segunda-feira, 21 de julho de 2014

PORTO DO CAPIM


De Lau Siqueira
(poema dedicado às mulheres da comunidade do Porto do Capim, em João Pessoa, 

que resistem com garra aos desejos ilimitados da especulação capitalismo)








a cidade de joão pessoa

nunca olha de frente

para o rio sanhauá



talvez por ter vergonha 

das suas margens


a cidade não veste a pele 
dos que encharcam os pés nas
beiradas do porto do capim

onde as chuvas aniquilam
o pouco dos que pouco
possuem

onde os barcos atracam 
no assoreamento e no 
abandono

onde um estupro urbanístico 
é prometido pelos que mandam 
e fazem

pelos que arrancam as árvores
porque acreditam não precisar 
dos pássaros

a cidade de joão pessoa
esqueceu do seu nascedouro

virou as costas 
para onde a verdade maior
é o reflexo da lua nas águas
do rio

um lugar onde o esquecimento 

fez morada no tempo e a beleza 

é o alimento de cada manhã


suas mulheres transformaram

a luta num lugar de morada

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