Por: Ivaldo Pontes Filho*
O Projeto de Lei 4330 de autoria do
deputado Sandro Mabel do PMDB de Goiás que regulamenta a terceirização
de serviços no Brasil é a mais grave ameaça aos direitos trabalhistas,
desde a ditadura militar.
O processo de terceirização no país
avançou intensamente a partir da década de 90, com a vitória do projeto
neoliberal de Collor/FHC. No período, a terceirização deixa de ser uma
prática complementar (só o setor de limpeza faturou 15,2 bilhões em
2010) e se transforma em uma estratégia prioritária do capital. É por
isto que o decreto visa agora regulamentar a terceirização em toda a
economia, inclusive no chão da fábrica, na indústria.
Na verdade a burguesia deseja acabar com
o arcabouço da CLT getulista, em vigor há setenta anos. O grito de
guerra de FHC logo após a posse, “vamos superar a era Vargas”, não era
dirigido exclusivamente a Vale e a Petrobras, incluía também a CLT. Mas
uma luta aberta contra a CLT não era prudente e comportava riscos.
A melhor estratégia política encontrada
foi deixar avançar à terceirização e apresentar a proposta como uma das
maiores inovações organizacionais de todos os tempos. É exatamente isso
que faz o capital e seus representantes políticos e empresariais hoje.
Na semana passada, foram os próprios presidentes das federações das
indústrias em cada estado do país, que foram à imprensa, em particular a
rede CBN, tecer elogios à terceirização e exigir sua aprovação imediata
em nome da modernização.
Apesar do avanço da terceirização na
economia durante a última década não há uma legislação específica que
garanta os mesmos direitos entre trabalhadores contratados e os
terceirizados em uma mesma empresa. De acordo com a CUT os trabalhadores
terceirizados recebem 27% a menos, mais de 70% tem menos direitos
trabalhistas e a maioria trabalha três horas a mais que os contratados
diretamente. O único instrumento legal que regula a terceirização no
país é o Enunciado 331 do Tribunal Superior do Trabalho, mas sem força
de lei. É neste vácuo legal que o projeto de lei 4330 tenta precarizar
agora o maior número possível de trabalhadores.
O projeto de Lei legaliza:
A contratação de empresas terceirizadas
nas atividades principais da empresa contratante, bem como nas
atividades complementares (todos os metalúrgicos, bancários e
jornalistas, agora poderão ser terceirizados);
A empresa terceirizada pode subcontratar outra empresa, em um processo sem fim, para a realização dos serviços contratados;
Será permitida a contratação sucessiva
dos trabalhadores por diferentes empresas prestadoras de serviços que
prestem serviços à mesma contratante sucessivamente (neste caso os
trabalhadores não recebem os direitos trabalhistas ao final de cada
contrato);
Não há vínculo empregatício entre a
empresa contratante e os trabalhadores das empresas prestadoras de
serviços. (Isto permitirá que os trabalhadores terceirizados fiquem de
fora dos dissídios coletivos e tenham seus salários rebaixados.
Resultará também na fragilização do movimento sindical, que representará
um número menor de trabalhadores);
A empresa terceirizada não tem nenhuma
obrigação de estender aos seus trabalhadores os benefícios oferecidos
aos trabalhadores das contratantes (atendimento médico, ambulatorial, e
de refeição, existentes na empresa);
Os cinco pontos citados acima
desestruturam profundamente os direitos trabalhistas e a organização
sindical dos trabalhadores. Pelo presente e pelo futuro vamos convocar
todos os trabalhadores para rejeitar o PL 4330.
*Ivaldo Pontes Filho é Engenheiro Civil, Professor Associado na UFPE.
Nenhum comentário:
Postar um comentário