No meu tempo... Parênteses: sempre que um cronista começa a crônica
com “no meu tempo” significa que está sentimentalizando sua velhice para
não precisar lamentá-la, o que não interessaria a ninguém. No meu
tempo, como eu dizia quando me interrompi tão rudemente, ler ou ouvir um
“nome feio” fora de contexto era sempre uma felicidade.
Me lembro
da minha surpresa ao descobrir que havia nomes feios nos dicionários.
Agradávamos aos nossos pais, dando a impressão de que fazíamos uma
pesquisa etimológica séria no dicionário, quando na verdade estávamos
procurando “bunda”. No meu tempo, entre parênteses, “bunda” era nome
feio.
Em Porto Alegre, há muitos anos, existia uma loja chamada
Casa Carvalho. O nome da loja aparecia em letras aplicadas à sua fachada
e, dependendo da sua faixa etária e da sua disposição para pensar em
bobagem, você ou pertencia ao grupo que vivia em alegre expectativa do
dia em que o “v” de “Carvalho” caísse, ou ao grupo mais velho que vivia
em sobressalto com a possibilidade de isto ocorrer.
Que eu me
lembre, o desejado ou temido nunca aconteceu e a loja chegou ao fim dos
seus dias com o “Carvalho” intacto. Mas, durante toda a sua existência,
apenas aquele pequeno detalhe separou o estabelecimento do vexame e a
cidade de um abalo moral.
No Rio, entre Copacabana e Ipanema,
existe uma rua que eu já ouvi ser chamada de “Quase, quase”. Trata-se da
Bulhões de Carvalho, que depende apenas de uma letra para deixar de ser
um nome de família e se transformar numa raridade anatômica. No meu
tempo isto seria motivo para muita risada, mas como hoje não existe mais
“nome feio”, e até em conversa de criança palavrão é usado como
pontuação, perdeu a graça.
Posso imaginar um avô atual chamando a
atenção do neto para a consequência de um único erro de grafia no nome
da rua e o neto fazendo uma cara de “Me poupe”.
Eu e o hipotético
avô acima pertencemos à última geração que espantou o Condor, o que
explica nossa ingenuidade. Na apresentação dos filmes da distribuidora
Condor aparecia um pássaro condor na beira de um precipício pensando em
alçar voo, e era comum, era quase obrigatório, a plateia espantar o
condor, que sem este incentivo jamais voaria.
Nunca mais se espantou o condor, se é que o condor ainda existe. Olha aí, acabei me lamentando.
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