domingo, 31 de maio de 2015

O Direito pode controlar o poder?

Para Ferdinand Lassalle[1], a resposta era clara: NÃO MESMO! E sua explicação para isso era bem simples. Ele empregava o seguinte raciocínio hipotético (e aqui parafraseio): imagine que, por alguma razão, todas as leis desaparecessem e tivéssemos de elaborar novas regras jurídicas para reger nossa sociedade. Nesse cenário, seria possível editar leis que, por exemplo, contrariassem os interesses dos banqueiros? Não. Porque a atividade dos bancos é tão arraigada na rotina e o crédito é algo tão indispensável para o desenvolvimento das atividades humanas (industriais, econômicas, produtivas, artísticas, laborais etc.) que seria impensável uma organização social que não estivesse respaldada pela atividade bancária. Assim, concluía aquele jurista, que, se, por acaso, se aprovasse uma norma contrária aos interesses dos banqueiros, mais dia menos dia, aquela norma restaria ineficaz, pois contrária ao poder efetivo. Daí o fato de aquele jurisconsulto designar o grupo dos banqueiros como um dos “fatores reais de poder” e dizer que as leis contrárias aos seus interesses seriam meras “folhas de papel” (isto é, formalmente existentes, mas sem nenhuma efetividade prática). Lassalle continua sua narrativa, mencionando diversos outros fatores reais de poder. Mas emprego aqui o exemplo dos banqueiros porque ele é palpavelmente observável no Brasil. Exemplifico: o texto original § 3º do art. 192 da Constituição Federal (que tratava do sistema financeiro nacional, ou seja, em essência, dos bancos) estabelecia:
Art. 192. O sistema financeiro nacional, estruturado de forma a promover o desenvolvimento equilibrado do país e a servir os interesses da coletividade, será regulado em lei complementar que disporá, inclusive, sobre: § 3º As taxas de juros reais, nelas incluídas comissões e quaisquer outras remunerações direta ou indiretamente referidas à concessão de crédito, não poderão ser superiores a doze por cento ao ano; a cobrança acima deste limite será conceituada como crime de usura, punido, em todas as suas modalidades, nos termos que a lei determinar.
Parece bem claro, portanto, que as taxas de juros que os bancos poderiam cobrar para emprestar dinheiro não deveriam ultrapassar 12% ao ano, certo? Veja a fatura do seu cheque especial e pense novamente! Já em 07/10/1988 (antes mesmo da entrada em vigor da própria Constituição), foi publicado no DOU (Diário Oficial da União) ato do então Presidente da República que aprovara o parecer SR-70 da Consultoria Geral da República: e o que dizia o famigerado parecer? Que a norma constante do § 3º do art. 192 da CF era de eficácia contida, ou seja: somente poderia ser plenamente aplicada depois que fosse editada a Lei Complementar (LC) a que se referia o caput do art. 192 e que se regulamentasse, no âmbito infraconstitucional, o crime de usura ao qual se referia o próprio § 3º. Em síntese, isso significava que, até a edição da referida LC, os bancos poderiam cobrar (muito) acima da alíquota de 12% ao ano sobre o dinheiro emprestado. E a história não termina aí! Em 07/03/1991, o Supremo Tribunal Federal julgou a ADI nº 4/DF, entendendo que a alíquota de 12% ao ano precisaria, sim, de LC para ser aplicada; em 24/09/2003, aprovou a súmula 648/STF, que reafirmava esse entendimento; e, finalmente, em 11/06/2008, editou a súmula vinculante nº 7/STF (que simplesmente repetia o teor da súmula 648/STF). Vale sublinhar que as duas mencionadas súmulas foram aprovadas mesmo depois do advento da Emenda Constitucional nº 40, de 29/05/2003, que simplesmente retirou do texto constitucional a previsão dos juros de 12% ao ano (o atual art. 192 somente faz vagas referências às LC’s que regulamentarão o sistema financeiro nacional): para garantir que jamais os bancos teriam de se preocupar com aquela alíquota novamente. E o resto da história todos nós sabemos: basta que examinemos os financiamentos bancários que temos a pagar. Parece bem atual agora aquilo foi dito há quatro séculos, não?
Por outro lado, Lassalle também dizia que, nos momentos de desespero, o povo seria um “fator real de poder”: na maior parte do tempo, por ser um poder desorganizado e desunido, seus direitos são violados porque não tem influência efetiva nos rumos do Estado. Mas, nos momentos críticos, o povo mostra sua força em torno de um objetivo comum e demonstra quão superior é em relação a todos os demais fatores reais de poder, ainda que estes se encontrem unidos contra o povo. As grandes conquistas jurídicas expressam movimentos sociais, econômicos, culturais etc.: como o iluminismo (que tantas conquistas carreou aos diversos ramos do Direito e do Estado), a extinção da segregação racial nas escolas (caso Brown vs. Board of Education, julgado pela Suprema Corte estadunidense)... O Direito é expressão do poder: ele espelha a dinâmica de poder em dada época e em determinado espaço. A Alemanha nazista contava com um sistema jurídico formalmente elaborado. Roma, à época que os cristãos eram jogados aos leões, é, ainda hoje, uma inspiração para o atual sistema jurídico brasileiro, bem como a Grécia da era em que, na celebração dionisíaca, as virgens que assim permanecessem até o final dos festejos eram sacrificadas (tempo em que a frase “se quiser ficar viva, então abra as pernas mim” era nitidamente heroica — realidade que seria cômica se não fosse trágica). Tudo isso só mudou, depois de se perpetuar por muito tempo, por causa da modificação da dinâmica dos fatores reais de poder.
A boa notícia, por outro lado, é que está em nossas mãos a mudança. Mudar o Direito é mudar a si mesmo, nossas ideias, nossas práticas... Se você é advogado e quer mais respeito dos magistrados: movimente-se, a maior parte dos profissionais da área jurídica pertence à sua classe e os juízes não poderão ignorar o poder da grande maioria de uma classe profissional (e não precisam ser todos, só a quantidade suficiente). Se você é estagiário e não pode escrever petições (é tratado como transportador de processos), faça o mesmo! Se você é juiz e está sobrecarregado com a quantidade de processos que julga, persista na busca por alternativas: dê decisões contrárias ao entendimento das cortes superiores quando delas discordar, ainda que vinculativas! Se você discorda do Supremo Tribunal Federal: escreva, manifeste-se, leia, estude, organize-se, converse com os outros (familiares, amigos, alunos etc.), busque seu parlamentar, pressione seu deputado, senador, prefeito, governador! Recorra, mesmo que seja contra a jurisprudência dominante! São as ferramentas democráticas que lhe restam. Cada conduta conta! Faça acontecer o momento crítico e histórico de mudança! A batalha é árdua e diária! O Direito pode ser mudado, mas depende da mudança de cada um: o que você anda fazendo para mudar?
Termino este texto com as palavras de Rudolf Von Ihering[2]:
Meu direito é O DIREITO, e, assim, lesado este, aquele também estará lesado, e, defendendo este último, estou defendendo o primeiro. [...] Quando o Direito é desalojado do lugar em que deveria estar, a injustiça não é culpada desse fato, mas sim quem se conformou com essa situação. [...] A luta pelo Direito é um dever do titular interessado para consigo mesmo. A conservação da própria existência é a lei suprema de todo o Universo; na busca da autopreservação, ela está em todas as criaturas.

[1] LASSALLE, Ferdinand. A essência da constituição. 8 ed. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2008.
[2] IHERING, Rudolf Von. A luta pelo direito. 8. Ed. (trad.) José Cretella Júnior e Agnes Cretella. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2014.

*Doutorando pela PUC-SP; Mestre e especialista pelo IDP; Graduado pela Harvard University; Bacharel pelo UniCeub; Advogado; Professor; Autor de livros jurídicos; pesquisador e eterno aluno.

domingo, 17 de maio de 2015

Mais cartazes soviéticos produzidos na II Guerra Mundial #70AnosDaVitória




O inimigo é traiçoeiro – esteja atento!


Guerreiros do Exército Vermelho, salvai-nos!, cartaz de Viktor Koretsky de1943



Ocidente. O caminho para a vitória!

Soldado liberte sua Bielorrussia, cartaz de Viktor Koretsky em 1943

sábado, 16 de maio de 2015

sexta-feira, 15 de maio de 2015

quinta-feira, 14 de maio de 2015

Nossa esperança está com você Soldado Vermelho #70AnosDaVitória




Nossa esperança está com você Soldado Vermelho, cartaz de Viktor Ivanov e Olga Burova feito em 1943

quarta-feira, 13 de maio de 2015

terça-feira, 12 de maio de 2015

Pátria mãe está chamando! #70AnosDaVitória


Pátria mãe está chamando!

“Tudo para a frente, tudo para a vitória!”

9/05/2015 Anna Trofímova, Gazeta Russa
Situada longe da linha de frente, a Sibéria não foi atingida diretamente pela guerra, mas sua população sentiu na pele as duras provações da guerra mais implacável e prolongada na história soviética. O trabalho dos trabalhadores siberianos sob o lema “Tudo para a frente, tudo para a vitória” teve um importantíssimo papel na vitória do Exército Vermelho sobre as tropas nazistas.

De acordo com registros históricos, já no século 15, os 12,5 mil quilômetros quadrados da Sibéria eram habitados por inúmeras etnias indígenas, entre as quais os iakuts, buriatas, tuvinos e outros, permanecendo, contudo, inóspita para os russos durante muito tempo.
O inverno na Sibéria dura quase seis meses, o verão é quente e curto, enquanto o outono e a primavera quase não se fazem sentir. Nem todas as pessoas gostariam de viver em tais condições, embora a Sibéria seja uma das regiões mais promissoras da Rússia. Cerca de 60% do petróleo russo são extraídos nessa região, que possui toda a infraestrutura necessária a uma vida confortável.
Em 1941, quando a Grande Guerra Patriótica (como a Segunda Guerra Mundial é conhecida na Rússia) começou, a Sibéria, até então vista como terra de trabalhos forçados, virou centro de apoio logístico do Exército Soviético. Milhares de pessoas da região trabalharam em fábricas e empresas agrícolas, criando a produção e tecnologias necessárias, de fósforos a equipamento militar, para conquistar a vitória.
Um ano antes, antes de a Alemanha invadir a Polônia, a liderança soviética não tinha dúvidas de que a guerra entre a URSS e a Alemanha nazista iria acontecer. Naquele mesmo ano, o governo soviético mandou levar parte da população civil, mulheres, crianças e idosos para a Sibéria Ocidental. As maiores empresas, especialmente da indústria armamentista, e as principais forças produtivas também foram transferidas às regiões centrais do país para a Sibéria.  No total, mais de 1 milhão de pessoas foram enviadas para a Sibéria pela conhecida ferrovia Transiberiana.
Antes da guerra, de acordo com o censo de 1939, a população da Sibéria era pouco mais de 10 milhões de habitantes (um décimo da população do país). Com a transferência de recursos humanos, a população da região cresceu 30%.
Em 22 de junho de 1941, a terrível notícia do início da Grande Guerra Patriótica chegou à Sibéria. Naquele mesmo dia, em grandes cidades siberianas, houve manifestações em apoio do Exército Soviético. Muitos homens que trabalhavam nas fábricas da Sibéria foram mobilizados para a guerra. Suas funções nas fábricas foram assumidas por mulheres e até mesmo crianças. Todo o país, inclusive a Sibéria, trabalhou com dedicação sob o lema “Tudo para a frente, tudo para a vitória”.
Nos primeiros meses de guerra, foi iniciada uma campanha de coleta de agasalhos para os soldados do Exército Vermelho, mas a população civil entregava até artigos de ouro e joias para ajudar o país. Em pouco tempo, A Sibéria ganhou 150 fábricas e cerca de 1.500 empresas industriais foram transferidas para a região de outros lugares do país. Esse foi o caso da Váleri Chkalov, de Novosibirsk, que era especializada na construção de caças I-16, Iak-3 e Iak-7. Ao todo, essa indústria entregou cerca de 15 mil aeronaves ao Exército Soviético.
O setor agrícola da Sibéria também se distinguiu por vários recordes. Em 1942, as áreas onde eram semeados grãos aumentaram em 64% em relação a 1940. Na região, foram organizados cursos de enfermeiras e outros profissionais de saúde que, depois de concluir o curso, iam para a guerra. Tudo isso tinha como pano de fundo duras condições meteorológicas. Mesmo assim, os siberianos não tinham medo de fome nem de frio, enviando toda a roupa e alimentos produzidos na região ao Exército Vermelho e sacrificando suas próprias necessidades.
O trabalho intenso dos trabalhadores siberianos teve grande importância para a vitória da União Soviética durante todo o conflito. Cerca de 700 mil pessoas que trabalharam na Sibéria durante a Grande Guerra Patriótica foram condecoradas com a medalha “Pelo trabalho abnegado durante a Grande Guerra Patriótica”. 

segunda-feira, 11 de maio de 2015

Você se alistou ao exército? #70AnosDaVitória



O que os soldados soviéticos liam durante a guerra

8/05/2015 Marina Obrazkova, Gazeta Russa
Púchkin, Shakespeare, partituras... Publicação de livros não parou na URSS, e bibliotecários iam ler à beira das trincheiras e em hospitais.
Mesmo durante os anos da Grande Guerra Pátria (1941-1945), o mundo dos livros continuou sendo muito especial na União Soviética. Ainda com os combates, a devastação e a fome, as pessoas liam muito, e novas bibliotecas eram continuamente inauguradas. Só na unidade federativa de Moscou, 200 novosestabelecimentos do gênero foram abertos no período. 
“Com a guerra, o bibliotecário passou a ter novas responsabilidades. Por exemplo, se a biblioteca era atingida por um projétil, ele tinha que selecionar todos os livros que não haviam sido danificados e encaminhá-los a outras instituições”, conta Elena Arlánova, curadora da exposição “Vitória: histórias não inventadas”. 
Na biblioteca Tchernichévski, em Moscou, a exibição apresenta mais de 300 títulos publicados entre 1941 e 1945.
A mostra traz informações curiosas ao visitante. O fato de muitas edições do período terem saído em formato de bolso, por exemplo, não era pura coincidência, mas uma forma de facilitar a leitura pelos soldados em campo.
Seguindo essa fórmula, uma coleção de citações do chefe militar russo Aleksandr Suvorov (1730-1800), exibida na biblioteca, encaixava-se perfeitamente no bolso ou na mochila. 

Para Arlánova, a escolha pela edição de “Preceitos de Suvorov” na época não se deu por acaso. “Um amigo meu veterano costuma dizer que não foram os artilheiros ou os tanquistas que ganharam a guerra, mas os instrutores políticos que preparavam os soldados para a batalha, ao ajudá-los a manter disposição e estado de espírito adequados.”
Política e jardinagem
A literatura publicada então era muito diversificada. De um lado, havia obras filosóficas e políticas: “Diplomacia”, de Harold Nicolson; “A Paz” de André Tardieu; “História da Filosofia em dois volumes”; títulos do diplomata Otto von Bismarck e do filósofo Plutarco; algumas obras sobre a invasão francesa à Rússia em 1812 e sobre os confrontos entre tribos eslavas e germânicas. 
Também foram publicados diversos clássicos, russos e estrangeiros: Shakespeare, Púchkin, Dante, Górki, Dickens e Tolstói. 
Além disso, outras publicações surpreendiam pela temática aparentemente desnecessária para aqueles anos, como era o caso de “Jardinagem Ornamental” e “Caça”, volumes da Grande Enciclopédia Soviética, um álbum artístico do pintor russo Karl Briullov e um livro sobre fundamentos da composição musical, além de partituras de compositores clássicos como Glinka, Rímski-Kôrsakov eRachmaninoff.
Conversação como arma
Além de livros de viés militar e político, a época exigia a publicação de dicionários e guias de conversação. Afinal, o Exército soviético estava se deslocando e chegava a novos países, onde precisava se comunicar com a população local. 
Uma grande quantidade de publicações do gênero foi impressa e, por meio delas, pode-se até esboçar a movimentação do Exército soviético: dicionários polonês-russo, romeno-russo, turco-russo, japonês-russo etc. 
Também era editada literatura nas línguas dos povos da URSS. Assim, as populações das repúblicas podiam ler nas línguas nativas e os russos podiam conhecer as culturas daqueles que lutavam a seu lado, ombro a ombro. Mais de uma dezena de editoras continuava em funcionamento. Muitas foram evacuadas para a retaguarda, mas continuavam a produzir livros.
Livros contra o MP3
Para o especialista em literatura militar Boris Leonov, a guerra trouxe muitas novidades literárias e conferiu valor ainda maior aos livros.
“Esse período nos presenteou com toda uma categoria de literatura militar que se tornou clássica e serviu de base para as futuras obras do século 20. Surgiram muitas obras poéticas, romances e histórias sobre a guerra. Parte dessas foi impressa durante nesses anos”, disse Leonov à Gazeta Russa.
Já os bibliotecários, passaram a exercer uma função quase de pregadores. “Os funcionários das bibliotecas começaram a ir às trincheiras que estavam sendo cavadas para ler em voz alta para quem trabalhava nelas. Eles também o faziam em hospitais”, diz Arlánova.
“Hoje, isso já não é mais possível. As pessoas passam a maior parte do tempo ouvindo MP3 e assistindo a filmes. O livro deixou de ser a base da cultura”, diz Leonov.

Amor à prova de guerra


Amor à prova de guerra
Já no primeiro ano após o término da guerra, o número de casamentos chegou a quase 85 mil Foto: Galina Kmit/RIA Nóvosti

Em 1941, havia 195,4 milhões de habitantes na União Soviética. Segundo o Serviço Federal de Estatística, se não fosse a guerra, o número de pessoas na URSS teria atingido os 209,9 milhões em 1946. Mas a história é inalterável: no ano seguinte ao término do conflito, o número de soviéticos havia caído para 170,5 milhões. Entre os homens, a perda foi ainda mais expressiva: 19,5 milhões de defensores da Pátria.
“A guerra provocou um tremendo desequilíbrio na proporção entre homens e mulheres. Além disso, nos primeiros anos de guerra as pessoas não pensavam em constituir família”, diz a psicóloga Elena Galístaskia. “Com o horror dos bombardeios, a morte de entes queridos, as evacuações e a fome, as pessoas só pensavam em como sobreviver.”
No dia 23 de junho de 1941 foram recrutados homens com idade entre 23 e 36 anos, e, em agosto do mesmo ano, o Exército ampliou o recrutamento para todos os homens entre 18 e 51 anos de idade. Mais tarde, a idade mínima caiu para 17 anos, mas a milícia popular aceitava voluntários de todas as idades.
“Quando eu voltar, a gente casa”
Enquanto os homens eram recrutados para o fronte, mulheres, crianças e idosos eram evacuados para áreas mais estáveis. A moscovita Larissa Zúbova, de 88 anos, guarda recordações escritas anos atrás.
“Terminei a escola no dia 22 de junho de 1941”, conta a aposentada. “Como era tradição, passeamos a noite inteira por Moscou. Quando regressava para casa, já de manhã, escutei no ponto de ônibus que a guerra tinha começado. Um mês depois, vieram os bombardeamentos, e eu e a minha mãe fomos evacuadas para Tashkent.”
Zúbova e sua mãe só puderam retornar à capital em 1943. Já em Moscou, as duas foram trabalhar em fábricas e fazer serviços de portaria. Nessa mesma época, parentes distantes pediram à jovem para cuidar de um adolescente cujos pais tinham sido mortos.
Foi justamente na comunalka [apartamento coletivo onde viviam várias famílias] onde estava o garoto órfão que ela conheceu o amor.
“Um dia fui até a cozinha e foi ali que conheci aquele que viria a ser o meu futuro marido. Junto com a mãe e a irmã, ele ocupava dois outros quartos no mesmo apartamento. Ele olhou para mim e disse de imediato: ‘Estou partindo agora para Kuibichev, mas, quando eu voltar, a gente se casa’”, recorda Zúbova.
O construtor de aeronaves Viktor Zubov manteve-se fiel à sua palavra e, em 18 de abril de 1944, a relação do casal foi oficializada.
“Como estávamos em guerra, não havia necessidade de entregar nenhuma declaração para casar, bastava ir lá e casar. Lembro-me que o Cartório de Registro Civil ficava em um porão sujo, e a certidão de casamento foi emitida em um papel tão ruim que um ano depois se desfez. Mas isso era trivial, o importante é que éramos felizes.” 
Bola para frente
De acordo com o Cartório Central de Registro Civil de Moscou, foram realizados quase 44 mil casamentos na capital em 1941. No ano seguinte, esse número caiu para 12.500, mas voltou a subir nos anos seguintes, chegando a 33 mil em 1944. Já no primeiro ano após o término da guerra, o número de casamentos chegou a quase 85 mil.
“Se no início da guerra as pessoas esperavam que ela não durasse muito e queriam apenas sobreviver, um ou dois anos depois ficou claro que a guerra não ia terminar tão cedo e que era preciso organizar a vida de alguma forma. Afinal, o ser humano não pode passar o tempo todo sofrendo”, explica a psicóloga.
Um ano antes do início da guerra nasceram em Moscou quase 110 mil crianças, mas, no pico do conflito, esse número diminuiu em mais de 70%. Um aumento acentuado só foi percebido em 1946 – quando os homens regressaram da guerra, a paz voltou a reinar e o nascimento de mais de 102 mil bebês mostrou que a vida estava voltando ao normal.
“Por mais assustador que possa parecer, nós já tínhamos nos acostumado à guerra e não estávamos dispostos a adiar a vida para mais tarde”, diz Zúbova, que teve um filho com o marido em janeiro de 1945. “Muita gente agora não consegue entender como a nossa geração decidiu ter filhos, simplesmente queríamos a felicidade das coisas simples.”

domingo, 10 de maio de 2015

Heróis de quatro patas

 
Olga Belenítskaia, especial para Gazeta Russa 
 
Na última sexta-feira (24) começaram as celebrações dos 70 anos da vitória soviética na Segunda Guerra Mundial. Após um desfile com várias unidades e equipamentos militares, chegou a vez dos... cães.

Durante a Grande Guerra Patriótica, como é conhecida a Segunda Guerra Mundial na Rússia, não foram só as pessoas que deram provas de bravura. Cerca de 60 mil cachorros de diferentes raças, inclusive vira-latas, integravam o Exército soviético.

Os cães auxiliavam os homens em todas as frentes – farejavam minas, retiravam feridos dos escombros ou do campo de batalha. Às vezes, eram também usados em ações camicases – cães com explosivos lançavam-se debaixo de tanques. Nos anos da guerra, mais de 300 tanques alemães, ou seja, duas divisões, foram explodidos por cães.

Um dos episódios mais marcantes aconteceu no outono de 1941. Durante combates na região de Moscou, um grupo de tanques fascistas em ataque à fronteira soviética bateu em retirada ao ver que uma matilha de cães corria em sua direção.

Também com a ajuda de cachorros foram desativadas minas em mais de trezentas grandes cidades. No currículo do collie apelidado de Dik, por exemplo, consta: “Recrutado em Leningrado e destinado ao trabalho de desativação de minas. Durante a guerra, descobriu mais de 12 mil minas, participou da desativação de minas em Stalingrado, Lissitchansk, Praga etc.”

Mas a principal façanha de Dik aconteceu em Pávlovsk, onde ele descobriu, uma hora antes do momento programado para detonação, um caixote de pólvora de duas toneladas e meia, com um cronômetro, escondido no alicerce de um palácio. Depois da vitória, apesar do vários ferimentos, Dik mais de uma vez participou de exposições de cães. O cão veterano chegou à velhice e foi enterrado com honras militares. 

Enfermeiros de plantão

No inverno, em macas sobre trenós, e no verão, em pequenas carroças, os cachorros transportavam pessoas para a linha de frente e traziam feridos de lá. Cada dupla de cães substituía de três a quatro enfermeiros, retirando mais de 600 mil homens do campo de batalha.

Quando os enfermeiros não conseguiam chegar até um ferido, por causa do intenso fogo cruzado, os cães arrastavam-se de barriga até ele, levando a caixa de primeiros socorros. Esperavam até que o combatente fizesse o curativo e só depois passavam ao seguinte. Caso o ferido estivesse desacordado, o cachorro lambia o seu rosto até que ele voltasse a si.

Além disso, durante a guerra, cães mensageiros entregaram mais de vinte mil informes e estenderam mais de 8 mil quilômetros de fios telefônicos por locais onde os soldados não tinham acesso.

Pastor dos pastores

Embora muitos cachorros tenham realizado verdadeiras façanhas em épocas de guerra, o único que recebeu uma medalha “Pelos serviços prestados” foi um pastor chamado Djulbars. No último ano da Segunda Guerra, esse cão localizou 7.468 minas e 150 obuses, assim como participou da desativação de bombas em palácios da região do rio Dunai, castelos de Praga e catedrais de Viena.

O dono de Djulbars era Dina Volkats, que posteriormente se tornou esposa do comandante Aleksandr Mazover, grande especialista em cães. Ainda antes da guerra, Dina atuava como adestradora de cães oficiais na cidade natal de Kharkov.

Em 1941, a jovem de 18 anos foi mandada à Escola Central de Adestramentos de Cães Militares. Depois de receber o título militar de aspirante a oficial, Volkats começou a trabalhar. Escolheu um cão e mostrou-o ao chefe de seção. Djulbars era tão sem graça, que o chefe apenas ironizou: “Não conseguiu achar nada pior? Permita-me saber em que critério se baseou a sua escolha?”. “No olho”, respondeu Dina seriamente.

No final da guerra, Djulbars foi ferido e não pôde participar da Parada da Vitória. O marechal Konstantin Rokossovski informou isso a Stalin, que ordenou levarem o cachorro à Praça Vermelha enrolado em sua própria túnica militar. Aleksandr Mazover levou o pastor no colo e recebeu permissão para não marchar a passo firme nem prestar continência, afinal, ele estava cuidando de um combatente muito valioso.

Retirado da Gazeta Russa

O papel de Stálin na Segunda Guerra Munidal


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O papel de Stálin na Segunda Guerra Mundial foi determinante para a vitória da humanidade sobre o nazismo. Caluniado por seus opositores internos e pelos ideólogos burgueses após sua morte em 1953, seus méritos militares raramente recebem o destaque que merecem, enquanto que batalhas e líderes de menor envergadura recebem mais destaque que o líder de aço soviético.

Quando se fala da II Guerra Mundial, é preciso sempre dizer que, de fato, não houve só uma guerra, mas várias. A guerra que levou os imperialismos anglo-americano e francês contra seu concorrente alemão não tinha muita coisa em comum com a guerra nacional antifascista da União Soviética. A guerra no Ocidente tinha sido uma guerra entre dois exércitos burgueses. No combate contra a invasão hitlerista, a classe dirigente francesa não queria nem podia mobilizar e armar as massas trabalhadoras por uma luta de morte contra o nazismo. Após a derrota das suas tropas, Pétain, o herói da I Guerra Mundial, assinou o ato de capitulação e entrou de pé leve na colaboração. Quase em bloco, a grande burguesia francesa se arrumou sob as ordens de Hitler, tentando tirar o melhor partido da Nova Europa alemã. A guerra do Oeste permaneceu, de qualquer sorte, uma guerra mais ou menos “civilizada” entre burgueses “civilizados”.

Nada de comparável na União Soviética. O povo soviético teve de fazer frente a uma guerra com toda uma outra natureza. E um dos méritos de Stalin é de tê-la compreendido e de estar coerentemente preparado.

Antes do começo da operação Barbarossa, Hitler já tinha claramente anunciado o colorido. Em seu Diário, o general Halderregistrounotas de um discurso que Hitler pronunciou diante dos seus generais,a 30 de Maio de 1941. O füher falava da guerra por acontecer com a União Soviética.

“Luta de duas ideologias. Julgamento humilhante a respeito do bolchevismo: ele é como um crime a-social. O comunismo representa um perigo horrível para o futuro. (…) Trata-se de uma luta de aniquilamento. Se nós não tomarmos a questão sob este ângulo, nós abateremos com certeza o inimigo, mas,em 30 anos, o inimigo comunista se oporá de novo. Nós não faremos a guerra para guardar nosso inimigo. (…) Luta contra a Rússia: destruição dos comissários bolcheviques e da inteligênciacomunista.”

Note-se que se trata aqui da “solução final” – mas não contra os judeus.

As primeiras promessas de “guerra de aniquilamento” e de “destruição física” foram endereçadas aos comunistas soviéticos.

E efetivamente, os bolcheviques, os soviéticos, foram as primeiras vítimas dos extermíniosde massa.

O general Nagel escreveu em Setembro de 1941:

“Contrariamente à alimentação de outros prisioneiros (quer dizer ingleses e americanos) nós não temos compromissocom nenhuma obrigação de ter de alimentar prisioneiros bolcheviques.”

Nos campos de concentração de Auschwitz e de Chelmno, “prisioneiros soviéticos foram os primeiros, ou estiveram entre os primeiros, a ser deliberadamente mortos por injeções letais e pelo gás.”
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O número de prisioneiros de guerra soviéticos mortos nos campos de concentração, “no curso dos deslocamentos”, em “circunstâncias diversas”, atingiu a cifra de3.289.000 homens! Quando as epidemias se espalhavam nas barracas dos soviéticos, os guardas nazistasnão penetravam aí, “salvo com equipes de lança-chamas quando, por‘razões de higiene’, os morimbundos e os mortos eram queimados juntamente com suas camas, em farrapos cheios de vermes”. Pode ter havido cinco milhões de prisioneiros assassinados, ao se levar em conta os soldados soviéticos “simplesmente abatidos nos locais”, nos momentos em que eles se rendiam.

Assim, as primeiras campanhas de extermínio, as mais vastas também, foram dirigidas contra os povos soviéticos, nos quais se incluía o povo judeu soviético. Os povos da URSS tiveram o maior sofrimento, tendo contadoo maior número de mortos – 23 milhões – mas eles também faziam prova da mais feroz determinação do mais ardente heroísmo.

Até a agressão contra a União Soviética, não houvera grandes massacres de populações judias. Nesse momento, os nazistas não haviam encontrado ainda nenhum tipo de resistência séria. Mas, desde os seus primeiros passos no solo soviético, esses nobres alemães tiveram de enfrentar adversários oferecendo combate até sua última gota de sangue. Desde as primeiras semanas, os alemães sofreram perdas severas, e isso contra uma raça inferior, contra os eslavos, e pior ainda, contra os bolcheviques. A fúria exterminadora dos nazistas nasceu de suas primeiras perdas maciças. Quando a besta fascista começou a sangrar sob os golpes do Exército Vermelho,ela pôs em prática a “solução final” para o povo soviético.

A 26 de novembro de 1941, o 30º Corpo do Exército, ocupando um vasto território soviético, tinha ordenadoencerrar nos campos de concentração, como reféns,“todos os indivíduos que eram das famílias dos resistentes”, “todos os indivíduos suspeitos de estarem em relação com os resistentes”, “todos os antigos membros do Partido” e “todos os indivíduos que ocupassem funções oficiais”. Para um soldado alemão morto, os nazistas decidiram matar ao menos dois reféns.

A 1º de Dezembro de 1942, quando de uma discussão com Hitler sobre a guerra dos resistentes soviéticos, o general Jodl resumiu a posição alemã nesses termos:

“No combate, nossas tropas podem fazer aquilo que elas quiserem: pendurar os resistentes com a cabeça para baixo ou esquartejá-los.”
A bestialidade com a qual os hitleristas perseguiam e liquidavam todos os membros do Partido, todos os resistentes, todos os responsáveis pelo Exército Soviético e seus familiares nos fizeram melhor compreender os sentidos dos Grandes Expurgos dos anos 1937-1938. Nos territórios ocupados, contra-revolucionários irredutíveis que não foram sido liquidados em 1937-1938 puseram-se a serviço dos hitleristas, informando-os sobre todos os bolchevistas, suas famílias, seus companheiros de luta.

Na medida em que a guerra no Leste adquiria um caráter cada vez mais encarniçado, a demência mortífera dos nazistas contra todo um povo se intensificou. Himmler, dirigindo-se aos dirigentes das SS, falava em junho de 1942 de uma “guerra de extermínio” entre duas “raças e povos” que se engajaram em um combate “incondicional”. Havia de um lado há “aquela matéria bruta, aquela massa, esses homens primitivos, ou melhor, esses sub-homens dirigidos pelos comissários políticos”, do outro lado, nós, os alemães”.

Um terror sanguinário,jamais praticado antes: tal foi a arma com a qual os nazistas quiseram obrigar os soviéticos à capitulação moral e política.
“Durante os combates para a tomada de Khárkov”, dizia Himmler, “nossa reputação de despertar o medo e de semear o terror nos precedia. Era uma arma extraordinária que era preciso sempre reforçar.”

E os nazistas tinham reforçado o terror.

A 23 de agosto de 1942, às 18 horas precisamente, mil aviões começaram a largar bombas incendiárias sobre Stalingrado. Nesta cidade, onde viviam 600 mil habitantes, havia muitos imóveis construídos com madeira, reservatórios de combustíveis, reservas de carburantes para as usinas. Eremenko, que comandou a frente de Stalingrado, escreveu:

“Stalingrado foi imersa nos clarões do incêndio, rodeada de fumaças e fuligem. Toda a cidade ardia. Enormes nuvens de fumaça e de fogo turbilhonavam acima das usinas. Os reservatórios de petróleo pareciam vulcões vomitando suas larvas. Centenas de milhares de tranqüilos habitantes estavam em perigo. O coração apertava de compaixão pelas vítimas inocentes do canibalismo fascista.”

É preciso ter uma visão clara destas realidades insuportáveis para compreender certos aspectos daquilo que a burguesia chama de “stalinismo”. Durante a depuração, burocratas incorrigíveis, derrotistas e capitulacionistas foram ameaçados; muitos dentre eles foram enviados à Sibéria. Um Partido desgastado pelo derrotismo e pelo espírito de capitulação não teria jamais podido mobilizar e disciplinar o povo para se contrapor ao terror nazista. E foi isso que fizeram os soviéticos nas cidades sitiadas, em Leningrado e em Moscou. E mesmo no braseiro de Stalingrado, os homens que sobreviveram jamais se renderam e finalmente participaram da contra-ofensiva.

Durante a agressão alemã, em junho de 1941, o general do exército Pavlov, no comandoda frente Oeste, deu prova de incompetência grave e de negligência. A 28 de junho, a perda de da capital bielorussa, Minsk, foi a consequência. Stalin convocou Pavlov e seu Estado-Maior a Moscou. Jukov anotou que, “por proposta do Conselho Militar da Frente Oeste”, eles foram levados a julgamento e fuzilados. Elleinstein apressou-se em dizer que assim Stalin continuou a aterrorizar seu ambiente. Ora, frente à barbárie nazista, a direção soviética devia exigir uma atitude inquebrantável e uma firmeza a toda prova e todo ato de irresponsabilidade grave tinha de ser punido com o rigor necessário.

Quando a besta fascista começou a receber golpes mortais, ela tentou recobrar coragem com banho de sangue, praticando o genocídio contra o povo soviético caído nas suas mãos.

Himmler declarou a 16 de dezembro de 1943, em Weimar:
“Quando fui obrigado a dar, em um vilarejo, ordem para marchar contra os guerrilheiros e os comissários judeus, eu tinha sistematicamente dado a ordem de matar igualmente as mulheres e as crianças desses resistentes e desses comissários. Eu teria sido um relaxado e um criminoso frente a nossos descendentes se tivesse deixadovivas as crianças cheias de ódio daqueles sub-homens abatidos no combate do homem contra o sub-homem. Nós devemos ter consciência do fato de que nos encontramos em um combate racial primitivo, natural e original.”

O chefe da SS tinha dito em outro discurso em Kharkov, a 24 de abril de 1943:

“Por que meiospoderíamos tirar do russo mais homens, mortos ou vivos? Conseguiríamos isso matando-os, fazendo-os prisioneiros, fazendo-os trabalhar verdadeiramente e não devolvendo (alguns territórios) ao inimigo, senão após tê-los esvaziado completamente de seus habitantes. Entregar homens ao russo seria um grosso erro.”

Esta realidade de terror inaudito que os nazistas praticaram na União Soviética, contra o primeiro país socialista, contra os comunistas, é quase sistematicamente ocultada ou minimizada na literatura burguesa. Esse silêncio tem um objetivo muito preciso. Quanto mais as pessoas ignoram os crimes monstruosos cometidos contra os soviéticos, mais facilmente pode-se fazer engolir a ideia de que Stalin foi, ele também, um ditador comparável a Hitler. A burguesia escamoteia o verdadeiro genocídio anticomunista para poder ostentar mais livremente aquilo que ela tem em comum com o nazismo: o ódio irreconciliável ao comunismo, o ódio de classe para com o socialismo. E para obscurecer o maior genocídio da guerra, a burguesia dirige exclusivamente os holofotes contra outro genocídio, o dos judeus.
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Imagem real de Stálin durante celebrações da vitória soviética sobre o nazismo

Em um livro notável, Arno J. Mayer, cujo pai era sionista de esquerda, mostra que o extermínio dos judeus não começou senão no momento em que os nazistas, pela primeira vez, sofreram duras perdas. Foi em junho-julho de 1941, contra o Exército Vermelho. A bestialidade exercida contra os comunistas, depois as derrotas inesperadas que abalaram o sentimento de invencibilidade dos Ubermenschen, criaram o ambiente que permitiu o holocausto.

“O genocídio judeu foi forjado no fogo de uma guerra formidável para conquistar à Rússia um “espaço vital” ilimitado, para esmagar o regime soviético e para liquidar o bolchevismo internacional. (…) Sem a operação Barbarossa não teria havido nem poderia haver catástrofe judaica, de “solução final”.” Só quando os nazistas se confrontaram com a realidade das derrotas na frente russa,eles decidiram por uma “solução global e definitiva” do “problema judeu”, durante a conferência de Wannsee, em 20 de janeiro de 1942.

Os nazistas criaram depois de longos anos seu ódio ao “judeu-bolchevismo”, o bolchevismo sendo, segundo eles, a pior invenção dos judeus. A resistência feroz dos bolcheviques impediu os hitleristas de terminarem com seu inimigo principal. Então,eles dirigiram suas frustrações contra os judeus, que eles exterminaram em um movimento de vingança cega.

Como a grande burguesia judaica era conciliadora para com o Estado hitlerista – em certos casos, cúmplice mesmo – a maioria dos judeus foi abandonada com resignação a seus carrascos. Mas os judeus comunistas, que agiam com o espírito internacionalista, combateram,com armas na mão, os nazistas e uma parte da esquerda judaica entrou para a resistência. A grande massa dos judeus pobres foi morta em câmaras de gás. Mas muitos ricos tiveram sucesso migrando para os Estados Unidos. Após a guerra, eles se posicionaram a serviço do imperialismo norte-americano e de Israel, a cabeçadeponte deste no OrienteMédio. Eles falam em profusão do holocausto dos judeus, mas em uma ótica pró-israelense; ao mesmo tempo, eles dãolivre curso a seus sentimentos anticomunistas e insultam assim a memória dos judeus comunistas que realmente enfrentaram os nazistas.

Para terminar, uma palavra sobre a forma pela qual Hitler preparou o espírito dos nazistas para massacrar indiferentemente 23 milhões de soviéticos. Para transformar seus homens em máquinas de matar, ele lhes enculcou que um bolchevique não era um homem, mas um animal.

“Hitler advertia suas tropas de que a força inimiga era ‘largamente composta de animais e não de soldados’, condicionados a combaterem com uma ferocidade animal.”

Para levar as tropas alemãs ao extermínio dos comunistas, Hitler lhes dizia que Stalin e os demais dirigentes soviéticos eram “criminosos enlameados de sangue (que tinham) matado e exterminado milhões de intelectuais russos, com sua sede selvagem de sangue… (e) que tinham exercido a tirania mais cruel de todos os tempos”.

“Na Rússia, o judeu sanguinário e tirânico matou, muitas vezes com torturas desumanas, ou exterminou pela fome com uma selvajaria verdadeiramente fanática cerca de 30 milhões de homens.”

Assim, na boca de Hitler, a mentira dos “30 milhões de vítimas de stalinismo” serviu para preparar psicologicamente a barbárie nazista e o genocídio dos comunistas e resistentes soviéticos.

Ressaltemos de passagem que Hitler inicialmente tinha posto essas “30 milhões de vítimas” na conta de… Lenin. De fato, essa mentira repugnante figurava já no MeinKampf, escrito em 1926, bem antes da coletivização e da depuração! Em ataqueao judeu-bolchevismo, Hitler escreveu:

“Com uma ferocidade fanática, o Judeu matou na Rússia cerca de 30 milhões de homens, muitas vezes sob torturas desumanas.”

Meio século mais tarde, Brzezinski, o ideólogo oficial do imperialismo norte-americano retoma palavra por palavra todas essas infâmias nazistas:

“É absolutamente razoável (!) estimar as vítimas de Stalin em no mínimo em 20 e talvez 40 milhões.”

Os méritos militares de Stálin
The changing of the guard ceremony at Lenin s tomb at the Kremlin in Red Square Moscow USSR in February 1988.

Como seria impossível avaliar finalmente os méritos militares daquele que dirigiu o Exército e os povos da União Soviética no curso da maior guerra, a mais pavorosa que a história já conheceu?

Apresentemos antes a opinião de Khruchov.

“Stalin tinha tentado muito fazer passar-se por um grande chefe militar. Reportemo-nos por exemplo a nossos filmes históricos. É desencorajante. Não se trata senão de propagaro tema segundo o qual Stalin era um gênio militar”.

“Não foi Stalin, mas sim o Partido inteiro, o governo soviético, nosso heróico exército, seus chefes talentosos e seus bravos soldados que alcançaram a vitória na grande guerra patriótica (tempestade de aplausos prolongados).”

Não foi Stalin! Não Stalin, mas o Partido inteiro. E este Partido inteiro obedecia sem dúvida às instruções do Espírito Santo.
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Khruchovfazia parecer glorificar o Partido, este corpo coletivo de combate, para diminuir o papel de Stalin. Organizando o culto de sua personalidade, Stalin teria usurpado a vitória que o Partido “inteiro” tinha arrancado. Como se Stalin não fosse o dirigente mais eminente desse Partido, aquele que, no curso da guerra, fez prova da mais espantosa capacidade de trabalho, da maior tenacidade e clarividência. Como se todas as decisões estratégicas não tivessem sido resolvidas por Stalin, mas contra ele, por seus subordinados.

Se Stalin não foi um gênio militar, é necessário concluir que a maior guerra da história, aquela que a humanidade travou contra o fascismo, teria sido ganha sem gênio militar. Porque nesta guerra terrificante, ninguém desempenhou um papel comparável àquele desempenhado por Stalin. Mesmo AverellHarriman, o representante do imperialismo americano, após ter repetido os clichês obrigatórios a propósito do “tirano que era Stalin”, destacou sua “grande inteligência, sua fantástica capacidade de entrar nos detalhes, sua perspicácia e sua sensibilidade humana surpreendente, que ele pôde manifestar, ao menos durante a guerra. Eu acho que ele era mais bem-informado que Roosevelt, mais realista do que Churchill, sob vários aspectos o mais eficaz dos dirigentes da guerra.”

“Stalin presente, não havia mais lugar para ninguém. Onde estavam então nossos chefes militares?”, exclamou o demagogo Khruchov. Ele bajulava os marechais: não foram vocês os verdadeiros gênios militares da II Guerra Mundial? Finalmente, Jukov e Vassilevski, os dois chefes militares mais eminentes, deram a sua opinião, respectivamente 15 e 20 anos após o relatório infame de Khruchov.

Escutemos inicialmente o julgamento de Vassilevski.

“Stalin formou-se como estrategista. (…) Após a batalha de Stalingrado e particularmente a de Kursk, ele elevou-se ao máximo da direção estratégica. Stalin passa a pensar manejando as categorias da guerra moderna, ele se familiariza perfeitamente com todas as questões da preparação e da execução das operações. Ele exige então que as operações militares sejam conduzidas de forma criadora, dando conta plenamente da ciência militar, que elas sejam enérgicas e manobradas, tendo por objeto o deslocamento e o cerco do inimigo. Seu pensamento militar manifesta nitidamente a tendência a massificar as forças e os meios, a fazer um emprego diversificado de todas as variantes possíveis do começo das operações e de sua condução. Stalin começa a compreender bem não apenas a estratégia da guerra, o que lhe foi fácil,pois elepossuía a maravilhosa arte da estratégia política, mas também a arte operacional.”
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“Stalin entrou duradouramente na história militar. Seu mérito indubitável esteve em que, sob sua direção imediata enquanto comandante supremo, as Forças Armadas soviéticas foram firmes nas campanhas defensivas e cumpriram brilhantemente todas as operações ofensivas. Mas, tanto quanto eu tenha podido observar, ele não falava jamais de seus méritos. Em todo caso, jamais o ouvi falar disso. O título de Herói da União Soviética e a posição de Generalíssimo lhes foram conferidos por proposta dos comandantes da frente ao birôpolítico. Quanto aos erros cometidos durante os anos de guerra, ele falava deles honestamente e francamente.”

“Stalin, eu estou profundamente convencido, particularmente a partir da segunda metade da Grande Guerra Patriótica, foi a figura mais forte e mais brilhante do comando estratégico. Ele se desempenhou com sucessona direção das frentes, de todos os esforços do país, na base da política do Partido. (…) Stalin permaneceuem minha memória como um chefe militar rigoroso, de forte vontade, a quem não faltava ao mesmo tempo encanto pessoal.”

Jukov começa por nos dar um perfeito exemplo do método de direção, exposto por Mao TseTung: concentrar as ideias justas das massas para retorná-las sob a forma de diretivas às massas.

“Foi a Joseph Stalin em pessoa que foram atribuídas soluções de princípio, em particular aquelas concernentes aos processos de ataque da artilharia, a conquista do domínio aéreo, os métodos do cerco doinimigo, o deslocamento doscontigentes inimigos cercados e sua destruição sucessiva por agrupamentos etc. Todas essas questões importantes da arte militar são frutos de uma experiência prática, adquirida no curso dos combates e das batalhas, fruto de reflexões aprofundadas e conclusões tiradas dessa experiência pelo conjunto dos chefes e pelas próprias tropas. Mas o mérito de J. Stalin consiste em ter acolhido de modo adequado os conselhos de nossos eminentes especialistas militares, de os ter completado, explorado e comunicado rapidamente sob a forma de princípios gerais nas instruções e diretivas dirigidas às tropas, com vistas a assegurar a conduta prática das operações.”

“Até a batalha de Stalingrado, J. Stalin não dominava senão em suas grandes linhas os problemas da estratégia, da arte operacional, da posta a prova das operações modernas,no nível de uma frente e, no último caso, aquelas de um exército. Mais tarde, sobretudo a partir de Stalingrado, Stalin adquiriu a fundo a arte de montar as operações de uma frente ou de várias frentes e dirigiu tais operações com competência, resolvendo bem vários problemas de estratégia.

“Na direção da luta armada, Stalin era de modo geral ajudado pela sua inteligência natural e sua riqueza de intuição. Ele sabia descobrir o elemento principal de uma situação estratégica e, em consequência, sabia responder ao inimigo, desencadear tal ou qual importante operação ofensiva.

“Não há dúvida: ele foi digno do comando supremo.”

Extraídos do livro Um Outro Olhar Sobre Stálin, de Ludo Martens.

"Bruxas da Noite" contra o terror do fascismo







Pouco depois do início da Segunda Guerra Mundial, um grande número de cartas de pilotos femininas começaram a chegar aos órgãos do governo soviético. O conteúdo era quase sempre o mesmo: todas insistiam em ser enviadas para o front e lutar lado a lado aos homens.

Nessa mesma época, a piloto e heroína da União Soviética Marina Raskova, conhecida em todo o país pelo lendário voo direto entre Moscou e o Extremo Oriente a bordo de uma ANT-37 Pátria, apresentou a ideia de formar um regimento especial formado só por mulheres.

A proposta de Raskova começou a ser avaliada, e os órgãos responsáveis prometeram pensar no assunto – mas, na prática da aviação mundial, não havia qualquer exemplo de formação desse tipo. Enquanto isso, as cartas não paravam de chegar...

A aviadora conseguiu, enfim, obter a permissão de Stálin para formar um regimento feminino, e a seleção das voluntárias começou em meados de 1941. Depois de um curso intensivo, foi formado o 46º Regimento da Guarda, que se tornou a única divisão feminina de bombardeio noturno do mundo.

A primeira regra imposta às moças era simples: ter o cabelo “com corte masculino”, cortando-o “até a metade da orelha”. As tranças só eram permitidas após a aprovação pessoal de Raskova, mas fato é que ninguém ia incomodar a famosa aviadora com esse tipo de questão.

Em 27 de maio de 1942, o regimento “Bruxas da Noite”, com um total de 115 garotas entre 17 e 22 anos de idade, finalmente partiu para o front. O primeiro lançamento foi feito no dia 12 de junho.

Máquina humana

As aviadoras pilotavam pequenos biplanos de baixa velocidade PO-2, que antes da guerra eram usados no treino de pilotos. A cabine de pilotagem aberta com viseira acrílica não protegia a tripulação dos disparos nem mesmo de ventos fortes.

O veículo não tinha rádio, atingia velocidade de apenas 120 km/h e 3 km de altitude máxima de voo. As únicas armas a bordo eram pistolas TT. Esses só ganharam metralhadoras em 1944.

O avião também não tinha nenhum compartimento para bombas e, por isso, elas eram fixadas diretamente na parte de baixo da aeronave. Embora o PO-2 não fosse capaz de carregar muitas bombas ao mesmo tempo, era capaz de alcançar o alvo com uma precisão excepcional.

As mulheres chegavam a fazer dez voos por noite. Enquanto a copiloto levava as bombas menores nos joelhos e lançava-as manualmente sobre o alvo, as pilotos desligavam o motor e, em absoluto silêncio, faziam cair as bombas sobre o inimigo.

Além de bombas, elas também transportavam cargas como medicamentos, munições, comida, correio etc.

Pelas mulheres!

A tripulação do PO-2 era composta por uma piloto e uma copiloto – estas eram, em sua maioria, estudantes universitárias. Polina Guelman, por exemplo, era estudante de história; Irina Rakobolskaia estudava na Faculdade de Física da Universidade Estadual de Moscou; e Raíssa Aronova integrava o Instituto de Aviação de Moscou. Com elas, uma nova atmosfera foi trazida para o regimento: elas davam aulas, editavam revistas e escreviam poesias.

A comandante do 46º Regimento da Guarda foi Evdokia Berchánskaia, a única mulher condecorada com o grau de cavaleiro da Ordem militar de Suvorov. Sob seu comando, o regimento lutou até o fim da guerra. Durante o período do conflito, as aviadoras do 46º Regimento da Guarda efetuaram cerca de 24 mil voos.

As meninas festejaram o Dia da Vitória perto de Berlim, recordando as 33 amigas que não viveram para ver aquele dia feliz. Inicialmente, as pilotos escreviam nas bombas “Pela Pátria!”, mas, após as primeiras amigas mortas em combate, começaram a surgir inscrições com nomes próprios. Nove aviadoras ganharam o título de heroínas da União Soviética.

Retirado de Gazeta Russa

sábado, 9 de maio de 2015

Exército Vermelho salvou humanidade do nazismo

Retirado do Jornal A Verdade

No capitalismo, as guerras são fruto da concorrência entre as classes dominantes de diferentes nações pelo domínio do planeta. Na Primeira Guerra Mundial, formaram-se dois blocos imperialistas opostos: Tríplice Aliança (Impérios Alemão, Austro-Húngaro e Turco-Otomano) e a Tríplice Entente (Impérios Inglês, Francês e Russo).

O sol nasce vermelho

Algo novo, entretanto, surgiu durante a Primeira Guerra Mundial: a revolução socialista de outubro de 1917, na Rússia; nova cisão ocorria no mundo, agora dividido em dois sistemas adversos: o capitalismo e o socialismo.
Os dois blocos capitalistas passaram a ter um objetivo comum: a destruição do primeiro Estado operário-camponês da história, em vista da restauração do capitalismo em escala global. Foi com este propósito que o bloco vencedor investiu na economia alemã 15 bilhões de marcos em seis anos (1924-1929).
Quando o nazismo se apossa da Alemanha e explicita seu intento de domínio mundial, as potências capitalistas dominantes não tratam de combatê-lo. Ao contrário, fecham os olhos às suas agressões e até incentivam o monstro nazista a direcionar seu ataque contra a União das Repúblicas Socialistas Soviéticas (URSS).

Em 1939, a URSS propôs à Inglaterra e França um pacto para ações militares conjuntas se os países do Eixo (Alemanha, Itália e Japão), bloco nazifascista, iniciassem a guerra na Europa. Não houve rejeição formal, mas nenhum passo foi dado por parte dos países capitalistas para concretizar o pacto. Ao contrário, França e Inglaterra firmaram com Alemanha e Japão acordos de não-agressão. Deixada sozinha, em agosto de 1939, a URSS assinou com a Alemanha um tratado de não-agressão. Os dirigentes sabiam que, mais cedo ou mais, tarde Hitler romperia o acordo, mas conseguiram ganhar um tempo valioso para transferir parte de suas indústrias para o leste do grande território soviético, bem como reforçar sua capacidade de defesa militar.

De 1938 a 1941, Hitler ocupou Áustria, Checoslováquia, Polônia, Bélgica, Holanda, Dinamarca, Noruega, Grécia, Iugoslávia e finalmente a própria França. Na Europa central e oriental, a Alemanha adquiriu imensa quantidade de material de combate, meios de transporte, matérias-primas, materiais estratégicos e força de trabalho, tornando-se forte o suficiente para atacar a URSS.

Hitler, no livro MeinKampf(Minha Luta), proclamou: “…tratando-se de obter novos territórios na Europa, deve-se adquiri-los principalmente à custa da Rússia”.
dia da vitória na bulgária 09 05 1945

A invasão hitlerista foi impiedosa. “Fuzilavam em massa as pessoas (mulheres, crianças, idosos, montavam campos de morte, deportavam para trabalho forçado na Alemanha. Por onde passavam, não deixavam pedra sobre pedra”. Era a política do extermínio. “Eu tenho o direito de destruir milhões de homens de raça inferior que se multiplicam como vermes” (Hitler).

Em resposta, o governo, o Partido Bolchevique e o povo soviético lançaram a palavra de ordem: “Morte aos invasores fascistas, tudo para a frente! Tudo para a vitória!”. Às fileiras do Exército Vermelho se integraram milhões de homens. Criaram-se também inúmeros regimentos de milícia popular, contando com dois milhões de combatentes.

Formou-se ainda na retaguarda uma força guerrilheira massiva. A dedicação e bravura do povo soviético comoveram o mundo e foram decisivas para quebrar a resistência capitalista (EUA, Inglaterra, França). Formou-se finalmente o bloco aliado, antifascista, a frente única dos povos pela democracia.

Caíra por terra a ideia de Hitler de que a ocupação da URSS seria um passeio uma “guerra relâmpago”. Os nazistas não imaginavam a resistência que encontrariam nas principais cidades: Leningrado, Stalingrado, Kiev e Moscou, entre tantas. Homens, mulheres, idosos e crianças se ergueram como muralha inexpugnável.

Os feitos do povo soviético repercutiram no mundo inteiro, levando um jornal burguês como o STAR, de Washington, a publicar: “Os sucessos da Rússia na luta contra a Alemanha hitleriana revestem-se de grande importância não só para Moscou e o povo russo, como também para Washington, para o futuro dos Estados Unidos. A história renderá homenagens aos russos por terem suspendido a guerra relâmpago, pondo em fuga o adversário”.

Em junho de 1942, os invasores avançam, mas encontram uma barreira instransponível em Stalingrado. Durante sete meses de combate, os invasores perderam 700.000 soldados e oficiais, mais de mil tanques, dois mil canhões e morteiros, 1.400 aviões. Os invasores eram tecnicamente superiores, mas, em novembro de 1942, os números já se invertiam em favor dos soviéticos. Os alemães estavam com 6.200.000 soldados, os soviéticos com 6.600.000; 5.000 tanques invasores contra 7.000 soviéticos; 51.000 peças e morteiros contra 77.000.

Na derrota do Stalingrado, os nazistas perderam 1,5 milhões de soldados e oficiais. “… Do ponto de vista moral, a catástrofe que o exército alemão sofreu nos acessos de Stalingrado teve um efeito sob o peso do qual ele não pôde mais reerguer-se”. (A segunda guerra mundial, B.Lideel Hart)

Depois, ocorreu a vitória do Cáucaso e se iniciou processo de expulsão em massa dos ocupantes nazistas. “A União Soviética pode orgulhar-se das suas heroicas vitórias”, escreveu o presidente dos EUA, Franklin Roosevelt, acrescentando: “…os russos matam mais soldados inimigos e destroem mais armamentos do que os outros 25 estados das Nações Unidas no conjunto”.

O final de 1943 marca a virada na frente soviética e na Segunda Guerra em geral. O movimento contra o nazifascismo se consolidou e se ampliou em todo o planeta.

Em junho de 1944, com o exército alemão batido em todas as regiões da URSS, as tropas anglo-americanas desembarcaram no Norte da França, dando início à frente ocidental proposta pelo governo soviético desde o início da invasão.

Pode-se dizer que a essa altura a guerra estava decidida, diante da derrota alemã na Rússia. O próprio Winston Churchil, primeiro-ministro britânico, reconhece o papel fundamental dos soviéticos, no discurso pronunciado na Câmara dos Comuns, em julho de 1944: “….Considero meu dever reconhecer que a Rússia mobiliza e bate forças muitíssimas maiores que as enfrentadas pelos aliados no Ocidente, que, há longos anos, ao preço de imensas perdas, ela suporta o principal fardo da luta em terra”.

Um Exército Libertador

Apesar de imensas perdas, o Exército Vermelho avançou no encalço dos alemães pela Europa Oriental adentro, fustigando os nazistas e auxiliando as forças populares da resistência a derrotarem os ocupantes e seus colaboradores internos. Repúblicas democrático-populares foram instaladas com os partidos comunistas à frente na Polônia, Hungria, Iugoslávia, Checoslováquia, Romênia e Bulgária.

“Para Berlim!” era a palavra de ordem do exército libertador. Não foi um passeio. A resistência nazista, embora enfraquecida, produzia encarniçados e sangrentos combates. Os russos vitoriosos não mataram, não pilharam, não se vingaram dos crimes cometidos pelo exército alemão no solo soviético. Ao contrário, alimentaram os famintos, organizaram a assistência médica, o funcionamento dos transportes, a distribuição de água e de energia elétrica. A 2 de maio de 1945, o Comando Supremo alemão assinou o ato de capitulação incondicional das forças armadas, com a bandeira da URSS tremulando no alto do parlamento alemão, em Berlim. No dia 09 de maio, houve um imenso ato em Moscou em comemoração ao fim da Grande Guerra Patriótica (como os soviéticos denominaram sua participação na Segunda Guerra Mundial) e, desde então, até hoje, celebra-se na Rússia esta data como o Dia da Vitória.

Sob novos céus

Terminada a guerra na Europa, era preciso voltar-se para a Ásia. O Japão, aliado dos nazistas dominava milhões de pessoas na China, na Coreia, nas Filipinas. Apesar de as forças armadas dos EUA e da Inglaterra virem imprimindo sucessivas derrotas, as forças japonesas ainda eram numerosas e fortes. De vez em quando, elas atacavam as fronteiras da URSS e torpedeavam navios soviéticos em alto-mar.

No dia 8 de agosto de 1945, a União Soviética declarou guerra ao Japão e começou a ofensiva. Nesse mesmo dia, o primeiro-ministro japonês, Teiichi Suzuki afirmou: “…A entrada da URSS na guerra hoje de manhã põe-nos definitivamente numa situação sem saída e torna impossível continuar a guerra” . Estava certo. No final do mês, o Exército nipônico havia perdido 677 mil soldados e oficiais: 84 mil mortos e 593 mil prisioneiros.

Ao contrário do que muitos pensam, e a historiografia burguesa busca difundir, não foram as bombas estadunidenses lançadas no início de agosto contra Hiroshima e Nagasaki que provocaram a capitulação japonesa. A guerra continuou normalmente depois do ataque bárbaro e covarde. A rendição resultou do destroçamento do exército nipônico pelas tropas soviéticas.

Se alguém duvida, leia o testemunho do general Chenault, que chefiou as forças dos EUA na China: “…A entrada da URSS na guerra contra o Japão foi o fator decisivo para o fim da guerra no Pacífico, o que sucederia mesmo sem o emprego de bombas atômicas. O rápido golpe desferido pelo Exército Vermelho sobre o Japão fechou o cerco que pôs finalmente o Japão de joelhos”.

O Exército Vermelho contribuiu ainda para a expulsão dos nazistas da China e da Coreia. O sacrifício do povo soviético foi inestimável. Mas valeu a pena porque livrou a Humanidade da besta nazista. Foi também a vitória do socialismo que saiu da Segunda Guerra triunfante em toda a Europa Oriental e na China.

Por todos, valeu a carta de agradecimento enviada pelo povo coreano a Josef Stalin, comandante supremo das forças soviéticas: “… Os combatentes soviéticos chegaram não como conquistadores, mas como libertadores. Emancipada da escravidão, a nossa pátria respirou livremente. O céu apareceu-nos radioso. A nossa terra floresceu. Jorraram canções de liberdade e felicidade…”.

José Levino é historiador
Fonte de pesquisa: O Grande Feito do Povo Soviético e do Seu Exército. VassiliRiábov, Edições Progresso, Moscou,1983.

9 de maio: 70 ANOS DA VITÓRIA!



Há exatos 70 anos a humanidade se via livre da ameaça nazi-fascista. Graças ao heróico povo soviético, após uma sangrenta guerra que lhe rendeu a triste cifra de mais de 28 milhões de mortos, no dia 9 de maio de 1945 após ocupação da cidade de Berlim, era declarado o fim aos tempos sombrios do nazi-fascismo.

Durante a semana estarei postando matérias referente a esta data que precisa ser lembrada destinando toda a nossa saudação e eterna glória ao povo soviético por este feito.

#70AnosDaVitória