segunda-feira, 29 de outubro de 2012

By Latuff


A valorização da virgindade

 

Segundo o psicologista Paul Bloom, nascido em 1963, e autor do livro How Pleasure Works, o termo virgindade aparece, nada menos, do que setecentas vezes, no Antigo Testamento, e ocupa lugar ainda mais central no Cristianismo, com o suposto nascimento virginal de Jesus.
Não cabendo ao cronista discutir assuntos ligados ao transcendente, ressalto um fato que a mídia destaca hoje: o leilão terminou e o lance vencedor atingiu 780 mil dólares, pelo direito à primeira noite com a catarinense Catarina Migliorin (foto)i. Como se trata de psicoginecologia, eu tenho todo o direito de dar a minha opinião. A fêmea humana deixou de anunciar o seu período fértil, como o faz a maior parte das primatas, ficando muito mais difícil, para o macho, ter a certeza de que o filho que ele criará é, mesmo, seu.

Uma maneira utilizada para aumentar as chances de as crianças serem legítimas era copular, preferencialmente, com mulheres virgens. Antes, porém, de maldizer o processo que levou a fêmea humana a esconder a ovulação, gerando milênios de opressão, é bom lembrar que a ocultação do estro resultou no sexo recreacional, e na formação de relações duradouras, entre homens e mulheres.

Se esconder o cio era válido no Pleistoceno (época geológica que começou há cerca de um milhão e setecentos e cinquenta mil anos, e terminou, aproximadamente, há dez mil anos), não faz mais nenhum sentido, no mundo moderno, em que a mulher pode controlar sua fertilidade, e existem exames de DNA à disposição dos homens mais desconfiados, dar tanto valor àquela pequena membrana.

Antes de prosseguir seria bom relembrar o que dizem sobre o cio (o período de fertilidade). Ele é um estado de receptividade sexual extrema, pelo qual passam as fêmeas de muitos mamíferos, tais como alguns primatas e morcegos, com exceção das mulheres. O período varia de sete a quinze dias, porém, em alguns casos, pode se estender um pouco mais, ou um pouco menos. No caso das primatas, por exemplo, o cio ocorre duas vezes por ano, ou seja, de seis em seis meses, estando elas ativas para o ato sexual, apenas, naquele período. Em relação às mulheres, por sua vez, a atividade sexual pode ocorrer em qualquer ocasião do ciclo.

Confesso que me afligem várias perquirições, tais como esta, ensinada por minha avó. Por que nós comemos mais ovos de galinhas do que de patas? Justamente, pelo fato de que as primeiras sabem fazer propaganda (um grande estardalhaço), do seu produto, enquanto que as segundas põem seus ovos sem barulho.

Em pleno século XXI, algumas culturas continuam valorizando a virgindade como um objeto precioso, sagrado, sendo preciso ser guardado a “sete chaves”. E os machões, face à camuflagem do cio escondido, oculto, sem cheiro, da qual as mulheres são dotadas, pagam um alto preço para passarem, com elas, a primeira noite. Neste sentido, acredito que a jovem catarinense está certíssima! Ela vai ganhar um bom dinheiro, para entregar uma simples abstração, que a maioria das adolescentes oferece, gratuitamente, aos seus namorados, e, as demais mulheres, aos seus amados.

Se há algo chocante nessa estória é o valor que nós, homens, ainda atribuímos à virgindade, como se estivéssemos no período Pleistoceno. Não há dúvida alguma: hoje, o conceito de virgindade oscila entre uma relíquia mental da pré-história e, em sociedades conservadoras, uma forma desumana de manipular e tiranizar a mulher.

quarta-feira, 24 de outubro de 2012

Sobre as quengas


(...)João Pessoa está em 2º lugar no ranking nacional de Assassinatos de mulheres. A violência contra a mulher em João Pessoa é uma dura realidade a ser encarada, para assim talvez ser minimamente resolvida. Lembrem-se, que seremos guardas municipais desta cidade onde, repito, 2ª onde mais se matam mulheres em nosso país.
 
Agora sobre o termo quenga, que hoje é usado como sinônimo de mulher vil, prostituta, vadia, e que não merecem respeito. “as casas primitivas do interior de Alagoas em particular e de vasto território do Brasil eram feitas de taipa, onde se usa madeira nas paredes e barro. Pois bem. O barro era amassado com os pés e muito comumente em mutirão. Para dar ritmo ao trabalho e torná-lo mais agradável, o pessoal passou a usar a cuia do coco cortada ao meio para bater uma parte contra a outra, fazendo aquele barulhinho no ritmo. Essa cuia se chama quenga no Nordeste.
 
...escolas colocaram no currículo o estudo do folclore regional e em certo tempo os alunos levavam duas quengas para dançar o coco nas aulas de folclore. Como já diz a letra do Rei do Baião: "Toda menina quando enjoa da boneca é sinal que o amor..." Pois de vez em quando, alguma menina zarpava da aula e saia pelas ruas atrás dos seus namoricos mais ou menos apimentados. Vai daí que a vizinhança botava reparo e dizia: Lá vai a outra com suas quengas ladeira abaixo. Assim as quengas (cuias) do coco emprestaram o nome às que gostavam de gazetar aulas e dar seus pulinhos por ai.”¹
 
Substituo agora, quenga por vadia, visto que na atualidade e o tom pejorativo cabem a mesma “sujeita”. Após diversos casos de estupro, quando um policial convidado para orientar a comunidade sobre segurança disse que as mulheres poderiam evitar o estupro se “não se vestissem como vadias”, Infeliz comentário. Pois se ser vadia é escolher uma roupa, ou exercer a sexualidade livremente, frequentar esse ou aquele local, é motivar a violência contra a mulher, então todas são vadias e deixam de ser vítimas. Lembro, do caso de Queimadas-PB, onde cinco mulheres foram estupradas em uma festa, todas vadias, duas foram mortas. Fico pensando de forma geral, aqui no nordeste, um calor arretado, nós mulheres andando somente a luz do Sol e com burcas, para não ofender a moral e não incitar a violência.
 
O sistema, esse estado de coisas, já é tão cruel, nos educa com diversos preconceitos e intolerâncias. Talvez caiba a nós, estarmos atentos para não reproduzir essa mesma intolerância. Podemos também impedir, questionar e até nos negar a aceitar conceitos. Ter sensibilidade e respeito pelo ser humano, lutar por uma sociedade melhor e de pessoas melhores.
 
"Três paixões, simples, mas irresistivelmente fortes, governam minha vida: o desejo imenso de amar, a procura do conhecimento e a insuportável compaixão pelo sofrimento da humanidade." (Bertrand Russel)
 
Alexandra Camilo

João Pessoa – PB, 10 de outubro de 2012

*Texto publicado em um grupo do Facebook de concursados da Guarda Municipal de João Pessoa

segunda-feira, 22 de outubro de 2012

Fidel Castro está agonizando

Bastou uma mensagem aos formandos do primeiro curso do Instituto de Ciências Médicas “Victoria de Girón”, para que o galinheiro da propaganda imperialista se alvoroçasse e as agências informativas se lançassem com infâmia voraz para as mentiras. Não só isso, mas em suas notícias adicionaram ao paciente as mais absurdas estupidezes.

Por Fidel Castro, no CubaDebate

Foto: Alex Castro

Fidel exibe o jornal O Gramma do dia 19 de outubro

O jornal ABC da Espanha publicou que um médico venezuelano radicado em ninguém sabe onde, revelou que Castro sofreu um derrame na artéria cerebral direita, “posso dizer que não voltaremos a vê-lo publicamente”. O suposto médico, que se é abandonaria primeiro seus próprios compatriotas, qualificou o estado de saúde de Castro como “muito perto do estado neurovegetal”.

Apesar de muitas pessoas no mundo serem enganados pelos meios de comunicação de massa — quase todos em mãos dos privilegiados e ricos, que publicam estupidezes — os povos acreditam cada vez menos neles. Ninguém gosta de ser enganado; até o mais incorrigível mentiroso espera que lhe digam a verdade. Todo mundo acreditou em abril de 1961, nas informações publicadas pelas agências de notícias, que os invasores mercenários de Girón e ou Baía dos Porcos, como quiserem chamar, estavam chegando a Habana, quando na realidade alguns deles tentavam chegar infrutiferamente em botes até os navios de guerra ianques que os escoltavam.

Os povos aprendem e a resistência cresce diante da crise capitalista que se repete cada vez com maior frequência; nenhuma mentira, repressão ou armas novas, poderão impedir a queda de um sistema de produção crescentemente desigual e injusto.

Há alguns dias, perto do 50º aniversario da “Crise de outubro”, as agências indicaram três culpáveis; Kennedy, um recém-chegado à liderança do império, Khrushchev y Castro. Cuba não tinha nada a ver com armas nucleares, nem com a matança desnecessária de Hiroshima e Nagasaki, perpetrada pelo presidente dos Estados Unidos, Harry S. Truman, que institui a tirania das armas nucleares. Cuba defendia seu direito à independência e à justiça social.

Quando aceitamos a ajuda soviética de armas, petróleo, alimentos e outros recursos, foi para nos defender dos planos ianques de invadir a nossa Pátria, submetida a uma suja e sangrenta guerra que este país capitalista nos impôs desde os primeiros meses, a custo de milhares de vidas e mutilados cubanos.

Quando Khrushchev propôs instalar mísseis de médio alcance semelhante aos que os Estados Unidos tinham na Turquia — ainda mais perto da URSS que Cuba dos Estados Unidos — como uma necessidade solidária, Cuba não vacilou em aceitar tal risco. Nossa conduta foi eticamente irrepreensível. Nunca pediremos desculpa a ninguém pelo que fizemos. O certo é que transcorreu meio século e ainda continuamos de cabeça erguida.

Gosto de escrever e escrevo; gosto de estudar e estudo. Há muitas tarefas na área dos conhecimentos. Nunca as ciências, por exemplo, avançaram em tão surpreendente velocidade.

Deixei de publicar Reflexões porque certamente não é meu papel ocupar as páginas da nossa imprensa, consagrada em outras tarefas em que o país precisa.

Aves de mau agouro! Não lembro sequer o que é uma dor de cabeça. Como evidência de quão mentirosos são, os presenteio com as fotos que acompanham este artigo.

Fidel Castro Ruz

domingo, 21 de outubro de 2012

By Latuff


PRESTE ATENÇÃO

Preste atenção nos danos
 

que são irreversíveis
 

Voce tem que viver com eles
 
e suas consequencias!
 
Preste atenção nos planos
 
que são concebíveis
 
Voce tem que lutar por eles
 
e suas abrangências!
 
Preste atenção nos anos
 
que correram, impassíveis
 
Voce tem que viver sem eles
 
Mas preserve suas essências!
 
Da poeta Arlete Guimarães

sábado, 20 de outubro de 2012

O povo brasileiro quer justiça (ou Carminha, Nina e a justiça na telinha)

 
Novela é um gênero literário. Nem tão extenso como um romance e nem tão curto quanto um conto. Porém pode ser mais densa e complexa que qualquer um dos dois outros gêneros. Há novelas de conteúdo com qualidade artística inestimável como Noites Brancas (Dostoiévski), O Alienista (Machado de Assis), A Metamorfose (Kafka) e talvez a primeira novela escrita, Decameron (Boccaccio). Quase sempre as novelas estão entre as obras mais vendidas dentre as obras dos autores, talvez por uma empatia com o público popular causada pela trama envolvente e em ritmo acelerado que aguça o pensamento em perspectiva das pessoas.
 
Com o advento do rádio, esse gênero se reciclou e assumiu a forma da radionovela (não que as novelas escritas tenham desaparecido, ainda existem muitas). Com a narração e entonação de voz diferente das personagens, além do fato da organização em capítulos diários (com a estratégia de deixar sempre suspense de um dia para o outro) esse gênero rapidamente atingiu as massas populares e consagrou autores como Oduvaldo Vianna (pai do Vianinha) e Gilberto Martins; além de atores e atrizes como Silvia Cardoso, Maria Ieda, Luiz Carlos e Magalhães e José Lucas (um xará bem mais famoso em seu tempo). Isso foi nas décadas de 30, 40 e 50 do século passado.
 
Nas décadas de 70 e 80 do século passado se consolidou no Brasil, servindo inclusive como artigo de exportação, uma nova flexão deste mesmo gênero: a telenovela. Com a popularização dos aparelhos televisivos, a natural migração, que já havia ocorrido quando da popularização dos rádios, aconteceu de forma rápida e rapidamente transformou-se em fenômeno nacional. Títulos como Pecado Capital e Selva de Pedra (Janete Clair), Roque Santeiro, O Bem Amado e Irmãos Coragem (Dias Gomes) e as mais recentes Vale Tudo, Anos Rebeldes e Insensato Coração (Gilberto Braga), foram sucessos nacionais atingindo níveis altíssimos de audiência e tendo seus capítulos finais discutidos na boca do povo.
 
Portanto, podemos concluir que a novela sempre foi um gênero popular, que contava fantasticamente ou realisticamente a vida da população e, muitas vezes com um nível de complexidade psicológica e qualidade artística acima da média. A qualidade artística e a complexidade psicológica são questionáveis, mas a popularidade da novela Avenida Brasil (João Emanuel Carneiro) é pública e notória. E por isso, hoje, no último capítulo dessa novela, os índices de audiência também foram enormes. E neste mesmo instante, nas redes sociais, uma parcela da juventude universitária, sobretudo, comenta pejorativamente o fato de milhões assistirem a novela e julgam todos como alienados, idiotas e estúpidos. Parece mais fácil do que tentar entender profundamente.
 
O tema central da novela é o fato de que a personagem da excelente atriz Adriana Esteves (Carminha) realizar e planejar diversas maldades e trambiques e ter em sua antagonista a boa atriz Débora Falabella (Nina) uma mocinha não menos maliciosa e cruel. Do meio para o fim da trama, a vilã vai se enredando cada vez mais no emaranhado de fatos que não se concatenam e é exatamente a expectativa de vê-la ser derrotada e pega com a “boca na butija” que fez com que a novela fosse crescendo em público até o final. 
Portanto, num país onde poderosos e grandes especuladores vivem impunemente do espólio de suas falcatruas, o sentimento de justiça da população passa a ser espelhado num final onde Carminha será condenada por assassinato e suas mentiras e traições acabam sendo condenadas juntamente. Junte-se a isso futebol, enredos amorosos e um povo trabalhador e feliz de um bairro do subúrbio e temos um imenso sucesso televisivo.
 
Até aí tudo bem. O problema é que, sendo um veículo de transmissão dos pensamentos da classe dominante de nosso país, a televisão através da telenovela passa exatamente essas mesmas ideias. Num momento onde a grande imprensa tenta criar um sentimento de euforia popular com o julgamento do mensalão e a condenação de corruptos e corruptores que culpados dos crimes que são acusados, não o são mais do que os mesmos corruptos que privatizaram o país na década de 90 do século passado e não são sequer investigados ou apontados como vilões pelos jornais nacionais, veículos que são dessa mesma classe dominante. Neste mesmo momento histórico, vem a fala da mãe do Tufão no capítulo final, ao saber da prisão da Carminha: “ainda dizem que não existe justiça nesse país!”. Será por acaso?
 
Outra ideia difícil de engolir, é o argumento implícito nos tapas que Carminha leva ao ser descoberta como vilã. Apanha do marido e de outras pessoas num clima de “justiça” satisfeita, ou seja, quando a mulher é culpada não tem problema apanhar. Esse argumento levado ao absurdo, pode ser aplicado a mulher que serve a comida fria, que não satisfaz o parceiro na cama, que não ‘cuida bem’ dos filhos e por aí vai.
 
Além do mais, os pobres da novela tem um poder aquisitivo muito maior do que a média da população pobre do Brasil, claramente com objetivo de alterar no inconsciente coletivo, a realidade econômica do povo. Porém, é óbvio que a cada vez que a crise econômica se aprofunda e o poder de compra dos trabalhadores diminui, fica mais desmascarada essa tática, e as pessoas já comentam na rua esse fato com desdém.
 
Não adianta nada se achar intelectualizado o suficiente para desprezar a grande massa que vê seus anseios respondidos por uma estória na telinha. Quem despreza o sentimento da maioria e se julga superior pelo simples fato de não assistir uma novela, só pode estar extremamente alienado da realidade pela qual passa a sociedade brasileira. Se o conjunto da sociedade faz uma determinada coisa é porque o sentimento geral, os anseios gerais estão de certa forma representados nessa determinada coisa. É óbvio que quem detém os meios de comunicação coloca suas ideias e preconceitos no meio desses anseios, no intuito de massifica-los, quase sempre com sucesso.
 
É necessário entender esses anseios e trabalhar por todos os meios, principalmente artisticamente, para desmistificar e desmascarar os argumentos mentirosos dessas estórias e chegar conjuntamente com o povo brasileiro a conclusão de que não existe justiça no Brasil exatamente porque essa classe dominante toma conta dos meios de comunicação, dos tribunais de justiça, dos meios de produção e de tudo o mais. Que só haverá justiça quando nós, o povo brasileiro, deixemos de ser (tele)espectadores e passemos a ser atores e atrizes da vida do país.

sexta-feira, 19 de outubro de 2012

Quando a opinião pública dos Estados Unidos vai dizer basta para a matança de inocentes?


Enterro de civis muçulmanos alcançados pelos drones

Medea Benjamin, 60 anos, escritora americana, é cofundadora do Codepink,  um grupo de defesa dos direitos humanos. Ela tem se batido particularmente, nos últimos tempos, contra os drones — os aviões de guerra que não têm tripulação.

No dia 29 de maio, o New York Times publicou uma análise profunda sobre o papel do presidente Obama em relação à autorização dos ataques feitos pelos drones americanos no exterior, particularmente no Paquistão, no Iêmen e na Somália. É de arrepiar ver a fria e macabra facilidade com a qual o presidente e seu pessoal decidem quem irá viver e quem irá morrer. O destino de pessoas que vivem a milhares de quilômetros de distância é decidido por um grupo de americanos, eleitos ou não eleitos, que não falam sua linguagem, não conhecem sua cultura, não entendem seus motivos e valores. Embora afirmem representar a maior democracia do mundo, os líderes americanos estão colocando, em uma lista de pessoas para serem mortas jovens que não têm a oportunidade de se render e certamente não têm também a oportunidade de serem julgadas em um tribunal.

Quem está fornecendo ao presidente e seus assessores uma lista de suspeitos de terrorismo entre os quais devem escolher os que serão mortos, aleatoriamente? O tipo de informação usado para colocar as pessoas nas listas é o mesmo tipo de informação usado para colocar pessoas em Guantânamo. Lembre-se de como o público americano foi assegurado de que os prisioneiros trancafiados em Guantânamo eram “os piores de todos”, só para descobrir depois que centenas deles eram gente inocente que tinha sido vendida para o exército americano por caçadores de recompensa.

Sendo assim, por que razão o público deveria acreditar no que o governo de Obama diz sobre as pessoas que estão sendo mortas por drones? Especialmente tendo em vista que, como vimos no New York Times, o governo apareceu com uma solução para fazer com que a taxa de morte de civis fosse a menor possível: simplesmente considerar homens com determinada idade – aquela em que podem estar com guerreando — como inimigos. A alegação é que “pessoas em uma área onde há uma atividade terrorista recorrente, ou encontradas com um um militante de alto escalão da Al-Qaeda, certamente possuem más intenções”. Ao menos quando Bush atirou militantes suspeitos em Guantânamo, suas vidas foram poupadas.

Em acréscimo às listas de morte, Obama concedeu à CIA a autoridade de matar com ainda maior facilidade, usando ataques baseados unicamente em comportamento suspeito. Homens dirigindo caminhões com fertilizantes podem ser fabricantes de bombas – mas também podem ser fazendeiros.
Harold Koh, assessor jurídico de Obama, insiste em que essa matança é legal sob a lei internacional porque os Estados Unidos têm direito à autodefesa. É verdade que todas as nações possuem o direito de se defender, mas a defesa deve ser contra um ataque iminente e esmagador que se aproxima e não há tempo para um momento de deliberação.
Máquinas de matar

Quando a nação não está em um conflito armado, as regras são ainda mais rigorosas. A matança só pode acontecer quando é necessária para proteger a vida e quando não há outros meios, tais como a captura ou a incapacitação não-letal, para prevenir a ameaça à vida. Fora de uma zona ativa de guerra, então, é ilegal o uso de drones, que são armas de guerra incapazes de capturar um suspeito vivo.

Pense no precedente que os Estados Unidos estão fixando com sua doutrina de mate-não-capture. Se a justificativa americana fosse aplicada por outros países, a China poderia declarar que um ativista da etnia uigur que vive em Nova York é um “combatente inimigo” e lançar um míssil em Manhattan; a Rússia poderia afirmar que é perfeitamente legal iniciar um ataque de drone contra alguém que vive em Londres, se suspeitarem que a pessoa em questão tem algum tipo de ligação com militantes chechenos.

Ou considere o caso de Luis Posada Carriles, um cubano naturalizado venezuelano que vive em Miami, um terrorista condenado por ter planejado, em 1976, um bombardeio em um avião cubano. Carriles matou 73 pessoas. Levando-se em conta o fracasso do sistema jurídico dos Estados Unidos, o governo cubano poderia alegar que tem direito de mandar um drone para o centro de Miami para matar um terrorista confesso e inimigo jurado.

Um antigo diretor da CIA afirmou que a estratégia de usar drones é “perigosamente sedutora”, porque o custo é pequeno, não implica em baixas no exército e tem um aspecto de resistência. “Ela é útil para o mercado interno”, ele disse, “e é impopular em outros países. Qualquer dano no interesse nacional só aparece a longo prazo”.

Mas um artigo publicado no Washington Post mostra que o dano não é a longo prazo, e sim imediato. Após entrevistar mais de vinte líderes tribais, parentes de vítimas, ativistas de direitos humanos e oficiais de Iêmen do sul, o jornalista Sudarsan Raghavan concluiu que os ataques estão radicalizando a população local e aumentando a simpatia pela al-Qaeda e por seus militantes. “Os drones estão matando os líderes da al-Qaeda”, disse Mohammed al-Ahmadi, coordenador de um grupo local de direito humanos, “mas também estão os transformando em heróis”.

Até mesmo o artigo do New York Times reconhece que o Paquistão e o Iémen estão menos estáveis e mais hostis aos Estados Unidos desde que Obama se tornou o presidente e desde que os drones se tornaram um petulante símbolo do poder americano atropelando a soberania nacional e assassinando inocentes.
Shahzad Akbar, um advogado paquistanês que está processando a CIA a favor das vítimas dos drones, diz que já é hora de o povo americano se pronunciar. “Você pode confiar em um programa que existe há oito anos, escolhe seus alvos em segredo, não enfrenta qualquer responsabilidade e que matou, apenas no Paquistão, quase três mil pessoas cuja identidade é desconhecidas pelos seus assassinos?”, ele pergunta. “Quando as mulheres e crianças do Paquistão são mortas com mísseis, os paquistaneses acreditam que é isso que o povo americano quer. Eu gostaria de perguntar para os americanos, ‘é isso?’”

TEXTO TRADUZIDO POR CAMILA NOGUEIRA

quinta-feira, 18 de outubro de 2012

Documentos comprovam que Jango era monitorado pela Operação Condor

Por Ana Graziela Aguiar*
João Goulart durante parada nos Estados Unidos em 5 de abril de 1962. Foto: Dick DeMarsico / Livraria do Congresso Americano

Deposto pelo golpe militar em 1964, o ex-presidente João Goulart, o Jango, exilou-se com a família no Uruguai e, depois, na Argentina. No entanto, mesmo depois de retirado da Presidência da República, continuou sendo alvo do regime militar. Fotos e documentos exclusivos do Arquivo Nacional, obtidos pela TV Brasil, mostram que João Goulart era vigiado pelos militares, inclusive em momentos privados, como durante a festa de aniversário em que comemorou 55 anos.

Para o neto de Jango, Christopher Goulart, o avô sabia que era vigiado, porém isso não o incomodava. “Ele não se importava muito, não era uma coisa que o incomodava”.

Um documento do Serviço Nacional de Informação (SNI) mostra que as correspondências do ex-presidente eram constantemente lidas e analisadas pelos militares. No próprio documento, datado de 1966, um agente militar revelou que as cartas de Jango eram obtidas de forma clandestina. Em outro documento, o Centro de Informações do Exterior (Ciex) traz informações sobre uma viagem de Jango para a Argentina. A partir dos detalhes da viagem, os militares classificaram que Jango estava se preparando para retornar ao Brasil.

Para o historiador e coordenador do curso de História da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), Enrique Padrós, João Goulart foi vítima da Operação Condor, ação conjunta de seis países sul-americanos, inclusive o Brasil, para reprimir opositores às ditaduras militares da região. A operação foi criada oficialmente em 1975, mas começou antes, como mostra a reportagem da TV Brasil. “Ele foi sistematicamente vigiado, foi sistematicamente atingido, com essa coisa de infiltrarem pessoas ou, talvez, infiltrarem mecanismos para obter informações”, completa.

Em 6 de dezembro de 1976, Jango morreu na cidade argentina de Mercedes, onde também viveu durante o exílio. A certidão de óbito diz que o ex-presidente foi vítima de um ataque cardíaco. A família, no entanto, suspeita das circunstâncias da morte de Jango, pelo fato de que o ex-presidente estava se organizando para voltar ao Brasil com o intuito de atuar contra o regime militar. “É claro que é muito suspeita [a morte de Jango]. É óbvio que é muito suspeita e, enquanto for suspeita, tem que se investigar”, defende Christopher Goulart.
Depoimentos do ex-espião do serviço de inteligência da polícia uruguaia Mário Neira alimentam a teoria de assassinato. Preso em Porto Alegre há mais de dez anos por crimes como contrabando de armas, Neira disse que uma operação foi montada para envenenar Jango. A decisão, segundo ele, foi tomada em uma reunião com representantes do governo uruguaio, do Serviço de Inteligência Americano (CIA) e o delegado Sérgio Fleury, então chefe do Departamento de Ordem Política e Social (Dops) de São Paulo. “Foi uma operação muito prolongada e a gente não sabia que teria como objetivo a morte do presidente João Goulart”, relatou.

Segundo Neira, os remédios de Goulart, que sofria de problemas do coração, foram trocados por
comprimidos com uma substância que acelerava os batimentos cardíacos e provocava uma parada cardíaca. “Os remédios vieram da França e foram recebidos na gerência do Hotel Liberty. Foi um araponga que foi colocado neste hotel, porque os remédios ficavam em uma caixa-forte, uma caixinha mesmo de segurança. Em cada frasco, foi colocado um comprimido, apenas um comprimido com o composto que tinha uma ação que provocaria uma parada cardíaca. Acho que ele tomou coincidentemente naquela noite [o veneno], porque todo o relato da dona Maria Tereza [mulher de Jango] fala dos sintomas que encaixam com o que acontece quando a pressão sobe, baixa constrição dos vasos.”
Um dos documentos da Operação Condor

Com base no depoimento de Neira, a família de João Goulart pediu uma investigação ao Ministério Público Federal (MPF). Mas o processo foi arquivado pela Justiça sob o argumento de que o crime prescreveu.

Com a impossibilidade de investigação no Brasil, o procurador federal Ivan Marx recorreu à Justiça argentina. “Fui até Paso de Los Libres [próxima à cidade de Mercedes], na Justiça Federal argentina competente, e solicitei uma investigação sobre a morte do João Goulart. Existe a Lei de Anistia e todo esse problema que hoje estamos tentando processar no Brasil, mas, diante de todas as dificuldades, achei importante provocar a Justiça argentina, pois o fato ocorreu lá. Eles têm uma competência territorial para investigar os fatos”, explicou.

O historiador Enrique Padrós defende esclarecimentos sobre a morte de Jango. “É muito grave um país como o Brasil, até hoje, não ter certeza de como faleceu o único presidente que morreu fora, exilado.”

A TV Brasil iniciou segunda-feira 15 a exibição da série jornalística, com quatro reportagens, sobre a Operação Condor. Até o dia 19, o Repórter Brasil Noite vai exibir uma reportagem, sempre às 21h, com reprise no Repórter Brasil Manhã, às 8h. Depoimentos completos, fotos e documentos estão disponíveis no portal da Empresa Brasil de Comunicação (EBC), no endereço www.ebc.com.br/operacaocondor.

*Publicado originalmente na Agência Brasil

Suspiros...

Não saber o que você pensa

Não saber o que você quer

Querer te ver

Não saber se te terei

Não saber a deixa de te ligar

Não saber onde te beijar

Querer te ter.



Por: Skarllety Fernandes

terça-feira, 16 de outubro de 2012

sexta-feira, 12 de outubro de 2012

Preciso Me Encontrar

 
Deixe-me ir
Preciso andar
Vou por aí a procurar
sorrir prá não chorar
Deixe-me ir
Preciso andar
Vou por aí a procurar
sorrir prá não chorar...

Quero assistir ao sol nascer
Ver as águas dos rios correr
Ouvir os pássaros cantar
Eu quero nascer
Quero viver...

Deixe-me ir
Preciso andar
Vou por aí a procurar
sorrir prá não chorar
Se alguém por mim perguntar
Diga que eu só vou voltar
Depois que me encontrar...

Quero assistir ao sol nascer
Ver as águas dos rios correr
Ouvir os pássaros cantar
Eu quero nascer
Quero viver...

Deixe-me ir
Preciso andar
Vou por aí a procurar
sorrir prá não chorar...

Deixe-me ir preciso andar
Vou por aí a procurar
Sorrir prá não chorar
Deixe-me ir preciso andar
Vou por aí a procurar
sorrir prá não chorar...

quinta-feira, 11 de outubro de 2012

E no país da ditadura,rs: Eleições em Cuba: quem indica os candidatos é o povo!

Por Vania Barbosa
Artigo publicado originalmente no Jornalismo B Impresso
Desvinculado do modelo partidarista o sistema eleitoral cubano possibilita o exercício livre da cidadania com a escolha dos candidatos pelos próprios eleitores, o que incentiva o alto índice de comparecimento às eleições, mesmo que o voto não seja obrigatório. Para concorrer não é necessário que o candidato seja filiado a qualquer partido político.
De acordo com o estabelecido na Constituição da República e na Lei Eleitoral nº 72, de 29 de outubro de 1992, o Conselho de Estado de Cuba convocou, no último 5 de julho, eleições gerais para delegados às Assembleias Municipais, Provinciais e Nacional do Poder Popular. Em uma primeira etapa, no dia 21 de outubro os eleitores elegem, para um mandato de dois anos e meio, os delegados às Assembleias Municipais, e em 28 de outubro, em segundo turno, nas localidades onde nenhum dos candidatos tenha obtido 50% dos votos válidos mais um. Os delegados às Assembleias provinciais e à Assembleia Nacional do Poder Popular serão eleitos por um período de cinco anos, em uma nova data a ser estabelecida. Está prevista a participação de cerca de 8,5 milhões de cubanos.
Desvinculado do modelo partidarista o sistema eleitoral cubano possibilita o exercício livre da cidadania com a escolha dos candidatos pelos próprios eleitores, o que incentiva o alto índice de comparecimento às eleições, mesmo que o voto não seja obrigatório. Os candidatos não são indicados por partidos e sim pelos cidadãos maiores de 16 anos que automaticamente são inscritos no Registro Eleitoral, sem custos ou burocracia. Conforme o Artigo 3º da Lei Eleitoral, o voto é livre, igualitário e secreto, e o cidadão está protegido contra punições, multas ou sanções no trabalho caso se abstenha de votar, ao contrário do que ocorre em outros países. Os membros das Forças Armadas têm direito a votar, eleger e a ser eleitos.
Após a convocação das eleições, no início de julho, mais de 170 mil cubanos – representantes de todos os setores sociais do país – se qualificaram como autoridades eleitorais para integrar as comissões provinciais, municipais e de circunscrição que conduzem o processo de escolha dos delegados e, posteriormente, validam os resultados. Desde o último dia 3 de setembro e até o dia 29, a população participa das mais de 50.900 assembleias – organizadas também pela Comissão Eleitoral Nacional (CEN) – e ali indica, abertamente, os delegados que concorrem às Assembleias Municipais e Provinciais e à Assembleia Nacional do Poder Popular, eleitos mediante voto em urna, direto e secreto.
Os encontros são realizados em cerca de 29.500 circunscrições eleitorais e cada eleitor pode indicar um candidato entre os moradores residentes na área e, inclusive, de outra área pertencente à mesma circunscrição, caso seja necessário. Seguindo a legislação eleitoral – dependendo do número de habitantes – cada área terá entre dois e oito candidatos, tudo para garantir outras opções aos votantes e a indicação de pessoas com “méritos, capacidade, condições e possibilidades de representar a população”. A circunscrição eleitoral é uma divisão territorial do município a partir do número de seus habitantes, e se constitui em célula fundamental do Sistema do Poder Popular.
Desde o dia 22 de setembro foram divulgadas as listas dos candidatos para que a população as revise e, caso necessário, solicite adequações ou emendas, através das autoridades eleitorais. As alterações poderão ser feitas até a primeira quinzena de outubro e a partir daí tem inicio os preparativos para a etapa inicial das eleições, no dia 21 do mesmo mês.
Segundo dados da CEN, desde 1976, quando entrou em vigor a atual Constituição, mais de 95 por cento dos eleitores inscritos têm participado das eleições. Nas últimas eleições para deputados votaram cerca de 8 milhões de cubanos, cifra que superou 98 por cento de participação e com baixo índice de votos nulos ou em branco. Em Cuba, o registro de eleitores para as eleições gerais 2012-2013 conta com cerca de 8,5 milhões de cubanos, em um país de 11 milhões de habitantes.
A propaganda eleitoral
Outra característica no processo eleitoral cubano é a ausência de marketing e custos com propaganda, fatores que em outros países favorecem candidatos com maior poder econômico ou implicam na necessidade de obtenção de fundos para eleger um representante. As praças e as ruas são limpas de painéis ou panfletos e os candidatos não precisam disputar ou pagar espaços nos jornais, rádios e televisões. Também não ocorrem campanhas difamatórias entre os candidatos. A propaganda é feita pelas autoridades eleitorais que são responsáveis por publicar, na área de residência dos eleitores, as foto dos candidatos – todas em um mesmo formato e tamanho – e uma síntese da sua biografia.
Para concorrer não é necessário que o candidato seja filiado a qualquer partido político e as regras são as mesmas para todos os cargos do Poder Popular. As candidaturas deverão ser antes apresentadas por alguma organização ou movimento social e submetidas à consideração da Assembleia do Poder Popular da circunscrição correspondente, além de aprovadas pelos delegados. Será considerado eleito aquele que obtenha mais da metade dos votos válidos dos eleitores. 50% das vagas são garantidas às mulheres.
Após eleger o seu representante a população participa das discussões e decisões mais importantes. Também, a qualquer momento o mandato poderá ser revogado pela maioria dos eleitores caso o eleito não cumpra com as obrigações assumidas em sua base eleitoral. Não existe remuneração para o exercício do mandato e os eleitos permanecem exercendo suas profissões e recebendo o salário correspondente ao seu trabalho.
A Composição atual do Poder Popular se dá da seguinte forma: Assembleia Nacional do Poder Popular; Assembleias Provinciais do Poder Popular, em cada uma das 15 províncias, além do município especial da Isla de la Juventud; Assembleias Municipais, nos 169 municípios; 1540 Conselhos Populares, cada um agrupando várias circunscrições eleitorais e integrados pelos seus delegados, dirigentes de organizações de massas e representantes de entidades administrativas; circunscrições eleitorais, ainda que não pertençam de forma orgânica à estrutura do sistema do Poder Popular ou do Estado são fundamentais antes e após o processo eleitoral.
O Presidente, o Conselho de Estado e o Conselho de Ministros
Tanto os membros do Conselho de Estado como os do Conselho de Ministros são indicados pelos delegados eleitos para a Assembleia Nacional do Poder Popular. Considerando o Art.74 da Constituição da República de Cuba, o Conselho de Estado é formado por um presidente, um Primeiro Vice-Presidente, cinco Vice-Presidentes e um Secretário.Para ser Presidente do Conselho de Estado é necessário antes ser eleito deputado com mais de 50% dos votos válidos, diretos e secretos da população e, em nova votação, deverá alcançar mais de 50% dos votos secretos dos parlamentares.
O Partido Comunista Cubano
Há muitas dúvidas ou distorções que pairam sobre a existência de um partido único em Cuba, o Partido Comunista Cubano, e a relação que isso tem com a democracia. De acordo com a Constituição cubana, durante o processo eleitoral o PCC não indica candidatos e nem faz campanha a favor de seus militantes. Por se diferenciar do conceito clássico de partidos políticos se mantém em sua condição de força dirigente superior da sociedade com a missão de representar os interesses de todo o povo e não somente os da sua militância.
O Partido não tem ingerência na Assembleia Nacional do Poder Popular e nem no governo, e só após consulta à população, via assembleias, apresenta propostas para serem apreciadas nestas instituições. Em processos eleitorais ocorridos até hoje já foram eleitos inúmeros militantes do PCC, indicados pelas assembleias populares em razão dos seus méritos pessoais e compromissos com a sociedade, e não pela sua militância no Partido. Um importante papel exercido pelo PCC é o de acompanhar e garantir o cumprimento das leis do país, entre elas, a Lei Eleitoral.
Vania Barbosa jornalista e presidente do Conselho Deliberativo da Associação Cultural José Martí/RS.

Campanha permanente pela carta de amor


POR Xico Sá 

A carta escrita à mão, com local de origem, data, saudações, motivos, despeço-me por aqui, papel fininho e pautado, pelos Correios, portadores ou menino de recados.

Como canta o rei Roberto, escreva uma carta, meu amor, e diga alguma coisa por favor.

Agora Beatles: Ô, mr. Postman!

Tem também aquele do Waldick Soriano, nosso Johnny Cash baiano: “Amigo, por favor leve essa carta/ e diga àquela ingrata/ como está meu coração…”

É nossa campanha permanente pela volta da carta de amor, manifesto sempre repetido neste blog.

Chega de SMS e emails lacônicos e apressados. Debruce a munheca sobre o papiro e faça da tinta da caneta o seu próprio sangue.

Não temas a breguice, o romantismo, como já disse o velho Pessoa, travestido de Álvaro de Campos, todas cartas de amor são ridículas, e não seriam de amor se ridículas não fossem.

A carta, mesmo com todas as modernidades e invencionices, ainda é o melhor veículo para declarar-se, comunicar afinidades e iniciar um feitio de orações.

O que você está esperando, vá ali na esquina, compre um belo papel e envelopes, e se devote.

Se tiver alguma rusga, peça perdão por escrito, pois perdão por escrito vale como documento de cartório.

Se o namoro ainda não tiver começado, largue a mão dessas cantadas baratas e internéticas e atire a garrafa aos mares.

Uma boa carta de amor é irresistível. Mas não vale copiar aqueles modelos que vêm nos livros. Sele o envelope com a língua, como nas antigas, lamba os selos, esse pré-beijo dos lábios da futura amada.

De novo o cliclê de Pessoa, para encorajá-los mais ainda: “As cartas de amor, se há amor, têm de ser ridículas”.

Às moças é consentido, além dos floreios e da caligrafia mais arrumadinha, a reprodução de um beijo, com batom bem vermelho, ao final, perto da assinatura.

Que os amigos,e não apenas os amantes, se correspondam, fazendo dos envelopes no fundo do baú as suas histórias de vida.

Pela volta da carta, que já é por si só uma maneira devota, um tempo que se tira, sem pressa, para dedicar-se a quem se gosta. Pela volta da carta, pois o que se diz numa carta é de outra natureza, é o bem-querer em tom solene.

O que você está esperando, meu amigo, minha amiga, largue esse cronista de lado e debruce-se sobre a escrivaninha. Uma mesa de bar ou de um café também são bons lugares para assentar as suas mal-traçadas linhas.

Lembrei-me agora de um começo clássico de missivas: “Venho por meio desta dar-te as minhas notícias e ao mesmo tempo saber das tuas…”

quarta-feira, 10 de outubro de 2012

Cidade cubana recupera trajetória de Che durante a revolução

Santa Clara tem diversas homenagens ao guerrilheiro, morto há 45 anos na Bolívia

09/10/2012

Luciana Taddeo,
de Santa Clara, Cuba

  
 
  Estátua simboliza a saída do guerrilheiro para
cumprir nova missão designada a ele por Fidel Castro
Foto: Aldo Jofre Osorio/Opera Mundi
 
Com a estridente buzina que alerta a aproximação do trem, a ferrovia cubana destruída em dezembro de 1958 se mantém ativa. Cheio de passageiros, o trem que conecta o leste de Cuba a Havana cumpre seu trajeto revivendo a história ao passar pelo museu a céu aberto ¨Ação contra o trem blindado¨, em Santa Clara, cidade localizada a 270 km da capital.

Quatro vagões que descarrilharam e foram atacados a tiros pelos revolucionários liderados por Ernesto Che Guevara estão expostos em uma praça construída no local do confronto, que resultou na rendição dos soldados do ditador Fulgencio Batista. Dentro de cada um, a história do evento que marcou a vida dos habitantes de Santa Clara está contada.

Em um deles, uma carta intitulada ¨Ao Povo de Santa Clara¨ avisava aos moradores que o exército rebelde já se encontrava na cidade, ¨um dos últimos redutos da tirania¨ na província. Segundo o documento, as forças revolucionárias já ocupavam a maior parte da cidade. ¨Acreditamos que dentro de breves horas poderemos anunciar aos locais e ao povo de Cuba que Santa Clara já é cidade livre¨.

¨Mas o ânimo da vitória, a satisfação e a alegria acumulada através de quase sete anos de terror não devem se desbordar em manifestações populares, já que o exército da tirania ainda ocupa posições dentro da cidade, posições das quais em breve serão desalojados¨, diz um trecho da carta, assinada pela seção provincial de propaganda do movimento revolucionário 26 de Julho.
   
   
Che e Camilo Cienfuegos no museu da revolução, em Havana, em
uma das homenagens ao argentino - Foto: Aldo Jofre Osorio/Opera Mundi

Entre as orientações transmitidas no documento estavam a de que a população saísse de casa somente em caso de urgência, a evacuação de famílias que morassem perto de regiões conflitivas, e a prestação do maior apoio possível aos membros do exército rebelde e a organizações revolucionárias clandestinas.

¨As cartas eram impressas precariamente nas montanhas e repassadas clandestinamente aos moradores. Um lia e passava para o outro, e assim a informação ia sendo transmitida¨, explicou ao Opera Mundi Eneida López Peralta, responsável de Relações Internacionais do Partido Comunista Cubano (PCC) da província de Villa Clara, localizada no setor que, na época da revolução, era denominado Las Villas.

No museu, também está exposto um dos tratores utilizados para a deformação dos trilhos que, levantados, provocaram o descarrilamento do trem e, depois de hora e meia de combate, a subida da bandeira branca da rendição dos militares.
   
   
Imagem do museu do trem blindado, na cidade de Santa Clara, em Cuba
Foto: Aldo Jofre Osorio/Opera Mundi

Todos os moradores da cidade têm lembranças ou relatos para contar sobre os confrontos na região naquele ano. Os mais velhos recordam momentos de tensão constante pelos bombardeiros indiscriminados do exército, em uma vã tentativa de sufocar a guerrilha. E contam como a população se uniu o Che e seus combatentes, atirando coquetéis molotov em cima e embaixo dos vagões, já que suas paredes foram previamente blindadas com chapas de metal e areia.

¨Não escutei uma grande explosão quando o trem descarrilhou, mas sim muitos tiros. Lembro de ter me escondido embaixo da cama¨, conta o aposentado santaclarenho José Socarrán, que tinha 15 anos na época do confronto, ocorrido a apenas alguns metros de sua casa.

Os mais jovens, por sua vez, reproduzem com detalhes as histórias que escutam desde pequenos, sobre a importância da cidade para o triunfo da revolução. Batista renunciaria e fugiria rumo à República Dominicana dias depois do ataque, que impediu o transporte das de armas pesadas e munições destinadas a fortalecer suas tropas, já debilitadas.

Mausoléu e homenagens

Autodenominada ¨Cidade do Che¨, Santa Clara abriga o mausoléu do revolucionário argentino e de outros combatentes mortos na Bolívia. Os restos mortais de Che chegaram a Cuba em 1997, após anos de desconhecimento sobre sua localização no país andino.

A urna com os restos mortais foi exposta inicialmente em Havana e depois transladada a Santa Clara em uma carreata que passou por diferentes cidades do país. No dia da inauguração do mausoléu, o próprio Fidel Castro ascendeu a chama da imortalidade e fez um discurso em homenagem ao Che, lembra o museólogo do local, Faustino Moriano Morales.

Dispostas em uma espécie de cova inspirada na selva boliviana, com pouca iluminação, o mausoléu pode ser visitado por grupos reduzidos. O uso de câmeras fotográficas e filmadoras não são permitidas no recinto, localizado na parte traseira a uma alta estátua do guerrilheiro, e diversos painéis esculturais no qual seus dizeres e imagens em ação são retratados.

Em frente ao mausoléu, um museu narra a vida do guerrilheiro desde sua infância, com uma réplica de sua estátua quando criança, que também pode ser vista na cidade argentina de Alta Gracia, onde Che também viveu quando era jovem, e que hoje funciona como um museu.
   
   
Histórias de combates entre Che e o exército de Fulgencio Batista são contadas
pelo povo de Santa Clara - Foto: Aldo Jofre Osorio/Opera Mundi

A poucos metros dali, uma escultura doada a Cuba pelo artista Casto Solano Marroyo está exposta no comitê provincial do PCC, que abrigou a segunda comandância das tropas rebeldes em Santa Clara. Repleta de mini-esculturas por todo o corpo e roupa, a obra é rica em expressões sobre a vida do revolucionário argentino.

A estátua de Che caminhando com uma criança nos braços simboliza a saída do guerrilheiro desta comandância em janeiro de 1959 para cumprir a nova missão designada a ele por Fidel Castro: ocupar Morro Cabaña, um forte localizado em Havana, que servia como uma poderosa unidade militar de Batista, e que hoje é mais um dos pontos que narram a história do revolucionário argentino em Cuba.

A poucos metros do complexo, está localizado o museu ¨Casa do Che¨, onde se exibe a urna na qual os restos mortais do guerrilheiro foram transportados até sua acomodação definitiva no mausoléu. Apesar do nome do espaço de exposição, o local não funcionou como a casa familiar do argentino, mas sim como ambiente de trabalho, com a convivência permanente dos integrantes de sua coluna rebelde.

O Museu da Revolução, instalado no lugar que funcionava como palácio presidencial até a renúncia de Batista, compila diversos retratos do revolucionário na luta rebelde. A exposição oferece uma narrativa da revolução cubana ilustrada por fotos, documentos, réplicas e elementos originais – como o barco Granma, exposto em um anexo no exterior do museu – da época.

quinta-feira, 4 de outubro de 2012