sexta-feira, 23 de julho de 2010

As FARC e a luta pela liberdade na Colômbia

Por Humberto Lima, direto do correia de transmissão

Imagine que no Brasil, no início dos anos 1980, os ex-presos e exilados políticos começassem a ser assassinados.

Imagine que Brizola, Arraes e Prestes, logo após regressarem do exílio, fossem mortos.

Também os fundadores do PT, Lula, Frei Betto, tivessem o mesmo destino. Junto com eles os principais filiados do MDB.

Que os militantes dos partidos comunistas PCR, MR8, PCB, PCdoB, PCBR conseguissem a liberdade de opinião apenas no papel mas que na prática continuassem sendo caçados por esquadrões de extermínio.

Se esse horrível cenário houvesse existido, o que teria acontecido com o Brasil?

Impossível responder essa questão, mas podemos ter uma boa idéia olhando para o que acontece com a Colômbia hoje.

Porque na Colômbia foi exatamente isso que a direita fez. Em 1985, as FARC propuseram suspender a luta armada, disputar as eleições e criar um partido legalizado, o Partido da União Patriótica (UP).

Em 1986, a UP elegeu 5 senadores, 14 deputados, 23 prefeitos e 351 vereadores. Além disso, o candidato a presidente, Jaime Pardo Leal, ficou em terceiro lugar com 4,6% dos votos, a maior votação de um candidato da esquerda revolucionária colombiana.

O que aconteceu depois?

Os militantes da UP começaram a ser perseguidos e assassinados pelo exército e por grupos paramilitares de direita. Dos eleitos, foram mortos 70 vereadores, 11 prefeitos e 13 deputados. Pardo Leal também foi morto.

Ao todo, entre 3 e 6 mil militantes e simpatizantes da UP foram assassinados. Outros milhares tiveram que partir para o exílio.

Em 1988, na cidade de Segóvia, 40 militantes da UP foram executados em praça pública por paramilitares com a conivência da polícia.

Em 1994, a UP perdeu seu último membro no parlamento quando o senador Manuel Cepeda Vargas foi assassinado.

Portanto, na Colômbia não há democracia.

O país vive em uma ditadura chefiada pela narcoburocracia que tomou conta do Estado. São inúmeras as ligações entre o governo e o tráfico. Inclusive com o próprio Álvaro Uribe.

O PIG e os países capitalistas fazem vistas grossas a esses crimes porque o governo colombiano é totalmente submisso aos interesses dos Estados Unidos, aceitando até a instalação de 7 bases norte-americanas em seu território.

As FARC e os demais comunistas colombianos são obrigados a recorrer às armas pois, diante da repressão política, essa é a única maneira de defender os interesses do povo.

O prolongamento da guerra civil na Colômbia é do interesse dos EUA e da narcoburocracia porque assim podem mascarar seu verdadeiro objetivo de rebaixar o país a uma mera colônia norte-americana.

Em 2008, o comandante Raul Reyes, assassinado numa operação ilegal em território equatoriano, declarou:

"Na Colômbia, como em outros países do continente, não deveria ser necessária a luta armada se houvesse outras condições. Mas por aqui já assassinaram e continuam assassinando a oposição revolucionária."

Para que haja paz na Colômbia é preciso que se reconheça a guerrilha como força beligerante nos termos da Convenção de Genebra, garanta a liberdade de opinião e de atuação política para todos os cidadãos e puna os assassinos e torturadores dos militantes da UP e das demais organizações populares.

Classificar as FARC como terroristas é fazer o jogo do imperialismo e impedir a paz na Colômbia. Não é à toa, portanto, que o candidato da direita, José Serra, faz questão de acusar as FARC como antes já havia acusado Evo Morales.

O PIG já percebeu isso e tenta transformar a ignorância de Índio da Costa em "mais um problema" para a campanha de Dilma.

Entretanto, o tiro pode sair pela culatra. Ao chamar atenção à situação do país vizinho, os reacionários podem ter criado, sem querer, o espaço propício para que seja desmascarada a farsa que é a atual "democracia" colombiana.

Nenhum comentário: