quinta-feira, 29 de setembro de 2011
quarta-feira, 28 de setembro de 2011
Os cangaceiros e Cajazeiras citiada
Nadja Claudino
28 de setembro de 1926, um menino de oito anos de idade se esconde debaixo da cama dos pais. Ele e outras crianças estão acuadas a espera do ataque do bando de cangaceiros liderados por Sabino Gomes (sub-chefe do bando de Lampião, o temível e famoso Rei do Cangaço). A cidade de Cajazeiras está em suspense à espera dos homens selvagens que viriam do mato, prometendo todo o tipo de destruição, caso não fossem obedecidas as suas exigências.
O sol quente, o calor abafado são alguns dos elementos menos perceptíveis nessa tarde de medo e ansiedade. Os homens testavam as armas, procuravam pontos estratégicos para a defesa da cidade. Na igreja, o bispo defendia sua fé, rezando, pedindo aos céus intervenção para que Nossa Senhora da Piedade protegesse a cidade, os homens, e mesmo os cangaceiros – que fossem eles embora com a graça de Deus. Os cangaceiros nas cercanias da cidade esperavam o melhor momento para atacar; o povo esperava o ataque. A cidade estava sofrendo com a espera angustiada.
O menino embaixo da cama se chamava Ivan Bichara Sobreira, que muitos anos depois escreveu um livro intitulado Carcará, romance que conta essa história acontecida em Cajazeiras, Alto Sertão da Paraíba, em uma distante tarde do mês de setembro de 1926. O romance mostra uma Cajazeiras orgulhosa da sua história, por ser uma das maiores cidades do sertão, rota de ligação da Paraíba com o Ceará, cidade símbolo da educação. Terra de famílias tradicionais como os Rolim, Albuquerque, Sobreira, Bichara. É essa cidade e são essas famílias que estão sendo ameaçadas por um grupo de cangaceiros, personagens que tanto atemorizavam a região sertaneja da década de 20 até meados de 1940, quando a morte de Corisco baniu o último dos cangaceiros.
Podemos pensar no pavor que acometia todas essas famílias, preocupadas com o destino dos seus homens e suas mulheres, caso caíssem no poder dos cangaceiros. A perversidade dos cangaceiros era altamente propagada. Os estupros de mulheres casadas e até de moças virgens, a castração dos homens, a mutilação da língua dos traidores que falavam demais, os bailes que os cangaceiros promoviam depois da vitória, fazendo as mulheres mais respeitadas da sociedade dançarem nuas na frente dos filhos e dos maridos. Verdade ou invenção eram essas as histórias que corriam de cidade em cidade. E por conta disso os homens que protegiam Cajazeiras estavam em uma guerra de vida ou morte, de glória ou de humilhação.
Ivan Bichara, traduziu esses acontecimentos que marcaram tão profundamente sua infância por meio da literatura. O moço Ivan como muitos rapazes do seu tempo sai de Cajazeiras para terminar seus estudos e se forma na Faculdade de Direito do Recife. Volta à Paraíba e começa uma carreira política promissora, sendo eleito em 1946 para a Assembléia Legislativa, em 1955 se elege deputado federal e, em 1975, é escolhido pela Assembléia Legislativa governador. Ivan Bichara integrou um time seleto de políticos escritores da Paraíba, a exemplo de Ernani Satyro, José Américo de Almeida, Ronaldo Cunha Lima, dentre outros, que assumiram o governo do estado e deram importante contribuição às letras paraibanas.
O romance Carcará toma Cajazeiras como representativa de muitas cidades do interior do nordeste que foram atacadas por bando de cangaceiros. A verdade é que as cidades do interior eram desguarnecidas, os meios de comunicação eram incipientes e não conseguiam tirar do isolamento os lugarejos mais distantes. Esse era um dos fatores por que a maioria das cidades capitulava frente às investidas dos cangaceiros. Mossoró, no Rio Grande do Norte, no ano de 1927, expulsou os cangaceiros da cidade, sendo também uma das primeiras cidades a desafiar o Rei do Cangaço. Esse passado de lutas até hoje é preservado pela população mossoroense, usada como discurso histórico, político e cultural. São museus, memoriais, livros, discursos que formulam a identidade de um povo valente, que não aceitou os invasores. Em Cajazeiras, a expulsão dos cangaceiros não foi explorada dessa maneira, foi silenciada, esquecida e tem no livro de Ivan Bichara uma significativa fonte de pesquisa.
O livro traz personagens representativos do universo sertanejo. São rapazes que na época desejam migrar para os grandes centros e assim poderem dar continuidade aos seus estudos, moças casadoiras, poderosos locais como coronéis, políticos, delegados e também a gente do povo, feirantes, cantadores de viola, que se movimentam e nos prendem nas teias do enredo. O livro de Ivan Bichara é inspirado em um fato real, que ele soube narrar com enorme expressão literária, ligando seus personagens à vida de um Nordeste arcaico, recôndito, lugar de acontecimentos inusitados.
O ataque dos cangaceiros, a ansiedade, o medo das perversidades, tudo isso envolve o leitor do Carcará, fazendo com que ele também se angustie, tome amizade pelos personagens, se importe com sua vida e com o seu destino nas mãos dos cangaceiros. Ivan Bichara integra a vida com a literatura, fazendo a vida pulsar em cada parágrafo. A ansiedade do menino deu subsídios para, juntamente com a técnica literária do homem escritor, gerarem um livro que mesmo empoeirado e esquecido nas estantes das bibliotecas públicas nos remete a um passado que merece ser lembrado.
Nadja Claudino – contista, cronista e membro do conselho editorial da Revista Acauã. Aluna do Curso de História da UFCG/Cajazeiras.
Esse artigo foi retirado do Diário do Sertão, portal o qual Nadja Claudino tem uma coluna.
28 de setembro de 1926, um menino de oito anos de idade se esconde debaixo da cama dos pais. Ele e outras crianças estão acuadas a espera do ataque do bando de cangaceiros liderados por Sabino Gomes (sub-chefe do bando de Lampião, o temível e famoso Rei do Cangaço). A cidade de Cajazeiras está em suspense à espera dos homens selvagens que viriam do mato, prometendo todo o tipo de destruição, caso não fossem obedecidas as suas exigências.
O sol quente, o calor abafado são alguns dos elementos menos perceptíveis nessa tarde de medo e ansiedade. Os homens testavam as armas, procuravam pontos estratégicos para a defesa da cidade. Na igreja, o bispo defendia sua fé, rezando, pedindo aos céus intervenção para que Nossa Senhora da Piedade protegesse a cidade, os homens, e mesmo os cangaceiros – que fossem eles embora com a graça de Deus. Os cangaceiros nas cercanias da cidade esperavam o melhor momento para atacar; o povo esperava o ataque. A cidade estava sofrendo com a espera angustiada.
O menino embaixo da cama se chamava Ivan Bichara Sobreira, que muitos anos depois escreveu um livro intitulado Carcará, romance que conta essa história acontecida em Cajazeiras, Alto Sertão da Paraíba, em uma distante tarde do mês de setembro de 1926. O romance mostra uma Cajazeiras orgulhosa da sua história, por ser uma das maiores cidades do sertão, rota de ligação da Paraíba com o Ceará, cidade símbolo da educação. Terra de famílias tradicionais como os Rolim, Albuquerque, Sobreira, Bichara. É essa cidade e são essas famílias que estão sendo ameaçadas por um grupo de cangaceiros, personagens que tanto atemorizavam a região sertaneja da década de 20 até meados de 1940, quando a morte de Corisco baniu o último dos cangaceiros.
Podemos pensar no pavor que acometia todas essas famílias, preocupadas com o destino dos seus homens e suas mulheres, caso caíssem no poder dos cangaceiros. A perversidade dos cangaceiros era altamente propagada. Os estupros de mulheres casadas e até de moças virgens, a castração dos homens, a mutilação da língua dos traidores que falavam demais, os bailes que os cangaceiros promoviam depois da vitória, fazendo as mulheres mais respeitadas da sociedade dançarem nuas na frente dos filhos e dos maridos. Verdade ou invenção eram essas as histórias que corriam de cidade em cidade. E por conta disso os homens que protegiam Cajazeiras estavam em uma guerra de vida ou morte, de glória ou de humilhação.
Ivan Bichara, traduziu esses acontecimentos que marcaram tão profundamente sua infância por meio da literatura. O moço Ivan como muitos rapazes do seu tempo sai de Cajazeiras para terminar seus estudos e se forma na Faculdade de Direito do Recife. Volta à Paraíba e começa uma carreira política promissora, sendo eleito em 1946 para a Assembléia Legislativa, em 1955 se elege deputado federal e, em 1975, é escolhido pela Assembléia Legislativa governador. Ivan Bichara integrou um time seleto de políticos escritores da Paraíba, a exemplo de Ernani Satyro, José Américo de Almeida, Ronaldo Cunha Lima, dentre outros, que assumiram o governo do estado e deram importante contribuição às letras paraibanas.
O romance Carcará toma Cajazeiras como representativa de muitas cidades do interior do nordeste que foram atacadas por bando de cangaceiros. A verdade é que as cidades do interior eram desguarnecidas, os meios de comunicação eram incipientes e não conseguiam tirar do isolamento os lugarejos mais distantes. Esse era um dos fatores por que a maioria das cidades capitulava frente às investidas dos cangaceiros. Mossoró, no Rio Grande do Norte, no ano de 1927, expulsou os cangaceiros da cidade, sendo também uma das primeiras cidades a desafiar o Rei do Cangaço. Esse passado de lutas até hoje é preservado pela população mossoroense, usada como discurso histórico, político e cultural. São museus, memoriais, livros, discursos que formulam a identidade de um povo valente, que não aceitou os invasores. Em Cajazeiras, a expulsão dos cangaceiros não foi explorada dessa maneira, foi silenciada, esquecida e tem no livro de Ivan Bichara uma significativa fonte de pesquisa.
O livro traz personagens representativos do universo sertanejo. São rapazes que na época desejam migrar para os grandes centros e assim poderem dar continuidade aos seus estudos, moças casadoiras, poderosos locais como coronéis, políticos, delegados e também a gente do povo, feirantes, cantadores de viola, que se movimentam e nos prendem nas teias do enredo. O livro de Ivan Bichara é inspirado em um fato real, que ele soube narrar com enorme expressão literária, ligando seus personagens à vida de um Nordeste arcaico, recôndito, lugar de acontecimentos inusitados.
O ataque dos cangaceiros, a ansiedade, o medo das perversidades, tudo isso envolve o leitor do Carcará, fazendo com que ele também se angustie, tome amizade pelos personagens, se importe com sua vida e com o seu destino nas mãos dos cangaceiros. Ivan Bichara integra a vida com a literatura, fazendo a vida pulsar em cada parágrafo. A ansiedade do menino deu subsídios para, juntamente com a técnica literária do homem escritor, gerarem um livro que mesmo empoeirado e esquecido nas estantes das bibliotecas públicas nos remete a um passado que merece ser lembrado.
Nadja Claudino – contista, cronista e membro do conselho editorial da Revista Acauã. Aluna do Curso de História da UFCG/Cajazeiras.
Esse artigo foi retirado do Diário do Sertão, portal o qual Nadja Claudino tem uma coluna.
terça-feira, 27 de setembro de 2011
Família de Carlos Lamarca encaminha carta denúncia à Anistia Internacional
DENÚNCIA
ANISTIA INTERNACIONAL
ANISTIA INTERNACIONAL
A família Lamarca nunca teve necessidade de procurar a Anistia
Internacional, pois com o retorno ao Brasil em 1980 sempre procurou se
integrar a sociedade. A senhora Maria Pavan Lamarca ingressou em 1987
com ação judicial contra a União, com objetivo de resgatar direitos
alienados a seu companheiro Carlos Lamarca, ação que decorre até os dias
de hoje, mesmo já passado pelo Supremo Tribunal Federal.
A
família Lamarca foi a Comissão de Mortos e Desaparecidos Políticos –
Ministério da Justiça e provar a farsa montada da morte de Carlos
Lamarca, via relatório militar – Operação Pajuçara. Com a exumação dos
restos mortais e perícia médica foi provada a execução sumária de Carlos
Lamarca. Todo o processo com aval e homologado pelo Congresso Nacional.
Vistos que, o Poder Judiciário não oferecia em definitivo a anistia e
promoção militar de Carlos Lamarca, sua companheira recorreu a Comissão
de Anistia – Ministério da Justiça e obtém a anistia de Carlos Lamarca, a
promoção militar a Coronel de Exército e soldo de General de Brigada.
Todo o processo com aval e homologado pelo Congresso Nacional.
Os clubes militares, não satisfeitos recorrem à justiça e processam a
União, incluindo Maria Pavan Lamarca como litisconsorte no processo
judicial, senhora a época com 70 anos de idade, e estes obtém uma
liminar a qual impede a senhora Maria Pavan Lamarca de receber pensão no
posto de General de Brigada e os devidos atrasados, conforme decidido
pela Comissão de Anistia. Os reclamantes não satisfeitos, sustentando o
troféu de guerra passam a desinformar a opinião pública brasileira,
ofendem a honra de Carlos Lamarca com qualificações despropositadas e
infundadas, assim como permitem o dolo moral e conseqüentemente perdas e
danos a todos os familiares. A família Lamarca procura seus
representantes judiciais e inicia-se a defesa judicial.
A
juíza; em primeira instância concede à liminar e paralelamente mostra
seu desagrado pessoal por aqueles que lutaram pela Democracia no Brasil,
acoberta esses senhores que tem uma dívida impagável com o Brasil, com o
povo brasileiro, pois decidiram, como militares funcionários públicos
traírem o Brasil e o entregaram a um pólo político que imprimiu o terror
psicológico e físico. A juíza compactua coma decisão da Ditadura
Militar em decidir por desaparecer e tortura cidadãos brasileiros,
opositores a um regime que nunca ofereceu alternativa política e
simplesmente “conduziu” os cidadãos brasileiros conscientes a
confrontá-los e o meio não poderia ser outro que não as armas.
Um assessor do filho do Deputado Federal pelo Rio de Janeiro, Jair
Bolsonaro, este assessor ex-militar, impetrou uma ação popular contra a
família Lamarca com objetivo de suprimir os direitos de anistia de Maria
Pavan Lamarca, Claudia Pavan Lamarca e Cesar Pavan Lamarca.
Fecha-se o cerco sobre a família Lamarca, que se apoiada em seus
representantes jurídicos para repelir judicialmente estes ataques. A
família Lamarca nunca teve motivos para reclamar de qualquer tipo de
perseguição política de grupo e/ou de pessoas, mas no relato acima o que
se verifica sem falta de dúvida e a violação aos direitos políticos,
direitos aos reparos amparados em lei e o Congresso Nacional.
Sem sombra de dúvidas o que se verifica é “perseguição política
camuflado no Poder Judiciário”, estão usando o Poder Judiciário como
“arma legal camuflada”, pois esses mesmos senhores deveriam processar os
demais militares que foram anistiados pela mesma Lei de Anistia.
A família Lamarca é um “alvo” para a justificativa descabida destes
senhores. A perseguição política é proibida por lei no Brasil, então
cabe a esta família recorrer a Anistia Internacional e declarar
abertamente que é fato a perseguição política de militares, via clubes
militares e parlamentares alinhados com a determinação corporativa e
acreditando que podem exercer esse direito, e em detrimento destas ações
“camufladas de legalidade jurídica” passam a agredir verbalmente,
ofendendo a nossa honra, transferindo ódio a seus próprios filhos contra
as novas gerações da família Lamarca, pois quando ao nosso pai lhe
comutado crimes, os quais, nunca foram apresentadas as provas desses
“supostos crimes”, não verificamos provas sustentadas em fatos e atos e
não temos intenção de justificar os atos de Carlos Lamarca.
A
família Lamarca tem as justificativas e estas dentro do estado de
direito a pessoa e cidadão de que poderá, a qualquer momento requer
asilo político a qualquer país integrante da ONU e com certeza gerar
embaraço político ao estado brasileiro frente à Comunidade
Internacional, pois qual a certeza de que após as agressões verbais não
ocorram outras perdas irreparáveis?
Este movimento silencioso é
perigoso ao Brasil, mas ausente as vista do estado brasileiro, e
somente com ação e atitude pode-se mudar esta realidade. A família
Lamarca sempre manteve uma postura de cautela, respeito e serenidade,
mas não está mais disposta a manter o nosso “leão adormecido”. Com 40
anos da execução de Carlos Lamarca e o grau de agressão, não nos
dobraremos, é uma questão moral e parte do resgate de nossa cidadania.
Não somos ingênuos e inexperiente a ponto de acreditar que os caminhos
para a família Lamarca são de rosas, somos fortes e respeitados,
inclusive pelo inimigo, pois não tem coragem de fazê-lo de outra forma
que não acobertado pela mentira e ódio, mas não somos e não devemos ser
uma força isolada. A Anistia Internacional recebe desta família uma
carta alerta, e com muita serenidade se mantém ativa e ciente das
responsabilidades que o nosso sobrenome tem. Não somos oportunistas de
ocasião, não vivemos dos benefícios do sobrenome e posição como familiar
direto, mas reconhecemos as nossas responsabilidades, pois cada ação
que decidimos junto às comissões foram analisadas e com certeza
contra-reações ocorreria e não será com ofensas a honra de nossa família
que cederemos.
OUSAR LUTAR, OUSAR VENCER.
Cesar Lamarca
FIASCU
Começa hoje pela manhã o 1° Festival Interdisciplinar de Arte, Sociedade e Cultura que assim se intitula em sua apresentação:
"O I Festival Interdisciplinar de Arte, Sociedade e Cultura (FIASCU) da UFPB, que acontecerá nos dias 27, 28, 29 e 30 de setembro, vem consolidar o trabalho perene de coletivos estudantis e Centros Acadêmicos de dentro da Universidade Federal da Paraíba com grupos artísticos de dentro ou de fora da nossa Universidade.
Esses Coletivos e gestões de Centros e Diretórios Acadêmicos (C.A.s e D.A.s, respectivamente), nasceram de uma luta diante da apatia vivenciada pela comunidade acadêmica em face dos problemas sociais, resolvendo se reunir para discutir e (re)pensar a Universidade, assim como a sociedade. Tudo isso com o intuito de incentivar uma atuação estudantil pensante, que seja, sobretudo, crítica.
A Universidade há muito deixou de ser o espaço próprio da produção do conhecimento crítico e em constante contato com a sociedade, tornando-se um local envolto pela lógica individualista, no qual o conhecimento tornou-se um mero instrumento para a competição e formação de quadros profissionais. A comunidade acadêmica tem pautado uma formação técnica, acrítica e imobilizante, que desresponsabiliza os seus membros (professores, estudantes e funcionários) do comprometimento que deve existir entre o conhecimento científico e a sociedade, inviabilizando uma postura transformadora participante, voltada para a emancipação social, através do empoderamento da sociedade (civil, ou não).
Esses Coletivos e gestões de Centros e Diretórios Acadêmicos (C.A.s e D.A.s, respectivamente), nasceram de uma luta diante da apatia vivenciada pela comunidade acadêmica em face dos problemas sociais, resolvendo se reunir para discutir e (re)pensar a Universidade, assim como a sociedade. Tudo isso com o intuito de incentivar uma atuação estudantil pensante, que seja, sobretudo, crítica.
A Universidade há muito deixou de ser o espaço próprio da produção do conhecimento crítico e em constante contato com a sociedade, tornando-se um local envolto pela lógica individualista, no qual o conhecimento tornou-se um mero instrumento para a competição e formação de quadros profissionais. A comunidade acadêmica tem pautado uma formação técnica, acrítica e imobilizante, que desresponsabiliza os seus membros (professores, estudantes e funcionários) do comprometimento que deve existir entre o conhecimento científico e a sociedade, inviabilizando uma postura transformadora participante, voltada para a emancipação social, através do empoderamento da sociedade (civil, ou não).
Diante desta realidade, o Ensino não escapa da mediocridade na qual está inserido. Preso dentro dos muros da Universidade, tem reproduzido uma lógica formalista e voltada para o mercado de trabalho e não para a produção de conhecimento, o que esvazia o conteúdo das próprias disciplinas, tornando-as uma abstração que têm um fim em si mesmo, descompromissadas com o seu objetivo maior a troca de conhecimento, a contribuição para a formação de indivíduos engajados na construção de uma sociedade melhor, a justiça.
O I FIASCU nasce com o intuito de colorir o cinza estrutural da Universidade, dar um calor humano ao frio concreto, mudar os rumos do nosso ensino - que se encaminha rumo a uma grande enrascada -, com propostas de melhorá-lo, visto sob aspectos outros, promovendo comunicação entre as diversas áreas que se interrelacionam direta ou indiretamente, mas que estão guardadas no porão da formalidade exacerbada. Tem por escopo senão sensibilizar os olhares dos estudantes, professores, funcionários, mantendo a esquecida comunicação entre cursos e destes - por que não? - com a sociedade. "
Bem...para aqueles que acompanham o blog e admiram, assim como eu, as charges de Carlos Latuff, poderão conhecê-lo neste evento. Pelo twitter Latuff divulgou que estaria chegando nas primeiras horas desta terça. Pela programação estará numa mesa do dia 30(sexta-feira) que começa as 8h e termina ao meio dia no auditório do CCJ na UFPB.
Além de Latuff marcarão presença nestes 4 dias de festival, Chico César, Adeildo Vieira, Heriberto Coelho...enfim, só gente boa!
quinta-feira, 22 de setembro de 2011
quarta-feira, 21 de setembro de 2011
segunda-feira, 19 de setembro de 2011
sábado, 17 de setembro de 2011
Jânio - Bastidores do golpe
retirado do IHU
"Jânio arquitetou o seu plano meticulosamente (ou paranoicamente)", escreve Ary Ribeiro, jornalista, testemunha ocular da renúncia de Jânio Quadros, em 1961, em artigo publicado no jornal O Estado de S. Paulo, 29-08-2011.
Segundo o jornalista, Jânio "deixou Brasília numa sexta-feira, pela manhã, mas a comunicação à imprensa e ao Parlamento só foi feita lá pelo meio da tarde, quando o Congresso Nacional deveria estar quase vazio. Dessa forma a renúncia só iria ser discutida na segunda-feira - Jânio imaginava que teria de ser levada à deliberação em plenário -, havendo tempo, assim, para articulações e mobilização por sua volta ao poder".
Eis o artigo.
À época repórter deste jornal e da Rádio Eldorado, incumbido da cobertura do Palácio do Planalto, pude acompanhar muito de perto os sete meses do governo Jânio Quadros e levar a rádio a ser a primeira emissora do País a noticiar a renúncia, que a ligação de alguns fatos leva a crer que fora planejada ainda na campanha eleitoral.
Começo por lembrar os acontecimentos. No dia 25 de agosto de 1961, chegara cedo ao Palácio do Planalto, como sempre, pois Jânio costumava iniciar o dia de trabalho por volta das 7h30 - e frequentemente já expedindo os seus famosos bilhetinhos com ordens ou indagações dirigidas a seus ministros.
O País vivia dias tensos. Na véspera, à noite, o governador da Guanabara, Carlos Lacerda, denunciara, pela televisão, haver sido sondado para apoiar suposta tentativa de golpe. Ele acabara de voltar de Brasília, onde sofrera o constrangimento do episódio da mala: convidado a hospedar-se no Palácio da Alvorada, quando voltou, à noite, depois de conversações com a cúpula janista, encontrou a sua mala do lado de fora do portão.
Jânio, àquela hora do dia 25, passava em revista tropas na Esplanada dos Ministérios, pois era o Dia do Soldado. Comecei a percorrer alguns gabinetes. O de José Aparecido de Oliveira, secretário particular do presidente, habitualmente aberto e ponto de encontro de jornalistas e políticos, estava estranhamente fechado.
Ao sair para almoçar, encontrei-me no elevador com o colega e amigo Edísio Gomes de Matos, do Jornal do Brasil. Falei-lhe do clima esquisito que percebera nos gabinetes: portas fechadas, fisionomias carregadas, ninguém falando nada. Mal entrara em meu apartamento, o telefone tocou. Era o Edísio: "Volta que o Jânio renunciou".
Estupefato, voltei. E ele me contou: ouvira, através da porta, José Aparecido falando da renúncia, pelo telefone. Avisei a Rádio Eldorado, que deixou pronta a notícia, porque a divulgação de "boatos" estava proibida. Quando, às 15 horas, o secretário de imprensa, Carlos Castello Branco, reuniu os jornalistas credenciados e começou a ler o comunicado, eu estava ao seu lado com o telefone ligado para a sucursal do Estadão em Brasília e esta com a rádio, que então soltou a notícia. Naquele tempo as comunicações não eram como hoje...
Muita gente acreditou, e por bastante tempo, que aquele fora ato tresloucado, de momento, talvez fruto de bebedeira da noite anterior. Hoje não há dúvida de que se tratou de tentativa de inusitado golpe de Estado - de iniciativa do próprio governante. O que não se sabe é que muito provavelmente havia sido arquitetado desde a campanha eleitoral.
Quando candidato, ele fizera uma espécie de teste: renunciara à candidatura, voltando atrás depois de difíceis entendimentos com a cúpula udenista - e com outro candidato a vice, o mineiro Milton Campos, no lugar do sergipano Leandro Maciel, ambos da UDN.
Um dos principais motivos da crise interna na campanha eleitoral, porém, não fora afastado. O comitê janista continuou estimulando a chapa clandestina Jan-Jan (Jânio e Jango). Naquele tempo se votava separadamente para presidente e vice. Eu mesmo, como um dos anônimos colaboradores da campanha janista, fui incumbido de redigir pequenos textos em prol da chapa Jan-Jan, os quais eram panfletados sem identificação de origem.
Jânio não precisava de Jango para se eleger. Henrique Teixeira Lott, candidato do PSD-PTB, era homem sem carisma, sem afinidade com a política, candidatura difícil de ser carregada e que não contava sequer com efetivo apoio do então presidente Juscelino Kubitschek. Tanto que Jânio, eleito com 5,6 milhões de votos, quase a metade do eleitorado, teve 2 milhões de votos a mais que o general Lott.
Por que, então, esforçar-se para eleger Jango?
Porque se o vice fosse Milton Campos o golpe da renúncia não teria efeito. Ele assumiria o cargo normalmente, sem traumas. Era homem de bem, respeitado até mesmo pelos adversários. Ao contrário de Jango, que, tido como aliado de sindicalistas e comunistas, tinha contra si feroz oposição de empresários e militares.
Jânio, pouco antes da renúncia, teve ainda a cautela de tirar Jango do País, enviando-o à China como chefe de uma missão empresarial, pois se estivesse no Brasil poderia assumir a Presidência, nomear imediatamente um ministro da Guerra e ganhar o controle da situação. Estando, porém, do outro lado do mundo - numa época em que as comunicações eram difíceis -, haveria tempo para apelos e mobilização pela volta de Jânio ao cargo, com poderes ampliados.
Jânio foi além: procurou intrigar mais Jango com seus opositores. José Aparecido mostrava-nos, a mim e ao Edísio, relatórios confidenciais que Jango enviava da China, repletos de elogios a Mao Tsé-tung e a outros líderes comunistas.
Esses fatos estariam a demonstrar que Jânio arquitetou o seu plano meticulosamente (ou paranoicamente). Deixou Brasília numa sexta-feira, pela manhã, mas a comunicação à imprensa e ao Parlamento só foi feita lá pelo meio da tarde, quando o Congresso Nacional deveria estar quase vazio. Dessa forma a renúncia só iria ser discutida na segunda-feira - Jânio imaginava que teria de ser levada à deliberação em plenário -, havendo tempo, assim, para articulações e mobilização por sua volta ao poder.
O presidente do Congresso, senador Auro de Moura Andrade, no entanto, frustrou o plano. Convocou imediatamente sessão conjunta do Congresso, anunciou a renúncia como "ato unilateral de vontade", insuscetível de ser discutido ou posto em deliberação, e deu posse ao sucessor constitucional presente no País, o presidente da Câmara, deputado Ranieri Mazzilli. Com isso se consumou a renúncia, que resultaria, mais tarde, na derrubada de João Goulart e em 20 anos de regime militar.
Segundo o jornalista, Jânio "deixou Brasília numa sexta-feira, pela manhã, mas a comunicação à imprensa e ao Parlamento só foi feita lá pelo meio da tarde, quando o Congresso Nacional deveria estar quase vazio. Dessa forma a renúncia só iria ser discutida na segunda-feira - Jânio imaginava que teria de ser levada à deliberação em plenário -, havendo tempo, assim, para articulações e mobilização por sua volta ao poder".
Eis o artigo.
À época repórter deste jornal e da Rádio Eldorado, incumbido da cobertura do Palácio do Planalto, pude acompanhar muito de perto os sete meses do governo Jânio Quadros e levar a rádio a ser a primeira emissora do País a noticiar a renúncia, que a ligação de alguns fatos leva a crer que fora planejada ainda na campanha eleitoral.
Começo por lembrar os acontecimentos. No dia 25 de agosto de 1961, chegara cedo ao Palácio do Planalto, como sempre, pois Jânio costumava iniciar o dia de trabalho por volta das 7h30 - e frequentemente já expedindo os seus famosos bilhetinhos com ordens ou indagações dirigidas a seus ministros.
O País vivia dias tensos. Na véspera, à noite, o governador da Guanabara, Carlos Lacerda, denunciara, pela televisão, haver sido sondado para apoiar suposta tentativa de golpe. Ele acabara de voltar de Brasília, onde sofrera o constrangimento do episódio da mala: convidado a hospedar-se no Palácio da Alvorada, quando voltou, à noite, depois de conversações com a cúpula janista, encontrou a sua mala do lado de fora do portão.
Jânio, àquela hora do dia 25, passava em revista tropas na Esplanada dos Ministérios, pois era o Dia do Soldado. Comecei a percorrer alguns gabinetes. O de José Aparecido de Oliveira, secretário particular do presidente, habitualmente aberto e ponto de encontro de jornalistas e políticos, estava estranhamente fechado.
Ao sair para almoçar, encontrei-me no elevador com o colega e amigo Edísio Gomes de Matos, do Jornal do Brasil. Falei-lhe do clima esquisito que percebera nos gabinetes: portas fechadas, fisionomias carregadas, ninguém falando nada. Mal entrara em meu apartamento, o telefone tocou. Era o Edísio: "Volta que o Jânio renunciou".
Estupefato, voltei. E ele me contou: ouvira, através da porta, José Aparecido falando da renúncia, pelo telefone. Avisei a Rádio Eldorado, que deixou pronta a notícia, porque a divulgação de "boatos" estava proibida. Quando, às 15 horas, o secretário de imprensa, Carlos Castello Branco, reuniu os jornalistas credenciados e começou a ler o comunicado, eu estava ao seu lado com o telefone ligado para a sucursal do Estadão em Brasília e esta com a rádio, que então soltou a notícia. Naquele tempo as comunicações não eram como hoje...
Muita gente acreditou, e por bastante tempo, que aquele fora ato tresloucado, de momento, talvez fruto de bebedeira da noite anterior. Hoje não há dúvida de que se tratou de tentativa de inusitado golpe de Estado - de iniciativa do próprio governante. O que não se sabe é que muito provavelmente havia sido arquitetado desde a campanha eleitoral.
Quando candidato, ele fizera uma espécie de teste: renunciara à candidatura, voltando atrás depois de difíceis entendimentos com a cúpula udenista - e com outro candidato a vice, o mineiro Milton Campos, no lugar do sergipano Leandro Maciel, ambos da UDN.
Um dos principais motivos da crise interna na campanha eleitoral, porém, não fora afastado. O comitê janista continuou estimulando a chapa clandestina Jan-Jan (Jânio e Jango). Naquele tempo se votava separadamente para presidente e vice. Eu mesmo, como um dos anônimos colaboradores da campanha janista, fui incumbido de redigir pequenos textos em prol da chapa Jan-Jan, os quais eram panfletados sem identificação de origem.
Jânio não precisava de Jango para se eleger. Henrique Teixeira Lott, candidato do PSD-PTB, era homem sem carisma, sem afinidade com a política, candidatura difícil de ser carregada e que não contava sequer com efetivo apoio do então presidente Juscelino Kubitschek. Tanto que Jânio, eleito com 5,6 milhões de votos, quase a metade do eleitorado, teve 2 milhões de votos a mais que o general Lott.
Por que, então, esforçar-se para eleger Jango?
Porque se o vice fosse Milton Campos o golpe da renúncia não teria efeito. Ele assumiria o cargo normalmente, sem traumas. Era homem de bem, respeitado até mesmo pelos adversários. Ao contrário de Jango, que, tido como aliado de sindicalistas e comunistas, tinha contra si feroz oposição de empresários e militares.
Jânio, pouco antes da renúncia, teve ainda a cautela de tirar Jango do País, enviando-o à China como chefe de uma missão empresarial, pois se estivesse no Brasil poderia assumir a Presidência, nomear imediatamente um ministro da Guerra e ganhar o controle da situação. Estando, porém, do outro lado do mundo - numa época em que as comunicações eram difíceis -, haveria tempo para apelos e mobilização pela volta de Jânio ao cargo, com poderes ampliados.
Jânio foi além: procurou intrigar mais Jango com seus opositores. José Aparecido mostrava-nos, a mim e ao Edísio, relatórios confidenciais que Jango enviava da China, repletos de elogios a Mao Tsé-tung e a outros líderes comunistas.
Esses fatos estariam a demonstrar que Jânio arquitetou o seu plano meticulosamente (ou paranoicamente). Deixou Brasília numa sexta-feira, pela manhã, mas a comunicação à imprensa e ao Parlamento só foi feita lá pelo meio da tarde, quando o Congresso Nacional deveria estar quase vazio. Dessa forma a renúncia só iria ser discutida na segunda-feira - Jânio imaginava que teria de ser levada à deliberação em plenário -, havendo tempo, assim, para articulações e mobilização por sua volta ao poder.
O presidente do Congresso, senador Auro de Moura Andrade, no entanto, frustrou o plano. Convocou imediatamente sessão conjunta do Congresso, anunciou a renúncia como "ato unilateral de vontade", insuscetível de ser discutido ou posto em deliberação, e deu posse ao sucessor constitucional presente no País, o presidente da Câmara, deputado Ranieri Mazzilli. Com isso se consumou a renúncia, que resultaria, mais tarde, na derrubada de João Goulart e em 20 anos de regime militar.
sexta-feira, 16 de setembro de 2011
pra descontrair!
- HOSPITAL PSIQUIÁTRICO -
O teste da banheira.
O teste da banheira.
Durante a visita a um hospital psiquiátrico, um dos visitantes perguntou ao diretor:
- Qual é o critério pelo qual vocês decidem quem precisa ser hospitalizado aqui?
O diretor respondeu:
- Nós enchemos uma banheira com água e oferecemos ao doente uma colher, um copo e um balde e pedimos que a esvazie. De acordo com a forma que ele decida realizar a missão, nós decidimos se o hospitalizamos ou não.
- Ah! Entendi. - disse o visitante. Uma pessoa normal usaria o balde, que é maior que o copo e a colher.
-Não! - respondeu o diretor - uma pessoa normal tiraria a tampa do ralo.
O que o senhor prefere? Quarto particular ou enfermaria?
- Qual é o critério pelo qual vocês decidem quem precisa ser hospitalizado aqui?
O diretor respondeu:
- Nós enchemos uma banheira com água e oferecemos ao doente uma colher, um copo e um balde e pedimos que a esvazie. De acordo com a forma que ele decida realizar a missão, nós decidimos se o hospitalizamos ou não.
- Ah! Entendi. - disse o visitante. Uma pessoa normal usaria o balde, que é maior que o copo e a colher.
-Não! - respondeu o diretor - uma pessoa normal tiraria a tampa do ralo.
O que o senhor prefere? Quarto particular ou enfermaria?
"As vezes a vida tem mais opções do que as oferecidas, basta saber enxerga-las".
Agora diz a verdade...vc tb escolheu o balde, né? Semana que vem vou lá no hospital te fazer uma visitinha.
Agora diz a verdade...vc tb escolheu o balde, né? Semana que vem vou lá no hospital te fazer uma visitinha.
segunda-feira, 12 de setembro de 2011
O ÚLTIMO DISCURSO DE SALVADOR ALLENDE
Discurso do Presidente Salvador Allende, em 11 de setembro de 1973, dia do golpe de Estado que derrubou o governo da Unidade Popular e implantou a sanguinária ditadura militar comandada pelo general Pinochet:
"Seguramente, esta será a última oportunidade em que poderei dirigir-me a vocês. A Força Aérea bombardeou as antenas da Rádio Magallanes. Minhas palavras não têm amargura, mas decepção. Que sejam elas um castigo moral para quem traiu seu juramento: soldados do Chile, comandantes-em-chefe titulares, o almirante Merino, que se autodesignou comandante da Armada, e o senhor Mendoza, general rastejante que ainda ontem manifestara sua fidelidade e lealdade ao Governo, e que também se autodenominou diretor geral dos carabineros.
Diante destes fatos só me cabe dizer aos trabalhadores: Não vou renunciar! Colocado numa encruzilhada histórica, pagarei com minha vida a lealdade ao povo. E lhes digo que tenho a certeza de que a semente que entregamos à consciência digna de milhares e milhares de chilenos, não poderá ser ceifada definitivamente. [Eles] têm a força, poderão nos avassalar, mas não se detém os processos sociais nem com o crime nem com a força. A história é nossa e a fazem os povos.
Trabalhadores de minha Pátria: quero agradecer-lhes a lealdade que sempre tiveram, a confiança que depositaram em um homem que foi apenas intérprete de grandes anseios de justiça, que empenhou sua palavra em que respeitaria a Constituição e a lei, e assim o fez.
Neste momento definitivo, o último em que eu poderei dirigir-me a vocês, quero que aproveitem a lição: o capital estrangeiro, o imperialismo, unidos à reação criaram o clima para que as Forças Armadas rompessem sua tradição, que lhes ensinara o general Schneider e reafirmara o comandante Araya, vítimas do mesmo setor social que hoje estará esperando com as mãos livres, reconquistar o poder para seguir defendendo seus lucros e seus privilégios.
Dirijo-me a vocês, sobretudo à mulher simples de nossa terra, à camponesa que nos acreditou, à mãe que soube de nossa preocupação com as crianças. Dirijo-me aos profissionais da Pátria, aos profissionais patriotas que continuaram trabalhando contra a sedição auspiciada pelas associações profissionais, associações classistas que também defenderam os lucros de uma sociedade capitalista. Dirijo-me à juventude, àqueles que cantaram e deram sua alegria e seu espírito de luta.
Dirijo-me ao homem do Chile, ao operário, ao camponês, ao intelectual, àqueles que serão perseguidos, porque em nosso país o fascismo está há tempos presente; nos atentados terroristas, explodindo as pontes, cortando as vias férreas, destruindo os oleodutos e os gasodutos, frente ao silêncio daqueles que tinham a obrigação de agir. Estavam comprometidos. A historia os julgará.
Seguramente a Rádio Magallanes será calada e o metal tranqüilo de minha voz não chegará mais a vocês. Não importa. Vocês continuarão a ouvi-la. Sempre estarei junto a vocês. Pelo menos minha lembrança será a de um homem digno que foi leal à Pátria. O povo deve defender-se, mas não se sacrificar. O povo não deve se deixar arrasar nem tranqüilizar, mas tampouco pode humilhar-se.
Trabalhadores de minha Pátria, tenho fé no Chile e seu destino. Superarão outros homens este momento cinzento e amargo em que a traição pretende impor-se. Saibam que, antes do que se pensa, de novo se abrirão as grandes alamedas por onde passará o homem livre, para construir uma sociedade melhor.
Viva o Chile! Viva o povo! Viva os trabalhadores! Estas são minhas últimas palavras e tenho a certeza de que meu sacrifício não será em vão. Tenho a certeza de que, pelo menos, será uma lição moral que castigará a perfídia, a covardia e a traição."
domingo, 11 de setembro de 2011
By Latuff
Esta charge foi produzida quando do momento do ataque as torres do WTC. Hoje é dia de lamentar as milhares de mortes provocadas pelo terrorismo imperialista que as promove unicamente para garantir sua sobrevida no capitalismo decadente.
Meia dúzia de capitalistas, desesperados pela ânsia de cada vez mais lucros, promovem guerras e intervenções militares por toda a parte numa tentativa de saírem de uma crise inerente ao sistema capitalista, demonstrando assim a incapacidade de governarem os rumos do nosso planeta.
Viva a luta de todos os povos que ressurge na luta Antiimperialista em todo o mundo!
Viva o Socialismo!
Esse 11 de setembro não passará na Globo!
Para relembrar a importância desta data reproduzo um artigo que encontrei sobre Salvador Allende, presidente eleito do Chile no ano de 70 que via no dia 11 de setembro de 1973 seu governo popular desabar por conta do golpe desferido pelo Imperialismo norte-americano tendo como representante no país o General Pinochet que se tornaria ditador do Chile responsável pela morte e tortura de milhares de chilenos.
Viva Allende! Viva a luta do povo!
...(Essa história com certeza não será lembrada pela Globo e os componentes do PIG (Partido da Imprensa Golpista)
A vitória de Allende
Augusto Buonicore
Em
janeiro de 1970 a Unidade Popular ainda não tinha decidido quem seria o
seu candidato à presidência da República. Existia certa resistência ao
nome do socialista Salvador Allende que havia sido derrotado por três
vezes consecutivas. Enquanto se desenvolviam as negociações, o Partido
Comunista lançou o seu próprio candidato: o poeta Pablo Neruda. No
entanto, a situação exigia a unidade das forças de esquerda e,
finalmente, chegou-se a um acordo em torno do nome do candidato
socialista.
Em janeiro de 1970 a Unidade Popular
ainda não tinha decidido quem seria o seu candidato à presidência da
República. Existia certa resistência ao nome do socialista Salvador
Allende que havia sido derrotado por três vezes consecutivas. Enquanto
se desenvolviam as negociações, o Partido Comunista lançou o seu próprio
candidato: o poeta Pablo Neruda. No entanto, a situação exigia a
unidade das forças de esquerda e, finalmente, chegou-se a um acordo em
torno do nome do candidato socialista.
A Unidade
Popular (UP) foi composta pelos partidos socialista, comunista, radical,
social-democrata, Movimento de Ação Popular Unitário (Mapu) e Ação
Popular. As duas principais forças eram a socialista e a comunista. O
Partido Socialista podia ser considerado a extrema-esquerda da
Internacional Socialista. Muitos de seus dirigentes se diziam
marxista-leninistas e defendiam Cuba socialista. O Partido Comunista do
Chile, por sua vez, era o maior partido da esquerda e, nas últimas
eleições, tinha conseguido aproximadamente 17% dos votos e eleito 21
deputados e 5 senadores.
A campanha da UP ganhou o
país e mobilizou centenas de milhares de trabalhadores. Todos
pressentiam que chegara a hora da esquerda chilena. Mais de 400 mil
pessoas se reuniram no último comício realizado na capital. Em 4 de
setembro de 1970 Allende venceu por uma margem bastante apertada. Ele
obteve 36,6% dos votos, Jorge Alessandri do Partido Nacional (direita)
34,8% e Radomiro Tomic da Democracia Cristã 27%. Uma multidão tomou as
ruas de Santiago.
Contudo, a guerra ainda não
havia sido ganha. Como nenhum dos candidatos obteve maioria absoluta dos
votos cabia ao Congresso Nacional, no qual a UP era minoria, confirmar o
candidato vencedor. Começou, assim, uma intensa pressão da burguesia
sobre os parlamentares democrata-cristãos para que não aceitassem o
resultado das urnas.
A CIA trama contra a posse de Allende
Num
discurso pronunciado em 14 de setembro de 1970, o secretário de Estado
estadunidense Henry Kissinger afirmou: "É muito fácil prever que a
vitória de Allende possibilitará o estabelecimento de um governo
comunista. Nesse caso, não se trata de um governo desse tipo numa ilha
sem tradição e nem impacto na América Latina (...). A evolução da
política chilena é muito séria para os interesses da segurança nacional
dos Estados Unidos".
Em 21 de setembro a CIA
enviou um telegrama aos seus agentes em Santiago: "O propósito da
operação é evitar que Allende assuma o poder. O suborno do Parlamento
foi descartado. O objetivo é a solução militar". Um relatório da
embaixada norte-americana enviado à Kissinger afirmava: "o general
Schneider tem que ser neutralizado, tirado da frente se por preciso". O
comandante-em-chefe do Exército, general René Schneider, era um
legalista e se opunha aos projetos golpistas da direita militar. Por
isto, segundo a CIA, ele precisava ser eliminado.
No
começo de outubro outra mensagem chegou à capital chilena: "Criar um
clima de golpe mediante propaganda, desinformação e atividades
terroristas destinadas a provocar a esquerda para ter um pretexto para
um golpe". Alguns dias depois um agente da CIA em Santiago informou sua
sede em Washington que o "general Viaux propôs seqüestrar os generais
Schneider e Prats dentro das próximas 48 horas". A resposta foi:
"Informar a esses oficiais golpistas que o governo dos EUA lhes dará
apoio total no golpe." Os americanos não só sabiam do plano terrorista
de matar o comandante do Exército chileno como o apoiavam. O próprio
adido militar dos Estados Unidos entregou três metralhadoras aos
oficiais golpistas, liderados por Viaux e Valenzuela, que assassinariam o
general Schneider no dia 25 de outubro.
O fato
ocorreu poucas horas antes da votação no Congresso que deveria homologar
o nome de Allende. A CIA exultou: "24 horas da reunião do Parlamento,
um clima de golpe existe no Chile (...) o atentado contra o general
Schneider produziu conseqüências muito próximas das previstas no plano
de Valenzuela (...). Em conseqüência, a posição dos conspiradores foi
reforçada". Ledo engano.
O país ficou consternado e
o resultado acabou sendo desfavorável às forças de direita. A ala
democrática da Democracia Cristã venceu e, em 24 de outubro, o congresso
acabou reconhecendo a vitória de Allende. Em troca exigiu a aprovação
do Estatuto de Garantias Constitucionais pelo qual o novo governo
socialista ficava proibido de mexer nos meios de comunicação privados,
na educação e nas Forças Armadas. Um acordo que o novo governo cumpriu
religiosamente nos seus mil dias conturbados.
O
primeiro ministério refletiu a nova correlação de forças existente no
Chile. Dele participavam cinco ministros socialistas, três comunistas,
três radicais, um do MAPU, um da AP e um da esquerda independente. A
esquerda havia conquistado o governo e não o poder. Os poderes
legislativo e judiciário continuavam firmes nas mãos de representantes
da burguesia. A subestimação deste dado da realidade criou perigosas
ilusões no seio das forças socialistas chilenas.
As medidas econômicas e sociais do governo Allende
Uma
das principais bandeiras da UP foi a nacionalização das minas de cobre.
O cobre representava cerca de 80% das exportações chilenas e estava nas
mãos de três grandes monopólios estrangeiros: a Anaconda, a Kennecott
Cooper e a Serro.
A lei de nacionalização foi
aprovada em 11 de julho de 1971 com o voto unânime do congresso nacional
- nem a direita entreguista teve coragem de votar contra um anseio tão
profundo da nação chilena. O governo também nacionalizou as indústrias
do ferro e do salitre. Interveio na Companhia de Telefones do Chile, que
era filial da poderosa ITT norte-americana e estatizou o sistema
bancário, nele se incluía o City Bank. As nacionalizações feriram
profundamente os interesses privados das companhias estadunidenses.
Após
a estatização dos bancos o governo orientou o crédito para os pequenos e
médios produtores e para projetos de desenvolvimento industrial e
social. Houve uma significativa redução dos juros. Reativou-se o setor
de construção civil, adotando uma ousada política de construção de casas
populares.
Foram estabelecidas relações
diplomáticas e comerciais com Cuba, China, Vietnã e Coréia do Norte.
Realizou-se uma reforma agrária abrangente que resultou na quase
extinção do latifúndio improdutivo. Neste período expropriaram-se cinco
milhões de hectares em benefício de mais de 40 mil famílias.
As
medidas econômicas e sociais adotadas levaram a que no primeiro ano de
governo a produção industrial aumentasse em 12% e o PIB crescesse 8,3%,
índice inédito até então. Reduziu o nível de desemprego e ocorreu um
processo rápido de recuperação salarial. A participação dos assalariados
na renda nacional subiu de 53% para 61%. A CUT foi legalizada e passou
de 700 mil para 1 milhão de filiados.
Todas as
crianças chilenas passaram a ter o direito a meio litro de leite por
dia. O governo Allende ampliou drasticamente os serviços médicos e
escolares. Estas medidas levaram a uma redução significativa da
mortalidade infantil e dos níveis de analfabetismo. A previdência foi
estendida para 330 mil pequenos comerciantes e feirantes e 130 mil
pequenos industriais, artesãos, desportistas profissionais etc.
Em
abril de 1971, a UP teve mais uma estrondosa vitória nas eleições
municipais. Ela conseguiu 50,2% dos votos enquanto a DC atingiu 27% e o
PN apenas 20%. A votação refletiu a rápida mudança de espírito das
massas populares - um deslocamento para esquerda - e reforçou a tese
sobre a possibilidade de um "via chilena para o socialismo". Esta se
daria pela articulação do avanço institucional da esquerda, através das
eleições, e a mobilização e organização das massas populares.
A ofensiva conservadora contra o governo popular
Desde
a posse de Allende o imperialismo norte-americano, em conluio com
setores da grande burguesia, implementou um plano metódico de destruição
da economia chilena. De repente, os créditos externos desapareceram,
houve uma corrida aos bancos e os capitais foram enviados ilegalmente
para o exterior.
No mês de outubro de 1972 eclodiu
a greve dos caminhoneiros que foi seguida por uma greve no comércio,
nos transportes urbanos, nos hospitais particulares etc. Era uma greve
insurrecional da burguesia. Neste período mais de trezentas mil cabeças
de gado foram contrabandeadas e dez milhões de litros de leite atirados
nos rios para que não chegassem nas mesas das crianças pobres. A terra
não foi semeada e a produção de alimentos caiu catastroficamente.
Em
pouco tempo começou a faltar alimentos nas grandes cidades. Proliferou o
mercado negro e incentivou-se o processo inflacionário. O governo só
não caiu graças a mobilização e a auto-organização popular. Diante da
tentativa da burguesia em parar a nação, os trabalhadores ocuparam as
fábricas fechadas e as mantiveram produzindo num ritmo superior a média
anterior. Os camponeses ocuparam as fazendas paralisadas. Nas cidades,
as comunas organizaram o abastecimento e montaram brigadas para ir ao
campo ajudar na colheita e no transporte. Realizaram-se tentativas
heróicas de furar o cerco imposto pela greve dos caminhoneiros. Diante
da ameaça de golpe formaram-se os "cordões industriais", como
instrumento de autodefesa proletária. O povo chileno tomou em suas mãos
desarmadas a defesa da revolução.
O resultado
desta ofensiva golpista foi a redução do nível de crescimento e o PIB
caiu para 5% em 1972. Mesmo assim, esse índice não foi tão catastrófico
como poderia ter sido sem a mobilização dos trabalhadores para vencer a
sabotagem do imperialismo e dos monopólios. A situação econômica se
tornou mais grave em 1973.
A Democracia Cristã: entre a cruz e a espada
A
eleição de Allende só foi possível graças aos votos dos deputados da DC
- liderados por Tomic. Durante mais de seis meses existiu um relativo
entendimento entre congresso e o executivo. No entanto, vários
acontecimentos minaram esta relação e colocaram a maioria da DC no colo
do Partido Nacional.
Em 8 de junho de 1971 um
agrupamento de extrema-esquerda assassinou o ex-ministro
democrata-cristão Edmundo Zukovic. Existia uma forte suspeita que por
trás das mãos dos terroristas estava a CIA. A ala direita da DC
aproveitou-se da oportunidade para neutralizar a ala democrática do
partido e exigiu o rompimento de todos os acordos com o governo.
Ainda
em julho ocorreu, em Valparaíso, uma eleição complementar para a vaga
de um deputado da DC que tinha falecido. Ali a UP havia conseguido 49%
dos votos em março. Allende, então, propôs que ela apoiasse o candidato
da DC e colocasse como condição que ele não fosse contra o governo. A UP
recusou e lançou candidato próprio. O Partido Nacional retirou sua
candidatura e apoiou, pela primeira vez, o candidato democrata-cristão -
a condição agora é que ele fosse da oposição. A campanha foi dura e
houve troca de acusações. O resultado da disputa foi a derrota da UP e o
fortalecimento da ala direita da DC. No mesmo mês a ala esquerda
daquele partido se desligou e formou o Movimento de Esquerda Cristã, que
solicitou ingresso na UP.
A CIA compreendeu a
importância desta eleição e destinou 150 mil dólares para o candidato
oposicionista. Rompeu-se assim o equilíbrio partidário que permitiu a
vitória de Allende em 1970 e foi se constituindo uma ampla frente de
oposição que adquiriu um caráter golpista. O governo começou a ficar
isolado no parlamento. Dias mais difíceis viriam.
No
dia 10 de novembro de 1971 Fidel Castro chegou ao Chile para uma
visita. Ele ficou no país por três semanas. Antes que partisse, milhares
de mulheres da burguesia e das classes médias realizaram uma grande
manifestação denominada "Marcha da Panela Vazia". A manifestação
"pacífica" era acompanhada por grupos paramilitares de direita que
tentavam provocar os carabineiros e criar distúrbios nas ruas.
O
resultado das provocações direitistas foi um grave confronto que deixou
vários feridos. Pela primeira vez na história chilena a polícia
desbaratava, com firmeza, uma manifestação provocadora da burguesia.
Indignado o presidente da Federação dos Estudantes da Universidade
Católica afirmou: "acusamos o governo de transformar o corpo de
carabineiro em um aliado impudico das forças marxistas". Formou-se uma
cadeia nacional contra o governo Allende. Todo este movimento de "guerra
psicológica" era patrocinado pelo governo norte-americano. Foi
decretado o Estado de Emergência na capital para conter novas
manifestações da direita.
Consolidou-se, assim, o
rompimento da DC com a UP e sua aproximação definitiva com o Partido
Nacional. O Congresso passou a exigir a demissão do ministro do
interior, José Toha. A Câmara de Deputados votou a destituição do
ministro. A decisão inconstitucional foi confirmada pelo Senado. Os três
comandantes em chefe das Forças Armadas reconheceram o direito de
Allende de nomear e demitir ministros. A Corte Suprema também confirmou a
prerrogativa constitucional do presidente da República. No final de
1971, a legalidade ainda jogava do lado da UP.
Esta
foi uma clara manobra da direita parlamentar no sentido de alterar o
regime político, passando poderes do presidente progressista para um
congresso conservador. Tentativa que, naquele momento, não obteve o
resultado esperado. Estabeleceu-se, assim, uma clara ruptura entre os
poderes da República. O parlamento se constituiu num obstáculo
permanente para a ação do governo legítimo. O congresso não aprovava
mais nenhum projeto do executivo e, ao mesmo tempo, não tinha quorum
suficiente para destituí-lo. Abriu-se uma crise institucional de grande
proporção.
As Classes Médias e o Governo Allende.
Apesar
disto, um setor importante das classes médias veio a engrossar o
movimento oposicionista ao governo Allende. Por trás desta posição
estavam certas predisposições ideológicas provenientes de sua posição
social particular no modo de produção capitalista. Um das principais
características da ideologia da classe média é o medo da proletarização.
No
caso dos países capitalistas dependentes existia um agravante, como
afirmou Altamirano: "as classes médias dos países de capitalismo
dependente (...) gozam de um quadro de privilégios relativos. Seu padrão
de vida é significativamente superior ao das grandes massas
empobrecidas da cidade e do campo. Aqui existe um desnível de vida
consideravelmente maior que nos países capitalistas avançados, entre as
massas populares, de um lado, e grande parte dos intelectuais, dos
empregados e da pequena burguesia ligada ao comércio, aos transportes,
de outro. Essa particularidade dificulta uma aliança objetiva com o
proletariado; como o processo revolucionário deve forçosamente impor uma
distribuição de renda eqüitativa para as grandes massas, a deterioração
relativa dos setores médios é quase inevitável".
Para
entender a essência do discurso da direita para as classes médias,
utilizando de seus preconceitos arraigados, o autor utilizou uma imagem
bastante interessante: "Foi como se a burguesia lhes tivesse sussurrado
ao ouvido: 'Cuidado! Nós somos os primeiros, mas depois virão vocês
(...). Hoje expropriam as grandes empresas, mas terminarão por estatizar
até os pequenos negócios (...). Foi sempre assim em todos os países
socialistas (...). De modo que a gente precisa se defender juntos'". E
assim foi feito. Quando do golpe militar a propaganda terrorista
anticomunista já tinha realizado o seu trabalho e uma parte da classe
média estava plenamente convencida que "comunista bom é comunista
morto!" e quem ainda apoiava Allende só podia ser comunista.
Terrorismo e Golpe de Estado
O
clima de guerra civil e as dificuldades econômicas, impostos pela
grande burguesia e o imperialismo, não haviam conseguido diminuir o
prestígio do governo diante das classes populares. Nas eleições
parlamentares de março de 1973, a UP conquistou 44% dos votos e se
consolidou como principal organização política do Chile. O aumento do
número de parlamentares progressistas inviabilizou a idéia do golpe
branco, parlamentar, visando destituir Allende. Agora só havia um
caminho para a oposição rebelada: o golpe militar.
Apesar
da relativa redução dos votos, em relação às eleições municipais de
1971, o que podia ser constatado era um aumento constante do número
absoluto de eleitores da UP: um milhão em 1970, um milhão e quatrocentos
mil em 1971 e um milhão e seiscentos mil em 1973. A maioria dos
trabalhadores assalariados ainda estava com Allende.
Acompanhando
o crescimento da UP ocorreu o crescimento da violência promovida pela
extrema-direita. Em fevereiro de 1972 o alto comando militar já havia
desbaratado um plano para assassinar Allende. Foram presos vários
oficiais e civis ligados ao grupo fascista "Pátria e Liberdade". Por
trás do complô estavam alguns generais. Neste mesmo período, dezenas de
militantes de esquerda foram assassinados. Em 26 de julho de 1973 o
próprio comandante Arturo Araya, adido naval do presidente, foi morto
num atentado. Nos últimos meses do governo Allende a direita cometeu, em
média, 21 atos terroristas por dia.
Sob a
alegação de combater a violência crescente, o Congresso aprovou a Lei de
Controle de Armas. O controle voltou-se, exclusivamente, contra o
movimento popular. As Forças Armadas realizaram centenas de incursões
nos bairros operários, nas fábricas, nas universidades em busca de
armas. Os grupos para-militares de direita não foram molestados. Era uma
medição de forças para o combate que se aproximava.
Os
acontecimentos se sucederam num ritmo que atropelou a própria esquerda.
Em maio de 1973, setores militares ujá haviam decidido dar o golpe de
Estado. Para ajudar no clima de desestabilização, os empresários
patrocinaram uma greve no transporte urbano. Em resposta, em 21 de
junho, a Central Única dos Trabalhadores chilena realizou uma greve
geral contra o golpismo e em apoio ao governo. Um milhão de
trabalhadores desfilou pelas ruas de Santiago.
Poucos
dias depois, no dia 29, ocorreu uma primeira tentativa golpista. Um
regimento de blindados tentou atacar o Palácio presidencial. O próprio
general Prats, numa ação corajosa, se dirigiu pessoalmente para as
tropas insurretas e deu ordem de prisão aos seus comandantes. Ele
pagaria caro pelo seu ato.
Prats era então o
comandante-em-chefe do Exército e havia sido indicado para o Ministério
do Interior após a greve patronal de outubro de 1972. Era um legalista
fervoroso e um obstáculo aos intentos golpistas. Isto levantou contra
ele o ódio dos setores direitistas da sociedade e das Forças Armadas. Em
21 de agosto centenas de mulheres realizaram um ato na frente de sua
residência exigindo sua renúncia e dirigindo insultos contra sua honra.
Eram as esposas e filhas da alta oficialidade. Os generais, como era o
esperado, não se solidarizaram com seu comandante. Prats foi obrigado a
renunciar e com ele saíram vários generais legalistas. Estavam abertas
as portas para o golpe militar.
Aproveitando o
clima existente, a Democracia Cristã fez aprovar na Câmara dos Deputados
uma resolução declarando a "ilegitimidade" do governo. Novamente os
trabalhadores tiveram que responder as manobras de direita e realizaram
uma gigantesca manifestação na qual cerca de 800 mil pessoas saíram às
ruas gritando: "Allende, Allende, o povo te defende!". Sem o saber, esta
seria a última homenagem que o povo chileno prestaria ao seu valoroso
presidente. Era 3 de setembro.
O Golpe de 11 de Setembro
Nas
primeiras horas da madrugada do dia 11 de setembro a marinha se
sublevou em Valparaíso, depois de participar de uma manobra conjunta com
a marinha norte-americana. As primeiras notícias eram confusas. Pouco a
pouco foi ficando claro que se tratava de um golpe militar dirigido
pela cúpula das Forças Armadas. A frente de todas as operações golpistas
estava o novo comandante-em-chefe do Exército, um dos homens de
confiança de Prats e do próprio presidente. Ele se chamava Augusto
Pinochet.
Ao receber as notícias das operações
militares, Allende se dirigiu ao Palácio da Moneda. Com este pequeno
grupo de homens e mulheres o presidente enfrentou por horas os ataques
de tropas de infantaria, blindados e os temidos bombardeiros Hawker
Hunter. Às 9 horas da manhã ainda pensou em distribuir armas para os
trabalhadores. Convocou o comandante-em-chefe dos Carabineiros, general
Sepulveda, e perguntou-lhe:
─ General, só resta distribuir armas ao povo. O senhor pode fazê-lo?
─ Distribuir armas, eu? Como quer que eu distribua armas?
─ Distribuir armas, eu? Como quer que eu distribua armas?
Naquele
momento as últimas tropas leais dos carabineiros se retiravam. O
comando já não estava mais nas mãos do estupefato general.
Depois
de mais de dois anos de governo não havia sido construída nenhuma
estratégia para responder a um possível golpe militar, apesar das
inúmeras ameaças e do crescimento da violência fascista. Confiou-se
integralmente nos dispositivos militares legalistas de Allende. Quando
este falhou, o governo e o povo ficaram sem uma alternativa viável. Os
poucos agrupamentos armados de estudantes e de operários foram
prontamente massacrados numa luta desigual. Milhares morreram esperando
os regimentos leais ao governo. Uma página heróica e trágica da história
dos trabalhadores latino-americanos.
Uma proposta
de constituição de uma comissão militar integrada por oficiais leais e
dirigentes ligados a Unidade Popular foi rejeitada. Apenas no final de
agosto de 1973 começou a ser aventada a possibilidade de aplicação da
lei de Defesa Civil que permitiria articular os carabineiros, ainda
leais ao governo, e as organizações populares e sindicais. Esta era uma
lei de 1945 e visava defender o país quando ele estivesse em perigo
iminente. O plano não conseguiu sair do papel diante da oposição.
Na
verdade, como afirmou Altamirano, "faltou à Unidade Popular a
capacidade de prever a alterar as formas de luta quando isto se tornou
necessário". Agarrou-se às instituições do Estado burguês quando a
burguesia já as havia abandonado e caminhava abertamente no sentido da
insurreição armada. Continuou: "Mas não era viável nem possível a
manutenção de uma linha política institucional até iniciar a 'construção
do socialismo', sem provocar rupturas. Por exclusiva vontade das
classes dominantes, a confrontação devia produzir-se nalgum momento
desse itinerário. E, por isto, o processo devia obrigatoriamente, contar
com uma estrutura defensiva militar." Recuar, fazendo novas concessões à
Democracia Cristã, ou avançar, rompendo a legalidade burguesa. Uma
decisão nem sempre fácil de ser tomada.
Este,
talvez, tenha sido o grande dilema e uma das limitações da experiência
de "via chilena para o socialismo". Mas, os possíveis erros não devem
encobrir o heroísmo da esquerda chilena e de seu valente presidente. As
últimas palavras de Allende ainda repercutem na alma do seu povo:
"Diante desses fatos, só me cabe dizer aos trabalhadores: não vou
renunciar (...) pagarei com minha vida a lealdade do povo (...). Outros
chilenos superarão esse momento amargo em que a traição pretende se
impor; continuem sabendo que muito mais cedo que tarde novamente se
abrirão as grandes avenidas por onde passará o homem livre, para
construir uma sociedade melhor. Viva o Chile! Viva o povo! Vivam os
trabalhadores!". Em poucos minutos cairia morto o companheiro presidente
e o povo nas barricadas e nas ruas responderia: "Allende, presente!
Agora e sempre!".
Bibliografia:
ALTAMIRANO, Carlos. Dialética de uma derrota. São Paulko: Brasiliense, 1979
ALEGRIA, Fernando. Allende, a paz pelo socialismo, São Paulo: Brasiliense, 1983
DEBRAY, Régis. Conversación com Allende. México: Siglo Veintiuno, 1973
GARCÉS, Joan. Allende e as armas da política. São Paulo: Scritta, 1993
HARNECKER, Marta. Tornar possível o impossível. São Paulo: Paz e Terra, 2000
JARA, Joan. Canção inacabada: a vida de Victor Jara. Rio de Janeiro: Record, 2002
MARÍN, Gladys. "Salvador Allende en el centro da la conciencia de los pueblos" in La Insignia, Chile: janeiro de 2003 MORAES, João Quartim de. Liberalismo e Ditadura no Cone Sul. IFCH-Unicamp, 2003
Augusto César Buonicore é historiador e membro do Comitê Central do PCdoB
sábado, 10 de setembro de 2011
Homenagem de Pablo Milanês a Allende
Yo pisaré las calles nuevamente
Yo pisaré las calles nuevamente
de lo que fue Santiago ensangrentada,
y en una hermosa plaza liberada
me detendré a llorar por los ausentes.
Yo vendré del desierto calcinante
y saldré de los bosques y los lagos,
y evocaré en un cerro de Santiago
a mis hermanos que murieron antes.
Yo unido al que hizo mucho y poco
al que quiere la patria liberada
dispararé las primeras balas
más temprano que tarde, sin reposo.
Retornarán los libros, las canciones
que quemaron las manos asesinas.
Renacerá mi pueblo de su ruina
y pagarán su culpa los traidores.
Un niño jugará en una alameda
y cantará con sus amigos nuevos,
y ese canto será el canto del suelo
a una vida segada en La Moneda.
Yo pisaré las calles nuevamente
de lo que fue Santiago ensangrentada,
y en una hermosa plaza liberada
me detendré a llorar por los ausentes.
(1974)de lo que fue Santiago ensangrentada,
y en una hermosa plaza liberada
me detendré a llorar por los ausentes.
Yo vendré del desierto calcinante
y saldré de los bosques y los lagos,
y evocaré en un cerro de Santiago
a mis hermanos que murieron antes.
Yo unido al que hizo mucho y poco
al que quiere la patria liberada
dispararé las primeras balas
más temprano que tarde, sin reposo.
Retornarán los libros, las canciones
que quemaron las manos asesinas.
Renacerá mi pueblo de su ruina
y pagarán su culpa los traidores.
Un niño jugará en una alameda
y cantará con sus amigos nuevos,
y ese canto será el canto del suelo
a una vida segada en La Moneda.
Yo pisaré las calles nuevamente
de lo que fue Santiago ensangrentada,
y en una hermosa plaza liberada
me detendré a llorar por los ausentes.
Para assistir ao vídeo é só clicar no título da música! ;)
Quem derrubou as torres em NY?
Rui Martins - Berna (retirado de Direto da redação)
Berna (Suiça) - No 11 de setembro de 2001, ainda
na CBN, eu comentava ao vivo diante de minha televisão, aqui em Berna,
na Suíça, o ataque às torres gêmeas com Heródoto Barbeiro, em São Paulo,
e Sidney Rezende, no Rio.
Pouco antes, estava terminando de almoçar e ouvia a rádio francesa
Europa 1. Nessa época, ouvir os noticiários pelo rádio fazia parte da
minha rotina diária, para garantir entradas imediatas na CBN, no caso de
acontecimentos políticos, acidentes, atentados.
Foi assim que ouvi as primeiras notícias transmitidas num flash,
dando conta de que um avião, ao que parecia desviado da rota, entrara
num edifício de Nova Iorque. Logo depois, o correspondente nos EUA
entrou ao vivo e fui correndo ligar a televisão quando ele anunciou que
um outro avião entrara na segunda Torre Gêmea.
Era algo inacreditável, aquela fumaça de querosene em dois edifícios
simbolos da força americana. Heródoto, comedido como sempre, não se
aventurava a falar em atentado, queria primeiro esperar a confirmação.
Eu e Sidney (não sei se a CBN guardou a gravação do programa) não
tínhamos dúvida. E me lembro ter afirmado que, fazia alguns dias, um
líder islamita prometera atentados nos EUA. Mas não me vinha o nome
completo daquele que acabaria se tornando o pesadelo dos americanos.
É alguma coisa como Ossuma. E Sidney Rezendo completou – é Ossuma Ben
Laden. Alguns dias depois, a direção da CBN decidiu que a pronúncia
certa seria Ossuma Bin Laden.
De repente, enquanto cada um ia fazendo seus comentários, ocorreu a
queda das torres como numa implosão de velhos edifícios. E, ali,
pronunciei o seguinte comentário, diante do que me parecia óbvio - « mas
pelo visto, além de terem entrado nas torres com os aviões, eles tinham
minado antes os prédios com explosivos colocados nos andares ».
Nos dias seguintes, fiquei com a impressão de ter dado um fora,
porque nenhuma autoridade americana falou na hipótese dos explosivos, e
me contentei com a versão oficial.
Mas, algum tempo depois, li alguns depoimentos levantando estranhas
hipóteses, pelas quais os atentados teriam de certa forma sido ajudados,
dando-lhes uma dimensão ainda maior. Ignorei, mesmo porque sei da
tendência dos americanos de verem em tudo um complô ou mentiras, como é a
história da ida do homem à Lua e mesmo do vôo do Gagarin.
Porém, hoje, dez anos depois, tem muita gente séria levantando
dúvidas, geralmente engenheiros que entendem de resistência de material
ao fogo e altas temperaturas. Assim, dizem que o querosene saído dos
aviões queima a uma temperatura de 850 graus centígrados, mas que o
metal das torres podia suportar calor de 1.250 graus, antes de fundir.
Como onde tem fumaça, há certamente fogo, nessa história de complô
para derrubar as Torres Gêmeas, o melhor, para evitar o risco de abuso
por esquerdistas ou antiamericanos, seria esperar surgir alguém não
político. Ora, justamente, existe um, suíço, professor de História na
Universidade de Basiléia. Seu nome Daniele Ganser. Ele diz ter ficado
com a pulga atrás da orelha, três anos depois, em 2004, ao ler o
relatório oficial da Comissão de Inquérito sobre esses atentados.
Depois de ler o calhamaço de mais de 500 páginas, Ganser não se
convenceu, achou falhas, e muitos argumentos destinados a reforçar os
ataques ao Iraque, Afganistão, ao islamismo e ao Eixo do Mal apontado
pelo cristão Bush. Três mil mortos de um lado, centenas de milhares do
outro.
Ganser ficou também impressionado pelo fato da torre 7, do World
Trade Center, a WCT7, não constar do documento, embora tivesse caído
como um castelo de cartas no fim da tarde do 11 de setembro, e o mais
estranho, sem ter sido tocada pelos aviões.
Esse esquecimento da WTC7 não foi só do inquérito, muitas pessoas
acham terem sido só duas, as Torres Gêmeas, as que foram ao chão. Se já
era estranho as gêmeas terem desmoronado, mais estranho é o fato de um
prédio de 43 andares ruir, sem ter sido incendiado e sem ter sido
atingido por aviões.
Hugo Bachman, professor de material numa universidade de Zurique
acredita que, a maneira pela qual caíram de maneira imediata todos os
andares dos prédios, só tem uma explicação – a queda dos prédios foi
controlada por explosivos, como se costuma fazer, e se vê na televisão,
com os prédios antigos implodidos.
Além disso, o professor de economia Marc Chesney, da Universidade de
Zurique, revela ter havido um jogo na bolsa de valores, um dia antes dos
atentados, envolvendo as ações das companhias United Airlines e
American Airlines, cujos aviões foram sequestrados, e que representaram
milhões ou bilhões de dólares, coisa nunca investigada.
Parece também terem sido informados, a tempo, tanto o governo como a
CIA, sobre a preparação dos atentados, por que, então, não foram
inteceptados os terroristas antes de colocarem em prática o aprendido
nas escolas de pilotagem?
Resta a pergunta, no caso desses indícios provarem ter havido ajuda
aos terroristas para completar seus atentados, sobre quem teria tomado
essas iniciativas. Se o objetivo era provocar guerras, uma coisa ficou
provada – a intervenção no Afganistão e a guerra contra o Iraque
beneficiaram amplamente as indústrias de armamentos, porém tiveram
efeito boomerangue.
Os EUA de hoje com crise econômica e dólares em baixa acabaram sendo
também vítimas da guerra contra o Eixo do Mal, decretada por Bush, pelas
enormes despesas representadas. Serão necessários ainda alguns anos
para se saber com certeza se houve um complô paralelo no 11 de setembro
de 2001, cujo objetivo era criar condições junto à população dos EUA
para guerras contra os islamitas, transformados em representantes do
Mal, e poder se apossar do petróleo do Iraque.
sexta-feira, 9 de setembro de 2011
“As redes sociais não farão a revolução. As pessoas que as usam sim”
Por Diângeli Soares
As duras críticas da blogueira ao Facebook são dirigidas à crescente simbiose entre a rede e a Casa Branca. Desde o sucesso de Chris Hughes, co-fundador do Facebook, nas eleições que elegeram Barack Obama em 2008, a aproximação entre os democratas e a marca só cresceu. Como era de se esperar, esta parceira tem explicação econômica: Um dos principais interesses do Facebook junto ao governo americano é conter o avanço de políticas contra a invasão de privacidade. As informações pessoais dos usuários do facebook são uma peça chave para o desenvolvimento de grandes ações publicitárias, uma vez que permitem o mapeamento de hábitos e preferências do público em geral. Em um mundo dominado pelo consumismo, em que a propaganda desempenha um papel central, o acesso a estas informações é, antes de tudo, uma questão de muito dinheiro. Daí o interesse da rede em parcerias junto ao poder.
Outra
crítica da cubana é em relação ao próprio conceito de “rede social”.
Norelys afirma que as redes sociais não são invenção, tampouco
propriedade dos mega empresários da Internet. “Rede Social” é qualquer
instrumento que a agregue e congregue pessoas. E ainda que reconheça a
potencialidade destas novas tecnologias, Norelys alerta contra ilusões:
As redes sociais, por si só, não farão a Revolução, assim como os
jornais e a televisão não a fizeram. Em outras palavras, a comunicação
não substitui a organização. O trabalho militante, na vida real, é mais
necessário do que nunca.
Norelys
não poupa críticas à sua compatriota, Yoani Sanches. Em seu blog,
“Islamia”, estampa uma foto bem grande da contra-revolucionária com os
dizeres: “Indigência intelectual. Made in USA”. Norelys afirma que Yoani
é um exemplo de como o bloqueio midiático contra cuba é um bloqueio
qualificado: As notas oficiais do governo cubano desmentindo acusações
infundadas nunca passam pelo bloqueio da mídia internacional. Já as
idéias de uma simples cidadã - entre milhões de outros simples cidadãos -
são recebidas como verdades incontestes. É como se qualquer um de nós
fosse eleito a “voz da razão” em nossos países. Pena que não aceitam as
nossas criticas ao capitalismo com a mesma facilidade com que aceitam as
críticas de Yoani ao socialismo cubano...
Acesso a internet em cuba
Perguntada
quanto ao acesso à internet em Cuba, a blogueira conta que o país
inteiro possui o equivalente a quatro cybercafés da cidade de São Paulo.
Ou seja, o acesso é ínfimo. Entretanto, ao contrário do que muitos
podem imaginar, o pouco acesso à internet no país não é fruto da
política de segurança nacional do governo cubano e sim do bloqueio
econômico imposto pelos EUA. Os EUA simplesmente não permitem que a
tecnologia chegue à Cuba. “É como amarrar uma pedra no corpo de uma
pessoa, jogá-la na piscina e depois dizer que ela morreu porque não
sabia nadar. É isso que os americanos fazem conosco".
quinta-feira, 8 de setembro de 2011
Erundina vê ''jogo'' com Comissão da Verdade
Para deputada, pressa do Planalto em aprovar projeto de criação não é sincera, mas uma manobra para dar satisfação rápida à pressão de corte da OEA
Roldão Arruda - O Estado de S.Paulo
A deputada Luiza Erundina (PSB-SP) desconfia da pressa do governo para aprovar o projeto de lei que cria a Comissão Nacional da Verdade. Em sua avaliação, a correria não se deve a uma preocupação sincera com o esclarecimento de violações de direitos humanos ocorridas na ditadura militar. O objetivo verdadeiro seria dar uma satisfação rápida à Corte Interamericana de Direitos Humanos da Organização dos Estados Americanos (OEA) e evitar constrangimentos internacionais ao Brasil.
No ano passado, em resposta a ação movida por familiares de desaparecidos na guerrilha do Araguaia, aquela corte determinou ao País que investigue e puna os responsáveis por crimes contra a humanidade cometidos na ditadura. O prazo para que o governo comece a atender à ordem com ações acaba em dezembro.
"É possível que, em dezembro, quando a corte cobrar o Brasil, o governo responda que criou a Comissão da Verdade, tentando evitar um vexame político internacional", diz a deputada e ex-prefeita de São Paulo. "Mas é pouco provável que a comissão tenha condições de atender ao que está sendo exigido."
A desconfiança de Erundina é baseada em três pontos. A primeira é que a comissão não terá autonomia orçamentária: ficará dependente de verbas da Casa Civil da Presidência. Em segundo lugar, disporá de prazo de apenas dois anos para concluir seu trabalho. A terceira e última questão é que contará com poucos integrantes - serão sete - para uma missão muito ampla.
"Em países da América Latina que realizaram investigações semelhantes, as comissões chegaram a ter 200 integrantes", diz a deputada. "Aqui serão sete, sem orçamento próprio e com pouco prazo. Tudo leva a crer que não acrescentarão nada àquilo que os que os familiares já sabem sobre os crimes."
Nos seus comentários sobre a movimentação do governo para aprovar o projeto de lei em regime de urgência urgentíssima, sem debates, ela recorda a forma como nasceu: "O presidente Lula enviou o projeto para o Congresso em maio do ano passado, no momento em que a Corte da OEA começava a deliberar sobre o Araguaia. O governo temia a repercussão no exterior".
A ex-prefeita é uma voz isolada nesse debate - mas das mais autorizadas. Ao assumir a Prefeitura, em 1989, ela criou uma comissão especial para investigar as denúncias de que opositores políticos do regime haviam sido enterrados sem identificação numa vala clandestina do Cemitério Dom Bosco, região de Perus.
Integrada por representantes do poder público e dos familiares, a comissão foi auxiliada no trabalho de identificação das ossadas pelo Departamento de Medicina Legal da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). Para isso, Erundina assinou um convênio especial com a escola.
O esforço deu resultado: foram identificados dois desaparecidos - os primeiros de uma lista que chega a 159. Em seguida, os trabalhos se estenderam para outras valas de Perus e outros cemitérios, mais uma vez com resultados positivos: mais sete desaparecidos acabaram identificados.
Membros da comissão ainda integraram expedição à região da guerrilha do Araguaia, no Pará. Voltaram após identificação dos restos mortais de mais três desaparecidos. Foram os últimos.
Desde que Erundina deixou a Prefeitura, em janeiro de 1993, não ocorreu mais nenhuma identificação. Para ela, isso se deve à falta de vontade política: "Os resultados que tivemos há 20 anos estiveram ligados sobretudo à determinação política de ir atrás e esclarecer os fatos. Eu era apenas prefeita, num período de liberdade democrática menor do que a de hoje".
Roldão Arruda - O Estado de S.Paulo
A deputada Luiza Erundina (PSB-SP) desconfia da pressa do governo para aprovar o projeto de lei que cria a Comissão Nacional da Verdade. Em sua avaliação, a correria não se deve a uma preocupação sincera com o esclarecimento de violações de direitos humanos ocorridas na ditadura militar. O objetivo verdadeiro seria dar uma satisfação rápida à Corte Interamericana de Direitos Humanos da Organização dos Estados Americanos (OEA) e evitar constrangimentos internacionais ao Brasil.
No ano passado, em resposta a ação movida por familiares de desaparecidos na guerrilha do Araguaia, aquela corte determinou ao País que investigue e puna os responsáveis por crimes contra a humanidade cometidos na ditadura. O prazo para que o governo comece a atender à ordem com ações acaba em dezembro.
"É possível que, em dezembro, quando a corte cobrar o Brasil, o governo responda que criou a Comissão da Verdade, tentando evitar um vexame político internacional", diz a deputada e ex-prefeita de São Paulo. "Mas é pouco provável que a comissão tenha condições de atender ao que está sendo exigido."
A desconfiança de Erundina é baseada em três pontos. A primeira é que a comissão não terá autonomia orçamentária: ficará dependente de verbas da Casa Civil da Presidência. Em segundo lugar, disporá de prazo de apenas dois anos para concluir seu trabalho. A terceira e última questão é que contará com poucos integrantes - serão sete - para uma missão muito ampla.
"Em países da América Latina que realizaram investigações semelhantes, as comissões chegaram a ter 200 integrantes", diz a deputada. "Aqui serão sete, sem orçamento próprio e com pouco prazo. Tudo leva a crer que não acrescentarão nada àquilo que os que os familiares já sabem sobre os crimes."
Nos seus comentários sobre a movimentação do governo para aprovar o projeto de lei em regime de urgência urgentíssima, sem debates, ela recorda a forma como nasceu: "O presidente Lula enviou o projeto para o Congresso em maio do ano passado, no momento em que a Corte da OEA começava a deliberar sobre o Araguaia. O governo temia a repercussão no exterior".
A ex-prefeita é uma voz isolada nesse debate - mas das mais autorizadas. Ao assumir a Prefeitura, em 1989, ela criou uma comissão especial para investigar as denúncias de que opositores políticos do regime haviam sido enterrados sem identificação numa vala clandestina do Cemitério Dom Bosco, região de Perus.
Integrada por representantes do poder público e dos familiares, a comissão foi auxiliada no trabalho de identificação das ossadas pelo Departamento de Medicina Legal da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). Para isso, Erundina assinou um convênio especial com a escola.
O esforço deu resultado: foram identificados dois desaparecidos - os primeiros de uma lista que chega a 159. Em seguida, os trabalhos se estenderam para outras valas de Perus e outros cemitérios, mais uma vez com resultados positivos: mais sete desaparecidos acabaram identificados.
Membros da comissão ainda integraram expedição à região da guerrilha do Araguaia, no Pará. Voltaram após identificação dos restos mortais de mais três desaparecidos. Foram os últimos.
Desde que Erundina deixou a Prefeitura, em janeiro de 1993, não ocorreu mais nenhuma identificação. Para ela, isso se deve à falta de vontade política: "Os resultados que tivemos há 20 anos estiveram ligados sobretudo à determinação política de ir atrás e esclarecer os fatos. Eu era apenas prefeita, num período de liberdade democrática menor do que a de hoje".
Pátria minha
A minha pátria é como se não fosse, é íntima
Doçura e vontade de chorar; uma criança dormindo
É minha pátria. Por isso, no exílio
Assistindo dormir meu filho
Choro de saudades de minha pátria.
Se me perguntarem o que é a minha pátria direi:
Não sei. De fato, não sei
Como, por que e quando a minha pátria
Mas sei que a minha pátria é a luz, o sal e a água
Que elaboram e liquefazem a minha mágoa
Em longas lágrimas amargas.
Vontade de beijar os olhos de minha pátria
De niná-la, de passar-lhe a mão pelos cabelos...
Vontade de mudar as cores do vestido (auriverde!) tão feias
De minha pátria, de minha pátria sem sapatos
E sem meias pátria minha
Tão pobrinha!
Porque te amo tanto, pátria minha, eu que não tenho
Pátria, eu semente que nasci do vento
Eu que não vou e não venho, eu que permaneço
Em contato com a dor do tempo, eu elemento
De ligação entre a ação o pensamento
Eu fio invisível no espaço de todo adeus
Eu, o sem Deus!
Tenho-te no entanto em mim como um gemido
De flor; tenho-te como um amor morrido
A quem se jurou; tenho-te como uma fé
Sem dogma; tenho-te em tudo em que não me sinto a jeito
Nesta sala estrangeira com lareira
E sem pé-direito.
Ah, pátria minha, lembra-me uma noite no Maine, Nova Inglaterra
Quando tudo passou a ser infinito e nada terra
E eu vi alfa e beta de Centauro escalarem o monte até o céu
Muitos me surpreenderam parado no campo sem luz
À espera de ver surgir a Cruz do Sul
Que eu sabia, mas amanheceu...
Fonte de mel, bicho triste, pátria minha
Amada, idolatrada, salve, salve!
Que mais doce esperança acorrentada
O não poder dizer-te: aguarda...
Não tardo!
Quero rever-te, pátria minha, e para
Rever-te me esqueci de tudo
Fui cego, estropiado, surdo, mudo
Vi minha humilde morte cara a cara
Rasguei poemas, mulheres, horizontes
Fiquei simples, sem fontes.
Pátria minha... A minha pátria não é florão, nem ostenta
Lábaro não; a minha pátria é desolação
De caminhos, a minha pátria é terra sedenta
E praia branca; a minha pátria é o grande rio secular
Que bebe nuvem, come terra
E urina mar.
Mais do que a mais garrida a minha pátria tem
Uma quentura, um querer bem, um bem
Um libertas quae sera tamem
Que um dia traduzi num exame escrito:
"Liberta que serás também"
E repito!
Ponho no vento o ouvido e escuto a brisa
Que brinca em teus cabelos e te alisa
Pátria minha, e perfuma o teu chão...
Que vontade de adormecer-me
Entre teus doces montes, pátria minha
Atento à fome em tuas entranhas
E ao batuque em teu coração.
Não te direi o nome, pátria minha
Teu nome é pátria amada, é patriazinha
Não rima com mãe gentil
Vives em mim como uma filha, que és
Uma ilha de ternura: a Ilha
Brasil, talvez.
Agora chamarei a amiga cotovia
E pedirei que peça ao rouxinol do dia
Que peça ao sabiá
Para levar-te presto este avigrama:
"Pátria minha, saudades de quem te ama...
Vinicius de Moraes."
Doçura e vontade de chorar; uma criança dormindo
É minha pátria. Por isso, no exílio
Assistindo dormir meu filho
Choro de saudades de minha pátria.
Se me perguntarem o que é a minha pátria direi:
Não sei. De fato, não sei
Como, por que e quando a minha pátria
Mas sei que a minha pátria é a luz, o sal e a água
Que elaboram e liquefazem a minha mágoa
Em longas lágrimas amargas.
Vontade de beijar os olhos de minha pátria
De niná-la, de passar-lhe a mão pelos cabelos...
Vontade de mudar as cores do vestido (auriverde!) tão feias
De minha pátria, de minha pátria sem sapatos
E sem meias pátria minha
Tão pobrinha!
Porque te amo tanto, pátria minha, eu que não tenho
Pátria, eu semente que nasci do vento
Eu que não vou e não venho, eu que permaneço
Em contato com a dor do tempo, eu elemento
De ligação entre a ação o pensamento
Eu fio invisível no espaço de todo adeus
Eu, o sem Deus!
Tenho-te no entanto em mim como um gemido
De flor; tenho-te como um amor morrido
A quem se jurou; tenho-te como uma fé
Sem dogma; tenho-te em tudo em que não me sinto a jeito
Nesta sala estrangeira com lareira
E sem pé-direito.
Ah, pátria minha, lembra-me uma noite no Maine, Nova Inglaterra
Quando tudo passou a ser infinito e nada terra
E eu vi alfa e beta de Centauro escalarem o monte até o céu
Muitos me surpreenderam parado no campo sem luz
À espera de ver surgir a Cruz do Sul
Que eu sabia, mas amanheceu...
Fonte de mel, bicho triste, pátria minha
Amada, idolatrada, salve, salve!
Que mais doce esperança acorrentada
O não poder dizer-te: aguarda...
Não tardo!
Quero rever-te, pátria minha, e para
Rever-te me esqueci de tudo
Fui cego, estropiado, surdo, mudo
Vi minha humilde morte cara a cara
Rasguei poemas, mulheres, horizontes
Fiquei simples, sem fontes.
Pátria minha... A minha pátria não é florão, nem ostenta
Lábaro não; a minha pátria é desolação
De caminhos, a minha pátria é terra sedenta
E praia branca; a minha pátria é o grande rio secular
Que bebe nuvem, come terra
E urina mar.
Mais do que a mais garrida a minha pátria tem
Uma quentura, um querer bem, um bem
Um libertas quae sera tamem
Que um dia traduzi num exame escrito:
"Liberta que serás também"
E repito!
Ponho no vento o ouvido e escuto a brisa
Que brinca em teus cabelos e te alisa
Pátria minha, e perfuma o teu chão...
Que vontade de adormecer-me
Entre teus doces montes, pátria minha
Atento à fome em tuas entranhas
E ao batuque em teu coração.
Não te direi o nome, pátria minha
Teu nome é pátria amada, é patriazinha
Não rima com mãe gentil
Vives em mim como uma filha, que és
Uma ilha de ternura: a Ilha
Brasil, talvez.
Agora chamarei a amiga cotovia
E pedirei que peça ao rouxinol do dia
Que peça ao sabiá
Para levar-te presto este avigrama:
"Pátria minha, saudades de quem te ama...
Vinicius de Moraes."
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