Em alguns dos protestos nos últimos
dias, tem existido uma falsa polêmica dentro do movimento que toma conta
das ruas das principais cidades do país: deve-se ou não utilizar
bandeira de partidos?
Falo de falsa polêmica porque aqueles
que estimulam esse debate, e é inegável o quanto a grande mídia tem
apostado nesse tema, contribuem com a divisão do movimento. Se é
ilegítimo que os militantes e representantes de partidos se façam
presente nos atos, seria justo proibir aqueles que nunca participaram de
nenhum movimento ou passeata de se fazer presente? Não seria
“oportunismo” ir às ruas apenas quando milhares estão presentes, e não
quando se realizaram protestos por diversas outras questões importantes?
Ou seja, é preciso unir o movimento, e é
inegável o papel que as organizações políticas e partidos cumprem na
mobilização e construção da luta. Alguns participantes alegam que a
bandeira de um partido pode dar a impressão de que o ato está sendo
“aparelhado”, ou que as pessoas que venham a ver a imagem imaginem que
todos são membros daquele partido. Será?
Se um manifestante apresentar um cartaz
com uma palavra de ordem, e eu não me sentir representado naquela frase,
é justo que eu reivindique que ele abaixe o cartaz? Poderia alegar que
se algum meio de comunicação divulgar essa imagem que minha presença no
ato foi “aparelhada” por aquela reivindicação? A camisa ou bandeira de
uma torcida organizada, também deve ser retirada com vistas a nem todos
os presentes torcerem por aquele time, ou mesmo concordarem com a
existência da torcida?
A mesma liberdade que buscamos nas ruas,
passa pela liberdade de organização de cada um e de suas convicções, e
um partido nada mais é que essa expressão. Aqueles que compreendem a
existência de um partido apenas num período eleitoral, só reforçam a
falsa democracia representativa em que vivemos.
Nunca devemos esquecer que os ricos, os
que dominam e controlam a sociedade, nunca abriram mão de se organizar
em seus partidos e nem defendem isso. Para os explorados e aqueles que
buscam transformar a sociedade, esse discurso muda, e apresenta-se que a
reivindicação será mais “pura” ou “plena” se distante dos partidos. Na
verdade querem evitar a possibilidade de unir as reivindicações e
questionar o centro do sistema e a sua dinâmica.
Os “de cima” tem todos os motivos para
temer que os “de baixo” se organizem. A ditadura militar, para tentar
impedir a resistência e a organização do povo, proibiu a existência dos
partidos. Não adiantou. Os partidos, mesmo na clandestinidade,
mantiveram-se firmes e tiveram papel decisivo na mobilização popular
contra a ditadura.
O que ganhamos nós ao reprimir a
presença dos partidos? Seremos mais livres se impedirmos que as pessoas,
por sua livre iniciativa, optem por participar de partidos ou apenas
reforçamos os objetivos da grande mídia e da burguesia? O que está em
jogo é fortalecer a nossa luta, e portanto devemos unir todas as nossas
forças nessas mobilizações.
Rafael Pires é membro da Coordenação Nacional da UJR
Nenhum comentário:
Postar um comentário