segunda-feira, 29 de outubro de 2012
A valorização da virgindade
Segundo o psicologista Paul Bloom, nascido em 1963, e autor do livro How Pleasure Works,
o termo virgindade aparece, nada menos, do que setecentas vezes, no
Antigo Testamento, e ocupa lugar ainda mais central no Cristianismo, com
o suposto nascimento virginal de Jesus.
Não cabendo ao cronista discutir assuntos ligados ao transcendente,
ressalto um fato que a mídia destaca hoje: o leilão terminou e o lance
vencedor atingiu 780 mil dólares, pelo direito à primeira noite com a
catarinense Catarina Migliorin (foto)i. Como se trata de
psicoginecologia, eu tenho todo o direito de dar a minha opinião. A
fêmea humana deixou de anunciar o seu período fértil, como o faz a maior
parte das primatas, ficando muito mais difícil, para o macho, ter a
certeza de que o filho que ele criará é, mesmo, seu.
Uma maneira utilizada para aumentar as chances de as crianças serem
legítimas era copular, preferencialmente, com mulheres virgens. Antes,
porém, de maldizer o processo que levou a fêmea humana a esconder a
ovulação, gerando milênios de opressão, é bom lembrar que a ocultação do
estro resultou no sexo recreacional, e na formação de relações
duradouras, entre homens e mulheres.
Se esconder o cio era válido no Pleistoceno (época geológica que
começou há cerca de um milhão e setecentos e cinquenta mil anos, e
terminou, aproximadamente, há dez mil anos), não faz mais nenhum
sentido, no mundo moderno, em que a mulher pode controlar sua
fertilidade, e existem exames de DNA à disposição dos homens mais
desconfiados, dar tanto valor àquela pequena membrana.
Antes de prosseguir seria bom relembrar o que dizem sobre o cio (o
período de fertilidade). Ele é um estado de receptividade sexual
extrema, pelo qual passam as fêmeas de muitos mamíferos, tais como
alguns primatas e morcegos, com exceção das mulheres. O período varia de
sete a quinze dias, porém, em alguns casos, pode se estender um pouco
mais, ou um pouco menos. No caso das primatas, por exemplo, o cio ocorre
duas vezes por ano, ou seja, de seis em seis meses, estando elas ativas
para o ato sexual, apenas, naquele período. Em relação às mulheres, por
sua vez, a atividade sexual pode ocorrer em qualquer ocasião do ciclo.
Confesso que me afligem várias perquirições, tais como esta, ensinada
por minha avó. Por que nós comemos mais ovos de galinhas do que de
patas? Justamente, pelo fato de que as primeiras sabem fazer propaganda
(um grande estardalhaço), do seu produto, enquanto que as segundas põem
seus ovos sem barulho.
Em pleno século XXI, algumas culturas continuam valorizando a
virgindade como um objeto precioso, sagrado, sendo preciso ser guardado a
“sete chaves”. E os machões, face à camuflagem do cio escondido,
oculto, sem cheiro, da qual as mulheres são dotadas, pagam um alto preço
para passarem, com elas, a primeira noite. Neste sentido, acredito que a
jovem catarinense está certíssima! Ela vai ganhar um bom dinheiro, para
entregar uma simples abstração, que a maioria das adolescentes oferece,
gratuitamente, aos seus namorados, e, as demais mulheres, aos seus
amados.
Se há algo chocante nessa estória é o valor que nós, homens, ainda
atribuímos à virgindade, como se estivéssemos no período Pleistoceno.
Não há dúvida alguma: hoje, o conceito de virgindade oscila entre uma
relíquia mental da pré-história e, em sociedades conservadoras, uma
forma desumana de manipular e tiranizar a mulher.
quarta-feira, 24 de outubro de 2012
Sobre as quengas
(...)João Pessoa está em 2º lugar no ranking nacional de Assassinatos de mulheres. A violência contra a mulher em João Pessoa é uma dura realidade a ser encarada, para assim talvez ser minimamente resolvida. Lembrem-se, que seremos guardas municipais desta cidade onde, repito, 2ª onde mais se matam mulheres em nosso país.
Agora sobre o termo quenga, que hoje é usado como sinônimo de mulher vil, prostituta, vadia, e que não merecem respeito. “as casas primitivas do interior de Alagoas em particular e de vasto território do Brasil eram feitas de taipa, onde se usa madeira nas paredes e barro. Pois bem. O barro era amassado com os pés e muito comumente em mutirão. Para dar ritmo ao trabalho e torná-lo mais agradável, o pessoal passou a usar a cuia do coco cortada ao meio para bater uma parte contra a outra, fazendo aquele barulhinho no ritmo. Essa cuia se chama quenga no Nordeste.
...escolas colocaram no currículo o estudo do folclore regional e em certo tempo os alunos levavam duas quengas para dançar o coco nas aulas de folclore. Como já diz a letra do Rei do Baião: "Toda menina quando enjoa da boneca é sinal que o amor..." Pois de vez em quando, alguma menina zarpava da aula e saia pelas ruas atrás dos seus namoricos mais ou menos apimentados. Vai daí que a vizinhança botava reparo e dizia: Lá vai a outra com suas quengas ladeira abaixo. Assim as quengas (cuias) do coco emprestaram o nome às que gostavam de gazetar aulas e dar seus pulinhos por ai.”¹
Substituo agora, quenga por vadia, visto que na atualidade e o tom pejorativo cabem a mesma “sujeita”. Após diversos casos de estupro, quando um policial convidado para orientar a comunidade sobre segurança disse que as mulheres poderiam evitar o estupro se “não se vestissem como vadias”, Infeliz comentário. Pois se ser vadia é escolher uma roupa, ou exercer a sexualidade livremente, frequentar esse ou aquele local, é motivar a violência contra a mulher, então todas são vadias e deixam de ser vítimas. Lembro, do caso de Queimadas-PB, onde cinco mulheres foram estupradas em uma festa, todas vadias, duas foram mortas. Fico pensando de forma geral, aqui no nordeste, um calor arretado, nós mulheres andando somente a luz do Sol e com burcas, para não ofender a moral e não incitar a violência.
O sistema, esse estado de coisas, já é tão cruel, nos educa com diversos preconceitos e intolerâncias. Talvez caiba a nós, estarmos atentos para não reproduzir essa mesma intolerância. Podemos também impedir, questionar e até nos negar a aceitar conceitos. Ter sensibilidade e respeito pelo ser humano, lutar por uma sociedade melhor e de pessoas melhores.
"Três paixões, simples, mas irresistivelmente fortes, governam minha vida: o desejo imenso de amar, a procura do conhecimento e a insuportável compaixão pelo sofrimento da humanidade." (Bertrand Russel)
Alexandra Camilo
João Pessoa – PB, 10 de outubro de 2012
*Texto publicado em um grupo do Facebook de concursados da Guarda Municipal de João Pessoa
segunda-feira, 22 de outubro de 2012
Fidel Castro está agonizando
Bastou uma mensagem aos formandos do primeiro curso do Instituto de
Ciências Médicas “Victoria de Girón”, para que o galinheiro da
propaganda imperialista se alvoroçasse e as agências informativas se
lançassem com infâmia voraz para as mentiras. Não só isso, mas em suas
notícias adicionaram ao paciente as mais absurdas estupidezes.
Por Fidel Castro, no CubaDebate
Foto: Alex Castro
O jornal ABC da Espanha publicou que um médico venezuelano
radicado em ninguém sabe onde, revelou que Castro sofreu um derrame na
artéria cerebral direita, “posso dizer que não voltaremos a vê-lo
publicamente”. O suposto médico, que se é abandonaria primeiro seus
próprios compatriotas, qualificou o estado de saúde de Castro como
“muito perto do estado neurovegetal”.
Apesar de muitas pessoas no mundo serem enganados pelos meios de
comunicação de massa — quase todos em mãos dos privilegiados e ricos,
que publicam estupidezes — os povos acreditam cada vez menos neles.
Ninguém gosta de ser enganado; até o mais incorrigível mentiroso espera
que lhe digam a verdade. Todo mundo acreditou em abril de 1961, nas
informações publicadas pelas agências de notícias, que os invasores
mercenários de Girón e ou Baía dos Porcos, como quiserem chamar, estavam
chegando a Habana, quando na realidade alguns deles tentavam chegar
infrutiferamente em botes até os navios de guerra ianques que os
escoltavam.
Os povos aprendem e a resistência cresce diante da crise capitalista
que se repete cada vez com maior frequência; nenhuma mentira, repressão
ou armas novas, poderão impedir a queda de um sistema de produção
crescentemente desigual e injusto.
Há alguns dias, perto do 50º aniversario da “Crise de outubro”, as
agências indicaram três culpáveis; Kennedy, um recém-chegado à liderança
do império, Khrushchev y Castro. Cuba não tinha nada a ver com armas
nucleares, nem com a matança desnecessária de Hiroshima e Nagasaki,
perpetrada pelo presidente dos Estados Unidos, Harry S. Truman, que
institui a tirania das armas nucleares. Cuba defendia seu direito à
independência e à justiça social.
Quando aceitamos a ajuda soviética de armas, petróleo, alimentos e
outros recursos, foi para nos defender dos planos ianques de invadir a
nossa Pátria, submetida a uma suja e sangrenta guerra que este país
capitalista nos impôs desde os primeiros meses, a custo de milhares de
vidas e mutilados cubanos.
Quando Khrushchev propôs instalar mísseis de médio alcance semelhante
aos que os Estados Unidos tinham na Turquia — ainda mais perto da URSS
que Cuba dos Estados Unidos — como uma necessidade solidária, Cuba não
vacilou em aceitar tal risco. Nossa conduta foi eticamente
irrepreensível. Nunca pediremos desculpa a ninguém pelo que fizemos. O
certo é que transcorreu meio século e ainda continuamos de cabeça
erguida.
Gosto de escrever e escrevo; gosto de estudar e estudo. Há muitas
tarefas na área dos conhecimentos. Nunca as ciências, por exemplo,
avançaram em tão surpreendente velocidade.
Deixei de publicar Reflexões porque certamente não é meu papel ocupar
as páginas da nossa imprensa, consagrada em outras tarefas em que o
país precisa.
Aves de mau agouro! Não lembro sequer o que é uma dor de cabeça. Como
evidência de quão mentirosos são, os presenteio com as fotos que
acompanham este artigo.
Fidel Castro Ruz
domingo, 21 de outubro de 2012
PRESTE ATENÇÃO
Preste atenção nos danos
que são irreversíveis
Voce tem que viver com eles
que são irreversíveis
Voce tem que viver com eles
e suas consequencias!
Preste atenção nos planos
que são concebíveis
Voce tem que lutar por eles
e suas abrangências!
Preste atenção nos anos
que correram, impassíveis
Voce tem que viver sem eles
Mas preserve suas essências!
Da poeta Arlete Guimarães
sábado, 20 de outubro de 2012
O povo brasileiro quer justiça (ou Carminha, Nina e a justiça na telinha)
Por josehlucas
Novela
é um gênero literário. Nem tão extenso como um romance e nem tão curto
quanto um conto. Porém pode ser mais densa e complexa que qualquer um
dos dois outros gêneros. Há novelas de conteúdo com qualidade artística
inestimável como Noites Brancas (Dostoiévski), O Alienista (Machado de
Assis), A Metamorfose (Kafka) e talvez a primeira novela escrita,
Decameron (Boccaccio). Quase sempre as novelas estão entre as obras mais
vendidas dentre as obras dos autores, talvez por uma empatia com o
público popular causada pela trama envolvente e em ritmo acelerado que
aguça o pensamento em perspectiva das pessoas.
Com o advento do rádio, esse gênero se reciclou e assumiu a forma da
radionovela (não que as novelas escritas tenham desaparecido, ainda
existem muitas). Com a narração e entonação de voz diferente das
personagens, além do fato da organização em capítulos diários (com a
estratégia de deixar sempre suspense de um dia para o outro) esse gênero
rapidamente atingiu as massas populares e consagrou autores como
Oduvaldo Vianna (pai do Vianinha) e Gilberto Martins; além de atores e
atrizes como Silvia Cardoso, Maria Ieda, Luiz Carlos e Magalhães e José
Lucas (um xará bem mais famoso em seu tempo). Isso foi nas décadas de
30, 40 e 50 do século passado.
Nas décadas de 70 e 80 do século passado se consolidou no Brasil,
servindo inclusive como artigo de exportação, uma nova flexão deste
mesmo gênero: a telenovela. Com a popularização dos aparelhos
televisivos, a natural migração, que já havia ocorrido quando da
popularização dos rádios, aconteceu de forma rápida e rapidamente
transformou-se em fenômeno nacional. Títulos como Pecado Capital e Selva
de Pedra (Janete Clair), Roque Santeiro, O Bem Amado e Irmãos Coragem
(Dias Gomes) e as mais recentes Vale Tudo, Anos Rebeldes e Insensato
Coração (Gilberto Braga), foram sucessos nacionais atingindo níveis
altíssimos de audiência e tendo seus capítulos finais discutidos na boca
do povo.
Portanto, podemos concluir que a novela sempre foi um gênero popular,
que contava fantasticamente ou realisticamente a vida da população e,
muitas vezes com um nível de complexidade psicológica e qualidade
artística acima da média. A qualidade artística e a complexidade
psicológica são questionáveis, mas a popularidade da novela Avenida
Brasil (João Emanuel Carneiro) é pública e notória. E por isso, hoje, no
último capítulo dessa novela, os índices de audiência também foram
enormes. E neste mesmo instante, nas redes sociais, uma parcela da
juventude universitária, sobretudo, comenta pejorativamente o fato de
milhões assistirem a novela e julgam todos como alienados, idiotas e
estúpidos. Parece mais fácil do que tentar entender profundamente.
O tema central da novela é o fato de que a personagem da excelente atriz
Adriana Esteves (Carminha) realizar e planejar diversas maldades e
trambiques e ter em sua antagonista a boa atriz Débora Falabella (Nina)
uma mocinha não menos maliciosa e cruel. Do meio para o fim da trama, a
vilã vai se enredando cada vez mais no emaranhado de fatos que não se
concatenam e é exatamente a expectativa de vê-la ser derrotada e pega
com a “boca na butija” que fez com que a novela fosse crescendo em
público até o final.
Portanto, num país onde poderosos e grandes
especuladores vivem impunemente do espólio de suas falcatruas, o
sentimento de justiça da população passa a ser espelhado num final onde
Carminha será condenada por assassinato e suas mentiras e traições
acabam sendo condenadas juntamente. Junte-se a isso futebol, enredos
amorosos e um povo trabalhador e feliz de um bairro do subúrbio e temos
um imenso sucesso televisivo.
Até aí tudo bem. O problema é que, sendo um veículo de transmissão dos
pensamentos da classe dominante de nosso país, a televisão através da
telenovela passa exatamente essas mesmas ideias. Num momento onde a
grande imprensa tenta criar um sentimento de euforia popular com o
julgamento do mensalão e a condenação de corruptos e corruptores que
culpados dos crimes que são acusados, não o são mais do que os mesmos
corruptos que privatizaram o país na década de 90 do século passado e
não são sequer investigados ou apontados como vilões pelos jornais
nacionais, veículos que são dessa mesma classe dominante. Neste mesmo
momento histórico, vem a fala da mãe do Tufão no capítulo final, ao
saber da prisão da Carminha: “ainda dizem que não existe justiça nesse
país!”. Será por acaso?
Outra ideia difícil de engolir, é o argumento implícito nos tapas que
Carminha leva ao ser descoberta como vilã. Apanha do marido e de outras
pessoas num clima de “justiça” satisfeita, ou seja, quando a mulher é
culpada não tem problema apanhar. Esse argumento levado ao absurdo, pode
ser aplicado a mulher que serve a comida fria, que não satisfaz o
parceiro na cama, que não ‘cuida bem’ dos filhos e por aí vai.
Além do mais, os pobres da novela tem um poder aquisitivo muito maior do
que a média da população pobre do Brasil, claramente com objetivo de
alterar no inconsciente coletivo, a realidade econômica do povo. Porém, é
óbvio que a cada vez que a crise econômica se aprofunda e o poder de
compra dos trabalhadores diminui, fica mais desmascarada essa tática, e
as pessoas já comentam na rua esse fato com desdém.
Não adianta nada se achar intelectualizado o suficiente para desprezar a
grande massa que vê seus anseios respondidos por uma estória na
telinha. Quem despreza o sentimento da maioria e se julga superior pelo
simples fato de não assistir uma novela, só pode estar extremamente
alienado da realidade pela qual passa a sociedade brasileira. Se o
conjunto da sociedade faz uma determinada coisa é porque o sentimento
geral, os anseios gerais estão de certa forma representados nessa
determinada coisa. É óbvio que quem detém os meios de comunicação coloca
suas ideias e preconceitos no meio desses anseios, no intuito de
massifica-los, quase sempre com sucesso.
É necessário entender esses anseios e trabalhar por todos os meios,
principalmente artisticamente, para desmistificar e desmascarar os
argumentos mentirosos dessas estórias e chegar conjuntamente com o povo
brasileiro a conclusão de que não existe justiça no Brasil exatamente
porque essa classe dominante toma conta dos meios de comunicação, dos
tribunais de justiça, dos meios de produção e de tudo o mais. Que só
haverá justiça quando nós, o povo brasileiro, deixemos de ser
(tele)espectadores e passemos a ser atores e atrizes da vida do país.
sexta-feira, 19 de outubro de 2012
Quando a opinião pública dos Estados Unidos vai dizer basta para a matança de inocentes?
de Medea Benjamin
Medea Benjamin, 60 anos, escritora americana, é cofundadora do Codepink,
um grupo de defesa dos direitos humanos. Ela tem se batido
particularmente, nos últimos tempos, contra os drones — os aviões de
guerra que não têm tripulação.
No dia 29 de maio, o New York Times publicou uma análise
profunda sobre o papel do presidente Obama em relação à autorização dos
ataques feitos pelos drones americanos no exterior, particularmente no
Paquistão, no Iêmen e na Somália. É de arrepiar ver a fria e macabra
facilidade com a qual o presidente e seu pessoal decidem quem irá viver e
quem irá morrer. O destino de pessoas que vivem a milhares de
quilômetros de distância é decidido por um grupo de americanos, eleitos
ou não eleitos, que não falam sua linguagem, não conhecem sua cultura,
não entendem seus motivos e valores. Embora afirmem representar a maior
democracia do mundo, os líderes americanos estão colocando, em uma lista
de pessoas para serem mortas jovens que não têm a oportunidade de se
render e certamente não têm também a oportunidade de serem julgadas em
um tribunal.
Quem está fornecendo ao presidente e seus assessores uma lista de
suspeitos de terrorismo entre os quais devem escolher os que serão
mortos, aleatoriamente? O tipo de informação usado para colocar as
pessoas nas listas é o mesmo tipo de informação usado para colocar
pessoas em Guantânamo. Lembre-se de como o público americano foi
assegurado de que os prisioneiros trancafiados em Guantânamo eram “os
piores de todos”, só para descobrir depois que centenas deles eram gente
inocente que tinha sido vendida para o exército americano por caçadores
de recompensa.
Sendo assim, por que razão o público deveria acreditar no que o
governo de Obama diz sobre as pessoas que estão sendo mortas por drones?
Especialmente tendo em vista que, como vimos no New York Times, o
governo apareceu com uma solução para fazer com que a taxa de morte de
civis fosse a menor possível: simplesmente considerar homens com
determinada idade – aquela em que podem estar com guerreando — como
inimigos. A alegação é que “pessoas em uma área onde há uma atividade
terrorista recorrente, ou encontradas com um um militante de alto
escalão da Al-Qaeda, certamente possuem más intenções”. Ao menos quando
Bush atirou militantes suspeitos em Guantânamo, suas vidas foram
poupadas.
Em acréscimo às listas de morte, Obama concedeu à CIA a autoridade de
matar com ainda maior facilidade, usando ataques baseados unicamente em
comportamento suspeito. Homens dirigindo caminhões com fertilizantes
podem ser fabricantes de bombas – mas também podem ser fazendeiros.
Harold Koh, assessor jurídico de Obama, insiste em que essa matança é
legal sob a lei internacional porque os Estados Unidos têm direito à
autodefesa. É verdade que todas as nações possuem o direito de se
defender, mas a defesa deve ser contra um ataque iminente e esmagador
que se aproxima e não há tempo para um momento de deliberação.
Quando a nação não está em um conflito armado, as regras são ainda
mais rigorosas. A matança só pode acontecer quando é necessária para
proteger a vida e quando não há outros meios, tais como a captura ou a
incapacitação não-letal, para prevenir a ameaça à vida. Fora de uma zona
ativa de guerra, então, é ilegal o uso de drones, que são armas de
guerra incapazes de capturar um suspeito vivo.
Pense no precedente que os Estados Unidos estão fixando com sua
doutrina de mate-não-capture. Se a justificativa americana fosse
aplicada por outros países, a China poderia declarar que um ativista da
etnia uigur que vive em Nova York é um “combatente inimigo” e lançar um
míssil em Manhattan; a Rússia poderia afirmar que é perfeitamente legal
iniciar um ataque de drone contra alguém que vive em Londres, se
suspeitarem que a pessoa em questão tem algum tipo de ligação com
militantes chechenos.
Ou considere o caso de Luis Posada Carriles, um cubano naturalizado
venezuelano que vive em Miami, um terrorista condenado por ter
planejado, em 1976, um bombardeio em um avião cubano. Carriles matou 73
pessoas. Levando-se em conta o fracasso do sistema jurídico dos Estados
Unidos, o governo cubano poderia alegar que tem direito de mandar um
drone para o centro de Miami para matar um terrorista confesso e inimigo
jurado.
Um antigo diretor da CIA afirmou que a estratégia de usar drones é
“perigosamente sedutora”, porque o custo é pequeno, não implica em
baixas no exército e tem um aspecto de resistência. “Ela é útil para o
mercado interno”, ele disse, “e é impopular em outros países. Qualquer
dano no interesse nacional só aparece a longo prazo”.
Mas um artigo publicado no Washington Post mostra que o dano
não é a longo prazo, e sim imediato. Após entrevistar mais de vinte
líderes tribais, parentes de vítimas, ativistas de direitos humanos e
oficiais de Iêmen do sul, o jornalista Sudarsan Raghavan concluiu que os
ataques estão radicalizando a população local e aumentando a simpatia
pela al-Qaeda e por seus militantes. “Os drones estão matando os líderes
da al-Qaeda”, disse Mohammed al-Ahmadi, coordenador de um grupo local
de direito humanos, “mas também estão os transformando em heróis”.
Até mesmo o artigo do New York Times reconhece que o
Paquistão e o Iémen estão menos estáveis e mais hostis aos Estados
Unidos desde que Obama se tornou o presidente e desde que os drones se
tornaram um petulante símbolo do poder americano atropelando a soberania
nacional e assassinando inocentes.
Shahzad Akbar, um advogado paquistanês que está processando a CIA a
favor das vítimas dos drones, diz que já é hora de o povo americano se
pronunciar. “Você pode confiar em um programa que existe há oito anos,
escolhe seus alvos em segredo, não enfrenta qualquer responsabilidade e
que matou, apenas no Paquistão, quase três mil pessoas cuja identidade é
desconhecidas pelos seus assassinos?”, ele pergunta. “Quando as
mulheres e crianças do Paquistão são mortas com mísseis, os
paquistaneses acreditam que é isso que o povo americano quer. Eu
gostaria de perguntar para os americanos, ‘é isso?’”
TEXTO TRADUZIDO POR CAMILA NOGUEIRA
quinta-feira, 18 de outubro de 2012
Documentos comprovam que Jango era monitorado pela Operação Condor
de Agência Brasil
Por Ana Graziela Aguiar*
Deposto pelo golpe militar em 1964, o ex-presidente João Goulart, o Jango, exilou-se com a família no Uruguai e, depois, na Argentina. No entanto, mesmo depois de retirado da Presidência da República, continuou sendo alvo do regime militar. Fotos e documentos exclusivos do Arquivo Nacional, obtidos pela TV Brasil, mostram que João Goulart era vigiado pelos militares, inclusive em momentos privados, como durante a festa de aniversário em que comemorou 55 anos.
Para o neto de Jango, Christopher Goulart, o avô sabia que era vigiado, porém isso não o incomodava. “Ele não se importava muito, não era uma coisa que o incomodava”.
Um documento do Serviço Nacional de Informação (SNI) mostra que as correspondências do ex-presidente eram constantemente lidas e analisadas pelos militares. No próprio documento, datado de 1966, um agente militar revelou que as cartas de Jango eram obtidas de forma clandestina. Em outro documento, o Centro de Informações do Exterior (Ciex) traz informações sobre uma viagem de Jango para a Argentina. A partir dos detalhes da viagem, os militares classificaram que Jango estava se preparando para retornar ao Brasil.
Para o historiador e coordenador do curso de História da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), Enrique Padrós, João Goulart foi vítima da Operação Condor, ação conjunta de seis países sul-americanos, inclusive o Brasil, para reprimir opositores às ditaduras militares da região. A operação foi criada oficialmente em 1975, mas começou antes, como mostra a reportagem da TV Brasil. “Ele foi sistematicamente vigiado, foi sistematicamente atingido, com essa coisa de infiltrarem pessoas ou, talvez, infiltrarem mecanismos para obter informações”, completa.
Em 6 de dezembro de 1976, Jango morreu na cidade argentina de Mercedes, onde também viveu durante o exílio. A certidão de óbito diz que o ex-presidente foi vítima de um ataque cardíaco. A família, no entanto, suspeita das circunstâncias da morte de Jango, pelo fato de que o ex-presidente estava se organizando para voltar ao Brasil com o intuito de atuar contra o regime militar. “É claro que é muito suspeita [a morte de Jango]. É óbvio que é muito suspeita e, enquanto for suspeita, tem que se investigar”, defende Christopher Goulart.
João Goulart durante parada nos Estados Unidos em 5 de abril de 1962. Foto: Dick DeMarsico / Livraria do Congresso Americano
Deposto pelo golpe militar em 1964, o ex-presidente João Goulart, o Jango, exilou-se com a família no Uruguai e, depois, na Argentina. No entanto, mesmo depois de retirado da Presidência da República, continuou sendo alvo do regime militar. Fotos e documentos exclusivos do Arquivo Nacional, obtidos pela TV Brasil, mostram que João Goulart era vigiado pelos militares, inclusive em momentos privados, como durante a festa de aniversário em que comemorou 55 anos.
Para o neto de Jango, Christopher Goulart, o avô sabia que era vigiado, porém isso não o incomodava. “Ele não se importava muito, não era uma coisa que o incomodava”.
Um documento do Serviço Nacional de Informação (SNI) mostra que as correspondências do ex-presidente eram constantemente lidas e analisadas pelos militares. No próprio documento, datado de 1966, um agente militar revelou que as cartas de Jango eram obtidas de forma clandestina. Em outro documento, o Centro de Informações do Exterior (Ciex) traz informações sobre uma viagem de Jango para a Argentina. A partir dos detalhes da viagem, os militares classificaram que Jango estava se preparando para retornar ao Brasil.
Para o historiador e coordenador do curso de História da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), Enrique Padrós, João Goulart foi vítima da Operação Condor, ação conjunta de seis países sul-americanos, inclusive o Brasil, para reprimir opositores às ditaduras militares da região. A operação foi criada oficialmente em 1975, mas começou antes, como mostra a reportagem da TV Brasil. “Ele foi sistematicamente vigiado, foi sistematicamente atingido, com essa coisa de infiltrarem pessoas ou, talvez, infiltrarem mecanismos para obter informações”, completa.
Em 6 de dezembro de 1976, Jango morreu na cidade argentina de Mercedes, onde também viveu durante o exílio. A certidão de óbito diz que o ex-presidente foi vítima de um ataque cardíaco. A família, no entanto, suspeita das circunstâncias da morte de Jango, pelo fato de que o ex-presidente estava se organizando para voltar ao Brasil com o intuito de atuar contra o regime militar. “É claro que é muito suspeita [a morte de Jango]. É óbvio que é muito suspeita e, enquanto for suspeita, tem que se investigar”, defende Christopher Goulart.
Depoimentos do ex-espião do serviço de inteligência da polícia
uruguaia Mário Neira alimentam a teoria de assassinato. Preso em Porto
Alegre há mais de dez anos por crimes como contrabando de armas, Neira
disse que uma operação foi montada para envenenar Jango. A decisão,
segundo ele, foi tomada em uma reunião com representantes do governo
uruguaio, do Serviço de Inteligência Americano (CIA) e o delegado Sérgio
Fleury, então chefe do Departamento de Ordem Política e Social (Dops)
de São Paulo. “Foi uma operação muito prolongada e a gente não sabia que
teria como objetivo a morte do presidente João Goulart”, relatou.
Segundo Neira, os remédios de Goulart, que sofria de problemas do coração, foram trocados por
comprimidos com uma substância que acelerava os batimentos cardíacos e provocava uma parada cardíaca. “Os remédios vieram da França e foram recebidos na gerência do Hotel Liberty. Foi um araponga que foi colocado neste hotel, porque os remédios ficavam em uma caixa-forte, uma caixinha mesmo de segurança. Em cada frasco, foi colocado um comprimido, apenas um comprimido com o composto que tinha uma ação que provocaria uma parada cardíaca. Acho que ele tomou coincidentemente naquela noite [o veneno], porque todo o relato da dona Maria Tereza [mulher de Jango] fala dos sintomas que encaixam com o que acontece quando a pressão sobe, baixa constrição dos vasos.”
Com base no depoimento de Neira, a família de João Goulart pediu uma investigação ao Ministério Público Federal (MPF). Mas o processo foi arquivado pela Justiça sob o argumento de que o crime prescreveu.
Com a impossibilidade de investigação no Brasil, o procurador federal Ivan Marx recorreu à Justiça argentina. “Fui até Paso de Los Libres [próxima à cidade de Mercedes], na Justiça Federal argentina competente, e solicitei uma investigação sobre a morte do João Goulart. Existe a Lei de Anistia e todo esse problema que hoje estamos tentando processar no Brasil, mas, diante de todas as dificuldades, achei importante provocar a Justiça argentina, pois o fato ocorreu lá. Eles têm uma competência territorial para investigar os fatos”, explicou.
O historiador Enrique Padrós defende esclarecimentos sobre a morte de Jango. “É muito grave um país como o Brasil, até hoje, não ter certeza de como faleceu o único presidente que morreu fora, exilado.”
A TV Brasil iniciou segunda-feira 15 a exibição da série jornalística, com quatro reportagens, sobre a Operação Condor. Até o dia 19, o Repórter Brasil Noite vai exibir uma reportagem, sempre às 21h, com reprise no Repórter Brasil Manhã, às 8h. Depoimentos completos, fotos e documentos estão disponíveis no portal da Empresa Brasil de Comunicação (EBC), no endereço www.ebc.com.br/operacaocondor.
*Publicado originalmente na Agência Brasil
Segundo Neira, os remédios de Goulart, que sofria de problemas do coração, foram trocados por
comprimidos com uma substância que acelerava os batimentos cardíacos e provocava uma parada cardíaca. “Os remédios vieram da França e foram recebidos na gerência do Hotel Liberty. Foi um araponga que foi colocado neste hotel, porque os remédios ficavam em uma caixa-forte, uma caixinha mesmo de segurança. Em cada frasco, foi colocado um comprimido, apenas um comprimido com o composto que tinha uma ação que provocaria uma parada cardíaca. Acho que ele tomou coincidentemente naquela noite [o veneno], porque todo o relato da dona Maria Tereza [mulher de Jango] fala dos sintomas que encaixam com o que acontece quando a pressão sobe, baixa constrição dos vasos.”
Com base no depoimento de Neira, a família de João Goulart pediu uma investigação ao Ministério Público Federal (MPF). Mas o processo foi arquivado pela Justiça sob o argumento de que o crime prescreveu.
Com a impossibilidade de investigação no Brasil, o procurador federal Ivan Marx recorreu à Justiça argentina. “Fui até Paso de Los Libres [próxima à cidade de Mercedes], na Justiça Federal argentina competente, e solicitei uma investigação sobre a morte do João Goulart. Existe a Lei de Anistia e todo esse problema que hoje estamos tentando processar no Brasil, mas, diante de todas as dificuldades, achei importante provocar a Justiça argentina, pois o fato ocorreu lá. Eles têm uma competência territorial para investigar os fatos”, explicou.
O historiador Enrique Padrós defende esclarecimentos sobre a morte de Jango. “É muito grave um país como o Brasil, até hoje, não ter certeza de como faleceu o único presidente que morreu fora, exilado.”
A TV Brasil iniciou segunda-feira 15 a exibição da série jornalística, com quatro reportagens, sobre a Operação Condor. Até o dia 19, o Repórter Brasil Noite vai exibir uma reportagem, sempre às 21h, com reprise no Repórter Brasil Manhã, às 8h. Depoimentos completos, fotos e documentos estão disponíveis no portal da Empresa Brasil de Comunicação (EBC), no endereço www.ebc.com.br/operacaocondor.
*Publicado originalmente na Agência Brasil
Suspiros...
Não saber o que você pensa
Não saber o que você quer
Querer te ver
Não saber se te terei
Não saber a deixa de te ligar
Não saber onde te beijar
Querer te ter.
Por: Skarllety Fernandes
terça-feira, 16 de outubro de 2012
sexta-feira, 12 de outubro de 2012
Preciso Me Encontrar
Deixe-me ir
Preciso andar
Vou por aí a procurar
sorrir prá não chorar
Deixe-me ir
Preciso andar
Vou por aí a procurar
sorrir prá não chorar...
Quero assistir ao sol nascer
Ver as águas dos rios correr
Ouvir os pássaros cantar
Eu quero nascer
Quero viver...
Deixe-me ir
Preciso andar
Vou por aí a procurar
sorrir prá não chorar
Se alguém por mim perguntar
Diga que eu só vou voltar
Depois que me encontrar...
Quero assistir ao sol nascer
Ver as águas dos rios correr
Ouvir os pássaros cantar
Eu quero nascer
Quero viver...
Deixe-me ir
Preciso andar
Vou por aí a procurar
sorrir prá não chorar...
Deixe-me ir preciso andar
Vou por aí a procurar
Sorrir prá não chorar
Deixe-me ir preciso andar
Vou por aí a procurar
sorrir prá não chorar...
Preciso andar
Vou por aí a procurar
sorrir prá não chorar
Deixe-me ir
Preciso andar
Vou por aí a procurar
sorrir prá não chorar...
Quero assistir ao sol nascer
Ver as águas dos rios correr
Ouvir os pássaros cantar
Eu quero nascer
Quero viver...
Deixe-me ir
Preciso andar
Vou por aí a procurar
sorrir prá não chorar
Se alguém por mim perguntar
Diga que eu só vou voltar
Depois que me encontrar...
Quero assistir ao sol nascer
Ver as águas dos rios correr
Ouvir os pássaros cantar
Eu quero nascer
Quero viver...
Deixe-me ir
Preciso andar
Vou por aí a procurar
sorrir prá não chorar...
Deixe-me ir preciso andar
Vou por aí a procurar
Sorrir prá não chorar
Deixe-me ir preciso andar
Vou por aí a procurar
sorrir prá não chorar...
quinta-feira, 11 de outubro de 2012
E no país da ditadura,rs: Eleições em Cuba: quem indica os candidatos é o povo!
Por Vania Barbosa
Artigo publicado originalmente no Jornalismo B Impresso
Desvinculado
do modelo partidarista o sistema eleitoral cubano possibilita o
exercício livre da cidadania com a escolha dos candidatos pelos próprios
eleitores, o que incentiva o alto índice de comparecimento às eleições,
mesmo que o voto não seja obrigatório. Para concorrer não é necessário
que o candidato seja filiado a qualquer partido político.
De acordo com
o estabelecido na Constituição da República e na Lei Eleitoral nº 72,
de 29 de outubro de 1992, o Conselho de Estado de Cuba convocou, no
último 5 de julho, eleições gerais para delegados às Assembleias
Municipais, Provinciais e Nacional do Poder Popular. Em uma primeira
etapa, no dia 21 de outubro os eleitores elegem, para um mandato de dois
anos e meio, os delegados às Assembleias Municipais, e em 28 de
outubro, em segundo turno, nas localidades onde nenhum dos candidatos
tenha obtido 50% dos votos válidos mais um. Os delegados às Assembleias
provinciais e à Assembleia Nacional do Poder Popular serão eleitos por
um período de cinco anos, em uma nova data a ser estabelecida. Está
prevista a participação de cerca de 8,5 milhões de cubanos.
Desvinculado
do modelo partidarista o sistema eleitoral cubano possibilita o
exercício livre da cidadania com a escolha dos candidatos pelos próprios
eleitores, o que incentiva o alto índice de comparecimento às eleições,
mesmo que o voto não seja obrigatório. Os candidatos não são indicados
por partidos e sim pelos cidadãos maiores de 16 anos que automaticamente
são inscritos no Registro Eleitoral, sem custos ou burocracia. Conforme
o Artigo 3º da Lei Eleitoral, o voto é livre, igualitário e secreto, e o
cidadão está protegido contra punições, multas ou sanções no trabalho
caso se abstenha de votar, ao contrário do que ocorre em outros países.
Os membros das Forças Armadas têm direito a votar, eleger e a ser
eleitos.
Após a
convocação das eleições, no início de julho, mais de 170 mil cubanos –
representantes de todos os setores sociais do país – se qualificaram
como autoridades eleitorais para integrar as comissões provinciais,
municipais e de circunscrição que conduzem o processo de escolha dos
delegados e, posteriormente, validam os resultados. Desde o último dia 3
de setembro e até o dia 29, a população participa das mais de 50.900
assembleias – organizadas também pela Comissão Eleitoral Nacional (CEN) –
e ali indica, abertamente, os delegados que concorrem às Assembleias
Municipais e Provinciais e à Assembleia Nacional do Poder Popular,
eleitos mediante voto em urna, direto e secreto.
Os encontros
são realizados em cerca de 29.500 circunscrições eleitorais e cada
eleitor pode indicar um candidato entre os moradores residentes na área
e, inclusive, de outra área pertencente à mesma circunscrição, caso seja
necessário. Seguindo a legislação eleitoral – dependendo do número de
habitantes – cada área terá entre dois e oito candidatos, tudo para
garantir outras opções aos votantes e a indicação de pessoas com
“méritos, capacidade, condições e possibilidades de representar a
população”. A circunscrição eleitoral é uma divisão territorial do
município a partir do número de seus habitantes, e se constitui em
célula fundamental do Sistema do Poder Popular.
Desde o dia
22 de setembro foram divulgadas as listas dos candidatos para que a
população as revise e, caso necessário, solicite adequações ou emendas,
através das autoridades eleitorais. As alterações poderão ser feitas até
a primeira quinzena de outubro e a partir daí tem inicio os
preparativos para a etapa inicial das eleições, no dia 21 do mesmo mês.
Segundo dados
da CEN, desde 1976, quando entrou em vigor a atual Constituição, mais
de 95 por cento dos eleitores inscritos têm participado das eleições.
Nas últimas eleições para deputados votaram cerca de 8 milhões de
cubanos, cifra que superou 98 por cento de participação e com baixo
índice de votos nulos ou em branco. Em Cuba, o registro de eleitores
para as eleições gerais 2012-2013 conta com cerca de 8,5 milhões de
cubanos, em um país de 11 milhões de habitantes.
A propaganda eleitoral
Outra
característica no processo eleitoral cubano é a ausência de marketing e
custos com propaganda, fatores que em outros países favorecem candidatos
com maior poder econômico ou implicam na necessidade de obtenção de
fundos para eleger um representante. As praças e as ruas são limpas de
painéis ou panfletos e os candidatos não precisam disputar ou pagar
espaços nos jornais, rádios e televisões. Também não ocorrem campanhas
difamatórias entre os candidatos. A propaganda é feita pelas autoridades
eleitorais que são responsáveis por publicar, na área de residência dos
eleitores, as foto dos candidatos – todas em um mesmo formato e tamanho
– e uma síntese da sua biografia.
Para
concorrer não é necessário que o candidato seja filiado a qualquer
partido político e as regras são as mesmas para todos os cargos do Poder
Popular. As candidaturas deverão ser antes apresentadas por alguma
organização ou movimento social e submetidas à consideração da
Assembleia do Poder Popular da circunscrição correspondente, além de
aprovadas pelos delegados. Será considerado eleito aquele que obtenha
mais da metade dos votos válidos dos eleitores. 50% das vagas são
garantidas às mulheres.
Após eleger o
seu representante a população participa das discussões e decisões mais
importantes. Também, a qualquer momento o mandato poderá ser revogado
pela maioria dos eleitores caso o eleito não cumpra com as obrigações
assumidas em sua base eleitoral. Não existe remuneração para o exercício
do mandato e os eleitos permanecem exercendo suas profissões e
recebendo o salário correspondente ao seu trabalho.
A Composição
atual do Poder Popular se dá da seguinte forma: Assembleia Nacional do
Poder Popular; Assembleias Provinciais do Poder Popular, em cada uma das
15 províncias, além do município especial da Isla de la Juventud;
Assembleias Municipais, nos 169 municípios; 1540 Conselhos Populares,
cada um agrupando várias circunscrições eleitorais e integrados pelos
seus delegados, dirigentes de organizações de massas e representantes de
entidades administrativas; circunscrições eleitorais, ainda que não
pertençam de forma orgânica à estrutura do sistema do Poder Popular ou
do Estado são fundamentais antes e após o processo eleitoral.
O Presidente, o Conselho de Estado e o Conselho de Ministros
Tanto os
membros do Conselho de Estado como os do Conselho de Ministros são
indicados pelos delegados eleitos para a Assembleia Nacional do Poder
Popular. Considerando o Art.74 da Constituição da República de Cuba, o
Conselho de Estado é formado por um presidente, um Primeiro
Vice-Presidente, cinco Vice-Presidentes e um Secretário.Para ser
Presidente do Conselho de Estado é necessário antes ser eleito deputado
com mais de 50% dos votos válidos, diretos e secretos da população e, em
nova votação, deverá alcançar mais de 50% dos votos secretos dos
parlamentares.
O Partido Comunista Cubano
Há muitas
dúvidas ou distorções que pairam sobre a existência de um partido único
em Cuba, o Partido Comunista Cubano, e a relação que isso tem com a
democracia. De acordo com a Constituição cubana, durante o processo
eleitoral o PCC não indica candidatos e nem faz campanha a favor de seus
militantes. Por se diferenciar do conceito clássico de partidos
políticos se mantém em sua condição de força dirigente superior da
sociedade com a missão de representar os interesses de todo o povo e não
somente os da sua militância.
O Partido não
tem ingerência na Assembleia Nacional do Poder Popular e nem no
governo, e só após consulta à população, via assembleias, apresenta
propostas para serem apreciadas nestas instituições. Em processos
eleitorais ocorridos até hoje já foram eleitos inúmeros militantes do
PCC, indicados pelas assembleias populares em razão dos seus méritos
pessoais e compromissos com a sociedade, e não pela sua militância no
Partido. Um importante papel exercido pelo PCC é o de acompanhar e
garantir o cumprimento das leis do país, entre elas, a Lei Eleitoral.
Vania Barbosa jornalista e presidente do Conselho Deliberativo da Associação Cultural José Martí/RS.
Campanha permanente pela carta de amor
POR Xico Sá
A carta escrita à mão, com local de origem, data, saudações, motivos, despeço-me por aqui, papel fininho e pautado, pelos Correios, portadores ou menino de recados.
Como canta o rei Roberto, escreva uma carta, meu amor, e diga alguma coisa por favor.
Agora Beatles: Ô, mr. Postman!
Tem também aquele do Waldick Soriano, nosso Johnny Cash baiano: “Amigo, por favor leve essa carta/ e diga àquela ingrata/ como está meu coração…”
É nossa campanha permanente pela volta da carta de amor, manifesto sempre repetido neste blog.
Chega de SMS e emails lacônicos e apressados. Debruce a munheca sobre o papiro e faça da tinta da caneta o seu próprio sangue.
Não temas a breguice, o romantismo, como já disse o velho Pessoa, travestido de Álvaro de Campos, todas cartas de amor são ridículas, e não seriam de amor se ridículas não fossem.
A carta, mesmo com todas as modernidades e invencionices, ainda é o melhor veículo para declarar-se, comunicar afinidades e iniciar um feitio de orações.
O que você está esperando, vá ali na esquina, compre um belo papel e envelopes, e se devote.
Se tiver alguma rusga, peça perdão por escrito, pois perdão por escrito vale como documento de cartório.
Se o namoro ainda não tiver começado, largue a mão dessas cantadas baratas e internéticas e atire a garrafa aos mares.
Uma boa carta de amor é irresistível. Mas não vale copiar aqueles modelos que vêm nos livros. Sele o envelope com a língua, como nas antigas, lamba os selos, esse pré-beijo dos lábios da futura amada.
De novo o cliclê de Pessoa, para encorajá-los mais ainda: “As cartas de amor, se há amor, têm de ser ridículas”.
Às moças é consentido, além dos floreios e da caligrafia mais arrumadinha, a reprodução de um beijo, com batom bem vermelho, ao final, perto da assinatura.
Que os amigos,e não apenas os amantes, se correspondam, fazendo dos envelopes no fundo do baú as suas histórias de vida.
Pela volta da carta, que já é por si só uma maneira devota, um tempo que se tira, sem pressa, para dedicar-se a quem se gosta. Pela volta da carta, pois o que se diz numa carta é de outra natureza, é o bem-querer em tom solene.
O que você está esperando, meu amigo, minha amiga, largue esse cronista de lado e debruce-se sobre a escrivaninha. Uma mesa de bar ou de um café também são bons lugares para assentar as suas mal-traçadas linhas.
Lembrei-me agora de um começo clássico de missivas: “Venho por meio desta dar-te as minhas notícias e ao mesmo tempo saber das tuas…”
quarta-feira, 10 de outubro de 2012
Cidade cubana recupera trajetória de Che durante a revolução
Santa Clara tem diversas homenagens ao guerrilheiro, morto há 45 anos na Bolívia
09/10/2012
Luciana Taddeo,
de Santa Clara, Cuba
Estátua simboliza a saída do guerrilheiro para cumprir nova missão designada a ele por Fidel Castro Foto: Aldo Jofre Osorio/Opera Mundi |
Com
a estridente buzina que alerta a aproximação do trem, a ferrovia cubana
destruída em dezembro de 1958 se mantém ativa. Cheio de passageiros, o
trem que conecta o leste de Cuba a Havana cumpre seu trajeto revivendo a
história ao passar pelo museu a céu aberto ¨Ação contra o trem
blindado¨, em Santa Clara, cidade localizada a 270 km da capital.
Quatro
vagões que descarrilharam e foram atacados a tiros pelos
revolucionários liderados por Ernesto Che Guevara estão expostos em uma
praça construída no local do confronto, que resultou na rendição dos
soldados do ditador Fulgencio Batista. Dentro de cada um, a história do
evento que marcou a vida dos habitantes de Santa Clara está contada.
Em
um deles, uma carta intitulada ¨Ao Povo de Santa Clara¨ avisava aos
moradores que o exército rebelde já se encontrava na cidade, ¨um dos
últimos redutos da tirania¨ na província. Segundo o documento, as forças
revolucionárias já ocupavam a maior parte da cidade. ¨Acreditamos que
dentro de breves horas poderemos anunciar aos locais e ao povo de Cuba
que Santa Clara já é cidade livre¨.
¨Mas o ânimo
da vitória, a satisfação e a alegria acumulada através de quase sete
anos de terror não devem se desbordar em manifestações populares, já que
o exército da tirania ainda ocupa posições dentro da cidade, posições
das quais em breve serão desalojados¨, diz um trecho da carta, assinada
pela seção provincial de propaganda do movimento revolucionário 26 de
Julho.
Che e Camilo Cienfuegos no museu da revolução, em Havana, em
uma das homenagens ao argentino - Foto: Aldo Jofre Osorio/Opera Mundi
|
Entre
as orientações transmitidas no documento estavam a de que a população
saísse de casa somente em caso de urgência, a evacuação de famílias que
morassem perto de regiões conflitivas, e a prestação do maior apoio
possível aos membros do exército rebelde e a organizações
revolucionárias clandestinas.
¨As cartas eram
impressas precariamente nas montanhas e repassadas clandestinamente aos
moradores. Um lia e passava para o outro, e assim a informação ia sendo
transmitida¨, explicou ao Opera Mundi Eneida López Peralta, responsável
de Relações Internacionais do Partido Comunista Cubano (PCC) da
província de Villa Clara, localizada no setor que, na época da
revolução, era denominado Las Villas.
No museu,
também está exposto um dos tratores utilizados para a deformação dos
trilhos que, levantados, provocaram o descarrilamento do trem e, depois
de hora e meia de combate, a subida da bandeira branca da rendição dos
militares.
Imagem do museu do trem blindado, na cidade de Santa Clara, em Cuba
Foto: Aldo Jofre Osorio/Opera Mundi
|
Todos
os moradores da cidade têm lembranças ou relatos para contar sobre os
confrontos na região naquele ano. Os mais velhos recordam momentos de
tensão constante pelos bombardeiros indiscriminados do exército, em uma
vã tentativa de sufocar a guerrilha. E contam como a população se uniu o
Che e seus combatentes, atirando coquetéis molotov em cima e embaixo
dos vagões, já que suas paredes foram previamente blindadas com chapas
de metal e areia.
¨Não escutei uma grande
explosão quando o trem descarrilhou, mas sim muitos tiros. Lembro de ter
me escondido embaixo da cama¨, conta o aposentado santaclarenho José
Socarrán, que tinha 15 anos na época do confronto, ocorrido a apenas
alguns metros de sua casa.
Os mais jovens, por
sua vez, reproduzem com detalhes as histórias que escutam desde
pequenos, sobre a importância da cidade para o triunfo da revolução.
Batista renunciaria e fugiria rumo à República Dominicana dias depois do
ataque, que impediu o transporte das de armas pesadas e munições
destinadas a fortalecer suas tropas, já debilitadas.
Mausoléu e homenagens
Autodenominada
¨Cidade do Che¨, Santa Clara abriga o mausoléu do revolucionário
argentino e de outros combatentes mortos na Bolívia. Os restos mortais
de Che chegaram a Cuba em 1997, após anos de desconhecimento sobre sua
localização no país andino.
A urna com os restos
mortais foi exposta inicialmente em Havana e depois transladada a Santa
Clara em uma carreata que passou por diferentes cidades do país. No dia
da inauguração do mausoléu, o próprio Fidel Castro ascendeu a chama da
imortalidade e fez um discurso em homenagem ao Che, lembra o museólogo
do local, Faustino Moriano Morales.
Dispostas em
uma espécie de cova inspirada na selva boliviana, com pouca iluminação, o
mausoléu pode ser visitado por grupos reduzidos. O uso de câmeras
fotográficas e filmadoras não são permitidas no recinto, localizado na
parte traseira a uma alta estátua do guerrilheiro, e diversos painéis
esculturais no qual seus dizeres e imagens em ação são retratados.
Em
frente ao mausoléu, um museu narra a vida do guerrilheiro desde sua
infância, com uma réplica de sua estátua quando criança, que também pode
ser vista na cidade argentina de Alta Gracia, onde Che também viveu
quando era jovem, e que hoje funciona como um museu.
Histórias de combates entre Che e o exército de Fulgencio Batista são contadas
pelo povo de Santa Clara - Foto: Aldo Jofre Osorio/Opera Mundi
|
A
poucos metros dali, uma escultura doada a Cuba pelo artista Casto
Solano Marroyo está exposta no comitê provincial do PCC, que abrigou a
segunda comandância das tropas rebeldes em Santa Clara. Repleta de
mini-esculturas por todo o corpo e roupa, a obra é rica em expressões
sobre a vida do revolucionário argentino.
A
estátua de Che caminhando com uma criança nos braços simboliza a saída
do guerrilheiro desta comandância em janeiro de 1959 para cumprir a nova
missão designada a ele por Fidel Castro: ocupar Morro Cabaña, um forte
localizado em Havana, que servia como uma poderosa unidade militar de
Batista, e que hoje é mais um dos pontos que narram a história do
revolucionário argentino em Cuba.
A poucos metros
do complexo, está localizado o museu ¨Casa do Che¨, onde se exibe a
urna na qual os restos mortais do guerrilheiro foram transportados até
sua acomodação definitiva no mausoléu. Apesar do nome do espaço de
exposição, o local não funcionou como a casa familiar do argentino, mas
sim como ambiente de trabalho, com a convivência permanente dos
integrantes de sua coluna rebelde.
O Museu da
Revolução, instalado no lugar que funcionava como palácio presidencial
até a renúncia de Batista, compila diversos retratos do revolucionário
na luta rebelde. A exposição oferece uma narrativa da revolução cubana
ilustrada por fotos, documentos, réplicas e elementos originais – como o
barco Granma, exposto em um anexo no exterior do museu – da época.
quinta-feira, 4 de outubro de 2012
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