimo-quinto aniversário do assassinato do ex-deputado e advogado de posseiros do Sul do Pará, Paulo Fonteles, ocorrido em 11 de Junho de 1987 é, mais do que nunca, necessário avaliar suas ideias e legado para atual fase da luta pela terra no Brasil. E isso num momento de franca expansão do agronegócio, particularmente na Amazônia, e a odiosa tentativa de criminalização dos movimentos sociais brasileiros, praticada pela grande mídia e reacionários de todas as espécies.

A vida de combates de Paulo Fonteles atravessou mais de três décadas de profundo compromisso com questões concernentes aos temas mais urgentes da nação brasileira, como a democracia, as liberdades políticas, a reforma agrária e o socialismo.

A saga daquele que seria uma das mais contundentes vozes da luta contra o latifúndio iniciou a atividade política quando o Brasil estava encarcerado pela quartelada de 31 de Março de 1964, que submeteu o país a infame ditadura e a submissão aos interesses externos, notadamente estadunidenses.

Como muitos jovens de sua geração, iniciou sua militância no ambiente da igreja católica, quando a juventude do Brasil e do mundo dava passos insurgentes naqueles longínquos anos de 1968, sobre os quais Zuenir Ventura nos ensina que jamais acabaram, porque fora um marco, verdadeiro divisor de águas e ainda é referência tanto na cultura, no comportamento quanto na política, pelo que introduziu na vida brasileira. Eram os generosos anos das figuras heroicas de Che Guevara; da passeata dos 100 mil a enfrentar a dura ditadura, hasteando o sangue paraense do estudante Edson Luís, assassinado pela repressão no restaurante Calabouço, como uma emergência para mudar os destinos nacionais, através de um poderoso movimento de massas.

Vozes que ecoavam no mundo - Eram tempos da rebelião juvenil francesa e da primavera de Praga; de mudanças tecnológicas e da incerteza da guerra fria; da guerra do Vietña; da estreia na Broadway do musical "Hair"; do lançamento do "Álbum Branco" dos Beatles; do acirramento da luta pelos direitos civis nos Estados Unidos; do assassinato de Martin Luther King; e do engendramento do Apartheid na África do Sul. As mulheres, historicamente, proibidas de atuar na vida pública queimaram sutiãs e a juventude passou a ter, na sociedade, uma presença social autônoma. No Brasil de 1968, Chico Buarque estreia "Roda-Viva" e logo os artistas da peça sofrem atentado patrocinado pelo Comando de Caça aos Comunistas (CCC); Caetano Veloso e Gilberto Gil lançam o manifesto onde apresentam a "Tropicália"; do contundente discurso do jornalista Márcio Moreira Alves contra a ditadura, estopim para o Ato Institucional 5 (AI-5). É por essa época que o General Costa e Silva promove torpe censura contra o cinema e o teatro e é criado o Conselho Superior de Censura.

O jovem Paulo Fonteles tomou parte nas manifestações que eclodiram naquele período. A cidade de Belém, por ser terra de legado cabano, não poderia ficar de fora. Sua referência era a necessidade de derrubar os direitistas de fardas instalados no poder, na qual a juventude brasileira ganhou pessoa e postura. Militando na Ação Popular Marxista-Leninista (APML) e disposto a radicalizar, muda-se com a mulher Hecilda Veiga para Brasília.

Estudante do curso de História da UNB e professor de cursinho, adquire o codinome de "Peixoto" e é um dos principais dirigentes da juventude universitária da APML, o que o levou, junto com a esposa, grávida, em outubro de 1971, a conhecer toda selvageria e barbárie da repressão política quando fora preso e severamente torturado. Seus relatos daquele período, pela força da sua poesia, revelam a permanente luta pela vida na forma da denúncia da bestialidade dos torturadores que alcunhava como "cães febrentos". Ali, no famigerado Pelotão de Investigações Criminais (PIC), um dos maiores centros de tortura do país, onde os algozes foram adestrados pela Escola do Panamá, de inspiração norte-americana, tomou, a partir do contato com camponeses presos na guerrilha do Araguaia, a decisão de ingressar, mesmo no calvário dos porões, no Partido Comunista do Brasil.

Em Brasília, militou com Honestino Guimarães, contribuiu para fortalecer a União Nacional dos Estudantes (UNE) e, na prisão, conheceu o campesino Zé Porfírio, líder de Trombas e Formoso.
Enquadrado pelo 477, terrível instituto criado pelo coronel Jarbas Passarinho, então Ministro da Educação, que proibia estudantes insubmissos de retornarem aos estudos por três anos depois de presos, Paulo Fonteles vai trabalhar nas fazendas dos irmãos e, ao cumprir tal período e sem nenhuma vocação para capataz, retorna à universidade e, concomitantemente, para a luta popular.
Formado em Direito pela UFPA, vai, a convite do poeta Rui Barata, ter seu primeiro teste na defesa dos camponeses envolvidos na luta da Fazenda Capaz. Aquele convite marcaria, dali para frente, sua opção e militância.
 
Fundação da SDDH - É por esse tempo que, junto com outros companheiros, como Iza e Humberto Cunha, Hecilda Veiga, Paulo Roberto Ferreira, Jaime Teixeira, João Marques, Egidio Salles Filho, Rui Barata, Luís Maklouf de Carvalho e tantos outros organizam a Sociedade Paraense de Defesa dos Direitos Humanos e lança, naquele período, o Jornal "Resistência", verdadeiro ícone da imprensa de combate à ditadura militar. É uma pena que, na historiografia brasileira, quando tratam da imprensa alternativa, o "Resistência" não tenha tido até hoje o reconhecimento merecido, pela ousadia da linha editorial e formato diferente de tudo que havia na época.

Paulo Fonteles é eleito o primeiro presidente da SPDDH e nesse ambiente se coloca à disposição da Comissão Pastoral da Terra (CPT) para advogar para os camponeses do Sul do Pará.
Frei Ivo me disse, quando o conheci, há alguns anos em Belém, que, na época, a CPT havia convidado vários advogados para a tarefa e apenas o advogado comunista havia topado o desafio, contando com a ajuda, sempre generosa do amigo, também advogado Egidio Salles Filho, no sentido de resolver intrincados processos, onde tudo conspirava contra o interesse camponês, desde o Judiciário, marcado pelo interesses dos poderosos até a Polícia, que "jagunçava" para os donos das grandes extensões de terra. Em grande parte, a sua decisão fora tomada pela experiência da Fazenda Capaz e a comovente relação estabelecida com os camponeses e a dura realidade encontrada, como também pela enorme curiosidade de saber dos acontecimentos da Guerrilha do Araguaia.

Todo esse ambiente do final da década de 70 fora de muita luta e, no mesmo momento em que os operários paralisavam no ABC paulista, que revelou para a cena brasileira o metalúrgico Luís Inácio Lula da Silva, os camponeses dos sertões paraenses ocupavam 250 mil hectares de terras no Baixo-Araguaia, numa verdadeira guerra de guerrilhas contra o poderio dos latifundiários.

Esse momento foi de militarização da política fundiária, com o engendramento do Grupo Executivo Araguaia-Tocantins (Getat), que, a bem da verdade, estava ali por conta dos vultosos e alienígenas projetos para a Amazônia, no sentido de conter a luta dos lavradores. Porque tanto naquela época quanto na atualidade os trabalhadores do campo sempre ofereceram destemida oposição à entrega das riquezas nacionais.

Enfrentando o poder dos coronéis das oligarquias rurais, Paulo Fonteles logo é reconhecido pelos homens e mulheres simples do campo e por eles é carinhosamente chamado de “advogado-do-mato”.
Nesse momento, seu nome começa a figurar nas tenebrosas listas de marcados para morrer, muito em função de sua atuação como advogado da oposição sindical nas contendas contra o pelego Bertoldo, preposto dos militares na luta para retomar para as mãos dos lavradores o Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Conceição do Araguaia. Naquela época, tal município englobava Rio Maria, Xinguara e Redenção.

A chapa de Bertoldo era apoiada abertamente por gente de triste estirpe, como os famigerados Major Curió e o Ministro Jarbas Passarinho. Todos os instrumentos repressivos do regime atuaram para derrotar a oposição e até a Rádio Nacional de Brasília fazia campanha para os caudatários do militarismo.
Nesse contencioso, é assassinado Raimundo Ferreira Lima, o "Gringo". O candidato à presidência da oposição sindical fora a primeira liderança camponesa assassinada no Sul do Pará, quando retornava de longa viagem - percorreu o país amealhando apoio político e financeiro para o contencioso eleitoral. A oposição vence os caudatários do regime e a eleição é empastelada pelo Ministério do Trabalho.
Daquela chapa, de 1980, participaram ainda João Canuto de Oliveira, Belchior e Expedito Ribeiro de Souza, além de Paulo Fonteles e todos, sem exceção, foram mortos pelo latifúndio nos anos que iriam se seguir.

É também neste período que procura sistematizar os acontecimentos dos combates da Guerrilha do Araguaia e certamente foi seu primeiro pesquisador. Conhece gente como o "Velho Doza", antigo militante das Ligas Camponesas. Fora citado como exemplo de combatividade e inteligência no livro de memórias de Gregório Bezerra, publicado em 1947. Militante comunista, Bezerra fora eleito em 1946 Deputado Federal Constituinte na lendária bancada do Partido Comunista do Brasil, que contava com Luís Carlos Prestes, primeiro senador eleito pelo PC, além de figuras legendárias como João Amazonas, Maurício Grabois, Carlos Marighela, Jorge Amado, dentre outras. Conhece, também, Amaro Lins, ligado às Forças Guerrilheiras do Araguaia.

Cumpre importante papel de advogado de familiares de mortos e desaparecidos que, em histórica caravana, percorrem a região por mais de dez dias, em fins de 1980. Tal caravana é um marco da luta dos direitos humanos no Brasil. Dessa atividade escreve um conjunto de artigos para a "Tribuna da Luta Operária", onde afirma que, no Araguaia, a luta fora de massas, tomando a posição contrária de que, nas matas da Amazônia, a mais contundente oposição ao regime militar teria sido um "foco" que, na linguagem política, é o mesmo que atuar sem o povo, como uma espécie de seita. Compreendeu, como poucos, que a luta é um problema científico, do ponto de vista de entender as necessidades populares.

Trajetória parlamentar - Em 1982, é eleito Deputado Estadual sob a consigna de "Terra, Trabalho e Independência Nacional" e no curso de sua atuação parlamentar é constantemente ameaçado e, por diversas vezes, denuncia da tribuna da Assembleia Legislativa do Pará as macabras listas de marcados para morrer, onde figurava. Em 1985, um Coronel do Exército e latifundiário, Eddie Castor da Nóbrega, anuncia, num dos principais jornais paraenses, que iria atentar contra a vida do então Deputado. Fonteles, no mesmo jornal, responde que "se um Coronel tem a ousadia de ameaçar de morte um Deputado abertamente, o que este senhor não faz com os trabalhadores rurais de sua fazenda", concluiu.
Um dos aspectos de sua passagem pelo parlamento fora a denúncia contra a ditadura militar e a necessidade histórica de passarmos para um regime democrático, onde as liberdades políticas pudessem estar asseguradas no altar da vida pública brasileira.

Denunciava, também, o entreguismo do governo militar com sua subserviência aos poderosos internacionais e os projetos do imperialismo para a Amazônia. Atuava com um pé no Plenário e outro nas ruas, aliado não apenas dos camponeses, mas também da juventude e dos trabalhadores urbanos.

Na luta de ideias, fazia fogo contra o revisionismo contemporâneo soviético da era Gorbachev e afirmava que a Revolução Bolchevista de 1917 havia sofrido um duro golpe "por dentro" e que logo o regime da Perestroika iria agudizar o fim da experiência socialista, o que seria uma histórica derrota para povos e para toda a humanidade. Afinal, o fim da Rússia socialista marcou o início de uma Nova Ordem Mundial que, através do malsinado "Consenso de Washington", engendrou tempos neoliberais de profunda ofensiva do capital contra o mundo do trabalho. A vitória do pensamento dos grandes financistas construiu uma realidade mundial belicista, unipolar e cada vez mais vai revelando, na atualidade, o caráter sistêmico da crise do capitalismo que, nos dias atuais, enfrenta profunda deterioração.

Em 1986, é candidato à Deputado Federal Constituinte, porém não conseguiu êxito eleitoral. Fora do parlamento, cria o Centro de Apoio ao Trabalhador Rural e Urbano (CEATRU) e apoia, como advogado, a luta contra os pelegos no Sindicato dos Trabalhadores da Construção Civil, que baniu o interesse patronal do seio do sindicato e da categoria.

Em 11 de Junho de 1987, todas as ameaças se confirmam e, no final da manhã daquele dia, é assassinado, à mando da União Democrática Ruralista (UDR), na região metropolitana de Belém. A ação que atentou contra a vida de Paulo Fonteles ocorreu no mesmo momento em que se votava, no âmbito da constituinte, o capítulo da terra.

Os latifundiários, para obter êxito nesse contencioso, utilizaram a tática de comprar parlamentares, um deles, paraense, até então comprometido com a questão da reforma agrária, sumiu misteriosamente da votação.

Outro aspecto da agenda política dos donos do poder no campo era intimidar o movimento camponês através da covardia da pistolagem e o alvo fora uma das mais combativas lideranças. Paulo Fonteles fora o escolhido. Tanto que seu desaparecimento mereceu a atenção de dirigentes nacionais da UDR, como o do funesto Ronaldo Caiado, que, indiretamente, pelo fato de presidir tão demoníaca organização, deve ter tido, pelo controle estabelecido, relação com os mandantes do tão sórdido acontecimento.

Tramada na Fazenda Bamerindus, hoje chamada de "Palmares", porque fora ocupada pelo MST, entre Xinguara e Parauapebas, a ação que vitimou tão brilhante vida teve como intermediário e executores gente do antigo regime que veio para a Amazônia organizar milícias, no sentido de proteger a grande propriedade rural da "ameaça" camponesa. O fato é que os latifundiários instalados na Amazônia utilizaram largamente, com a derrota do regime, de gente do SIN, que promoveu uma espécie de "diáspora" para o norte do Brasil. Esse é o caso, por exemplo, de James Vita Lopes, julgado e condenado como intermediário da ação que vitimou Fonteles e que pertenceu aos quadros da Operação Bandeirantes, de São Paulo, como também do Serviço Nacional de Informações (SNI).

Ciclo de violência e impunidade - Até hoje os mandantes do assassinato de Paulo Fonteles não foram levados a julgamento e, como centenas de casos da pistolagem perpetradas pelo latifúndio, seu crime permanece impune, o que revela o caráter do judiciário paraense e brasileiro.

Mais do que nunca, diante do recrudescimento da violência do latifúndio, as forças vivas da sociedade paraense e brasileira devem travar o combate contra a impunidade e criar ambiente propício, mesmo com o recalcitrante judiciário local, para punir os históricos crimes do latifúndio e passar à ofensiva na luta contra os violentos que tudo resolvem na intimidação e na liquidação física de lideranças camponesas e seus apoiadores. Uma das importantes saídas para a impunidade é a federalização dos crimes praticados pelos poderosos do campo.

O advogado comunista Paulo Fonteles era um homem de partido e suas ideias continuam atuais, porque a luta pela reforma agrária e pelo socialismo são absolutamente atuais, desta quadra histórica, deste momento brasileiro que, mais do que nunca, é preciso exemplos para reforçar o caráter das mudanças para o desenvolvimento, com valorização do mundo do trabalho para o futuro de progresso social da nação brasileira.

Sua vida de combates continua inspirando até os nossos dias a luta histórica dos trabalhadores no sentido de sua emancipação social.

quinta-feira, 7 de junho de 2012

MSG P/ VC

Meu interesse pelo internetês surgiu pela observação da maneira como um amigo despedia-se nos e-mails: abs, Fulano de tal. No início imaginei tratar-se de uma piada cifrada.  O brincalhão, na minha suposição, usava a referencia de um conhecido sistema de freios para avisar que sua missiva parava por ali. Logo depois entendi que tratava-se da forma internética da palavra abraço. Esse é o problema do semiologista. Nunca pensamos no significado mais evidente. Temos essa mania de especular. 

É o que eu chamo de encher linguística.

Esse simples episódio despertou minha curiosidade pela língua praticada nos chats, sms e e-mails. Recolhi farto material e pus-me a estudar, como um filólogo do presente,
a fim de estar apto a decifrar diálogos como esse:

-Blz?

-Blz

-Qq to aki

-Tb

-Vqv

-Tks

-Bjs

-Bjs

-Sdss

- :-)

Pessoas com mais de 154 anos como eu, têm sérias dificuldades com essa contrações
e abreviaturas. Por isso, peço licença aos mais jovens, fluentes no idioma, para traduzir aqui esse pequeno recorte de uma troca de sms(s).

- Está tudo beleza com você?

- Sim, está tudo beleza comigo.

- Qualquer urgência ou problema, estou disponível. Não hesite em chamar-me.

- Eu também estou disponível, caso você necessite de algo.

- Vamos que vamos, nesse ritmo e com otimismo.

- Muito obrigado em inglês.

- Beijos

- Beijos

-Tenho saudades de você.

- Essa declaração me faz sorrir.

Os guardiões da norma culta torcem o nariz para essas transformações.

Outros acreditam que esses modernos hieróglifos caminham a passos largos para a consagração do uso, botando fim a uma longa ditadura da palavra. E logo, logo serão candidatos à norma formal. De minha parte, tenho uma opinião bem definida.

Eu penso que \o/.

Retirado do Blog do Sausurre

Por que é que a gente é assim?

É na Escola de Engenharia que começa a ser destruída a nossa auto-estima. É na Escola de Engenharia que começa a ser forjado o nosso comportamento autodestrutivo, nosso desprezo pelos valores da própria profissão, nosso desgosto com a nossa própria atividade profissional. É na Escola de Engenharia que nasce a nossa falta de coragem empresarial e essa submissão inaceitável aos caprichos dos clientes.

Engenheiros, Médicos, Arquitetos, Advogados, Agrônomos, Dentistas...
Uma coisa leva à outra: toda vez que, numa conversa qualquer, o assunto “comportamento no mercado” vem à tona acabamos caindo nas inevitáveis comparações de engenheiros, arquitetos e agrônomos com médicos, dentistas e advogados...

Quando me perguntam o que eu acho disso (dessa comparação de profissionais tão diferentes) respondo sempre a mesma coisa: acho que essa comparação é JUSTÍSSIMA.

Se eu, engenheiro, por qualquer motivo, tiver de ser comparado com outros profissionais, acho muito justo que seja com médicos, com dentistas ou com advogados. Afinal temos muito mais coisas em comum do que diferenças. Somos todos prestadores de serviços. Nosso produto (nosso serviço) é altamente especializado e todas essas atividades demandam profissionais com capacidade intelectual diferenciada. Ninguém chega a ser médico, advogado, dentista, agrônomo, arquiteto ou engenheiro apenas por ter um belo par de olhos, uma voz doce, algum dinheiro no banco ou um padrinho influente... A conquista de qualquer um desses títulos demanda qualidades e habilidades especiais, muito estudo e empenho (às vezes até muitos sacrifícios).

Temos, é verdade, muitas semelhanças, quando a comparação é feita no nível da qualificação. Porém, no exercício das profissões e no comportamento empresarial de cada grupo as diferenças aparecem e são enormes. Neste texto concentramos nossas reflexões sobre a formação dos profissionais de Engenharia. No entanto, nossa experiência e a convivência com milhares de arquitetos e agrônomos dos mais distantes lugares do Brasil nos permitem acreditar que os conceitos podem se estender sem problemas também para esses profissionais. Voltemos no tempo.

Voltemos ao tempo em que essa pessoa (que hoje é um engenheiro) tinha seus quinze, dezesseis anos, um ou dois anos antes do vestibular. Esse moço ou essa moça é, muito provavelmente, um dos melhores alunos da sua sala (talvez da escola). É um expoente estudantil, requisitado pelos colegas, elogiado pelos professores, respeitado pelos pais (de quem é motivo de muito orgulho) valorizado pelos parentes, pelos vizinhos, admirado pelas garotas (ou garotos).

Comparemos nosso amiguinho com o estudante de quinze ou dezesseis anos que virá a ser médico, dentista ou advogado.

Veremos quase nenhuma diferença.

É isso mesmo. Na origem, são todos iguais. Têm o mesmo perfil, a mesma história, o mesmo rendimento. Todos são brilhantes e bem sucedidos.

Vem o vestibular. Ingressa, cada qual, na faculdade que escolheu... E é aí que as diferenças começam a aparecer. Os estudantes de medicina e de odontologia são enquadrados em um ambiente novo, com pessoas que se vestem de uma maneira diferente, se comportam de uma maneira diferente e que estabelecem uma identidade visual (e, por decorrência, uma identidade psicológica) com a atividade profissional que irão exercer alguns anos depois.

Os estudantes de direito, já nos primeiros meses de escola convivem com professores que vêm para as aulas de terno, gravata, sapato social, barba feita ou bem cuidada. E o mais interessante: aqueles senhores e senhoras respeitáveis, bem vestidos e de fina educação (os professores), tratam os seus alunos por “senhor” ou “senhora”, com toda a fineza e educação que a prática profissional recomenda. E estimulam seus alunos a acreditar e se convencerem de que são superiores. Que estão se preparando para “falar com o Estado” (privilégio que não é concedido a nenhum outro profissional...). Enfim, aprendem que precisam respeitar os outros, mas aprendem, antes de tudo, que precisam exigir respeito para si.

Nos últimos anos de faculdade, estudantes de odontologia e medicina já se vestem como se médicos ou dentistas fossem. Freqüentam clínicas e atuam como profissionais na área da saúde. Assumem, enfim, um ou dois anos antes de terminada a faculdade, todo um comportamento típico de médico. De dentista.

Os estudantes de Direito, por sua vez, a partir da Segunda metade do curso, já se vestem como advogados (roupa social, sapato, eventualmente gravata e um terno ou blazer...). Mantém com os seus professores e com os seus colegas um comportamento e um vocabulário apropriados para as lides jurídicas. E, o mais importante: são tratados, pelos seus professores, como Doutor. (Dr. Fulano, termine seu relatório até a próxima aula. Dr. Sicrano, esteja preparado para a prova final, na sexta-feira.). Apesar de ainda não terem concluído o curso.

Os estudantes de engenharia, ao contrário, a partir do início do curso, a única diferença que eles conseguem perceber na faculdade, em relação ao ensino médio é o grau de dificuldade (que simplesmente quintuplica!).

Não existe nenhum estímulo a um comportamento novo, nenhuma referência, um exemplo positivo de comportamento. Nenhuma motivação para um desenvolvimento psicológico alternativo. Nenhum elemento que interfira na formação do profissional do ponto de vista da sua imagem física composta de aspectos visuais e comportamentais. A vida social, no ambiente da faculdade, é muito restrita, quando não inexistente.

Além do mais, a faculdade entra na vida desses jovens como um elemento de ruptura. Os alunos são colocados em uma condição a que eles não estavam acostumados. Estavam acostumados a tirar notas máximas com a maior facilidade e, de repente, passam a sofrer e ter grandes dificuldades para obter notas mínimas ou médias. Deixam de ser respeitados pelos seus professores que se tornam distantes e autoritários e perdem a admiração dos colegas que estão todos desesperados tentando se salvar de uma coisa que ainda não estão entendendo direito.

Não que as faculdades de medicina, direito ou odontologia sejam fáceis. Ocorre que lá os estudantes têm compensações psicológicas que os estudantes de engenharia não têm. Essas faculdades, por diversos mecanismos, inexistentes nas escolas de engenharia, dão continuidade ao amadurecimento psicológico e social do futuro profissional. E, com isto, mantêm em alta a motivação e auto-estima dos seus estudantes.

Na engenharia não existe nenhum processo de acompanhamento psicológico para aquele estudante desesperado que teve a sua carreira de sucesso estudantil subitamente interrompida (mesmo os alunos que continuam conquistando notas altas, acabam sentindo a falta do aplauso dos colegas, do respeito dos professores e da admiração coletiva). E não existe ninguém para explicar o que está acontecendo. Ninguém para dizer a este estudante que ele não é tão inepto ou incapaz como, algumas vezes os professores parecem querer provar.

É quase geral, por parte dos professores, nas escolas de engenharia, a manifestação desnecessária de superioridade intelectual, o exercício gratuito de poder e o terrorismo psicológico.

E o estudante, que entrou na faculdade no auge positivo da auto-estima, vai recebendo, ao longo de cinco anos, das mais variadas formas, uma única mensagem: “Você não é tão bom quanto você pensava que fosse !”.

Ao contrário dos estudantes de direito, medicina ou odontologia, que têm como professores, profissionais que atuam no dia-a-dia de suas atividades, os estudantes de engenharia passam cinco anos submetidos aos rigores (e, em alguns casos, caprichos) de engenheiros que não atuam, profissionalmente, como engenheiros e sim como professores, e que, portanto, não têm a vivência da atividade profissional e não têm a ciência ou a consciência das relações comerciais que vão definir o sucesso ou o fracasso dos profissionais que eles estão formando.

Como resultado disso, ao final de cinco anos, o estudante de engenharia se transforma em um engenheiro. E este engenheiro é completamente desprovido de auto-estima, de respeito próprio, de prazer profissional ou de consciência de mercado. Na metade do último semestre da faculdade, dois meses antes de receber o diploma e ser entregue aos leões do mercado, o estudante de engenharia ainda é tratado como mero es-tu-dan-te.

Em momento algum, durante a faculdade, o estudante de engenharia é tratado como engenheiro, em momento algum, durante esses cinco anos, a escola propicia a percepção da mudança de condição de estudante para a condição de profissional.

Estudantes de direito, medicina e odontologia, ao contrário, muito antes do fim da faculdade já têm uma noção razoavelmente clara das dificuldades do exercício profissional que eles irão enfrentar. Com isso vão desenvolvendo mecanismos psicológicos de defesa e saem da faculdade com maior grau de segurança. Entram no mercado profissional de cabeça erguida, com uma consciência de valor. E com todo o processo de construção da imagem profissional em andamento. Estudantes de engenharia não são estimulados a se vestir bem, nem a ter preocupações com técnicas de comunicação ou relacionamento social ou de exercício intelectual não linear. Com isso acabam não desenvolvendo habilidades gerenciais ou de relacionamento com o mercado.

Esta é uma das razões pelas quais as organizações de engenharia são, quase sempre, extremamente burocráticas e conservadoras.

Engenheiros (ao contrário de advogados, médicos e dentistas) não comandam seu ambiente de trabalho. Por mais que detenham o conhecimento e a técnica, os engenheiros são, via de regra, pouco influentes em relação ao produto final, seja uma construção, uma instalação, um empreendimento complexo ou um processo produtivo.

O mais lamentável é que os engenheiros, via de regra, só vão perceber os resultados da negligência com a imagem física, a comunicação não-verbal e o comportamento no mercado, depois de já terem acumulado muitas perdas desnecessárias (algumas das quais, infelizmente, irreversíveis).

E qual é a utilidade desse discurso? Qual a importância de se colocar este tema no papel? Porque tornar pública esta opinião, que, com certeza aborrecerá alguns segmentos? Ninguém é ingênuo a ponto de acreditar que a simples leitura deste ensaio leve um diretor de escola de engenharia, um professor, um estudante ou um profissional de engenharia a alterar o seu comportamento. O que se espera é que essas pessoas, a quem o texto é dedicado, tenham um momento de reflexão. E que a esse momento de reflexão se siga uma atitude. E que essa atitude tenha como objetivo dar um futuro melhor para a engenharia no Brasil.

A engenharia depende dos engenheiros. E os engenheiros começam a ser formados aos quinze ou dezesseis anos, ainda no ensino médio.

Eu ainda acho, como sempre achei, que o conhecimento científico que é transmitido aos estudantes durante a faculdade de engenharia é fundamental. E que o valor da engenharia está sustentado na capacidade intelectual e técnica dos seus profissionais.

No entanto, vejo como importantíssima uma nova visão, nesse processo de formação do engenheiro, que leve em consideração todo o relacionamento social dos estudantes entre si e com os seus professores. É importante que, aos estudantes, seja transmitida uma visão mais clara das relações comerciais que eles enfrentarão na vida profissional, seja na condição de profissionais autônomos, empresários ou empregados em alguma empresa.

Em qualquer um desses casos as relações sociais são elementos definitivos para o sucesso. É um “detalhe” que faz toda a diferença.

O estudante chega ao curso de Engenharia cheio de sonhos com a auto-estima elevada, transpirando confiança e auto-respeito. É muito triste que, dez ou quinze anos depois esse potencial tenha se transformado em um sujeito cabisbaixo, sem consciência de valor, destituído de auto-estima e respeito próprio. Abrindo mão da sua natural vocação de agente do desenvolvimento para ser mero instrumento de trabalho para terceiros.

Na Escola de Engenharia o engenheiro precisa ser “construído” para ser um vencedor. Precisa ser estimulado a acreditar no seu potencial. Confiar na sua inteligência. E, acima de tudo, precisa aprender a importância de manter a cabeça erguida.


quarta-feira, 6 de junho de 2012

sexta-feira, 1 de junho de 2012