Excelentíssimo Senhor
Doutor José Eduardo Cardoso Ministro
Digníssimo Ministro da Justiça
Senhor Ministro,
A
Comissão de Familiares de Mortos e Desaparecidos Políticos da Ditadura
Militar foi tomada de triste surpresa com a notícia que saiu nos jornais
da grande imprensa de que um dos possíveis integrantes do aparato
repressivo, Sr. Cláudio Guerra, segundo sua própria confissão, foi
responsável pela morte e desaparecimento dos corpos de, pelo menos, 12
presos políticos, além de lideres camponeses e vitimas de grupos de
extermínio.
Alguns,
por volta de dez, foram incinerados num forno de uma Usina na cidade de
Campos, Estado do Rio de Janeiro, o que até nos faz lembrar o
holocausto ocorrido na 2ª. guerra mundial, no qual os nazistas mandavam
para os fornos, para morrerem incinerados, milhões de pessoas por serem
judeus, comunistas, ciganos, entre outros.
A
noticia estarrecedora vem acompanhada de nomes já conhecidos da
repressão política, como o Coronel Carlos Alberto Brilhante Ustra
(comandante do DOI-CODI do 2º. Exército) e outros mais. Até a morte de
um dos mais terríveis torturadores do país, Sérgio Paranhos Fleury,
delegado do DOPS de São Paulo foi um assassinato tramado nos bastidores
da Comunidade de Informações coordenado por aquele Coronel e realizado
pelos integrantes do CENIMAR (Centro de Informações da Marinha), segundo
as denúncias deste senhor Claudio Guerra.
Mais
uma vez os familiares de desaparecidos são atingidos e enxovalhados por
informações de um policial sobre seus parentes, cujos restos mortais
jamais lhes foram entregues, o que lhes faz sofrer ainda mais. Sempre
que se fala dos nomes de seus parentes desaparecidos com relatos sobre
como teria sido o seu fim, os familiares transbordam sua dor e lamentam
não terem informações oficiais e concretas.
O
descaso das autoridades machuca ainda mais as feridas abertas que
sangram até o presente momento. Serão verdadeiras as informações? Fica,
mais uma vez, a pergunta sem resposta. A dúvida persegue os familiares
que não obtiveram a resposta definitiva e contundente do estado
brasileiro até os dias de hoje. E perguntamos: até quando iremos
conviver com essa dúvida, com a falta de esclarecimentos sobre o fim de
cada um dos desaparecidos políticos? Até quando o estado brasileiro vai
nos negar o direito à verdade e à justiça?
Imagine
Vossa Excelência, como ficam parentes do dirigente comunista David
Capistrano e seu companheiro de militância política, José Roman, da
professora da Universidade de São Paulo, da Escola de Química, Ana Rosa
Kucinski, que teria sido estuprada antes de ser morta juntamente com seu
esposo, Wilson Silva, por seus algozes ou, de Fernando Augusto de Santa
Cruz, desaparecido desde 24 de fevereiro de 1974, cujo cadáver teria
sido incinerado, conforme as informações do policial?
Enfim,
imagine Vossa Excelência, como fica a sociedade brasileira, frente a
dor dos familiares que recebem tais denúncias sem que as autoridades do
poder publico digam-lhes uma palavra de solidariedade, uma palavra de
ânimo, uma palavra que lhes fortaleça e que lhes faça acreditar que
saberão toda a verdade. Muito menos ouvimos uma palavra que indique a
vontade política de apurar tais crimes.
Reiteramos,
portanto, que nos causou muita tristeza e dor não ter tido nenhuma
manifestação política no sentido de enfrentar a questão por parte do
governo federal. Afinal é papel do estado e de seus governantes apurar
crimes como estes. Nossos familiares tombaram por todo o povo brasileiro
que vivia sob uma ferrenha ditadura militar, sem voz, sem direito a se
organizar e participar, sem liberdade e sem justiça.
Estranhamos
o silêncio dos governantes, neste momento, porque afinal, temos tantas
pessoas do governo que também conheceram de perto e foram vitimas das
atrocidades da ditadura militar.
O
que podemos dizer-lhe é que seguiremos em busca da verdade e da justiça
em que pese a omissão dos governantes que, muitas vezes, nos deixam
ainda mais cheios de dor e tristeza.
Gostaríamos
que fossem tomadas todas as medidas cabíveis de forma imediata. A nossa
espera tem sido longa demais. Diante de afirmações como estas do
policial, o que podemos fazer, nós familiares de mortos e desaparecidos
políticos?
Atenciosamente,
Comissão de Familiares de Mortos e Desaparecidos Políticos
Em 03 de maio de 2012
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