quinta-feira, 31 de julho de 2014

sexta-feira, 25 de julho de 2014

Do apagão do futebol ao apagão da política: o Sistema é o mesmo

Por Luciana Genro

O desastre da Seleção Brasileira na Copa do Mundo pode servir a uma causa nobre: é a hora de democratizar a CBF e dar adeus a Marin e seus amigos. Agora todos vão debater sobre o que, afinal, aconteceu. Foi um apagão? Um momento excepcional ou uma expressão de problemas estruturais? Resposta do jogador Paulo André, líder do Bom Senso FC: “O buraco é mais embaixo”.

A direção da CBF é uma máfia composta por homens que pensam no futebol apenas como negócio e promovem tenebrosas transações. São protegidos pelo Ministério dos Esportes que não faz nada pelo Esporte e cujas ações irregulares já foram denunciadas inúmeras vezes. A corrupção corre solta, vai desde a venda dos jogadores, dos ingressos, passa pelos programas do Ministério dos Esportes, até o superfaturamento das obras nos estádios. Estádios que custaram bilhões e, segundo Dilma, só abrigam a “elite branca” do país.

Os clubes, quase falidos, pedem perdão das dívidas tributárias e o governo acena com um sim, numa verdadeira irresponsabilidade fiscal. Ao mesmo tempo, muitos dos dirigentes dos clubes endividados estão milionários. Uma verdadeira casta que enriquece com o futebol. E ela não faz parte da torcida, faz apenas grandes negócios, sonega impostos, não paga dívidas trabalhistas e lava dinheiro com a compra e venda de atletas.

Alguns poucos jogadores ganham milhões, mas a grande maioria ganha uma miséria e, às vezes, nem recebe o salário. Não há incentivo para o futebol de base e nem para os craques ficarem no Brasil. O Bom Senso FC, a verdadeira Seleção Brasileira, tem denunciado e apresentado propostas que têm sido ignoradas pelos dirigentes e pelo governo.

A situação do nosso futebol ilustra alguns dos problemas estruturais do sistema político brasileiro. Vivemos o apagão da política? Ou, ainda mais do que isso, é o Sistema que está todo errado?

As manifestações de junho do ano passado geraram promessas em meio ao susto das elites dirigentes diante da força da multidão. Promessas engavetadas e que agora voltam à baila pela boca dos candidatados, como se eles não fossem responsáveis pela situação atual. Aécio, Eduardo Campos e Dilma, os três candidatos do sistema que comanda o Brasil, insistem em fazer de conta que não têm responsabilidade nenhuma no surgimento, no agravamento ou na continuidade das mazelas do Brasil.

Depois da derrota vexatória do Brasil para a Alemanha a presidente Dilma falou da necessidade de reformar o futebol, assim como já havia falado em meio às manifestações de junho de 2013, sem levar adiante, do plebiscito para a reforma política. Fala e vai falar mais, na campanha, que o Brasil precisa disto ou daquilo, como se o PT não fosse governo há 12 anos nem o responsável por ter dado estabilidade à dominação burguesa durante todos estes anos! A única resposta concreta aos protestos e à insatisfação do povo são as promessas vazias. E para quem não acredita nelas, a repressão da polícia e a prisão de ativistas.

A situação econômica não é diferente. Os bancos lucraram R$ 70 bilhões no ano passado e também são verdadeiras máfias, parasitas que nada produzem e só sugam dinheiro do povo, seja através dos juros da dívida pública, seja através dos juros cobrados dos correntistas. Com o BNDES o governo concede generosos empréstimos a juros subsidiados para as empreiteiras e grandes empresas. As primeiras superfaturam obras que até desmoronam, como em BH, e as empresas quebram e demitem, como o império de Eike Batista – um escândalo de proporções trilionárias – ou o JBS/Friboi, que acaba de anunciar demissões em São Paulo depois de ser uma das que mais recebeu dinheiro do BNDES.

O anunciado fim da miséria e saída de milhões da pobreza é uma grande falácia. Basta andar pelas nossas cidades para perceber. Tem gente miserável jogada nas calçadas e tem gente pobre para todo o lado que se olhe. Mas para o governo basta uma renda mensal de R$ 70,00 por mês para sair da miséria e de R$ 240 para sair da pobreza. Valores que, somados, talvez não cubram um único jantar dos burocratas que fazem estes cálculos.

O aumento da violência é resultado direto da desigualdade social e do abismo que separa as castas que vivem no luxo da maioria que batalha a sobrevivência. A resposta dos governos é o encarceramento em massa da juventude pobre e negra que lota os presídios, verdadeiras masmorras e escolas do crime. A dita guerra às drogas é uma verdadeira guerra aos pobres que discrimina e mata Amarildos, Cláudias e tantos anônimos. Neste sistema prospera até a homofobia, uma deformação de caráter provocada por uma sociedade doente. Na sombra de um PT que se entregou para as oligarquias de Sarney, Collor, Maluf, etc, cresce a direita e o fundamentalismo religioso, penal e econômico.
Na Europa, onde a crise joga milhões no desemprego, até o nazismo renasce. Mas também se fortalece uma esquerda coerente. Os exemplos mais avançados são a Grécia e a Espanha, dois dos países mais atingidos pela crise e nos quais, através da Syriza e do Podemos, uma alternativa de esquerda prospera inclusive eleitoralmente. Não precisamos chegar neste nível de crise para que a esquerda coerente também ganhe peso de massas no Brasil.

Nossa proposta tem sido classificada como radical. Sim, somos radicais na medida em que o Brasil necessita de mudanças radicais, que desestruturem as máfias que comandam a política, o futebol, a economia. Nossa proposta é mais que radical. É subversiva. Queremos subverter esta verdadeira desordem que possibilita que a política, a economia e até o futebol sejam dominados por estas variadas máfias e seus sócios, os bancos , as empreiteiras, os “mercados”. Queremos enfrentar e derrotar este Sistema.

Lutamos por uma democracia real, na qual os direitos do povo não sejam objeto de negociatas a serviço do grande capital. Não é encarcerando em prisões imundas que vamos salvar nossos jovens do narcotráfico, mas sim oferecendo oportunidades e futuro. Educação, saúde e transporte não podem ser tratados como mercadorias. Devem ser assegurados como direitos de todos. Ninguém deveria ter que pagar um plano de saúde, ou morrer numa fila do SUS; pagar uma escola particular ou estudar numa caindo aos pedaços; ou ainda deixar de pegar um ônibus por falta de dinheiro. E, ao mesmo tempo, arcar com uma alta carga tributária da qual o retorno que recebe é totalmente desproporcional ao que é pago.

É possível garantir estes direitos, desde que se derrube o balcão de negócios que domina a política e se enfrente os interesses das minorias que se beneficiam deste sistema. Temos que virar a mesa! É possível conquistar mais direitos se tivermos coragem e coerência. Queremos a oportunidade de mostrar ao povo brasileiro que temos esta coragem e coerência, assim como tivemos lá atrás, quando rompemos com o governo para seguir lutando por nossas idéias e bandeiras e seguir construindo uma esquerda digna deste nome.

Além de radicais, alguns também dizem que somos utópicos. E somos. Entendemos a utopia como as possibilidades concretas que estão latentes na realidade e ainda não se desenvolveram plenamente. A chamamos de utopia concreta. Esta utopia concreta nos leva a seguir caminhando, mesmo quando o Sistema conspira contra nós. Acreditamos que através da ação coletiva podemos contribuir para que a utopia se realize.

quinta-feira, 24 de julho de 2014

quarta-feira, 23 de julho de 2014

"Cumpriu sua sentença..."



"Cumpriu sua sentença. Encontrou-se com o único mal irremediável, aquilo que é a marca do nosso estranho destino sobre a terra, aquele fato sem explicação que iguala tudo o que é vivo num só rebanho de condenados, porque tudo o que é vivo, morre". (O Auto da Compadecida)

By Latuff


segunda-feira, 21 de julho de 2014

PORTO DO CAPIM


De Lau Siqueira
(poema dedicado às mulheres da comunidade do Porto do Capim, em João Pessoa, 

que resistem com garra aos desejos ilimitados da especulação capitalismo)








a cidade de joão pessoa

nunca olha de frente

para o rio sanhauá



talvez por ter vergonha 

das suas margens


a cidade não veste a pele 
dos que encharcam os pés nas
beiradas do porto do capim

onde as chuvas aniquilam
o pouco dos que pouco
possuem

onde os barcos atracam 
no assoreamento e no 
abandono

onde um estupro urbanístico 
é prometido pelos que mandam 
e fazem

pelos que arrancam as árvores
porque acreditam não precisar 
dos pássaros

a cidade de joão pessoa
esqueceu do seu nascedouro

virou as costas 
para onde a verdade maior
é o reflexo da lua nas águas
do rio

um lugar onde o esquecimento 

fez morada no tempo e a beleza 

é o alimento de cada manhã


suas mulheres transformaram

a luta num lugar de morada

By Latuff


terça-feira, 15 de julho de 2014

sexta-feira, 11 de julho de 2014

Romário defende cadeia para mandatários da CBF

retirado do site do Jornal A Verdade

Passado o luto das primeiras horas seguidas da derrota, vamos ao que verdadeiramente interessa! Quem tem boa memória, vai lembrar da minha frase: Fora de campo, já perdemos a Copa de goleada!

Infelizmente, dentro de campo, não foi diferente.

Ontem foi um dia muito triste para nosso futebol. Venceu o melhor e ninguém há de questionar a superioridade do futebol alemão já há alguns anos. Ainda assim, o mundo assistiu com perplexidade esta derrota, porque nem a Alemanha, no seu melhor otimismo, deve ter imaginado essa vitória histórica.

Porém, se puxarmos da memória, vamos lembrar que nossa seleção já não vinha apresentando nosso melhor futebol há muito tempo. Jogamos muito mal. Infelizmente, levamos sete e, por mais que isso cause mal-estar, devemos admitir que a chuva de gols foi apenas reflexo do pânico, da incapacidade de reação dos nossos jogadores e da falta de atitude do treinador de mudar o time.

Vivemos uma crise no nosso esporte mais amado, chegamos ao auge dela. Acha que isso é problema só dos jogadores ou do Felipão? Nem de longe.

Nosso futebol vem se deteriorando há anos, sendo sugado por cartolas que não têm talento para fazer sequer uma embaixadinha. Ficam dos seus camarotes de luxo nos estádios brindando os milhões que entram em suas contas. Um bando de ladrões, corruptos e quadrilheiros!

O meu sentimento é de revolta.

Estou há quatro anos pregando no deserto sobre os problemas da Confederação Brasileira de Futebol, uma instituição corrupta gerindo um patrimônio de altíssimo valor de mercado, usando nosso hino, nossa bandeira, nossas cores e, o mais importante, nosso material humano, nossos jogadores. Porque não se iludam, futebol é negócio, business, entretenimento e move rios de dinheiro. Nunca tive o apoio da presidenta do País, Dilma Rousseff, ou do ministro do Esporte, Aldo Rebelo. Que todos saibam: já pedi várias vezes uma intervenção política do Governo Federal no nosso futebol.

Em 2012, eu apresentei um pedido de CPI da CBF, baseado em um série de escândalos envolvendo a entidade, como o enriquecimento ilícito de dirigentes, corrupção, evasão de divisas, lavagem de dinheiro e desvio de verba do patrocínio da empresa área TAM. O pedido está parado em alguma gaveta em Brasília há dois anos. Em questionamento ao presidente da Câmara dos Deputados, sr. Henrique Eduardo Alves, mas ouvi como resposta que este não era o melhor momento para se instalar esta CPI. Não concordei, mas respeitei a decisão. E agora, presidente, está na hora?

Exceto por um vexame como o de ontem, o Brasil não precisaria se envergonhar de uma derrota em campo, afinal, derrotas fazem parte do esporte. Mas vergonha mesmo devemos sentir de ter uma das gestões de futebol mais corruptas do mundo. A arrogância dessa entidade é tão grande que até o chefe da assessoria de imprensa chega ao absurdo de bater em um atleta de outra seleção, como fez o Rodrigo Paiva contra o jogador Pinilla, do Chile. Paiva pegou quatro jogos de suspensão e foi proibido de acessar o vestiário dos jogadores. Este ato foi muito simbólico e diz muito sobre eles. O presidente da entidade, José Maria Marin, é ladrão de medalha, de energia, de terreno público e apoiador da ditadura. Marco Polo Del Nero, seu atual vice, recentemente foi detido, investigado e indiciado pela Polícia Federal por possíveis crimes contra o sistema financeiro, corrupção e formação de quadrilha. São esses que comandam o nosso futebol. Querem vergonha maior que essa?

Marin e Del Nero tinham que estar era na cadeia! Bando de vagabundos!!!

A corrupção da CBF tem raízes em todos os clubes brasileiros, vale lembrar que são as federações e clubes que elegem há anos o mesmo grupo de cartolas, com os mesmos métodos de gestão arcaicos e corruptos implementados por João Havelange e Ricardo Teixeira e mantidos por Marin e Del Nero. Vale lembrar, que estes dois últimos mudaram o estatuto da entidade e anteciparam a eleição da CBF para antes da Copa. Já prevendo uma possível derrota e a dificuldade que eles teriam de se manter no poder com um quadro desfavorável.

E os clubes? Sim, eles também são responsáveis por essa crise. Gestões fraudulentas, falta de investimento na base, na formação de atletas. Grandes clubes brasileiros estão falindo afogados em dívidas bilionárias com bancos e não pagamentos de impostos como INSS, FGTS e Receita Federal.

E toda essa má gestão que tem destruído o nosso futebol, infelizmente, tem sido respaldada há anos pelo Congresso Nacional com anistias e mais anistia destes débitos. Este ano tivemos mais um projeto desses vexatórios para salvar os clubes. Um projeto que previa que clubes pagassem apenas 10% de suas dívidas e investissem 90% restante em formação de atletas. Parece até deboche. Uma soma de aproximadamente R$ 4 bilhões ou muito mais, não se sabe ao certo. Corajosamente, o deputado Otávio Leite, reconstruiu o texto e apresentou uma proposta honesta estruturada em responsabilidade fiscal, parcelamento de dívidas e a criação de um fundo de iniciação esportiva, com obrigações claras para clubes e CBF.

Em resumo, a nova proposta além de constituir a Seleção Brasileira de Futebol e o Futebol Brasileiro como Patrimônio Cultural Imaterial – obrigava a CBF a contribuir com alíquota de 5% sobre as receitas de comercialização de produtos e serviços proveniente da atividade de Representação do Futebol Brasileiro nos âmbitos nacional e internacional. O tributo também incidiria sobre patrocínio, venda de direitos de transmissão de imagens dos jogos da seleção brasileira, vendas de apresentação em amistosos ou torneios para terceiros, bilheterias das partidas amistosas e royalties sobre produtos licenciados. O valor seria destinado a um fundo de iniciação esportiva para crianças e jovens de todo o Brasil. Esses e outros artigos dariam responsabilidade à CBF, punição à entidades e outros gestores do futebol, a CBF estaria sujeita a fiscalização do TCU e obrigada a ter participação de um conselho de atletas nas decisões.
Mas este texto infelizmente não foi para a frente. Sete deputados alemães fizeram os gols que desclassificaram nosso futebol e nos tirou a chance de moralizar nosso esporte. Estes deputados, como todos sabem, fazem parte da Bancada da CBF, mudei o nome porque Bancada da Bola é muito pejorativo para algo que amamos tanto. Gosto de dar os nomes: Rodrigo Maia (DEM -RJ), Guilherme Campos (PSD-SP), Arnaldo Faria de Sá (PTB-SP), José Rocha (PR-BA) , Vicente Cândido (PT-SP), Jovair Arantes (PTB-GO) e Valdivino de Oliveira (PSDB-GO).

Essa partida ainda pode ser revertida com a votação do projeto no Plenário da Câmara. Será que esses sete deputados voltarão a prejudicar o nosso futebol?
O futebol brasileiro tomou uma goleada e a derrota retumbante, infelizmente, não foi só em campo. Nem sequer tivemos o prazer de jogar no Maracanã, um templo do futebol mundial, reformado ao custo de mais de R$ 1 bilhão. Acha que foi porque não chegamos a final? Não. Poderíamos ter jogado qualquer outro jogo lá. A resposta disso é ganância e arrogância. É a CBF que escolhe onde o Brasil vai jogar, mas, obviamente, poderia ter tido interferência do Ministério do Esporte e da presidência da República, mas nenhum destes se manifestou. Quem levou com essas escolhas?

Para fechar com chave de ouro, a CBF expulsou do vestiário Cafu, capitão de seleção do pentacampeaonato. Cafu foi expulso do vestiário enquanto cumprimentava os jogadores ontem. Este é o retrato do nosso futebol hoje, não honramos a nossa história.

Dilma tem sim que entregar a taça para outra seleção. Este gesto será o retrato do valor que ela deu ao nosso futebol nos últimos anos! Eles levarão a taça e nós ficaremos com nossos estádios superfaturados e nenhum legado material, porque imaterial, mostramos para o mundo que com toda nossa dificuldade, somos um povo feliz.
 
Romário foi atacante da Seleção Brasileira durante vários anos e atualmente  é deputado federal

quinta-feira, 10 de julho de 2014