O Banco Central decidiu no dia 30 de maio aumentar a taxa de juros de 7,5% para 8%. Foi o segundo aumento consecutivo este ano. A taxa Selic é usada pelo governo para negociar os títulos da dívida pública e é referência para as demais taxas de juros da economia. Portanto, também vão subir os juros do cheque especial, do crediário, do cartão de crédito e dos empréstimos.
A consequência imediata da elevação da
Selic é que o governo vai gastar mais com os banqueiros e especuladores
que possuem títulos da chamada dívida pública e menos com a saúde e a
educação do povo brasileiro. De fato, segundo a Auditoria Cidadã da
Dívida, em 2012, com uma taxa de juros de 7,25%, o Governo Federal,
gastou R$ 752 bilhões com juros e amortizações da dívida. Com o aumento
da Selic para 8%, o gasto com a dívida pode ultrapassar R$ 900 bilhões.
A justificativa apresentada pelo Banco
Central para aumentar os juros é de que “a decisão contribuirá para
colocar a inflação em declínio”. Porém, em abril, quando elevou a Selic
de 7,25% para 7,5%, a alegação foi a mesma, mas a inflação cresceu em
vez de diminuir. Aliás, taxa de juros baixa em lugar nenhum do mundo é
responsável pela inflação. Nos Estados Unidos, por exemplo, a taxa de
juros é de 0,25% e a inflação é 1,06% ao ano. Na Alemanha, a taxa de
juros é menos de 1% e a inflação não passa de 1,15%.
Na verdade, o objetivo da decisão do
Banco Central não é diminuir a inflação e sim favorecer o capital
financeiro, o chamado “rentismo”, um reduzido número de famílias que não
trabalham e vivem de renda, particularmente das aplicações financeiras
nos títulos da divida pública. São cerca de 52 mil bilionários que
possuem 527 bilhões investidos em títulos da dívida num país que tem
quase 200 milhões de habitantes.
Esses agiotas, desde o ano passado vêm
usando seus meios de comunicação para exigir a elevação da taxa de
juros. Com efeito, desde 2011, quando os juros pagos pelo Governo caíram
de 12% para 7,25%, algumas asaplicações financeiras chegaram a perder
para a inflação e muitos milionários viram suas riquezas estacionarem.
Como na época do imperialismo capitalista, existe uma completa fusão
entre o capital financeiro e o capital industrial e comercial, a
burguesia (a classe que é dona dos bancos, mas também das fábricas, da
terra e dos supermercados), ajudada pelos bancos internacionais e pelos
fundos de investimentos que transformaram os alimentos em ativos
financeiros (commodities), decidiu elevar os preços das mercadorias para
reaver lucros provocando o aumento da inflação. Para esconder seus
objetivos, culparam o tomate.
Ora, aumentar juros não diminui a
inflação, mas a eleva. Com efeito, com o aumento dos juros, os custos
para produzir também crescem e os preços dos produtos sobem. Com os
preços mais altos, o trabalhador passa a gastar mais para se alimentar,
para comprar roupa, sapato, eletrodomésticos, e sua dívida aumenta. Com o
crédito mais caro e os preços dos produtos mais elevados,
principalmente quando comprados a prazo, meio usado pela esmagadora
maioria do povo, a tendência é de o consumo cair, o que levaria aos
preços diminuírem e, consequentemente, cair a inflação. Porém, antes de a
inflação cair (o que é pouco provável), o povo vai pagar mais caro por
cada produto que comprar, as empresas vão deixar de investir na produção
para aplicar no mercado financeiro e muitas vão demitir porque o
consumo foi reduzido. Em outras palavras, a decisão do BC beneficia os
especuladores, mas prejudica o trabalhador.
Trata-se, portanto, de um crime contra a
economia popular, pois os brasileiros já consomem muito pouco e milhões
de pessoas fazem apenas uma refeição por dia. Do outro lado,com a alta
dos juros, os ricos ganharão rios de dinheiro.
A alta dos juros também vai piorar a
situação de crise na economia, pois os investimentos produtivos vão
diminuir. Como o que move os capitalistas é o lucro máximo, e com os
juros subindo, as aplicações no mercado financeiro vão gerar ganhos
maiores, a classe dos ricos vai aplicar seu capital onde obtiver maior
lucro, mesmo que ele seja fictício. Prova disso é a declaração dada no
ano passado pelo dono de um dos maiores conglomerados industriais do
país, Antônio Ermírio de Morais. Disse ele: “Em menos de 10 anos, o
Banco Votorantim lucrou mais do que todo o grupo em toda a sua
história!”.
Logo, a decisão do BC não vai estimular o
investimento produtivo e sim o “investimento” no mercado financeiro.
Aliás, o Brasil ocupa agora o 4º lugar entre os países que têm taxas de
juros mais altas do mundo, tornando-se ainda mais atrativo para os
especuladores mundiais.
O que causa realmente a inflação?
Excetuando os fenômenos climáticos como
secas ou excesso de chuvas, que ao dificultarem a produção e a colheita
de determinados alimentos provocam aumento dos preços, na moderna
economia capitalista a principal causa da inflação é o domínio dos
monopólios industriais, financeiros e comerciais sobre a economia.
De fato, um número muito restrito de
empresas controla da produção até a venda dos produtos. Essa situação é
muito evidente no caso do tomate, tratado como vilão da alta dos preços
no início do ano. A Cargill, grande multinacional norte-americana, é
dona das marcas de molho de tomate Pomarola e Tarantella, das de extrato
de tomate Elefante e Extratomato e de polpa de tomate Pomodoro. A
Unilever, anglo-holandesa, é dona da marca Arisco, e a Bunge é dona da
Etti e da Salsaretti. Essas três empresas, além de produzirem, compram a
maior parte da produção do tomate no país, e assim ficam em condições
de determinar o preço pelo qual o produto deve ser vendido no mercado.
Não bastasse, segundo a Companhia
Nacional de Abastecimento (Conab), apenas três grandes grupos
estrangeiros são donos da maioria dos supermercados e controlam 50% dos
alimentos comercializados no país. São eles: Pão de Açúcar
(França-Brasil), Carrefour (França) e Walmart (EUA).
A telefonia celular está nas mãos de
quatro empresas: Oi, Telefônica/Vivo, Tim e Claro (NET/Embratel), que
cobram em nosso país uma das maiores tarifas do planeta.
A Coca Cola tem mais de 50% do mercado
de refrigerantes no país e a AB Imbev, com várias marcas de cervejas
(Brahma, Antartica, Bohemia, Skol,etc.), possui 70,1% do mercado de
cervejas no Brasil.
Essas grandes empresas, além de
dominarem setores inteiros da economia, unem e formam cartel para impor
preços ao consumidor. O Conselho Administrativo de Defesa Econômica
(Cade) investiga a formação de um cartel para fixar o preço da farinha
de trigo em toda a região Nordeste. As empresas de moagem e distribuição
de farinha de trigo, produto essencial para a fabricação de pães,
massas, doces e biscoitos, articuladas pelo grupo M. Dias Branco, estão
estabelecendo preços, condições de venda e divisão do mercado.
Outro exemplo: o governo reduziu os
impostos da Cesta Básica, mas não se verificou nenhuma redução dos
preços desses alimentos, embora, a presidenta tenha até apelado
publicamente para os empresários diminuírem os preços.
Outra causa recente da inflação são os
abusivos aumentos das passagens de ônibus decretados pelos governos para
beneficiar algumas dezenas de famílias que são donas das empresas de
ônibus no Brasil. Somente este ano, 11 capitais já aumentaram os preços
das passagens no transporte coletivo e nada repassaram para os
motoristas e cobradores ou para melhoria do transporte. Os ônibus andam
cheios, são velhos e os motoristas recebem baixos salários.
Desse modo, a monopolização da economia,
a ganância da classe capitalista e a submissão do governo a esta classe
são as verdadeiras causas da inflação e não o tomate ou uma taxa de
juros baixa.
Lula Falcão *
* Membro do comitê central do PCR e diretor de A Verdade
* Membro do comitê central do PCR e diretor de A Verdade
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