domingo, 7 de agosto de 2011

Em memória a Otacílo Batista

Comumente lembramos de nossos falecidos parentes com ar de muita tristeza. Mas na família do grande repentista e cantador popular Otacílio Batista, lembrar dele no dia de sua morte é sinal de muita música, poesia e repente para relmbrar dos momentos em que esteve vivo.

Nada de lágrimas nem de tristeza. Só alegria e orgulho em manter viva a memória do pai. Assim, filhos, netos, amigos e cantadores mais uma vez estiveram presentes na noite de ontem no Sindicato dos Bancários em João Pessoa para relembrar Otacílio no VIII Tributo a Otacilio Batista - A poesia vive.

Aqui vai minha homenagem a este grande cantador reproduzindo a sua obra mais conhecida, "Mulher nova, bonita e carinhosa, faz o homem gemer sem sentir dor" que tenho certeza todos conhecem mesmo sem saber a história desta figura.

Mulher Nova Bonita e carinhosa
(Otacílio Batista e Zé Ramalho)

Numa luta de gregos e troianos
Por Helena, a mulher de Menelau
Conta a história que um cavalo de pau
Terminava uma guerra de dez anos
Menelau, o maior dos espartanos
Venceu Paris, o grande sedutor
Humilhando a família de Heitor
Em defesa da honra caprichosa
Mulher nova, bonita e carinhosa
Faz o homem gemer sem sentir dor.

A mulher tem na face dois brilhantes
Condutores fiéis do seu destino
Quem não ama o sorriso feminino
Desconhece a poesia de Cervantes
A bravura dos grandes navegantes
Enfrentando a procela em seu furor
Se não fosse a mulher mimosa flor
A história seria mentirosa
Mulher nova, bonita e carinhosa
Faz o homem gemer sem sentir dor.

Virgulino Ferreira, o Lampião
Bandoleiro das selvas nordestinas
Sem temer a perigos nem ruínas
Foi o rei do cangaço no Sertão
Mas um dia sentiu no coração
O feitiço atrativo do amor
A mulata da terra do condor
Dominava uma fera perigosa
Mulher nova, bonita e carinhosa
Faz o homem gemer sem sentir dor.

Otacilio Batista faleceu aos 79 anos (completaria 80 em setembro) no dia 05 de agosto de 2003.

Apesar de nascido em Itapetim, distrito de São José do Egito, no sertão do Pajeú, foi em João Pessoa onde fez morada e construiu sua familia. Fez dupla de repente e cantoria com os irmãos Dimas e Lourival (o "louro") participando de vários festivais pelo país afora, tendo sido lembrado em versos pelo Poeta Manuel Bandeira dessa forma:

“Saudações aos cantadores”

Anteontem, minha gente,
Fui juiz numa função
De violeiros do Nordeste
Cantando em competição,
Vi cantar Dimas Batista,
Otacílio, seu irmão,
Ouvi um tal de Ferreira,
Ouvi um tal de João.
Um a quem faltava um braço
Tocava cuma só mão;
Mas como ele mesmo disse,
Cantando com perfeição,
Para cantar afinado,
Para cantar com paixão,
A força não está no braço,
Ela está no coração.
Ou puxando uma sextilha,
Ou uma oitava em quadrão,
Quer a rima fosse em inha
Quer a rima fosse em ao,
Caíam rimas do céu,
Saltavam rimas do chão!
Tudo muito bem medido
No galope do Sertão.
A Eneida estava boba,
O Cavalcanti bobão,
O Lúcio, o Renato Almeida,
Enfim toda comissão.
Saí dali convencido
Que não sou poeta não;
Que poeta é quem inventa
Em boa improvisação
Como faz Dimas Batista
E Otacílio seu irmão;
Como faz qualquer violeiro,
Bom cantador do Sertão,
A todos os quais humilde
Mando minha saudação.”

Para mim, o Tributo a Otacílio, que hoje é organizado pela sua família juntamente com O Sebo Cultural, deveria estar contido na agenda oficial da cidade de João Pessoa, afinal, por coincidência do destino o seu falecimento coincidiu com a data da fundação da cidade que tanto amava, João Pessoa. É apenas uma idéia, quem sabe alguém leva em frente!?

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