segunda-feira, 29 de agosto de 2011

Como a al-Qaeda chegou ao poder em Trípoli

Por: Pepe Escobar, Asia Times Online
30/8/2011

O nome do homem é Abdelhakim Belhaj. Alguns o conhecem no Oriente Médio, mas poucos no Ocidente algum dia ouviram seu nome.

Vamos por partes. Porque a história de como um comandante da al-Qaeda acabou por converter-se no principal comandante militar líbio na cidade de Trípoli ainda em guerra, põe por terra – mais uma vez – a selva de espelhos que se conhece como “guerra ao terror”, além de abalar profundamente toda a propaganda de uma “intervenção humanitária” tão cuidadosamente inventada para encobrir a intervenção militar, pela Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN), na Líbia.

A fortaleza de Bab-al-Aziziyah, onde vivia Muammar Gaddafi foi invadida e conquistada, semana passada, quase exclusivamente por homens de Belhaj – que constituíam a linha de frente de uma milícia de berberes das montanhas do sudoeste de Trípoli. Essa milícia é a chamada hoje “Brigada de Trípoli”, que recebeu treinamento secreto, durante dois meses, de Forças Especiais dos EUA. Ao longo de seis meses de guerra civil/tribal, essa seria a milícia mais efetiva dos ‘rebeldes’.

Na 3ª-feira passada, Belhaj vangloriava-se de como havia vencido, com as forças de Gaddafi escapando “como ratos” (a mesma metáfora que Gaddafi usou, referindo-se aos ‘rebeldes’).

Abdelhakim Belhaj, também conhecido como Abu Abdallah al-Sadek, é jihadista líbio. Nascido em maio de 1966, aperfeiçoou seus saberes com os mujahideen da Jihad antissoviética dos anos 1980s no Afeganistão.

É fundador do Grupo de Combate Islâmico Líbio [ing. Libyan Islamic Fighting Group (LIFG)] do qual é o principal comandante – com Khaled Chrif e Sami Saadi como assessores e representantes. Depois que os Talibã assumiram o poder em Kabul em 1996, o LIFG criaram dois campos de treinamento no Afeganistão; um deles, 30 km ao norte de Kabul – comandado por Abu Yahya – exclusivo para jihadistas ligados à al-Qaeda.

Depois do 11/9, Belhaj mudou-se para o Paquistão e para o Iraque, onde esteve em contato com ninguém menos que o ultra linha-dura Abu Musab al-Zarqawi – tudo isso antes que a al-Qaeda no Iraque se declarasse a serviço de Osama bin Laden e Ayman al-Zawahiri e super ultra turbinasse suas práticas nefandas.

No Iraque, os líbios formavam o maior contingente de jihadistas sunitas estrangeiros, perdendo só para os sauditas. Além disso, os jihadistas líbios sempre foram superstars no mais alto escalão da Al-Qaeda “histórica” – de Abu Faraj al-Libi (comandante militar até ser preso em 2005, e hoje um dos 16 detentos “de mais alto valor” no centro de detenção dos EUA em Guantánamo), a Abu al-Laith al-Libi (outro alto comandante militar, morto no Paquistão no início de 2008).

Uma “entrega (muito) especial”[1]

O Grupo de Combate Islâmico Líbio [ing. Libyan Islamic Fighting Group (LIFG)] está nos radares da Agência Central de Inteligência (CIA) dos EUA desde o 11/9. Em 2003, Belhaj foi afinal preso na Malásia – e transferido pela via das “entregas especiais”, para uma prisão secreta em Bangkok onde foi devidamente torturado.

Em 2004, os norte-americanos decidiram mandá-lo, como presente, para a inteligência da Líbia – até que foi libertado pelo governo Gaddafi, em março de 2010, com outros 211 “terroristas”, em golpe de propaganda divulgado com muito alarde.

O orquestrador de tudo isso foi ninguém menos que Saif Islam al-Gaddafi – a face modernizadora à moda da London School of Economics do regime. Os comandantes do Grupo de Combate Islâmico Líbio [ing. Libyan Islamic Fighting Group (LIFG)] –Belhaj e seus dois assessores Chrif e Saadi – divulgaram uma confissão de 417 páginas, chamada “Estudos Corretivos”, na qual declararam o fim da Jihad contra Gaddafi (também a declararam ilegal). Em seguida, foram postos em liberdade.

Relato fascinante de todo esse processo pode ser encontrado num relatório intitulado “Combatendo o Terrorismo na Líbia com Diálogo e Reintegração” [orig. Combating Terrorism in Libya through Dialogue and Reintegration (1)]. Observe-se que os autores “especialistas” em terrorismo sediados em Cingapura, e que o regime cevava com vinhos e jantares, manifestam “o mais profundo agradecimento a Saif al-Islam Gaddafi e à fundação Gaddafi International Charity and Development, que tornaram possível essa visita”.

Interessa observar que isso durou até 2007, quando o número 2 da al-Qaeda, Zawahiri, anunciou oficialmente a fusão do Grupo de Combate Islâmico Líbio [ing. Libyan Islamic Fighting Group (LIFG)] com a al-Qaeda no Mahgreb Islâmico [ing. Al-Qaeda in the Islamic Mahgreb (AQIM)]. Desde então, para todas as finalidades práticas, LIFG/AQIM passaram a ser um e o mesmo grupo, do qual Belhaj era/é o principal comandante e emir.

Em 2007, o Grupo de Combate Islâmico Líbio [ing. Libyan Islamic Fighting Group (LIFG)] estava convocando uma Jihad contra Gaddafi, mas também contra os EUA e sortido grupo de “infiéis” ocidentais.

Rode a fita adiante, até fevereiro passado. É quando, afinal livre da prisão, Belhaj resolveu voltar ao modo Jihad e alinhar seus soldados com o ‘levante’ de ‘rebeldes’ que começava a ser plantado na Cirenaica.

Todas as agências de inteligência nos EUA, Europa e em todo o mundo árabe sabem de onde brotou Belhaj. Mesmo que não soubessem, o próprio Belhaj já disse na Líbia que o único interesse, seu e de suas milícias, é implantar a lei da sharia.

Não há, nem parecido, nisso tudo, qualquer processo “pró-democracia” – nem que se tente a mais complexa ginástica imaginativa. Mas, ao mesmo tempo, força de tal importância não seria apeado da guerra da OTAN só porque não gosta muito de “infiéis”.

O assassinato no final de julho, do comandante dos ‘rebeldes’ general Abdel Fattah Younis – foi morto pelos próprios ‘rebeldes’ – parece apontar diretamente para Belhaj ou, no mínimo, para gente próxima dele.

É importante saber que Younis – antes de desertar do governo Gaddafi – foi responsável, no governo Líbio, pelo combate feroz que as forças especiais líbias moveram contra o Grupo de Combate Islâmico Líbio [ing. Libyan Islamic Fighting Group (LIFG) na Cirenaica, de 1990 a 1995.

O Conselho Nacional de Transição, segundo um de seus membros, Ali Tarhouni, teria deixado ‘vazar’ que Younis foi moto por uma nebulosa brigada, de nome Obaida ibn Jarrah (um dos companheiros do Profeta Maomé). Agora, a tal brigada parece ter-se dissolvido no ar.

Cale o bico, ou arranco sua cabeça

Não pode ser acaso, que todos os principais comandantes militares ‘rebeldes’ sejam membros do Grupo de Combate Islâmico Líbio [ing. Libyan Islamic Fighting Group (LIFG), de Belhaj em Trípoli, a um Ismael as-Salabi em Benghazi e certo Abdelhakim al-Assadi em Derna, para nem mencionar figura importantíssima, Ali Salabi, com assento no núcleo do Conselho Nacional de Transição. Saladi foi quem negociou com Saif al-Islam Gaddafi o “fim” da Jihad do Grupo de Combate Islâmico Líbio contra o regime Gaddafi, com o que garantiu para si futuro brilhantíssimo entre esses ressuscitados “combatentes da liberdade”.

Ninguém precisará de bola de cristal para antever consequências. O grupo unificado LIFG/AQIM – já tendo alcançado poder militar e assentado entre os “vencedores” – nem remotamente desistirá do poder, só para satisfazer os anseios da OTAN.

Simultaneamente, entre a névoa da guerra, ainda não se sabe se Gaddafi planeja atrair a Brigada de Trípoli para um cenário de guerrilha urbana; ou se arrastará atrás de si as milícias ‘rebeldes’, atraindo-as para o coração dos territórios da tribo Warfallah.

A esposa de Gaddafi é da tribo Warfallah, a maior da Líbia, com mais de 1 milhão de almas e 54 subtribos. Diz-se pelos corredores em Bruxelas, que a OTAN prevê que Gaddafi lutará durante meses, se não anos; daí o prêmio (“Procurado vivo ou morto”) à moda texana de George W Bush, pela cabeça de Gaddafi; e a volta desesperada da OTAN ao plano A (o golpe militar para derrubar Gaddafi).

É possível que a Líbia enfrente hoje o duplo espectro de uma Hidra guerrilheira de duas cabeças: forças de Gaddafi contra um governo central fraco do Conselho Nacional de Transição e tropas da OTAN em terra na Líbia; e a nuvem de Jihadistas do conglomerado LIFG/AQIM em Jihad contra a OTAN (se forem afastados do poder).

É possível que Gaddafi não passe de relíquia ditatorial do passado. Mas ninguém monopoliza o poder por 40 anos por nada e sem que seus serviços de inteligência nada descubram de aproveitável.

Desde o primeiro dia, Gaddafi disse e repetiu que o ataque contra a Líbia era operação da al-Qaeda e/ou operação local com financiamento estrangeiro. Esteve certo, portanto, desde o primeiro dia – embora tenha esquecido de dizer que, sobretudo, sempre foi guerra inventada pelo neonapoleônico presidente Nicolas Sarkozy da França (mas essa já é outra história).

Gaddafi também disse que seria o prelúdio da ocupação estrangeira, cuja meta é privatizar e roubar os recursos naturais da Líbia. Parece que acertou – também nisso.

Os “especialistas” de Cingapura que elogiaram a decisão do regime de Gaddafi de libertar os Jihadistas do Grupo de Combate Islâmico Líbio disseram que seria “estratégia necessária para mitigar a ameaça que pesa contra a Líbia”. Hoje, o que se vê é que o conjunto LIFG/AQIM – quer dizer, a al-Qaeda – conseguiu posicionar-se para exercer suas opções como “força política (líbia) local”.

Dez anos depois do 11/9, não é difícil imaginar que, no fundo do Mar da Arábia, há um crânio decomposto que, esse sim, está rindo por último. E lá ficará. Rindo.

Nota

1. Documento na íntegra, em PVTR.org (em inglês).

[1] Orig. extraordinary rendition. Em inglês, essa expressão designa o processo ilegal, mas usado frequentemente durante o governo Bush, nos primeiros movimentos da “guerra ao terror” pelo qual prisioneiros presos num país são entregues a outro, para serem interrogados [NTs, com informações de Wikipedia].

quinta-feira, 25 de agosto de 2011

Há 50 anos, a Rede da Legalidade impedia um golpe militar

E o papel decisivo foi do então governador gaúcho, Leonel Brizola, que organizou a resistência a partir do Piratini

23 do 08 de 2011 às 12:55

João José Forni

Os mais jovens talvez conhecem a história contada pelos pais ou parentes. A maioria dos brasileiros ouviu falar. Talvez nem saibam realmente o significado histórico. Esta semana faz 50 anos um dos episódios mais marcantes da história moderna do Brasil, com a participação popular. Em agosto de 1961, o presidente Jânio Quadros renuncia e o Vice-Presidente João Goulart está na China, em viagem oficial.

Numa democracia forte, seria natural o vice assumir a presidência. Mesmo em momentos traumáticos, como na morte de Tancredo Neves, em 1985, ou no impeachment de Fernando Collor, em 1991, foi unânime o apoio à posse dos vice-presidentes eleitos. Mas não no Brasil da década de 60. Jango não sabia se tomaria posse ou seria preso.

Militares viviam assombrados com o fantasma do comunismo e da Guerra Fria. Americanos assustados com as revoluções de esquerda na América Latina. Desde 1945, quando Getúlio Vargas foi apeado do poder, os militares tinham tentações golpistas, adiadas pela pressão popular, pelo voto e por militares legalistas. João Goulart era o herdeiro de Getúlio, de quem foi ministro. Nele os militares viam o continuísmo de um sistema político que abominavam, principalmente porque as reformas de base preconizadas por Goulart, desde a década de 50, tinham um cheiro de república popular e revolucionária.

Nem Jânio havia partido de Brasília e os militares deram sinais de que não aceitariam a posse do vice. Era mais uma tentativa de golpe militar, frustado em 1955, quando da eleição de Juscelino Kubitschek, pela atuação firme do Marechal Henrique Lott. Em 1961, o cargo de presidente da República vago era a oportunidade de ouro para os conspiradores escantearem Jango e assumir o poder. O grupo era o mesmo que vai dar o Golpe, em 1964, ficando 20 anos no poder.

Só não contavam com a resistência do Sul. O governador Leonel Brizola resolve peitar os militares e organiza resistência no Palácio Piratini, pregando para o país o cumprimento da Constituição. Ou seja, a posse de João Goulart. Ele passa a transmitir em cadeia de rádio discursos inflamados contra os militares golpistas, pregando a legalidade. Daí o nome Rede da Legalidade: transmissões que repercutiam no país e no exterior.

A retórica caudilhesca de Brizola acendeu não apenas os brios da população gaúcha, como mobilizou brasileiros de todos os recantos, contrários ao golpe. Afinal, seis meses antes, João Goulart havia sido democraticamente eleito vice-presidente. O governador de Goiás, Mauro Borges, foi dos primeiros a aderir.

Quem viveu aquela época recorda como um momento ímpar na história do país. Muitos personagens estão vivos e se emocionam ao recordar a mobilização popular em acompanhar pelo rádio, comparecer à praça da Matriz, em Porto Alegre, para ouvir Brizola, e ver voluntários pegando em armas e se oferecendo para resistir ao Golpe.

Os militares golpistas, com tudo preparado, se assustaram. Principalmente depois de o Comandante do III Exército, que reunia as Forças Armadas do Rio G.do Sul, Santa Catarina e Paraná, General Machado Lopes, apoiar o movimento da Legalidade. O jornalista Carlos Bastos, na época repórter do jornal Última hora, recorda: quando Brizola começou a falar, com discurso transmitido por mais de 150 emissoras, a partir dos porões do Palácio Piratini, havia umas 5 mil pessoas na praça. Uma hora depois, quando ele acabou, a multidão era de 50 mil pessoas.

Houve ainda outro momento culminante dessa epopeia. Diante de 100 mil pessoas na praça, o Comandante do III Exército chega com os generais e adere á entonação do Hino Nacional, cantado pela multidão, sinalizando apoio ao movimento. O historiador Jorge Ferreira, autor do livro João Goulart, uma Biografia, disse que "milhares de pessoas choraram nesse momento".

A notícia de que o III Exército exigia o cumprimento da Constituição como forma de solução da crise, ou seja, a posse de Goulart, em poucos minutos cruza o país, pelos teletipos, telefones e rádios. O apoio do III Exército à Legalidade era quase um pequeno golpe dentro do golpe que se armava.

Diante da iminência de uma guerra civil, já que o Sul se armava e não dava demonstrações de recuar, depois de intensas negociações políticas e tratativas militares, em Brasília, a junta militar engole a posse de João Goulart. Mas ele teve que concordar em assumir num regime parlamentarista. Ou seja, com poderes limitados. Foi a forma de os militares o assimilarem.

Segundo os historiadores, se Jango tivesse resistido, tinha grandes chances de tomar posse na força, dado o apoio popular. Mas ele não quis. Não queria sangue. Gesto que se repetiu em 1964, quando enfraquecido politicamente e acossado pelos militares, preferiu partir para o exílio em lugar de tentar uma resistência. Aqueles 12 dias de agosto a setembro de 1961 foram os mais tensos da moderna história do Brasil.

"A junta militar apertou o botão do golpe, mas a sociedade reagiu e não concordou", diz Jorge Ferreira. Um movimento que talvez só encontrou paralelo na campanha das Diretas Já, anos depois, no ocaso do regime militar. Para centenas de jornalistas, que viveram e cobriram a epopeia da Legalidade, trata-se daqueles momentos históricos únicos, que nunca mais serão esquecidos.

*Jornalista, Consultor de Comunicação. Editor do site www.comunicacaoecrise.com. Email jforni@terra.com.br

Artido retirado do Brasília 247

quarta-feira, 24 de agosto de 2011

by Latuff


Traduzindo as palavras contidas nesta charge:

- Estamos sempre prontos a ajudar, mas agora falemos de negócios (é o que diz o balão)

E já nos dentes está escrito: PETRÓLEO

terça-feira, 23 de agosto de 2011

Diário de Viagem

Escrito em 14 de fevereiro de 2007

Noites na Tijuca
Arcos da Lapa
Casa de Fundição
Gente conhecida
Estranhos
Mineiros
Baianos e baianas
e...
cariocas

roda de samba em Santa Tereza
Martinho da Vila
Beth Carvalho
E muita gente
Calor
O bonde que passa...
Na Lapa

Metrô
Cerveja bem gelada
E um caldo...
Mocotó
Noite quente
E um filme

15 para às 8 da manhã
estação Largo do Machado
praça
pombos
igreja
placas
Flamengo...Botafogo...Catete

Caminhada
Passos de reconhecimento
Uma música:
Carioca
Chico Buarque
Linda visão:
Pão de açúcar
E o seu bonde em neblina

Foto?
Nenhuma!
Companhia?
Em sonho!
E na mente...
A visão enevoada
Domingo a noite
Em Santa Tereza
A lua
Ao fundo o Pão de açúcar...
Roda de samba
Estrangeiros e...
Cariocas

Uma canja quente
Uma Skol gelada
E sempre
Ela...

A visão em mente

E o metrô segue nos trilhos
E sua trilha sonora:
O funk,
Ilari ilariê da Xuxa
NEXT STOP MARACANÃ STATION
São Cristóvão
Baldeação
Glória
Catete
Largo do Machado
e...
Botafogo

São 10 horas
Viagem marcada
Praia
Sol
Longa caminhada até o mar

Leme
Ipanema
Copacabana
Avenida Atlântica
E o Cristo Redentor
De braços abertos

12 e meia
é hora de voltar
de mala em mãos
estendo o braço
no letreiro do ônibus que se aproxima:
rodoviária

e aí...
é o caminho de volta
e no percurso
revejo o aterro
Flamengo
Memorial dos pracinhas
Ministério da Fazenda iponente
Catete
Glória
Lapa
Está longe? Pergunto
-15 minutos

finalmente...
ponto final
Rodoviária
Plataforma 41
Poltrona 15

Com o olhar triste
Sobre o Rio-niterói
O Cristo ao fundo
O Pão de açúcar bem longe
O Santos Dumont
E o pensamento mais longe

E hoje
Aqui estou
Uma lagoa em frente
Sem lua na noite
Companhia?
Nenhuma!
Foto?
Em sonhos

E uma recordação que surge
Após uma visão de desembarque
Um abraço
Palavras muito curtas
E a vista enevoada
A língua atrapalhada
O ônibus dá partida
E eu cá estou

Com versos sem cor
Sem dor
E uma noite...
Início de ano
Passageira
Passada
E marcada na mente

A noite
No Rio?
O que você acha?



sexta-feira, 19 de agosto de 2011

quarta-feira, 17 de agosto de 2011

Charges na rua


60 anos de Elba Ramalho

Hoje , 17 de agosto, Elba Ramalho completa seus 60 anos de idade. Deixo aqui uma música que gosto muito dessa grande artista paraibana.

Apenas uma curiosidade antes disso: Elba em sua juventude adotava o estilo Hippie. Tem dois depoimentos que já escutei sobre ela; um é de um ex-namorado dela que conta que ela jogava basquete e não tinha muitos modos de higiene. E o outro que já ouvi é do primeiro show que ela fez pra um grande público num festival de cultura de universitários em Pernambuco, a sua energia já contagiava nessa época.

Afinal, já são mais de 30 anos de carreira.

Bem, com vocês "Fuxico"

O meu amor ficou com raiva d’eu
E me mandou embora
Eu juro que doeu
E que a saudade agora
Devora feito fogo
Quando vai queimar

O meu amor
Por causa de um fuxico
De uma coisa à toa
Trocou o nosso ninho
Que era coisa boa
Por uma indiferença
Que não tem mais fim

Tem nada não
Eu choro todo o pranto
Que for prá chorar
Eu pago todo o preço
Que for prá pagar
Mas vou morrer dizendo
Que não te esqueci

E quando a saudade apertar
Não deixe de telefonar
Prá esta que ainda te ama
E vive doidinha de vontade
De ter seu amor sem maldade
Prá acender o calor dessa chama

segunda-feira, 15 de agosto de 2011

Militante da ALN é homenageado como cidadão paulistano

Retirado do Brasil de Fato

Comandante Jonas liderou o sequestro do embaixador estadunidense Charles Elbrick, em novembro de 1969

15/08/2011

Da redação

Os familiares de Virgílio Gomes da Silva, o Comandante Jonas, receberão, nesta segunda-feira (15), o título de cidadão paulistano concedido ao ativista político. A cerimônia ocorrerá às 19h no Salão Nobre da Câmara Municipal de São Paulo.

A homenagem ao integrante da Ação Libertadora Nacional (ALN), que completaria 78 anos de idade nesta segunda-feira, foi aprovada em abril por meio de projeto de decreto legislativo proposto pelo vereador Francisco Chagas (PT).Jonas comandou o sequestro do embaixador estadunidense Charles Elbrick, em novembro de 1969. Capturado dias depois da libertação do diplomata, foi brutalmente torturado pelos agentes do DOI-Codi paulista.

A cerimônia deverá ter a presença da viúva de Virgílio, Ilda Martins da Silva, que também foi presa e torturada.

Quem foi?
Virgílio Gomes da Silva foi operário da indústria química e dirigente do sindicato da categoria em São Paulo.

Nascido em 15 de agosto de 1933, na cidade de Santa Cruz, aos 18 anos saiu do sertão do Rio Grande do Norte para tentar a vida em São Paulo.

Trabalhou e tornou-se ativista sindical de destaque dentro da Empresa Nitro Química, em São Miguel Paulista. Passou a militar no PCB no começo da década de 1960. Pela ALN fez treinamento militar em Cuba, em 1967 adotando o codinome de “Jonas” para proteger a si próprio e a seus companheiros. Casou-se com Ilda Martins da Silva, em 21 de maio de 1960, com quem teve quatro filhos.

No comando da ALN, realizou uma das ações mais importantes da luta da resistência contra a ditadura: o sequestro do embaixador estadunidense no Brasil Charles Elbrick, o que obrigou os militares a reconhecerem publicamente a existência da tortura no Brasil, e sua troca pela liberdade de 15 presos políticos do regime e seu exílio no exterior, entre eles José Dirceu, Ricardo Zarattini, Wladimir Palmeira, Gregório Bezerra, Luis Travassos, José Ibraim, Flávio Tavares.

Poucos dias da libertação de Elbrick, Virgílio foi capturado. Brutalmente torturado, morreu na prisão em 1969, aos 36 anos de idade. Somente em 2004, porém, sua família, amigos e antigos companheiros de luta tiveram a confirmação da sua morte, através da divulgação de um laudo do IML da época da ditadura.

Atualmente, 42 anos depois de seu assassinato, seus restos mortais permanecem em local desconhecido, supostamente no Cemitério de Vila Formosa, para onde eram levados secretamente os corpos das vitimas da violência dos órgãos de repressão da ditadura militar.

domingo, 14 de agosto de 2011

Família de João Goulart pressiona pela exumação do corpo do ex-presidente

Correio Braziliense

Ivan Iunes


No último 4 de agosto, familiares do ex-presidente João Goulart entraram no gabinete da ministra dos Direitos Humanos, Maria do Rosário, na tentativa de encerrar a última linha de um episódio com início há 50 anos. A renúncia de Jânio Quadros, em 25 de agosto de 1961, inseriu o país em uma zona de turbulência que só teria fim com a redemocratização, 24 anos depois. Então vice-presidente, João Goulart, ou Jango, conseguiu assumir o poder a partir de uma campanha planejada pelo cunhado e à época governador gaúcho, Leonel Brizola, que chegou a sonhar com uma reedição da Revolução de 1930. Presidente a partir de uma decisão instável de Jânio, foi com a mesma instabilidade política que Jango protelou o golpe militar fracassado em 1961 até o último dia de março de 1964. Se os motivos da renúncia de Jânio foram parcialmente revelados pelo ex-presidente nos últimos anos de vida, as circunstâncias da morte de Jango permanecem veladas. E é esse véu que a família Goulart pretende remover.

Morto no exílio, em dezembro de 1976, com atestado de óbito indicando apenas “enfermidade”, Goulart não passou por autópsia. Agora, a viúva e os filhos do ex-presidente pretendem exumar o corpo dele, certos de que o político morreu envenenado. “Não temos interesses econômicos, minha mãe já foi até anistiada. Queremos pôr um ponto final na nossa angústia”, diz o filho mais velho de Jango, João Vicente Goulart. O caso, aberto por determinação da subprocuradora-geral da República, Gilda de Carvalho, em junho, está nas mãos do Ministério Público no Rio Grande do Sul. Para historiadores e cientistas políticos, os 50 anos da renúncia de Jânio e da campanha da legalidade planejada por Brizola colocam a memória daqueles 14 dias de instabilidade novamente sobre a mesa.

Em 25 de agosto de 1961, em uma carta com referências a “forças ocultas”, Jânio Quadros deixou o Palácio do Planalto depois de apenas sete meses de governo. Quando prefeito de São Paulo, antigos colaboradores relatam que não eram novidade pedidos de renúncia do político em momentos de tensão. Para não correr o risco de o vice assumir, tratou de despachar Goulart a uma viagem oficial à China. A diferença é que, se na capital paulista as renúncias sempre foram engavetadas, em Brasília ela virou realidade. “Pensei que os militares, os governadores e, principalmente, o povo nunca aceitariam a minha renúncia e exigiriam que eu ficasse no poder”, relatou Jânio, em 1991, ao neto — o trecho consta da biografia Jânio Quadros: Memorial à história do Brasil.

A atitude jogou o país em duas semanas de instabilidade, período em que ninguém, de fato, sabia por quem o Brasil estava sendo governado. “Não havia suspeita nenhuma de fragilidade do governo, nem instabilidade. A renúncia propiciou tudo isso”, diz o cientista político da Universidade de Brasília Octaciano Nogueira. Jango soube da renúncia quando se preparava para voar, em Cingapura. Retornou às pressas, mas, diante da ameaça iminente de golpe pelos militares, preferiu aterrisar em Montevidéu, Uruguai.

Civis armados

Cunhado de Jango, Brizola montou uma rádio nos porões do Palácio Piratini, armou 2 mil civis e, de lá, passou a transmitir discursos pregando o respeito à Constituição e à posse do vice-presidente. Com a adesão do 3º Exército, o protesto virou levante e Jango aceitou assumir a Presidência, mas com um primeiro-ministro, que viria a ser Tancredo Neves. “Brizola fez a campanha da legalidade, mas estava defendendo, na verdade, muito mais uma posição de poder do que a Constituição. Se Jango era o herdeiro primeiro de Getúlio Vargas, a linha sucessória tinha o próprio Brizola logo abaixo e ele vislumbrava isso”, analisa o cientista político do Insper Carlos Mello.

Depois de tomar posse, em 7 de setembro de 1961, Jango acabaria deposto em 1º de abril de 1964. Jânio perdeu os direitos políticos e morreu em São Paulo, em 1992. Jango faleceu na Estância de La Mercedes, Argentina. A ministra dos Direitos Humanos, Maria do Rosário, acenou com a possibilidade de escalar o Conselho de Defesa dos Direitos da Pessoa Humana, fundado pelo próprio João Goulart, para auxiliar nas investigações sobre a morte do ex-presidente. Quanto à exumação pedida pela família, o assunto deve ficar restrito ao MPF e à Justiça. “Não temos poder para investigar, chamar um general argentino para depor, mas o governo, uma Comissão da Verdade, teriam”, afirma João Vicente.

quarta-feira, 10 de agosto de 2011

Dia do estudante tem que ser assim! Na rua!




Fotos de Walter Paparazzo http://walterpaparazzi.blogspot.com)/

JN atropela Código de Ética da Globo

Por Luis Nassif, em seu blog:

Na chamada das 17hs00 do Jornal Nacional, Fátima Bernardes anunciou que uma das prisões da Polícia Federal – na operação sobre o Ministério do Turismo – seria de Clarice Coppeti.

Clarice foi vice-presidente de TI da Caixa Econômica Federal. Saiu, está de quarentena, preparava uma palestra na UnB quando foi alcançada por telefonemas desesperados de seus familiares.

É tida na CEF como pessoa corretíssima e, mais: jamais trabalhou em qualquer área ou projeto relacionado com o Ministério do Turismo.

A notícia foi dada sem que os nomes fossem conferidos e os acusados ouvidos.

PS - O Jornal Nacional abriu a matéria pedindo desculpas para a vítima - que está arrebentada, chorando, a mãe velhinha em pânico em Porto Alegre.

terça-feira, 9 de agosto de 2011

Explode panela de pressão social nos subúrbios de Londres

Por Wilson Sobrinho, correspondente da Carta Maior em Londres

08/08/2011

Rebelião, quebra-quebra e saques nos arredores de Londres certamente não tem nada de organizados, mas são alguns dos primeiros sintomas a emergir da austeridade, da crise e do desemprego que assola a Grã-Bretanha. Uma semana antes dos eventos que entram para a história de Londres como as piores rebeliões em quase três décadas, um jovem negro da comunidade de Tottenham alertava, em um vídeo produzido pelo The Guardian, para a grande panela de pressão que tinham se tornado, principalmente, as ruas dos subúrbios londrinos. A reportagem é de Wilson Sobrinho, direto de Londres.

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Se alguém pudesse argumentar motivações de justiça social por trás do protesto que deu origem à rebelião em Tottenham, no norte de Londres, no início da noite de sábado, menos de 24 horas depois essas razões já tinham sido vaporizadas quando os bairros de Enfield, Walthamstow, Islington e Brixton vivenciaram saques, quebra-quebra e violência gratuita (1). Porém, mesmo que qualquer política estivesse longe dos objetivos dos jovens que passaram a chuvosa noite de domingo em Londres quebrando vitrines de lojas de calçados esportivos e artigos eletrônicos, os resultados das decisões políticas ainda eram visíveis para qualquer um que olhasse com mais atenção para a trilha de destruição.

Uma semana antes dos eventos que entram para a história de Londres como as piores rebeliões em quase três décadas, um jovem negro da comunidade de Tottenham alertava, em um vídeo produzido pelo The Guardian, para a grande panela de pressão que haviam se tornado as ruas da capital Britânica em seus bairros mais desfavorecidos economicamente. “As ruas de Londres são duras, existem muitas gangues e crimes. E quando os clubes juvenis se foram eles acabaram cortando as raízes e as conexões dos jovens. Eles ficaram sem ter para onde ir… E é por isso que tem mais crime nas ruas: não há nada para se fazer.” Ele termina em tom de alerta: “Vai ter rebelião”. (2)

Os clubes juvenis a que ele se refere são centros comunitários onde jovens ingleses podem aprender profissões, praticar esportes, compor e gravar música e, acima de tudo, ficar longe das ruas e da influência das gangues, um problema particular em áreas mais carentes e afastadas do centro da mais rica capital europeia.

“Se você cortar as atividades de Verão dos jovens, tão certo como a noite segue o dia, você vai ver aumento na criminalidade”, disse o professor John Pitts (3) ao The Guardian, no dia 26 de julho, dias depois do começo das férias escolares de verão.

“ Meu nervosismo é que esses membros de gangues que estavam na escola irão para as ruas. Junte isso a cortes nos serviços que eles usam e menos assistentes sociais que podem mediar a situação, e essas ruas estarão muito mais perigosas e eu imagino que o nível de crime e violência irá aumentar”, disse em tom quase premonitório.

De acordo com o jornal, ainda que as médias dos cortes orçamentários apresentados no plano de austeridade do governo conservador tenha ficado em 28%, algumas das autoridades locais estão cortando de 70 a 80% do orçamento de programas sociais destinados a jovens. Um bom exemplo disso é a sub-prefeitura de Haringey, onde fica o bairro de Tottenham, cujo orçamento desses serviços foi dizimado por um corte de 75% e oito de um total de treze desses centros foram fechados nos últimos meses.

“Em um nível mais simples”, diz Pitts, “isso significa um aumento no vandalismo e no comportamento antisocial. Em longo prazo, se você retirar a proteção do estado então haverá um aumento da influência dos grupos para cobrir esse vácuo”.

E foi exatamente o que se viu nas ruas londrinas – principalmente na noite de domingo. Gangues juvenis aproveitando o clima de caos, e a certeza de que a polícia não poderia conter tantos ataques simultâneos, para praticar crimes. Não há nada de político ou organizado nisso – tão somente caos e anarquia patrocinados por adolescentes sem perspectivas de futuro.

O início do processo porém difere em gênero. Uma centena de pessoas se reuniu em frente à delegacia de Tottenham para exigir da polícia respostas pela ação que culminou na morte de Mark Duggan, na quinta-feira anterior. Duggan, de 29 anos, foi baleado e morto pela polícia em circunstâncias não-esclarecidas em um táxi próximo à estação de trem de Tottenham. Uma comissão policial investiga o caso.

“Eu disse ao inspetor chefe que queríamos sair antes da noite cair. Se ele nos deixasse esperando depois do pôr do sol, seria sua responsabilidade. Nós não poderíamos garantir que não sairia de controle”, descreveu um membro da comunidade que estava na manifestação inicial (4).

“Se um membro da polícia tivesse vindo falar com a gente, nós teríamos ido embora. Nós chegamos às 17h e tínhamos planejado uma hora de protesto silencioso. Ficamos lá até as 21h. A polícia foi culpada. Se eles tivessem dado uma resposta quando chegamos à delegacia, pedindo que um oficial chefe viesse falar com a família [da vítima] teríamos ido embora antes da rebelião se iniciar”.

A família de Duggan condenou a violência que se seguiu ao pôr do sol em Tottenham. “Queríamos respostas. Eu nem disse aos meus filhos que ele está morto pois eu não posso dar respostas a eles”, disse a noiva de Duggan. “Não estou feliz com o que aconteceu. Não queríamos esses problemas. Queríamos respostas”, afirmou ela ao The Guardian.

NOTAS
(1) BBC News: London riots: timeline of violence

(2) The Guardian (vídeo): Haringey youth club closures: ‘There’ll be riots’

(3) Knife crime and gang violence on the rise as councils reduce youth services

(4) We warned Tottenham situation could get out of control – community leaders

Seja simpática, faça o que pedem


Sete histórias mostram como é a prostituição de luxo no Congresso Nacional. Sexo, beleza e poder. E, como não poderia deixar de ser, casos que envolvem dinheiro e empregos públicos

Texto Rafania Almeida rafania@meiaum.com.br

Ilustração Cícero Lopes cicero.arte@gmail.com

Políticos gostam de holofotes, de aparecer. Nem sempre. Também atuam por trás das cortinas, no escuro, debaixo dos lençóis. Em casas noturnas, flats, apartamentos funcionais e até no local de trabalho. Pagando por isso, claro. Como fazem homens em geral, independentemente da atividade profissional, dirão. E especialmente quando têm dinheiro e poder. Por que deputados e senadores seriam diferentes?

O problema é que o negócio da prostituição corre solto nos prédios do Congresso Nacional. Em corredores, gabinetes e às vezes no plenário, garotas insinuantes se oferecem, são agenciadas por cafetões de terno e gravata e cortejadas aberta ou discretamente por algumas de Suas Excelências. Não há liturgia do poder que resista.
O mais grave é que algumas são pagas com o dinheiro público, contratadas por parlamentares para “trabalhar” em seus gabinetes. Mas nos gabinetes não trabalham, naturalmente. Passam todos os dias pelo Congresso só para bater o ponto e receber horas extras. As tarefas que executam são fora do expediente.

A meiaum passou três semanas no Congresso conversando e observando. Garotas de programa só para VIPs abriram suas “caixas de pandora” e revelaram como trabalham. Contaram preferências de políticos que conheceram nos dias de sessões e nas noites de prazer. Agenciadores também falaram sobre suas atividades e tentaram recrutar a repórter.

Jovens que acabaram de chegar à maioridade têm rendimento mensal de dar inveja a marajás. Algumas garotas são bilíngues, moram em bairros nobres, têm o corpo aperfeiçoado por dispendiosas cirurgias estéticas e roupas de grife, geralmente presentes de clientes. “Se os políticos fizerem greve, as putas de Brasília quebram as pernas”, afirma uma delas.

I Evangélico e solteira procura

Cabelos negros, compridos e olhos marcados pela maquiagem exagerada. A beleza não é de chamar a atenção. Por isso ela usa as roupas justas, muito apertadas na região da paixão nacional, em cores fortes. Quase todos têm histórias dela para contar.

Seu trabalho é coletar assinaturas de deputados em projetos de lei. Há muitas meninas fazendo isso nos corredores da Câmara. Ela faz há dez anos, mas não se limita às assinaturas. Não faz cerimônia. Chama muitos parlamentares pelo primeiro nome, com intimidade.

Distancia-se para conversar com um deputado, a jornalista espera. Volta e é clara: “Você precisa ser simpática. Sorria. O deputado gostou de você. Vou arrumar uma ‘matéria’ com ele para você”.

Ela estava se recusando a dar entrevista e não queria falar nem quanto ganha (“menos de R$ 3 mil”, cedeu). Só aceitou conversar quando o deputado lhe perguntou quem era a moça com quem falava. “Ele mandou dizer que é da bancada evangélica e é solteiro”, cochichou. “Não seja boba! Ele te traz pra cá, para o gabinete dele.” Quando o deputado evangélico e solteiro volta, faz questão de apresentá-lo. Ressalta os olhos claros do homem de 46 anos, 20 a mais que a jornalista, e seu alto poder aquisitivo. Salienta que era ela a responsável pela apresentação, enquanto ele conferia o “produto”.

Ele foi embora e ela repetia que mandaria a jornalista ao gabinete dele, garantindo que poderia “contar” com ela. Foi quando se sentiu à vontade para revelar que um deputado pagou sua faculdade de Direito, mas ela desistiu na metade. “Fazer Direito para quê? Ficar enfiada em uma salinha? Eu amo colher assinaturas. Amo os parlamentares. Quero fazer isso pelo resto da minha vida.” E contou que comprou um apartamento de R$ 200 mil no Guará, valor que não cabe nos R$ 3 mil que diz receber.

Um homem observou a movimentação e aproximou-se: “Ela ganha muito mais por fora. Já saiu com deputados. Mas está mais para agenciadora do que agenciada. Se quiser, te consigo uma vaga aqui e você vai parar rapidinho em um gabinete”. Fez a mesma recomendação que a moça da roupa de cores fortes. “É só ser mais simpática e fazer o que pedem. Pode ser amante, mas não precisa ser fixa.”

Um bom desempenho poderia render à jornalista até R$ 10 mil por mês, segundo o rapaz.

II O charme das assinaturas

Belas e ousadas. Esse é o perfil das garotas das assinaturas da Câmara. O objetivo é conseguir pelo menos 171 assinaturas para um projeto. Em meio às garotas é possível encontrar poucos homens, e há duas ou três senhoras que já estão lá há anos na função. Poucas meninas não chamam a atenção pela aparência. Nem todas vão além do recolhimento de assinaturas, mas não são poucas as que buscam mais do que isso.

Uma delas, de pernas grossas e quadril abundante, se destaca pelo tamanho do vestido. A jaqueta jeans esconde um pouco, mas nada desmerece as curvas da pequena moça em cima de seu salto 15 cm. Alguns disfarçam, enquanto outros quase quebram o pescoço para conferir o corpo dessa e o de outras meninas. Há parlamentares que nem assinam, mas fazem questão de dar uma paradinha para cumprimentá-las. A simpatia é mesmo arma de trabalho, às vezes exacerbada.

As moças não trabalham todos os dias, apenas em dias de sessão, de terça a quinta-feira. É no banheiro do corredor das lideranças que abrem o bico sobre suas aventuras políticas. “Aquele velho me levou para a tal festinha, como é pegajoso!”, revela uma delas, aos risos. Outra dá dicas para aguentar, pois os “presentes valem a pena”. Contam detalhes sórdidos sobre as atitudes de Suas Excelências, mas sem deixar escapar demais e se queimar no meio. Outra admite: “Eu adoro as festinhas. Vou a todas”.

O colega, homem, em desvantagem na corrida pelas assinaturas, aproveita a ausência das meninas para revelar segredos: “Aquela ali mesmo era ninguém aqui. Andava de jeans e camiseta. Hoje posa em cima do salto e vestidinho brilhante, contratada pelo gabinete de um deputado”. Diz que já viu meninas que ganhavam R$ 3 mil sem nenhum contrato com a Casa receberem bônus de até R$ 15 mil. “Deputado não mede esforços para conseguir o que quer, se é que você me entende”, conta o rapaz. “Você não tem vontade de colher assinaturas também? Tem gente aqui que ia gostar de você”, pergunta, no intuito de também ganhar um por fora.

III O ponto das mexericas

São 19 horas de terça-feira. O movimento nos Anexos II e IV da Câmara aumenta consideravelmente. É hora de bater o ponto. Pessoas chegam com filhos vindos da escola, vestindo moletom ou roupa de academia, para não perder as horas extras. As meninas se destacam. Há as que chegam de chinelo, correndo para não perder o horário, outras com os cabelos molhados, roupa justa. Entram e não demoram cinco minutos para se afastar. Têm de ser discretas. As mais espertas entram pela parte de trás do Anexo IV e pegam carona na parte da frente. Assim, fica mais difícil desconfiarem da maracutaia.

No dia seguinte, a jovem dos cabelos molhados chega religiosamente no mesmo horário. Dessa vez um pouco mais calma. Entra, volta poucos minutos depois e fica sentada no fundo do prédio. Acende um cigarro, lancha, conversa com um comerciante que fica por ali. Em dia de sessão extra, é preciso ficar pelo menos até as 20h30 para ganhar um adicional no fim do mês.

Os motoristas das autoridades as apelidaram de mexericas. Recebem uma grana, têm crachá, batem ponto e estão na lista de funcionários, mas trabalho que é bom, nada. A não ser que prestem serviço fora da Casa. “No Anexo IV é mais fácil burlar, no II o serviço é técnico e tem gente de olho”, diz um funcionário há 15 anos lá.

Um homem apontado como agenciador de garotas aperta os olhos e reduz o volume da voz para falar: “Cada deputado tem R$ 60 mil para fazer nomeações. Pode chamar quem quiser, inclusive as amantes. Sai mais barato pagar uma garota pra não vir trabalhar do que ter gasto dobrado, não é?” Para ele, bobos são os que se satisfazem com R$ 1 mil mais transporte e alimentação para virarem laranjas. “Elas, não. Ganham muito bem, têm status de funcionárias da Casa e nem ficam aqui. Podem trabalhar por fora.” E finaliza: “Tá interessada?”

IV Esforço que compensa

As duas moças têm beleza e grande poder de sedução. Fazem sucesso no Congresso. A mais famosa é uma loira que já ganhou de jantares românticos nos restaurantes mais caros da cidade a propostas de programa com direito a voo de jatinho. Contratada pela Câmara, desfila pelos corredores com sua beleza estonteante, que deixa até outras mulheres babando. É concorrente forte.

Apaixonados sem cacife para passar uma noite com a moça dizem que ela já foi mais humilde. “Cobrava R$ 700, mas, depois de desfilar com o mais cotado dos parlamentares e o maior fã de garotas de programa, já pede R$ 1.200 por uma noite.” Apesar de trabalhar para outras pessoas, escolheu seu preferido e costuma passear com ele pelos corredores da Câmara. Ela é o biótipo de que ele gosta, por isso tem o privilégio de ser a garota eleita. “Ela é tão encantadora que tem homem sofrendo de amor, pagando presentes caríssimos para conquistá-la, mas ela prefere o dinheiro e só satisfaz aqueles dispostos a pagar-lhe”, revolta-se um admirador.

A outra não mediu esforços para fazer contatos no Congresso e conseguir uma carteira de clientes de respeito e contas bancárias milionárias. A espertinha conseguiu crachá falso que lhe dava acesso ao plenário, onde podia fazer, literalmente, o corpo a corpo com os deputados. Certa vez, armou uma confusão e foi barrada pelos seguranças, que descobriram a falcatrua do crachá.

E quem disse que isso a impediu de conquistar seu objetivo? Já havia tido o tempo necessário de fazer “amizade” com parlamentares e garantir um lugar ao lado deles no elevador de autoridades, onde não importa o crachá, mas o poder do deputado ou do senador. Segurança algum ousa levantar a voz para ela. Fez, aconteceu e conseguiu uma vaga no Senado. Trabalhava no cerimonial, mas foi demitida pelos sucessivos barracos que aprontava. Foi indicada para trabalhar na Procuradoria-Geral da República, onde passava apenas para deixar a bolsa e voltar ao Congresso para dar duro. Bastaram os três meses de experiência para ser demitida e voltar ao Senado, no emprego em que está até hoje.

E ainda aproveita para fazer propaganda do negócio que mantém fora, com serviços que custam R$ 1.200 por noite.

V A calcinha vermelha

A noite brasiliense é um paraíso para as aventuras de políticos. Os lugares favoritos são a casa de shows Pathernon, no Setor de Indústrias Gráficas, e a boate do Hotel Bonaparte, na Asa Sul. Abrigam as jovens mais bonitas e mais caras e os ambientes mais discretos. Seguranças, motoristas e assessores figuram como amigos, para que ninguém desconfie de nada. Elas comem e bebem do bom e do melhor por conta de Suas Excelências.

“Sempre me alimento melhor quando o cliente é político. Eles querem mostrar que podem e nisso não economizam.” Miriam é encantada por eles. Na cama da menina de 18 anos, eles se transformam em pessoas carinhosas, preocupadas, atenciosas: “Está com frio? Eu cuido de você”. Se é governador então, melhor ainda, ela diz. Ela não se esquece do prefeito mineiro que atendeu durante uma das marchas dos prefeitos. “Ele continua me ligando, mesmo não estando aqui.”

Diz que o dinheiro dos políticos garantirá a ela, em breve, um apartamento no Sudoeste. Por hora, preocupa-se apenas em se manter bonita e pagar o aluguel de R$ 2 mil do flat no bairro nobre. Em julho, nas férias, aceita fazer programa com pessoas de menor poder aquisitivo. Cobra R$ 400 a hora, dependendo do tipo de trabalho. “É apenas para manter o meu padrão de vida, mas eu gosto mesmo é quando o Congresso está funcionando. Ganho muito mais.”

Sem os políticos, diz, “as putas da cidade quebram as pernas”. Foi com um deputado nordestino que teve uma de suas noites mais inusitadas. Achou que a calcinha vermelha rendada que ele tirou do bolso do paletó era presente para ela. Ainda agradecia quando o deputado deixou-a boquiaberta: ele se despiu e vestiu a lingerie. “Ele desfilava pelo quarto como uma lady. Andava na ponta dos pés, sorria, parecia uma miss.”

Enquanto ela sorria discretamente e o elogiava, descobriu que seu papel naquela madrugada não seria o da menina inocente e sedutora, mas o do homem da relação. Depois disso, nunca mais o viu.

VI A gaveta das notas de R$ 100

Mesmo recebendo R$ 26 mil por mês, fora verbas indenizatórias, há parlamentares que pechincham muito ao negociar com as garotas de programa da cidade.

Viviane, loira de seios naturalmente fartos, não aceitou barganhar com dois deles, que pediram que ela e a amiga baixassem o preço do programa no apartamento funcional. “Nunca faria isso. Deveriam é pagar melhor. Eles roubam dinheiro do povo, incluindo o meu, e não perderia a oportunidade de tirar uma boa verba deles.” Viviane os conheceu em um famoso restaurante da Asa Sul. A sofisticação dela chamou a atenção dos dois parlamentares. Ela bebia um uísque Jack Daniel’s quando foi abordada. Disse que sairia com as duas excelências se eles estivessem dispostos a pagar. Eles aceitaram, mas só reclamaram do preço no encerramento dos trabalhos.

A loira prefere sair com altos funcionários do governo. Foi com eles que conheceu uma mansão no Lago Sul, com piso de mármore Carrara e um quarto com uma gaveta de mais de um metro de comprimento, de onde um dos clientes tirava notas e mais notas de R$ 100 para impressioná-la. O grande trunfo da jovem de 24 anos, que chega a ganhar R$ 30 mil por mês, é um lobista famoso. “Ele tira bolos de dinheiro do bolso para pagar tudo”, conta. Já o viu gastar R$ 2 mil em um jantar para quatro pessoas em um restaurante.

Viviane ainda não está satisfeita. Quer o contato de uma mulher que promove festas no Lago Sul para políticos, com a presença de mulheres famosas e capas de revista, cujos programas saem por, no mínimo R$ 13 mil. “E ainda quero desfilar no Congresso para incrementar minha renda.”

VII 19 anos, R$ 25 mil na bolsa

Morena, 1,63 metro, 55 kg, cabelos negros, 400 ml de silicone em cada seio, 19 anos. É no Pathernon que Rayka mostra o corpo e o talento para atrair homens. “O segredo é não se atirar. Quem tem dinheiro gosta de seduzir.” Enquanto as colegas partem para cima dos engravatados, ela joga o charme de longe.

É quando prefeitos, clientes assíduos da casa quando estão na cidade, não economizam para conseguir uma noite com ela. Cinco meses atrás, morava em Goiânia e ganhava pouco. Hoje tira R$ 25 mil por mês, fora presentes, como R$ 4 mil em roupas em um shopping caro da cidade. Tudo graças aos clientes financeiramente favorecidos, como empresários e parlamentares, além dos “queridos prefeitos” que pagam até R$ 3 mil para uma noite com a moça. “Sou a mulher que eles querem que eu seja. Executiva, moleca, devassa. Eles me pagam para isso.” Já fez papel de namorada, de sobrinha. Para isso, estuda espanhol e inglês. Precisa estar sempre disposta, social e apresentável para não levantar suspeitas. Goianos e gaúchos são os mais seduzidos pelos encantos de Rayka. “Também são os mais exigentes”, assegura. Na hora da fantasia, vale tudo, com pagamento sempre em dinheiro, não importa o valor.

Programa bom é programa ilegal

Garotas de programa circulam abertamente pelo Congresso, mas deputados e senadores não querem reconhecer a profissão que elas exercem. Em 2003, o então deputado Fernando Gabeira, do Partido Verde, apresentou proposta de regulamentação da profissão, com base em reivindicações de organizações da categoria. Ouviu mulheres que já haviam abandonado o sexo como trabalho e outras que ainda sobreviviam disso.
Mas de nada adiantaram os depoimentos dramáticos de mulheres que sofrem nas mãos de cafetões. Em 2007, o relator na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ), ACM Neto (DEM-BA), deu parecer contrário e a proposta foi derrotada.

Gabeira afirma que ACM Neto tem uma visão equivocada do projeto, achando que aprová-lo seria uma afronta à família. “Essas mulheres usam o corpo para sustentar suas famílias”, diz. O ex-deputado pega no ponto: “É um problema de consciência e contradição no discurso”.

O projeto de Gabeira previa fiscalização profissional e, com isso, o risco ao já ilegal emprego de agenciadores, que fazem a intermediação entre os parlamentares e as garotas de programa. Gabeira diz que um grupo de deputados tenta ressuscitar o projeto e colocá-lo em tramitação. As organizações não gohttp://www.blogger.com/img/blank.gifvernamentais envolvidas no assunto tentam fazer um movimento em prol do projeto, mas não há nenhuma garantia de que seguirá adiante.

Já o deputado João Campos (PSDB-GO) pretende acabar com a prostituição. Apresentou um projeto de lei que criminaliza o pagamento por serviços sexuais. Outras propostas parecidas já foram apresentadas e arquivadas, como a do então deputado Elimar Máximo Damasceno, eleito pelo extinto Prona em São Paulo.

Nem regulamentação, nem criminalização. Para muitos parlamentares é mais conveniente deixar tudo do jeito que está.

Esta matéria foi retirada da revista meiaum como pode ser vista neste link: Seja simpática, faça o que pedem

Charges na rua!


By latuff


segunda-feira, 8 de agosto de 2011

domingo, 7 de agosto de 2011

Em memória a Otacílo Batista

Comumente lembramos de nossos falecidos parentes com ar de muita tristeza. Mas na família do grande repentista e cantador popular Otacílio Batista, lembrar dele no dia de sua morte é sinal de muita música, poesia e repente para relmbrar dos momentos em que esteve vivo.

Nada de lágrimas nem de tristeza. Só alegria e orgulho em manter viva a memória do pai. Assim, filhos, netos, amigos e cantadores mais uma vez estiveram presentes na noite de ontem no Sindicato dos Bancários em João Pessoa para relembrar Otacílio no VIII Tributo a Otacilio Batista - A poesia vive.

Aqui vai minha homenagem a este grande cantador reproduzindo a sua obra mais conhecida, "Mulher nova, bonita e carinhosa, faz o homem gemer sem sentir dor" que tenho certeza todos conhecem mesmo sem saber a história desta figura.

Mulher Nova Bonita e carinhosa
(Otacílio Batista e Zé Ramalho)

Numa luta de gregos e troianos
Por Helena, a mulher de Menelau
Conta a história que um cavalo de pau
Terminava uma guerra de dez anos
Menelau, o maior dos espartanos
Venceu Paris, o grande sedutor
Humilhando a família de Heitor
Em defesa da honra caprichosa
Mulher nova, bonita e carinhosa
Faz o homem gemer sem sentir dor.

A mulher tem na face dois brilhantes
Condutores fiéis do seu destino
Quem não ama o sorriso feminino
Desconhece a poesia de Cervantes
A bravura dos grandes navegantes
Enfrentando a procela em seu furor
Se não fosse a mulher mimosa flor
A história seria mentirosa
Mulher nova, bonita e carinhosa
Faz o homem gemer sem sentir dor.

Virgulino Ferreira, o Lampião
Bandoleiro das selvas nordestinas
Sem temer a perigos nem ruínas
Foi o rei do cangaço no Sertão
Mas um dia sentiu no coração
O feitiço atrativo do amor
A mulata da terra do condor
Dominava uma fera perigosa
Mulher nova, bonita e carinhosa
Faz o homem gemer sem sentir dor.

Otacilio Batista faleceu aos 79 anos (completaria 80 em setembro) no dia 05 de agosto de 2003.

Apesar de nascido em Itapetim, distrito de São José do Egito, no sertão do Pajeú, foi em João Pessoa onde fez morada e construiu sua familia. Fez dupla de repente e cantoria com os irmãos Dimas e Lourival (o "louro") participando de vários festivais pelo país afora, tendo sido lembrado em versos pelo Poeta Manuel Bandeira dessa forma:

“Saudações aos cantadores”

Anteontem, minha gente,
Fui juiz numa função
De violeiros do Nordeste
Cantando em competição,
Vi cantar Dimas Batista,
Otacílio, seu irmão,
Ouvi um tal de Ferreira,
Ouvi um tal de João.
Um a quem faltava um braço
Tocava cuma só mão;
Mas como ele mesmo disse,
Cantando com perfeição,
Para cantar afinado,
Para cantar com paixão,
A força não está no braço,
Ela está no coração.
Ou puxando uma sextilha,
Ou uma oitava em quadrão,
Quer a rima fosse em inha
Quer a rima fosse em ao,
Caíam rimas do céu,
Saltavam rimas do chão!
Tudo muito bem medido
No galope do Sertão.
A Eneida estava boba,
O Cavalcanti bobão,
O Lúcio, o Renato Almeida,
Enfim toda comissão.
Saí dali convencido
Que não sou poeta não;
Que poeta é quem inventa
Em boa improvisação
Como faz Dimas Batista
E Otacílio seu irmão;
Como faz qualquer violeiro,
Bom cantador do Sertão,
A todos os quais humilde
Mando minha saudação.”

Para mim, o Tributo a Otacílio, que hoje é organizado pela sua família juntamente com O Sebo Cultural, deveria estar contido na agenda oficial da cidade de João Pessoa, afinal, por coincidência do destino o seu falecimento coincidiu com a data da fundação da cidade que tanto amava, João Pessoa. É apenas uma idéia, quem sabe alguém leva em frente!?

Exigências da vida moderna

Luís Fernando Veríssimo

Dizem que todos os dias você deve comer uma maçã por causa do ferro.

E uma banana pelo potássio.

E também uma laranja pela vitamina C. Uma xícara de chá verde sem açúcar para prevenir a diabetes.

Todos os dias deve-se tomar ao menos dois litros de água. E uriná-los, o que consome o dobro do tempo.

Todos os dias deve-se tomar um Yakult pelos lactobacilos (que ninguém sabe bem o que é, mas que aos bilhões, ajudam a digestão). Cada dia uma Aspirina, previne infarto. Uma taça de vinho tinto também. Uma de vinho branco estabiliza o sistema nervoso. Um copo de cerveja, para... não lembro bem para o que, mas faz bem. O benefício adicional é que se você tomar tudo isso ao mesmo tempo e tiver um derrame, nem vai perceber.

Todos os dias deve-se comer fibra. Muita, muitíssima fibra. Fibra suficiente para fazer um pulôver.

Você deve fazer entre quatro e seis refeições leves diariamente. E nunca se esqueça de mastigar pelo menos cem vezes cada garfada. Só para comer, serão cerca de cinco horas do dia...

E não esqueça de escovar os dentes depois de comer. Ou seja, você tem que escovar os dentes depois da maçã, da banana, da laranja, das seis refeições e enquanto tiver dentes, passar fio dental, massagear a gengiva, escovar a língua e bochechar com Plax. Melhor, inclusive, ampliar o banheiro e aproveitar para colocar um equipamento de som, porque entre a água, a fibra e os dentes, você vai passar ali várias horas por dia.

Há que se dormir oito horas por noite e trabalhar outras oito por dia, mais as cinco comendo são vinte e uma.

Sobram três, desde que você não pegue trânsito. As estatísticas comprovam que assistimos três horas de TV por dia. Menos você, porque todos os dias você vai caminhar ao menos meia hora (por experiência própria, após quinze minutos dê meia volta e comece a voltar, ou a meia hora vira uma).

E você deve cuidar das amizades, porque são como uma planta: devem ser regadas diariamente, o que me faz pensar em quem vai cuidar delas quando eu estiver viajando.
Deve-se estar bem informado também, lendo dois ou três jornais por dia para comparar as informações.

Ah! E o sexo! Todos os dias, tomando o cuidado de não se cair na rotina. Há que ser criativo, inovador para renovar a sedução. Isso leva tempo - e nem estou falando de sexo tântrico.

Também precisa sobrar tempo para varrer, passar, lavar roupa, pratos e espero que você não tenha um bichinho de estimação. Na minha conta são 29 horas por dia.

A única solução que me ocorre é fazer várias dessas coisas ao mesmo tempo! Por exemplo, tomar banho frio com a boca aberta, assim você toma água e escova os dentes. Chame os amigos junto com os seus pais. Beba o vinho, coma a maçã e a banana junto com a sua mulher... na sua cama.

Ainda bem que somos crescidinhos, senão ainda teria um Danoninho e se sobrarem 5 minutos, uma colherada de leite de magnésio.

Agora tenho que ir.

É o meio do dia, e depois da cerveja, do vinho e da maçã, tenho que ir ao banheiro.

E já que vou, levo um jornal... Tchau!

Viva a vida com bom humor!!!

"Eu escrevo e vivo absurdez"

»Ontem, choveu no futuro

» O tempo só anda de ida. A gente nasce cresce amadurece envelhece e morre. Pra não morrer tem que amarrar o tempo no poste. Eis a ciência da poesia: amarrar o tempo no poste

» Só quem inventa é dono

» Bernardo é quase árvore. Silêncio dele é tão alto que os passarinhos vêm de longe e pousam no seu ombro

» O olho vê.
A lembrança revê. E o poeta transvê o mundo

» O tempo só anda de ida.
A gente nasce cresce amadurece envelhece e morre. Pra não morrer tem que amarrar o tempo no poste. Eis a ciência da poesia: amarrar o tempo no poste

» Poderoso não é aquele que descobre ouro. Poderoso para mim é aquele que descobre as insignificâncias: do mundo e as nossas.
Por essa pequena sentença me chamaram de imbecil.Fiquei emocionado e chorei. Sou fraco para elogios

» Poesia é palavra que tem gorjeio dentro

» Eu escrevo e vivo absurdez

* Poema de Manoel de Barros

sábado, 6 de agosto de 2011

PLIN-PLIN

Rosa de Hiroshima

Pensem nas crianças
Mudas telepáticas

Pensem nas meninas
Cegas inexatas
Pensem nas mulheres
Rotas alteradas
Pensem nas feridas
Como rosas cálidas

Mas, oh, não se esqueçam
Da rosa da rosa
Da rosa de Hiroshima
A rosa hereditária
A rosa radioativa
Estúpida e inválida

A rosa com cirrose
A anti-rosa atômica
Sem cor sem perfume
Sem rosa, sem nada

(Vinicius de Moraes)

sexta-feira, 5 de agosto de 2011

By Lattuf

Nelson Jobim: Não basta demitir, é fundamental investigar e processar

SEGUEM ABAIXO ALGUMAS ANOTAÇÕES (APENAS DE MEMÓRIA) SOBRE O DOUTOR NELSON JOBIM. SUGIRO QUE A NOSSA IMPRENSA, BLOGS, SITES E OUTROS INSTRUMENTOS DA MÍDIA INDEPENTE, POPULAR E/OU DE ESQUERDA FAÇAM UM BELO PERFIL DESSE SENHOR QUE ORA DEIXA A DEFESA. É UMA FIGURA QUE NÃO BASTA DEMITIR: É FUNDAMENTAL INVESTIGAR E PROCESSAR. E, EM SENDO O CASO, BOTAR PARA BATER CANEQUINHA NO PAVILHÃO 8.

Alípio Freire


Temos novo ministro da Defesa: o ex-ministro de Relações Internacionais, o diplomata Celso Amorim. Elogiável (muito elogiável) a atitude e a escolha da presidenta Dilma Rousseff.

Desta vez o doutor Nelson Jobim, ministro da Defesa desde o Governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, pediu demissão do cargo que jamais deveria ter ocupado.

Explico: um elemento que fraudou o texto da nossa Constituição (um falsário); e que, para se tornar ministro - juntamente com os seus parceiros - criou uma crise nos aeroportos (o tal "caos aéreo") até provocar a queda de uma aeronave, matando (na verdade um assassinato em massa) cerca de 200 pessoas em São Paulo, jamais deveria ocupar qualquer cargo numa República: esses dois epósódios são suficientes para se perceber um caráter sem escrúpulos, sem limites. Mais que isto, esses dois episódos são suficientes para que fosse processado, preso e cumprisse pena. Impensável uma pessoa com esse histórico acabar exatamente dirigindo as nossas Forças Armadas - responsáveis pela garantia da Constituição, da legalidade e das nossas fronteiras.

Ao longo do Governo do presidente Luiz Inácio, seu perfil de provocador se manifestou permanentemente, e sempre que ele quis. Já começou seu mandato afrontando a nossa Constituição travestindo-se com uniformes militares - um ministro da Defesa civil foi uma importante conquista da nossa Constituição. No momento em que o ocupante desse cargo assume e se adorna com os símbolos da velha ordem (no caso, da ditadura), está mais que dito a que veio: já aí o presidente Luiz Inácio, que jamais deveria tê-lo nomeado, teve a chance e deveria tê-lo demitido. Não o fez.

Prosseguindo cinicamente em suas provocações e desrespeito àqueles a quem devia lealdade, chegou ao ápice do desrespeito a todo o Governo do presidente Luiz Inácio, ao tentar - às vésperas do 31 de dezembro de 2009, quando as instâncias do poder e as organizações da sociedade civil brasileira estavam desmobilizadas - um golpe contra o ministro Paulo Vannuchi, da Secretaria Especial de Direitos Humanos (SEDH). O miintro Vannuchi lançara, poucos dias antes do Natal daquele ano, o Terceiro Programa Nacional dos Direitos Humanos (3ºPNDH), aprovado e assinado pela maioria esmagadora dos ministros.

O ministro Vannuchi não caiu, mas o presidente Luiz Inácio concedeu que o 3ºPNDH - elaborado e aprovado a partir da participação de representantes da sociedade civil de todo o país - fosse mutilado ao belprazer do doutor Nelson Jobim que, na ocasião, ameaçou se demitir, com uma carta supostamente assinada pelos comandantes das três armas. Quando afirmo supostamente, refiro-me sobretudo ao comandante da Marinha, cuja assinatura - à época - foi desmentida publicamente, questão que jamais foi esclarecida a contento. Ainda que, com menos ênfase, e sem qualquer declaração oficial, comentários do mesmo tipo rondaram a veracidade da assinatura do comandante da nossa Força Aérea.

Além de ter como alvo o próprio 3ºPNDH, o golpe do impune doutor Jobim visava a disputa eleitoral de 2010 na qual, não por acaso, a campanha do candidato derrotado à Presidência, acabou elegendo como um dos eixos, a questão do aborto. Amigo pessoal e correligionário político-pessoal do candidato derrotado, nitidamente apoiador da sua campanha, sequer foi afastado do cargo durante aquele ano eleitoral (2010). Apenas, por orientação do presidente Luiz Inácio, retirou-se para um exílio dourado em Miami, onde certamente não se dedicou a esportes de verão, de primavera ou de inverno.

Não perdeu tempo: além de muito provavelmente ter prosseguido em conspirações com aqueles contra os quais deveria defender nossas fronteiras, às vésperas do segundo turno declarou publicamente que, não importava o candidato que fosse eleito, ele poderia ser o ministro da Defesa. Aliás, precisaríamos saber ao certo quais e como foram pagas suas despesas no balneário de luxo dos EUA, e da constiutucionalidade dessas despesas e pagamentos.

Mestre nesse tipo provocações, falcatruas e outros crimes (como o assassinato dos passageiros da recentemente), em suas entrevistas, passou a fazer sucessivas investidas contra a presidenta Dilma Rousseff, das quais dão conta as matérias que seguem abaixo. Certamente hoje dormiremos um pouco mais tranquilos: não apenas o doutor Jobim é o que é, como o embaixador e ex-ministro Celso Amorim é o novo responsável pela Defesa. Ainda assim, sugiro que continuemos atentos: o doutor Jobim é um provocador e é capaz de tudo.

Alípio Freire - é jornalista, escritor e membro do Conselho Editorial do Brasil de Fato.

quinta-feira, 4 de agosto de 2011

Quino, desiludido com o rumo deste século

Quino, o cartunista argentino autor da Mafalda, desiludido com o rumo deste século no que diz respeito a valores e educação, deixou impresso no cartum o seu sentimento:






quarta-feira, 3 de agosto de 2011

terça-feira, 2 de agosto de 2011

Charges na rua

Falhaste Coração

Composição: Cuco Sancez;vrs:luis Carlos Gouvea

E tu que acreditavas
Mandar em todo mundo
Por isso nunca fostes
Capaz de perdoar

Cruel e desumana
De todos o que vias
Hoje imploras carinho
Até por piedade

Aonde está teu orgulho
Cadê tua coragem
Tu hoje estás vencida
Imploras caridade

Já vês que não é certo
Amar sem ser amada
E assim tão derrotada
Que lástima me dás

Maldito coração
Me alegra que tu sofras
Que chores, que te humilhes
Assim frente a este amor

A vida é uma roleta
Em que apostamos tudo
E a ti sempre foi dado
O direito de ganhar

Mas hoje a tua sorte
Faltou, não vai chegar
Falhaste coração
Não voltes a jogar

Para ouvir na voz de Angela Maria é só clicar: Falhaste Coração