sexta-feira, 15 de abril de 2011

O massacre de Realengo, depois do minuto de silêncio

Julio Groppa Aquino

Professor da Faculdade de Educação da USP. O presente artigo foi publicado no Jornal Folha de São Paulo

Dizem que se trata de um marco sinistro na história do país. Especialistas se manifestam; políticos se consternam; religiosos pregam; opinião pública se solidariza. E a venda dos jornais aumenta. Sim, a notícia tem destaque no "New York Times".

Mas em poucas semanas só restará uma lembrança tensa no ar, acompanhada de um temor difuso de que aquilo volte a acontecer a qualquer momento, em qualquer lugar.

Dizem que se trata da crônica de uma tragédia sem precedentes, mas há muito anunciada. Quando escola e violência se associam no imaginário social, o resultado é uma explosão coletiva de indignação e protestos contra um alvo impreciso (quem são os culpados?) e dirigida a um destinatário indefinido (quem poderá nos salvar?).

Abandonados à própria ignorância, levantamos as mãos para o além, clamando pelas explicações que, afinal, não convencem ninguém.

Dizem, não sem pressa, que aprendemos a lição dos americanos; que nos rendemos de vez à banalização da violência a la Hollywood; que o espetáculo da vida, emoldurado numa singela manhã escolar, foi trocado pela espetacularização atroz da morte.

E dizem que o tempo vindouro será sombrio; que será preciso suspeitar e se proteger dos concidadãos, principalmente dos jovens e, no limite, das próprias crianças.

Dizem, não sem cinismo, que tudo se resumia, afinal, a uma fórmula infalível: "pobreza mais educação precária é igual a violência". Mais uma razão para estigmatizarmos as escolas públicas como locais inócuos, insalubres e, muito pior, periculosos.

Dizem que os professores, aquelas almas em purgação, terão, de agora em diante, de se acautelarem contra não só seus alunos, mas também aqueles que já o foram.

E todos clamam por mais segurança (eufemismo para aumento do policiamento) não apenas no entorno escolar, mas agora no seu interior. Dizem, dizem, dizem. Dizem ao léu. Não há explicação alguma para o que lá se passou.

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