quarta-feira, 19 de junho de 2013

Quem tem medo dos partidos políticos?

Em alguns dos protestos nos últimos dias, tem existido uma falsa polêmica dentro do movimento que toma conta das ruas das principais cidades do país: deve-se ou não utilizar bandeira de partidos?

Falo de falsa polêmica porque aqueles que estimulam esse debate, e é inegável o quanto a grande mídia tem apostado nesse tema, contribuem com a divisão do movimento. Se é ilegítimo que os militantes e representantes de partidos se façam presente nos atos, seria justo proibir aqueles que nunca participaram de nenhum movimento ou passeata de se fazer presente? Não seria “oportunismo” ir às ruas apenas quando milhares estão presentes, e não quando se realizaram protestos por diversas outras questões importantes?

Ou seja, é preciso unir o movimento, e é inegável o papel que as organizações políticas e partidos cumprem na mobilização e construção da luta. Alguns participantes alegam que a bandeira de um partido pode dar a impressão de que o ato está sendo “aparelhado”, ou que as pessoas que venham a ver a imagem imaginem que todos são membros daquele partido. Será?

Se um manifestante apresentar um cartaz com uma palavra de ordem, e eu não me sentir representado naquela frase, é justo que eu reivindique que ele abaixe o cartaz?  Poderia alegar que se algum meio de comunicação divulgar essa imagem que minha presença no ato foi “aparelhada” por aquela reivindicação? A camisa ou bandeira de uma torcida organizada, também deve ser retirada com vistas a nem todos os presentes torcerem por aquele time, ou mesmo concordarem com a existência da torcida?

A mesma liberdade que buscamos nas ruas, passa pela liberdade de organização de cada um e de suas convicções, e um partido nada mais é que essa expressão. Aqueles que compreendem a existência de um partido apenas num período eleitoral, só reforçam a falsa democracia representativa em que vivemos.

Nunca devemos esquecer que os ricos, os que dominam e controlam a sociedade, nunca abriram mão de se organizar em seus partidos e nem defendem isso. Para os explorados e aqueles que buscam transformar a sociedade, esse discurso muda, e apresenta-se que a reivindicação será mais “pura” ou “plena” se distante dos partidos. Na verdade querem evitar a possibilidade de unir as reivindicações e questionar o centro do sistema e a sua dinâmica.

Os “de cima” tem todos os motivos para temer que os “de baixo” se organizem. A ditadura militar, para tentar impedir a resistência e a organização do povo, proibiu a existência dos partidos. Não adiantou. Os partidos, mesmo na clandestinidade, mantiveram-se firmes e tiveram papel decisivo na mobilização popular contra a ditadura.

O que ganhamos nós ao reprimir a presença dos partidos? Seremos mais livres se impedirmos que as pessoas, por sua livre iniciativa, optem por participar de partidos ou apenas reforçamos os objetivos da grande mídia e da burguesia? O que está em jogo é fortalecer a nossa luta, e portanto devemos unir todas as nossas forças nessas mobilizações.

Rafael Pires é membro da Coordenação Nacional da UJR

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