quarta-feira, 24 de outubro de 2012

Sobre as quengas


(...)João Pessoa está em 2º lugar no ranking nacional de Assassinatos de mulheres. A violência contra a mulher em João Pessoa é uma dura realidade a ser encarada, para assim talvez ser minimamente resolvida. Lembrem-se, que seremos guardas municipais desta cidade onde, repito, 2ª onde mais se matam mulheres em nosso país.
 
Agora sobre o termo quenga, que hoje é usado como sinônimo de mulher vil, prostituta, vadia, e que não merecem respeito. “as casas primitivas do interior de Alagoas em particular e de vasto território do Brasil eram feitas de taipa, onde se usa madeira nas paredes e barro. Pois bem. O barro era amassado com os pés e muito comumente em mutirão. Para dar ritmo ao trabalho e torná-lo mais agradável, o pessoal passou a usar a cuia do coco cortada ao meio para bater uma parte contra a outra, fazendo aquele barulhinho no ritmo. Essa cuia se chama quenga no Nordeste.
 
...escolas colocaram no currículo o estudo do folclore regional e em certo tempo os alunos levavam duas quengas para dançar o coco nas aulas de folclore. Como já diz a letra do Rei do Baião: "Toda menina quando enjoa da boneca é sinal que o amor..." Pois de vez em quando, alguma menina zarpava da aula e saia pelas ruas atrás dos seus namoricos mais ou menos apimentados. Vai daí que a vizinhança botava reparo e dizia: Lá vai a outra com suas quengas ladeira abaixo. Assim as quengas (cuias) do coco emprestaram o nome às que gostavam de gazetar aulas e dar seus pulinhos por ai.”¹
 
Substituo agora, quenga por vadia, visto que na atualidade e o tom pejorativo cabem a mesma “sujeita”. Após diversos casos de estupro, quando um policial convidado para orientar a comunidade sobre segurança disse que as mulheres poderiam evitar o estupro se “não se vestissem como vadias”, Infeliz comentário. Pois se ser vadia é escolher uma roupa, ou exercer a sexualidade livremente, frequentar esse ou aquele local, é motivar a violência contra a mulher, então todas são vadias e deixam de ser vítimas. Lembro, do caso de Queimadas-PB, onde cinco mulheres foram estupradas em uma festa, todas vadias, duas foram mortas. Fico pensando de forma geral, aqui no nordeste, um calor arretado, nós mulheres andando somente a luz do Sol e com burcas, para não ofender a moral e não incitar a violência.
 
O sistema, esse estado de coisas, já é tão cruel, nos educa com diversos preconceitos e intolerâncias. Talvez caiba a nós, estarmos atentos para não reproduzir essa mesma intolerância. Podemos também impedir, questionar e até nos negar a aceitar conceitos. Ter sensibilidade e respeito pelo ser humano, lutar por uma sociedade melhor e de pessoas melhores.
 
"Três paixões, simples, mas irresistivelmente fortes, governam minha vida: o desejo imenso de amar, a procura do conhecimento e a insuportável compaixão pelo sofrimento da humanidade." (Bertrand Russel)
 
Alexandra Camilo

João Pessoa – PB, 10 de outubro de 2012

*Texto publicado em um grupo do Facebook de concursados da Guarda Municipal de João Pessoa

Um comentário:

Anônimo disse...

Um pouco de música para sua postagem... http://letras.mus.br/antonio-vieira/145175/#selecoes/1828528/