terça-feira, 22 de maio de 2012

'Não entendo por que acham minha música brega', diz Beto Barbosa




Beto Barbosa agora só quer saber de compor
singles e publicá-los na web (Foto: Divulgação)

'A lambada de ontem é o forró e o sertanejo de hoje. Fui pioneiro', afirma.

Cantor rechaça rótulos e se considera tão cult quanto a bossa nova.
Lívia Machado Do G1, em São Paulo

Beto Barbosa começou sua carreira musical aos 30 anos. Deixou o ramo comercial e o sonho de ser empresário para cantar e dançar lambada. É autor de “Adocica” e “Preta”, hits tocados à exaustão nos anos 80, que ainda renascem nos carnavais da Bahia. Aos 57 anos, ele lança singles novos no site YouTube para manter-se ativo, e diz que se sente um homem visionário. Conta ter sido pioneiro ao unir música e dança em shows, casamento que hoje rende aos sertanejos lugares entre os 10 primeiros da Billboard.
 
(Ao longo desta semana, o G1 publica uma série de entrevistas com sete ícones da música brega. Famosos há cinco décadas, eles permanecem lançando CDs e hoje são reverenciados pela nova geração de cantoras da MPB)

“O forró com dançarinas no palco, o tecnobrega e o sertanejo de agora foram influenciados pela lambada que eu fazia antigamente. Eu comecei esse movimento, fui pioneiro.” Em 1985, quando inaugurou a requebrada nos palcos, Beto Barbosa era acompanhado por dançarinos. Um deles era o coreógrafo Carlinhos de Jesus.

Os passos de “Adocica”, aliás, foram criados pelo bailarino naquela época, mas também podem ser vistos nos shows da banda Calypso. Segundo Beto, o "bate cabelo" da cantora Joelma reproduz o que ele fazia no século passado. "Quem fazia esses movimentos era a Robertinha, minha bailarina e parceira do Carlinhos."
 
Igualdade
 
Beto Barbosa agora só quer saber de compor singles e publicá-los na web (Foto: Divulgação)É por sua contribuição no ramo musical que ele eleva o tom da voz quando questionado se o rótulo de brega o incomoda. “Eu não entendo, nem nunca entendi, por que chamam minha música de brega. Que diferença ela tem das demais? Eu sou tão cult quanto a bossa Nova.”(No vídeo, Beto se apresenta na edição de novembro de 1989 do programa musical Globo de Ouro)

 Para Beto, o verniz de subcultura que sua música dançante tem é um preconceito contra os nordestinos. “Desclassificar uma pessoa por raça, cor e opção sexual é crime. O mesmo deveria acontecer com esse preconceito que existe contra a música popular, oriunda da baixa renda e do Nordeste”, acredita.

A mesma agressividade não é vista no comercial de uma marca de cerveja da qual o cantor foi personagem. 

Na propaganda, Beto Barbosa é um dos "itens" considerados “queima-filme” em um churrasco entre amigos. Ele revela que aceitaria participar do comercial usando os demais acessórios citados como cafonas: terno verde de ombreiras, sunga de crochê, pochete e óculos escuros estilo new wave . Não se sentiu ofendido com o mote da campanha – adorou a ideia – e considera apenas uma brincadeira, sem nenhum juízo de valor.
Os balaios criados para definir gêneros musicais, entretanto, nunca o impediram de fazer sucesso. Ele acredita que conseguiu construir uma carreira sólida e se sente lisonjeado por ter suas canções regravadas, como é o caso de “Preta”, hit dos anos 80, que ganhou versão micareta ao ser interpretada por Ivete Sangalo.
 
Reino da lambada
 
Em seus shows, tais canções são obrigatórias. Embora ele se esforce para continuar quentinho no mercado, os antigos clássicos seguem aclamados pelo público. “Não posso deixar de cantar 'Adocica' e 'Preta' da mesma forma que o Roberto Carlos não pode deixar de cantar 'Emoções', e 'Desafinado' não pode faltar no show do João Gilberto.” Em cada apresentação, porém, ele garante que a música se renova. “Nunca canto da mesma maneira.”

Ainda assim, defende que o artista tem obrigação de produzir coisas novas. Para isso, divulga singles no YouTube e produz CDs em pequena escala para distribuí-los nos shows. “Não temos mais uma gravadora, lançamento, divulgação. Hoje vale produzir músicas, e não álbuns completos. É muito difícil emplacar uma nova canção. O que o Michel Teló conseguiu é raro atualmente.“
 
saiba mais

O último disco que lançou foi em 2011, com músicas inéditas e regravações próprias. Neste ano, espera cativar com a faixa “Acelera”, gravada em parceria com a banda de forró Aviões do Moído. Seus 25 álbuns o fizeram "um homem muito rico para os padrões brasileiros", segundo sua definição. Além de viver de shows — ele faz, em média, dois por semana —, Beto investe dinheiro em imóveis e lojas de departamento.
Solteiro, assume que o assédio já foi muito grande e perdura de forma menos intensa. Assim como acontecia com  Wando e segue acontecendo com Sidney Magal, ele também ganha inúmeras lingeries de suas fãs. Além das roupas íntimas, muitas bijuterias e flores são atiradas durante as apresentações. Todos os “bens” doados, entretanto, são deixados para trás ao final do show. O único presente que ele guarda com carinho é um terço de dedo, arremessado por uma fã durante um show em Fortaleza. “Sou católico praticante, guardei esse terço com carinho. O resto não tem condições.”
 
Principais discos: Girando no Salão 2010, Só as melhores 2008, Nova Série 2007, 30 anos Warner - Beto Barbosa 2006, Overdose de Amor 2005 , B alada: Uma explosão de alegria 2003, Grandes Sucessos e Inéditas 2002, Claridade 2001, Forroneirando 2000 , Dance e Balance com o Beto Barbosa 2000, Dance e Balance Ao Vivo 1999 , Popularidade 1999, Girando no Salão 1998, Beijo Selvagem 1997, Dança do Mel 1996, Navegar 1995 , Dose Dupla 1995 , Ritmos 1994, Beto Barbosa 1993, Cigana do Amor 1992 , Dona 1991, Preta 1990, Adocica 1988 , Símbolo Perfeito1987 e Atos e Fatos1985.

Nenhum comentário: