Santa Clara tem diversas homenagens ao guerrilheiro, morto há 45 anos na Bolívia
09/10/2012
Luciana Taddeo,
de Santa Clara, Cuba
Estátua simboliza a saída do guerrilheiro para cumprir nova missão designada a ele por Fidel Castro Foto: Aldo Jofre Osorio/Opera Mundi |
Com
a estridente buzina que alerta a aproximação do trem, a ferrovia cubana
destruída em dezembro de 1958 se mantém ativa. Cheio de passageiros, o
trem que conecta o leste de Cuba a Havana cumpre seu trajeto revivendo a
história ao passar pelo museu a céu aberto ¨Ação contra o trem
blindado¨, em Santa Clara, cidade localizada a 270 km da capital.
Quatro
vagões que descarrilharam e foram atacados a tiros pelos
revolucionários liderados por Ernesto Che Guevara estão expostos em uma
praça construída no local do confronto, que resultou na rendição dos
soldados do ditador Fulgencio Batista. Dentro de cada um, a história do
evento que marcou a vida dos habitantes de Santa Clara está contada.
Em
um deles, uma carta intitulada ¨Ao Povo de Santa Clara¨ avisava aos
moradores que o exército rebelde já se encontrava na cidade, ¨um dos
últimos redutos da tirania¨ na província. Segundo o documento, as forças
revolucionárias já ocupavam a maior parte da cidade. ¨Acreditamos que
dentro de breves horas poderemos anunciar aos locais e ao povo de Cuba
que Santa Clara já é cidade livre¨.
¨Mas o ânimo
da vitória, a satisfação e a alegria acumulada através de quase sete
anos de terror não devem se desbordar em manifestações populares, já que
o exército da tirania ainda ocupa posições dentro da cidade, posições
das quais em breve serão desalojados¨, diz um trecho da carta, assinada
pela seção provincial de propaganda do movimento revolucionário 26 de
Julho.
Che e Camilo Cienfuegos no museu da revolução, em Havana, em
uma das homenagens ao argentino - Foto: Aldo Jofre Osorio/Opera Mundi
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Entre
as orientações transmitidas no documento estavam a de que a população
saísse de casa somente em caso de urgência, a evacuação de famílias que
morassem perto de regiões conflitivas, e a prestação do maior apoio
possível aos membros do exército rebelde e a organizações
revolucionárias clandestinas.
¨As cartas eram
impressas precariamente nas montanhas e repassadas clandestinamente aos
moradores. Um lia e passava para o outro, e assim a informação ia sendo
transmitida¨, explicou ao Opera Mundi Eneida López Peralta, responsável
de Relações Internacionais do Partido Comunista Cubano (PCC) da
província de Villa Clara, localizada no setor que, na época da
revolução, era denominado Las Villas.
No museu,
também está exposto um dos tratores utilizados para a deformação dos
trilhos que, levantados, provocaram o descarrilamento do trem e, depois
de hora e meia de combate, a subida da bandeira branca da rendição dos
militares.
Imagem do museu do trem blindado, na cidade de Santa Clara, em Cuba
Foto: Aldo Jofre Osorio/Opera Mundi
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Todos
os moradores da cidade têm lembranças ou relatos para contar sobre os
confrontos na região naquele ano. Os mais velhos recordam momentos de
tensão constante pelos bombardeiros indiscriminados do exército, em uma
vã tentativa de sufocar a guerrilha. E contam como a população se uniu o
Che e seus combatentes, atirando coquetéis molotov em cima e embaixo
dos vagões, já que suas paredes foram previamente blindadas com chapas
de metal e areia.
¨Não escutei uma grande
explosão quando o trem descarrilhou, mas sim muitos tiros. Lembro de ter
me escondido embaixo da cama¨, conta o aposentado santaclarenho José
Socarrán, que tinha 15 anos na época do confronto, ocorrido a apenas
alguns metros de sua casa.
Os mais jovens, por
sua vez, reproduzem com detalhes as histórias que escutam desde
pequenos, sobre a importância da cidade para o triunfo da revolução.
Batista renunciaria e fugiria rumo à República Dominicana dias depois do
ataque, que impediu o transporte das de armas pesadas e munições
destinadas a fortalecer suas tropas, já debilitadas.
Mausoléu e homenagens
Autodenominada
¨Cidade do Che¨, Santa Clara abriga o mausoléu do revolucionário
argentino e de outros combatentes mortos na Bolívia. Os restos mortais
de Che chegaram a Cuba em 1997, após anos de desconhecimento sobre sua
localização no país andino.
A urna com os restos
mortais foi exposta inicialmente em Havana e depois transladada a Santa
Clara em uma carreata que passou por diferentes cidades do país. No dia
da inauguração do mausoléu, o próprio Fidel Castro ascendeu a chama da
imortalidade e fez um discurso em homenagem ao Che, lembra o museólogo
do local, Faustino Moriano Morales.
Dispostas em
uma espécie de cova inspirada na selva boliviana, com pouca iluminação, o
mausoléu pode ser visitado por grupos reduzidos. O uso de câmeras
fotográficas e filmadoras não são permitidas no recinto, localizado na
parte traseira a uma alta estátua do guerrilheiro, e diversos painéis
esculturais no qual seus dizeres e imagens em ação são retratados.
Em
frente ao mausoléu, um museu narra a vida do guerrilheiro desde sua
infância, com uma réplica de sua estátua quando criança, que também pode
ser vista na cidade argentina de Alta Gracia, onde Che também viveu
quando era jovem, e que hoje funciona como um museu.
Histórias de combates entre Che e o exército de Fulgencio Batista são contadas
pelo povo de Santa Clara - Foto: Aldo Jofre Osorio/Opera Mundi
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A
poucos metros dali, uma escultura doada a Cuba pelo artista Casto
Solano Marroyo está exposta no comitê provincial do PCC, que abrigou a
segunda comandância das tropas rebeldes em Santa Clara. Repleta de
mini-esculturas por todo o corpo e roupa, a obra é rica em expressões
sobre a vida do revolucionário argentino.
A
estátua de Che caminhando com uma criança nos braços simboliza a saída
do guerrilheiro desta comandância em janeiro de 1959 para cumprir a nova
missão designada a ele por Fidel Castro: ocupar Morro Cabaña, um forte
localizado em Havana, que servia como uma poderosa unidade militar de
Batista, e que hoje é mais um dos pontos que narram a história do
revolucionário argentino em Cuba.
A poucos metros
do complexo, está localizado o museu ¨Casa do Che¨, onde se exibe a
urna na qual os restos mortais do guerrilheiro foram transportados até
sua acomodação definitiva no mausoléu. Apesar do nome do espaço de
exposição, o local não funcionou como a casa familiar do argentino, mas
sim como ambiente de trabalho, com a convivência permanente dos
integrantes de sua coluna rebelde.
O Museu da
Revolução, instalado no lugar que funcionava como palácio presidencial
até a renúncia de Batista, compila diversos retratos do revolucionário
na luta rebelde. A exposição oferece uma narrativa da revolução cubana
ilustrada por fotos, documentos, réplicas e elementos originais – como o
barco Granma, exposto em um anexo no exterior do museu – da época.
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