sábado, 26 de maio de 2012

'Para fazer sucesso é preciso bregar', diz Reginaldo Rossi


Ficha Reginaldo Rossi (Foto: Arte/G1)


'A melhor coisa que me aconteceu foi ser tachado de rei do brega', afirma.
 
Cantor se define como 'Mozart do Nordeste' e considera todo hit cafona.
 
Lívia Machado Do G1, em São Paulo

Reginaldo Rossi não gosta de caviar. Diz que é refinado o suficiente para comer a iguaria todos os dias — sem pesar no bolso —, mas prefere um bom prato de arroz com feijão e calabresa. A mesma lógica aplica para sua música. Culto e inteligentíssimo, como se autodefine sem falsa modéstia, diz que teria todas as ferramentas intelectuais para compor à maneira de Chico Buarque.
 
(Ao longo desta semana, o G1 publica uma série de entrevistas com sete ícones da música brega. Famosos hzá cinco décadas, eles permanecem lançando CDs e hoje são reverenciados pela nova geração de cantoras da MPB)

“Eu entendo inglês, francês e espanhol. Fiz faculdade de engenharia. Estudei e poderia ter escrito: ‘Garçom, eu sei que estou sendo inconveniente, que todo alcoólatra no estado etílico é desagradável’ (..) Mas prefiro dialogar com o povão e cantar as dores do mundo de uma forma que tanto o pedreiro quanto o médico me entendam", afirma, com um exemplo de como seria um trecho do hit "Garçom" na forma culta.

Rossi carrega a coroa de "rei do brega" como um boné. Confortável no rótulo que recebeu ao longo dos anos, acredita que o apelido o fez um homem de sorte. No Nordeste, onde mora e faz muitos shows, é aclamado como um monarca. “Foi a melhor coisa que me aconteceu. Sou extremamente feliz assim.”
 
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Na visão do cantor, todo artista é brega por natureza, e os hits são feitos da cafonice universal. “Se não bregar, não vinga. Pra fazer sucesso em qualquer lugar do mundo é preciso bregar.”

Além de transformar o adjetivo em verbo, ele acredita que Roberto Carlos é o maior e melhor cantor de música brega do Brasil. Para Rossi, o amigo se tornou um produto tão forte que conseguiu se descolar do estigma, fenômeno que não foi vivenciado por ele e pelos demais colegas da dor de cotovelo.

Reginaldo Rossi rechaça apenas o rótulo de “produto de segunda classe”, definição dada pelo dicionário ao termo brega. “Não existem categorias para as músicas. O que é música brega e música sofisticada? Eu quebrei o estigma dos 'cornos' e uso a linguagem popular para cantar. É demérito gostar do que o povo gosta?”, questiona.

Escola de sedutores

Ao cantar sobre amor, sexo e traição, Reginaldo virou uma espécie de terapeuta universal. Nas ruas por onde passa, os fãs o agradecem por rimar aquilo que também sentem. Embora tenha batizado musicalmente o termo "corno" — problema recorrente do eu lírico de suas canções — ele garante que nunca sofreu desse mal.

“Todo mundo pensa que eu canto sobre esse assunto porque ja fui corno. Posso assegurar que nunca ninguém me colocou um par de chifres. Pra cantar é preciso ter sensibilidade, e não a cabeça pesada”, diverte-se Rossi. Casado há quase 40 anos, ele revela, sem receios, que é fiel há apenas uma década, mas jura amor eterno à esposa. "Ela é a mulher maravilha, brilhante."

A fama de mulherengo rendeu boas histórias e inúmeras aventuras. Uma das mais marcantes, segundo ele, ocorreu no Amazonas: “Durante todo o show eu fiquei de olho na moça mais bonita da festa, em um clube da cidade. Quando terminei a apresentação consegui encontrá-la. Passei a noite com ela em uma casinha de palafita. Quando acordei, oito crianças no pé da cama olhavam pra mim e gritavam: “o papai voltou”. Saí correndo desesperado com a calça na mão”.
 
Autoestima

Hoje, porém, não se sente mais capaz de arrebatar a moça mais bonita da plateia. “Agora eu já estou bem coroa, mas fui muito mulherengo, o bonitão das garotas. Eu saía com três ou quatro na mesma noite. Eu sou charmoso, fino, educado, culto e muito inteligente.”

No brega, não há limites para a autoestima. Quando é preciso definir a qualidade da própria voz, ele, assim como a maioria dos cantores ícones da vertente, se mostra um narcisista convicto. “Tenho uma voz forte, meio rouca. Voz de macho, voz de homem. Gosto muito.”

Reginaldo revela que vive muito bem com os shows que faz pelo país e pretende gravar um CD com releituras e músicas inéditas em 2013, projeto ainda sem corpo, só esboço. “Penso em lançar um disco de inéditas no ano que vem. Metade inédita, metade antigas. Não tenho laboratório, não tenho nada. Sou um artista desleixado. Mas sou o Mozart do Nordeste.”
 
Principais discos: O pão - 1966, Festa dos pães - 1967, O Quente - 1968, À procura de você - 1970, Reginaldo Rossi - 1971, Nos teus braços - 1972, Reginaldo Rossi - 1973, Chega de promessas - 1977, A volta - 1980, Cheio de amor - 1981, A raposa e as uvas - 1982, Sonha comigo -1983, Não Consigo Te Esquecer - 1984, Só Sei Que Te Quero Bem - 1985, Com Todo Coração - 1986, Teu Melhor Amigo - 1987, Momentos de amor - 1989, O rei - 1990, Reginaldo Rossi - 1992, Reginaldo Rossi ao vivo - 1998, Reginaldo Rossi the king - 1999, Popularidade-Reginaldo Rossi - 1999, Para Sempre -Reginaldo Rossi - 2001, Cabaret do Rossi - 2010.

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