Fora todos os problemas, as ciclistas ainda têm que enfrentar o machismo primitivo de motoristas.
O texto abaixo, de autoria da designer paulistana Marina Chevrand, foi publicado originalmente no site Pedalinas, que congrega mulheres que andam de bicicleta.
Assédio no trânsito não é assunto novo por aqui. Agressões verbais todas nós, mulheres que pedalam, provavelmente já sofremos.
Mas vem cá, ja imaginou estar subindo uma avenida (a Sumaré, no
caso), em pleno domingo, feliz e contente por ter poucos carros na rua, e
perceber que um carro reduz a velocidade e sentir uma palmada bem dada
na bunda seguido de um “vaaaaai coisa gostooooosa” e várias risadas de
um bando de playboys?
Nunca imaginou? Nem eu. Mas isso aconteceu comigo, mas o carro preto
de placa 2416 e a cara do mauricinho orgulhoso de seu ato machão-ogro de
camisa amarela olhando e rindo de mim no retrovisor, eu nunca vou
esquecer.
Pra mim, um cara que faz algo desse tipo é o mesmo que estupra e bate
na mãe. O caráter (zero) e a certeza de que o mundo gira em volta do
seu pinto são características comuns a esses seres desprezíveis.
Poderia fazer uma lista do que senti ao tomar o tapa: ódio, vergonha,
humilhação, revolta, raiva, etc, etc, etc.
E todos esses sentimentos
juntos me deram forças nas pernas para pedalar na velocidade maior que
eu pude com o intuito de alcançar o 2416, 2416, 2416 – repetia para mim
mesma.
Rá! Lá estavam eles, distraídos e cantando esperando o sinal verde.
Cheguei devagarzinho sem ser percebida pela direita. Com muita vontade,
cuspi e vomitei na cara do de amarelo, arremesei-o para fora do carro,
chutei bem no meio do seu saco. Não tive pena da sua cara de pavor, me
pedindo peloamordedeus para parar. Não parei. Seus amigos-super-machões,
se envergonharam do amigão que dá tapas em bundas de mulheres estar
apanhando de uma de suas vítimas, e fugiram, deixando-o para trás.
Obviamente esse é o final que minha criatividade alimentada de ódio e revolta produziu.
O final real é bem diferente disso: infelizmente (ou felizmente)
todos os sinais estavam abertos, não tinha congestionamento e os perdi
de vista. Me recolhi no meu suor e humilhação e engoli seco para
conseguir terminar o dia sem matar um.
Postei essa foto no início do meu post, que é o resultado de uma
busca no google das palavras “mulher + bicicleta”. E isso resume muito
bem tudo o que escrevi. Tirem suas próprias conclusões.
Desculpem o relato meio pesado para uma segunda feira. E sorte pra
todas nós, que vamos pedalar muito ainda durante toda a semana. Que
pessoas como essas não cruzem nosso caminho e não estraguem nosso dia (e
muito menos nossa dignidade).
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