segunda-feira, 29 de abril de 2013

sábado, 27 de abril de 2013

sexta-feira, 26 de abril de 2013

sábado, 20 de abril de 2013

quinta-feira, 18 de abril de 2013

A terça-feira que abortou o golpe

Pedro Porfírio em seu blog

A Venezuela viveu na terça-feira, dia 16, o dia mais tenso de sua vida constitucional desde o frustrado golpe de abril de 2002. Até as 4 da tarde, estava em marcha um plano golpista que foi temporariamente abortado pela maturidade política da militância chavista e pela firme demonstração de autoridade do presidente Nicolas Maduro, com o apoio dos vários escalões das Forças Armadas Nacionais Bolivarianos.

Desde segunda-feira, quando o chefe oposicionista de direita Henrique Capriles Radonski, derrotado nas eleições presidenciais de domingo, ordenou protestos violentos contra a proclamação de Maduro como vencedor das eleições, com o apoio de mercenários paramilitares em pelo menos 15 estados do país, sua expectativa era de criar uma situação semelhante à de 13 anos atrás, que redundou na deposição por dois dias do presidente Hugo Chavez.

A agitação de rua levaria a uma sedição militar sob a liderança de dois generais e nove oficiais da Guarda Nacional, que operariam a partir do Comando de Apoio Aéreo de La Carlota. No entanto, uma rápida ação da Direção de Inteligência Militar deteve os potenciais sublevados ainda na noite de domingo, dia 14, no mesmo momento em que Capriles Radonski declarava que não reconhecia o resultado anunciado pelo Conselho Nacional Eleitoral e ordenava as ações violentas de segunda-feira.

No plano internacional, o golpe teve o apoio ostensivo do governo norte-americano, que ainda não formalizou o reconhecimento da vitória de Maduro, e da Espanha, que lançou suspeitas sobre o pleito. Na manhã de terça-feira, dia 16, enquanto a militância orgânica do Partido Socialista Unido da Venezuela se preparava para o contra-ataque sob o comando de Jorge Rodrigues, Maduro deu um ultimato ao governo espanhol e este reconsiderou sua postura.

Durante toda a segunda-feira, as agitações de rua ficaram por conta dos grupos ligados a Capriles, que apostava num confronto de grandes proporções com centenas de mortes. Com a ajuda de paramilitares armados, esses grupos atacaram repartições públicas, tentaram tomar a estação estatal de tevê e forçar uma paralisação das empresas por ordens dos patrões.

Maduro avisou que poderia radicalizar com a tomada das empresas por seus trabalhadores. “Fábrica parada será fábrica ocupada”, advertiu a deputada chavista Blanca Eekhout, em emocionante pronunciamento na Assembleia Nacional. Mas as organizações sociais chavistas surpreenderam e não reagiram à violência espalhada, apesar das sete mortes registradas, 62 feridos e de mais de mil pessoas atendidas nos hospitais das cidades onde os grupos de direita incendiavam objetos nas ruas e atacavam até mesmo sete Centros de Diagnóstico Integral, onde trabalham médicos e enfermeiros cubanos dentro de um convênio que já produziu grandes mudanças positivas nos índices de saúde dos venezuelanos.

Esses ataques, que tiveram requintes de violência e destruição, foram registrados nos estados de Táchira, Miranda, Anzoátegui, Carabobo e Zulia. O pretexto usado era de que havia propaganda de Maduro nesses centros médicos.

Os sete mortos foram atacados em pontos diferentes do país quando ainda celebravam a vitória de Maduro. Alguns foram atingidos por balas disparadas pelos paramilitares contratados pelo “Comando Simon Bolívar”, o comitê eleitoral do candidato da direita. O relato documentado dos crimes, com os nomes das vítimas e as condições em que foram executadas, foi apresentado no final da tarde de terça-feira, dia 16, pelos ministros do Exterior, Elias Jaua, e Comunicação e Informação, Ernesto Villegas.


A resposta firme contra a tentativa de golpe

Na Assembleia Nacional, seu presidente, deputado Diosdado Cabello, responsabilizou Capriles Radonski pela violência desencadeada. Coronel da reserva e parceiro de Hugo Chavez desde a insurreição militar de 1992, Cabello escreveu em sua conta no twitter: “Capriles fascista, eu vou pessoalmente cuidar para que 
você pague por todos os danos que está causando ao nosso país e ao nosso povo.”

Na sessão da tarde de terça-feira, a deputada Blanca Eekhout, segunda-vice presidente da Assembléia, depois de emocionado discurso, leu uma resolução aprovada pelos colegas apoiando as investigações do Ministério Público e acusando formalmente Capriles pela onda de violência de segunda-feira.

Com o passar do dia, o líder direitista foi se vendo isolado, apesar do apoio reiterado do governo norte-americano. Ele contava com uma grande marcha hoje à sede do Conselho Nacional Eleitoral, onde fica a memória de todo o processo eleitoral, numa movimentação que poderia degenerar na invasão de suas instalações e destruição dos seus documentos.

Depois de reunir-se com o comando das Forças Armadas, o presidente Nicolas Maduro anunciou, ao meio dia, a proibição dessa marcha que teria consequências incontroláveis.

O recuo dos golpistas isolados

Até as 4 da tarde, Capriles e seu staff se mostravam dispostos a desafiar a proibição. Mas a repercussão negativa das ações violentas de segunda-feira, as dúvidas sobre qual atitude tomaria a militância chavista organizada e a detenção dos 11 oficiais que puxariam o golpe militar o deixaram confuso.

Às 5 da tarde, convocou uma entrevista coletiva, com a presença de jornalistas estrangeiros, e anunciou seu recuo, alegando que fora informado por amigos da inteligência militar que os chavistas infiltrariam provocadores dentro da marcha. Não era bem isso: ele queria transformar o centro de Caracas numa praça de guerra, mas já começava a ver-se ameaçado até de perder o cargo de governador do Estado de Miranda, diante de acusações documentadas de incitação a sublevações.

Ao final da coletiva, mudou totalmente seu discurso inicial, conclamando seus partidários com ênfase a não saírem de casa hoje: “Quero dizer aos venezuelanos e ao governo que todos nós aqui estamos prontos para abrir um diálogo para que esta crise possa ser resolvida nas próximas horas”.

Informado que a recontagem prevista de 54% das urnas havia sido encerrada sem registrar um único erro, tentou se explicar: “Não se trata de reconhecer ou não os resultados eleitorais de domingo. Estou simplesmente pedindo a recontagem de todos os votos”. Acusado pelo Ministério Público de não haver apresentado nenhum documento que justificasse a incitação à desordem, ele disse que hoje fará chegar ao CNE petição neste sentido.

A ameaça golpista ainda persiste

Apesar do anúncio do próprio presidente Nicolas Maduro de que todos os focos de violência haviam sido neutralizados, com a prisão de mais de 150 pessoas envolvidas diretamente nos ataques de rua, ainda acho cedo para dizer que a intentona golpista foi totalmente debelada.

Esta foi a maior operação já comandada pela CIA, através de algumas ONGs financiadas pelos Estados Unidos, e teve relativo êxito: primeiro, com a morte do líder Hugo Chavez, à semelhança do que aconteceu com o líder palestino Yasser Arafat. Depois com a votação do oposicionista, que derramou muito dinheiro na compra de votos em redutos chavistas, enquanto prometia manter todos os programas sociais do governo.

Neste caso, houve um deslocamento de 1 milhão de votos dados em outubro a Chavez para Capriles, o personagem sob medida para o golpe: 41 anos, bilionário, audacioso, carismático, celibatário (foi da TFP da Venezuela) é um fanático da direita bem treinado: já no golpe de 2002, quando era deputado, teve atuação de destaque, inclusive na invasão à Embaixada de Cuba.

Na liderança dos países exportadores de petróleo, a Venezuela tem hoje a maior reserva do mundo e adota um programa de diversificação econômica que tem sido muito interessante para empresas brasileiras e argentinas. Ao contrário do que imaginava a direita e seus monitores da CIA, Maduro, um ex-motorista de ônibus, demonstrou nessas últimas 48 horas que vai ser um osso duro de roer, com a mesma têmpera do coronel Hugo Chavez e uma militância orgânica maior.

Na sexta-feira, dia 19, estará prestando juramento como novo presidente da República Bolivariana da Venezuela. E isso ainda não foi engolido pelos que conceberam o sofisticado golpe “tecnológico” que tirou a vida do Comandante Chavez aos 58 anos e quase trouxe a direita de volta ao poder em Caracas.

quarta-feira, 17 de abril de 2013

terça-feira, 16 de abril de 2013

segunda-feira, 15 de abril de 2013

A tal maioridade penal...

De Pedro Verissimo
 
E ai ressurge a discussão da maioridade penal. A classe média reacionária (quase uma redundância quando falamos em São Paulo) se arma com seus meios de comunicação, inflam o peito, e vão mais uma vez reivindicar “atitude do governo”, como se isso fosse resolver o problema. E claro, por conveniência, esquecem que somos fruto do meio e se calam em relação as atrocidade que grande parte dos brasileiros sofrem. Se fecham no seu mundo e só “protestam” contra aquilo que os atinge.

“E as mortes diárias nas periferias? Não interessa, não moro lá! E a ausência do Estado nas comunidades? Já disse, não moro lá! E as escolas, que cada dia que passa pioram? Não me interessa, estudo em escola particular. E nossa polícia, racista e mal preparada, que mata diariamente, reprime e abusa de seu poder? Acho que estão certos, bom mesmo era quando tinha ‘Rota na rua’.”

Mas claro, vamos reduzir a maioridade penal. Certamente todo o problema acabará.

Se for pobre e preto, já prende logo, pois como Serra já disse: "são potenciais criminosos".

Somos movidos pela emoção, mas isso não pode tirar o foco da discussão principal. A mudança, para acontecer, deve ser estrutural, no sistema. Se não for assim, nada mudará. Continuarão matando, as cadeias continuarão cheias e daqui a pouco será um caminho direto, da maternidade para a prisão.

By Latuff


sábado, 13 de abril de 2013

WIKILEAKS TAMBÉM VAZA DOCUMENTO SOBRE MORTE DE MINHA MÃE ZUZU ANGEL

 Retirado do blog de Hildegard Angel

Outra notícia divulgada pelo Portal EBC, da Agência Brasil, do Governo Brasileiro, que eu abaixo transcrevo, dando conta de mais um vazamento do Wikileaks envolvendo  pessoas de minha família assassinadas pela ditadura militar. Desta vez, minha mãe.

Wikileaks: EUA mostravam preocupação com morte de Zuzu Angel

Leandro Melito – Portal EBC – 08.04.2013 – 21h56 | Atualizado em 08.04.2013 – 22h12

Um documento de 10 de maio de 1976 enviado pela embaixada dos EUA em Brasília para os escritórios em São Paulo e no Rio de Janeiro e disponibilizado pelo Wikileaks mostra a preocupação do governo norte-americano com a repercussão da morte da estilista Zuzu Angel, mãe de Stuart Angel, assassinado por agentes da marinha em 1971.

“A morte de Zuzu Angel que ocorreu em 14 de abril, quando o automóvel que ela estava dirigindo deixou a rodovia após sair de um túnel no Rio, está sendo amplamente veiculado na imprensa”, diz o telegrama. “A cobertura da imprensa notou que a cena do incidente não mostrou marcas de derrapagem ou frenagem”, destaca o telegrama.

O documento relata diferentes versões veiculadas  sobre as possíveis causas do acidente. “Embora o relatório oficial sobre o incidente fosse esperado para ser emitido dentro de cerca de um mês, alguns jornais supõem que ela poderia ter cochilado, desviado para evitar um pedestre, ter sido cortada por outro veículo ou se distraído ao sair do túnel”, aponta.

A carta, que está disponível online, não descartava a hipótese de acidente, mesmo que negado pela ditadura da época. “As afirmações de que houve um crime eram de se esperar, e não incluem referência a qualquer evidência. No entanto, é interessante que tais afirmações surjam e que, embora elas pareçam extremos,  não podem ser descartadas”.

Em 1998, a Comissão Especial dos Desaparecidos Políticos julgou o caso e reconheceu o regime militar como responsável pela morte da estilista. Segundo depoimentos, ela teria sido jogada para fora da pista por um carro pilotado por agentes da repressão.

Direitos autorais: Creative Commons – CC BY 3.0

Gerald Thomas é uma vergonha para a raça masculina


Ao botar a mão embaixo do vestido de Nicole Bahls à força, o covarde dramaturgo exemplificou o que existe de pior entre nós homens.

Nunca acompanhei o Pânico, quem dirá as notícias relativas a ele. Uma imagem postada no Facebook, porém, me chamou a atenção para o programa. Trata-se do dramaturgo carioca Gerald Thomas colocando a mão embaixo do vestido da panicat Nicole Bahls, contra a vontade dela, durante a gravação de uma entrevista. A foto vinha com um texto assinado pela blogueira Nádia Lapa, do site Cem HomensEla narra o episódio:

Era noite de lançamento de um livro dele e a Livraria da Travessa estava lotada. Repórteres, cinegrafistas, funcionários da loja, clientes. Pelas notícias, ninguém fez nada. Nas imagens dá para ver que o colega de trabalho de Nicole no Pânico continuou a entrevista como se nada tivesse acontecendo. Enquanto isso, Thomas enfiava a mão entre as pernas de Nicole e ela tentava se desvencilhar. (…)
Duas coisas me chamam a atenção nesse caso. A primeira é ninguém ter feito nada. Acharem normal. Acharem aceitável. (…) A segunda coisa que me incomoda é terem dito “mas por que ela não fez algo?”. É difícil encarar polícia, legista, imprensa, opinião pública. Além disso, o cara estava agredindo na frente de todos – e ninguém fez nada. Se fosse você a vítima, você não pensaria que a errada é você por não estar gostando, já que todo mundo está achando muito normal?

Fica até difícil saber de quem foi o maior papelão no episódio: de Gerald Thomas por agarrar Nicole Bahls à força ou dos homens que presenciaram a cena sem fazer nada. Entre eles seu colega de Pânico Wellington Muniz, o Ceará, que deveria ter sido o primeiro a dar uma chave de rim no agressor durante a investida dele. “Fiquei muito triste”, escreveu ela no Twitter, ao ser questionada sobre o assunto. “Obrigada de coração pelo carinho. Amanhã é outro dia. Vai passar.”

Há séculos os filósofos dizem que a perfeição é um conceito inatingível para o ser humano e que, por isso, devemos aprender a conviver com as nossos defeitos. Concordo. Existe um deles, porém, que é intragável: a covardia. Gerald Thomas foi covarde ao agarrar uma mulher indefesa (eu adoraria vê-lo fazendo isso com Ronda Rousey, a campeã do UFC) e também foram covardes os homens que assistiram sua atitude sem fazer nada.

Por isso digo que o episódio da Livraria da Travessa foi, sem dúvida, uma mancha para a nossa raça masculina. E deveríamos ter vergonha por ele ter acontecido. Eu tenho.

PS VERBALiRANDO: Também tenho vergonha!

Charge da semana


sexta-feira, 12 de abril de 2013

segunda-feira, 8 de abril de 2013

domingo, 7 de abril de 2013

Mais uma barbárie impune

 De Felipe Milanez - retirado da Carta Capital

Com preces a Cristo, menções à Bíblia, pedidos de perdão, falsas testemunhas de defesa e ameaças às de acusação, o apontado de ser o mandante de um crime de pistolagem e seus advogados conseguiram convencer o júri da ausência de provas contra ele. José Rodrigues Moreira era acusado de mandar matar o casal de extrativistas José Cláudio Ribeiro da Silva e Maria do Espírito Santo da Silva, em maio de 2011. Mas foi absolvido. Está livre. Seu irmão, Lindonjonson Silva, e seu comparsa, Alberto Nascimento, foram condenados pela execução do casal. O primeiro cumprirá pena de 42 anos e 8 meses pelo duplo homicídio. O segundo, 45 anos. Ainda assim, apenas por maioria dos votos.

Em Marabá, no Pará, o júri não encontrou nenhuma conexão entre as ameaças que José Rodrigues fazia ao casal e o assassinato. Ao contrário, a vítima ainda foi considerada culpada por sua própria morte, pois, no caso das condenações dos dois assassinos, o júri considerou que o “comportamento da vítima contribuiu para o crime, pois a vítima enfrentou o réu José Rodrigues, tentando fazer justiça pelas próprias mãos, com a ajuda de terceiros, posseiros e sem-terra, para impedir o corréu de ter a posse de imóvel rural, quando poderia ter procurado apoio das autoridades constituídas”.

“Estou perdido”, disse, atônito, José Maria Gomes Sampaio após o veredicto. Casado com Laísa Santos Sampaio, a irmã de Maria, ele foi uma das principais testemunhas de acusação. Seus olhos estavam não apenas vermelhos por causa do choro, mas também do medo. Perguntado se voltaria para o assentamento, onde teme ser assassinado, ele simplesmente repetiu: “Estou perdido”. Sua esposa, Laísa, é ameaçada de morte e tem escolta policial, de acordo com Igo Martini, coordenador-geral do Programa de Proteção aos Defensores dos Direitos Humanos da Secretaria de Direitos Humanos da Presidência. Martini esteve presente em todo o julgamento e garantiu que uma testemunha fundamental para a condenação dos dois executores também está em contato com a secretaria para ser oferecida a proteção.

Nilton de Lima fazia uma cerca na manhã do dia 24 de maio de 2011, quando viu passar Lindonjonson na moto com um acompanhante. Ele confirmou no Tribunal que era mesmo Lindonjonson, pois havia estado com ele em um bar dias antes. Na saída do Tribunal, um irmão de José Rodrigues trombou com ele. Bateu em seu peito, antes de ameaçar: “Sua batata também está esquentando”.

Laísa testemunhou na frente dos acusados e, apesar de estar inscrita no programa federal, ela não possui proteção na área e não sabe se voltará ao assentamento. Emocionada, não conseguia comentar o veredicto. Indignado, o advogado da Comissão Pastoral da Terra, José Batista, amigo das vítimas, também não quis comentar.

Durante o julgamento, outra testemunha, Joeuza Pereira da Silva, disse ter visto Lindonjonson no exato momento do crime numa moto no interior de Novo Repartimento, outra cidade do Pará. Seria o álibi para salvar o irmão de Rodrigues. Mas sua mentira foi desvendada pela promotora pública Ana Maria Magalhães. Quando perguntada “quem seria o iluminado que descobriu que a senhora teria visto a vítima?”, Joeuza passou a chorar e parou de falar. Responderá pelo crime de falso testemunho.

 Durante o depoimento de José Rodrigues, ele ajoelhou-se e pediu perdão, segurando uma pequena Bíblia. Após negar qualquer envolvimento e dizendo que não teria reagido à disputa do lote que deu origem ao conflito, apenas “entregando a Deus”, ele passou a agir de forma a impressionar os jurados. De joelhos e com a mão levantada, ele agradeceu aos céus, pediu bênção a todos e disse que não devia nada nem tinha mandado matar ninguém. “Sou pessoa trabalhadora”, afirmou. “Repito mais uma vez: eu não devo, eu não devo, eu não devo”, e chorou. Balbuciou palavras bíblicas e pediu a Jesus Cristo para ser devolvido a seus filhos, que estavam ali na frente. Disse ser pai de família. A reação não havia surpreendido o público e a cena pareceu planejada. Para a primeira jurada do lado esquerdo, não. Ela se emocionou. Deixou escorrer lágrimas e sentiu-se tocada. A jurada é evangélica.

Ao notar a emoção da jurada com a cena do réu, segundo uma fonte que pediu para não ser identificada, a promotora teria solicitado ao juiz a sua exclusão do processo, pois ela não teria o distanciamento necessário para julgar a questão. Segundo essa mesma fonte, o juiz teria respondido de forma ameaçadora, dizendo que nesse caso ele iria suspender o julgamento e expedir o alvará de soltura aos réus. A acusação teria, então, decidido não pedir a sua exclusão.

Segundo o assistente de acusação, Aton Fon Filho, a religiosidade manifestada no depoimento mostra ardilosidade. “Eles planejaram o crime numa cerimônia religiosa”, diz ele, em referência a uma missa em que José Cláudio e Maria seriam padrinhos de um batismo. José Rodrigues teria utilizado a ocasião para apontar a seu irmão Lindonjonson quem seria a vítima do crime de encomenda, algo não comprovado, segundo o júri.

O promotor Danyllo Pompeu Colares antecipou que vai recorrer da decisão e que “o ideal da preservação da floresta não se extinguiu com a morte do Jose Cláudio e Maria do Espírito Santo”. O advogado de José Rodrigues, Wandergleisson Fernandes Silva, pastor evangélico da Assembleia de Deus, disse que vai recorrer da condenação de Lindonjonson e atribuiu a falta de mais tempo de debates para poder provar a inocência do réu. “Houve uma festa da democracia”, comemorou o advogado.

Para o juiz Murilo Lemos Simão, esse foi o processo de maior repercussão da história de Marabá e que “a sociedade civil está muito bem representada”. Do lado de fora do Fórum, houve revolta por parte dos movimentos sociais em vigília. A ministra Maria do Rosário, da Secretaria de Direitos Humanos, declarou que “faltou punição ao mandante da morte” e que “a justiça só será feita quando for punido o mandante do crime.”

Presente em todo o julgamento, o frei Henri des Roziers, da CPT de Xinguara, ameaçado de morte, acredita que a defesa “foi esperta para manipular os jurados com o uso da religiosidade e da emoção”.  Para a liderança do MST, Charles Trocate, aconteceu a demonstração de um comportamento histórico do Judiciário paraense. “É uma vergonha para o Judiciário, para sociedade brasileira e especialmente para os movimentos sociais que aqui estavam organizados. E vai resultar em confronto porque o Judiciário sempre responde assim, com polícia”, disse ao apontar para o avanço da tropa de choque contra as pessoas que fizeram mobilização na parte externa do Fórum. A rodovia Transamazônica foi interditada. Pedras atiradas no Fórum. Demorou mais de uma hora para os gritos pedindo justiça silenciarem. Por falta de voz.

sábado, 6 de abril de 2013

Melhor assim (...)


Entre nós há apenas reticências

Melhor assim que um ponto final mal resolvido

Um ponto final mal resolvido causará sempre a dúvida quanto à objetividade do enredo em questão

Já reticências não

Três pontinhos finais

...

Sem fim


(E.Lira)

sexta-feira, 5 de abril de 2013

quinta-feira, 4 de abril de 2013

By Latuff


Ao grande músico seresteiro, minha pequena homenagem!

No último dia 22 de março faleceu em João Pessoa, o grande músico seresteiro, Elpidio Ferreiro retratado nessa charge por Régis Soares. Perfeita charge por sinal. É desse mesmo jeito que me lembro de Elpidio encantando as pessoas tocando o que há de melhor na Música Popular Brasileira.

Fã de cantores românticos como Altemar Dutra, Orlando Silva e Nelson Gonçalves era certo escutar esse estilo de música no Bar do Baiano, localizado no bairro dos Bancários, todas as sextas feiras onde Elpidio se apresentava e dividia o espaço democraticamente com os diversos artistas que frequentam este bar.

Elpidio faleceu em decorrência de um câncer após 23 dias internado no Hospital Samaritano.

A essa altura com certeza o Bar do Baiano já deve ter sido palco de uma justa homenagem a este grande músico que já fez parceria com Dominguinhos e Sivuca.

Por aqui eu deixo minha homenagem republicando um post que fiz em julho de 2011, sobre um fato ocorrido numa dessas noites de sexta-feira no Baiano, e que ao final daquela noite o meu amigo, envolvido neste caso, ganhava um cd de Elpidio de suas próprias mãos.

Se divirtam então com o post contido abaixo! 

Golpe de estado no Baiano Bar (16 de julho de 2011)

Ontem no Baiano escutei uma pérola que toda vez que me lembro caio na risada. Um indivíduo de boa aparência, mas já um pouco alterado, por conta de algumas doses de Triunfo, tomou o microfone do grande cantor Elpídio, que religiosamente se apresenta no Baiano todas as sextas feiras, e começou a proferir um verdadeiro discurso mais ou menos assim:

...esta música que vou cantar é para aqueles que, assim como eu, tiveram um grande amor mas após 15 anos de casado levei um golpe de estado dela...

kkkkkkkkk...não me aguento. Golpe de estado foi a melhor definição que já vi de alguém que levou um grande chifre. hehe.

O nome feio, por Luiz Fernando Veríssimo


No meu tempo... Parênteses: sempre que um cronista começa a crônica com “no meu tempo” significa que está sentimentalizando sua velhice para não precisar lamentá-la, o que não interessaria a ninguém. No meu tempo, como eu dizia quando me interrompi tão rudemente, ler ou ouvir um “nome feio” fora de contexto era sempre uma felicidade.

Me lembro da minha surpresa ao descobrir que havia nomes feios nos dicionários. Agradávamos aos nossos pais, dando a impressão de que fazíamos uma pesquisa etimológica séria no dicionário, quando na verdade estávamos procurando “bunda”. No meu tempo, entre parênteses, “bunda” era nome feio.

Em Porto Alegre, há muitos anos, existia uma loja chamada Casa Carvalho. O nome da loja aparecia em letras aplicadas à sua fachada e, dependendo da sua faixa etária e da sua disposição para pensar em bobagem, você ou pertencia ao grupo que vivia em alegre expectativa do dia em que o “v” de “Carvalho” caísse, ou ao grupo mais velho que vivia em sobressalto com a possibilidade de isto ocorrer.

Que eu me lembre, o desejado ou temido nunca aconteceu e a loja chegou ao fim dos seus dias com o “Carvalho” intacto. Mas, durante toda a sua existência, apenas aquele pequeno detalhe separou o estabelecimento do vexame e a cidade de um abalo moral.

No Rio, entre Copacabana e Ipanema, existe uma rua que eu já ouvi ser chamada de “Quase, quase”. Trata-se da Bulhões de Carvalho, que depende apenas de uma letra para deixar de ser um nome de família e se transformar numa raridade anatômica. No meu tempo isto seria motivo para muita risada, mas como hoje não existe mais “nome feio”, e até em conversa de criança palavrão é usado como pontuação, perdeu a graça.

Posso imaginar um avô atual chamando a atenção do neto para a consequência de um único erro de grafia no nome da rua e o neto fazendo uma cara de “Me poupe”.

Eu e o hipotético avô acima pertencemos à última geração que espantou o Condor, o que explica nossa ingenuidade. Na apresentação dos filmes da distribuidora Condor aparecia um pássaro condor na beira de um precipício pensando em alçar voo, e era comum, era quase obrigatório, a plateia espantar o condor, que sem este incentivo jamais voaria.

Nunca mais se espantou o condor, se é que o condor ainda existe. Olha aí, acabei me lamentando.

quarta-feira, 3 de abril de 2013

terça-feira, 2 de abril de 2013

By Latuff


Soneto do macho

Antônio Juraci Siqueira
Eu sou machista, sim! E não me venha
com blá-blá-blá de cunho feminista
baseado na Lei Maria da Penha
porque não me convence. E não insista!

Lá em casa não tem quem me detenha
que autoridade é assim que se conquista.
Minha mulher, coitada, até se empenha
mas, no final, tem que baixar a crista.

Quando ela faz menção de varrer casa,
de lavar louça, roupa e o que vier,
meu coração no peito explode em brasa!

Eu tomo-lhe a vassoura! Ela se arrasa
e vai olhar Tevê. Chie quem quiser
mas esse trampo não é pra mulher!

segunda-feira, 1 de abril de 2013

O dia da mentira

Retirado do blog Cão Uivador

Apesar da “comemoração” acontecer no dia 31 de março, a data certa é 1º de abril. Afinal de contas, trata-se da celebração de uma mentira: a de que em 1964 o Brasil foi salvo de uma “ditadura comunista” por meio de uma “revolução”.

Isso mesmo: uma revolução de direita. Alguém já tinha visto uma maluquice dessas?

Só que tem mais. O objetivo declarado dessa “revolução” conservadora era o de “defender a democracia”. Afinal, nada mais “ditatorial” do que o presidente não ser da direita: basta pensar um pouquinho no povo, que já começa a gritaria de que o governo é “comunista”, “autoritário” etc. Democrático é derrubar pelas armas um presidente eleito por um povo que “não sabe votar”, segundo esses tais “revolucionários” da direita.

A “defesa da democracia” se daria colocando um general no governo até 31 de janeiro de 1966, quando se encerraria o mandato do “ditador” João Goulart (sim, “ditador”, pois fora eleito por um povo que “não sabe votar”): em outubro de 1965, certamente o povo já teria “aprendido a votar” e assim um candidato de direita (provavelmente Carlos Lacerda, entusiasmado apoiador da “revolução”) venceria.

Mas, em 1965 o povo ainda não tinha “aprendido” (tanto que a eleição acabaria acontecendo só em 1989). Tinha de “levar mais porrada”, e se só bater não adiantasse, torturas, mortes e desaparecimentos faziam parte do script. Algo tão “democrático”, que até Carlos Lacerda acabou mudando de lado ao perceber que aquela “revolução” iniciada em 31 de março de 1964 e consolidada no dia seguinte duraria bem mais do que prometera da boca para fora.

Aliás, aquele golpe que se utilizou de uma fantasia para acabar com a democracia (já que por meio dela a direita não conseguia retomar a presidência) venceu na data que combina com ele: 1º de abril, o “dia da mentira”, também conhecido como “dia dos bobos”. Pois Lacerda não foi o único a ser enganado. Muita gente acreditou no papo de que se tratava de uma “revolução” que impediria a implantação de uma “ditadura comunista” e assim salvaria a democracia brasileira.

————

Mas uma coisa também precisa ser dita: quem organizou aquilo não era nada “bobo”. Já disse uma vez que pessoas de esquerda tendem a ser mais inteligentes, por serem contestadoras; mas ao mesmo tempo, se os líderes conservadores de 1964 fossem “burros”, não teriam vencido.
Aliás, é preciso ser bem inteligente para engambelar as pessoas por quase 50 anos – sim, ainda há quem acredite que em 1964 fomos “salvos”…