segunda-feira, 21 de maio de 2012

'Faço boleros, assim como Beatles e Roberto Carlos', afirma Odair José

 (Foto: Arte G1)

Produzido por Zeca Baleiro, ele lança ‘Praça Tiradentes’, seu 35° álbum.

Cantor diz que o brega não é vertente, muito menos seu estilo musical.
Lívia Machado Do G1, em São Paulo



Odair José tem um repertório de mais de 400 músicas lançadas, o suficiente, segundo ele, para uma estabilidade financeira que permite gravar apenas o que gosta - uma liberdade autoral que poucos artistas podem alegar honestamente que têm. Justamente por isso, ficou cinco anos sem produzir um disco de inéditas. Estimulado (e convencido) por Zeca Baleiro, músico e amigo, ele lançou neste mês "Praça Tiradentes", seu 35° álbum.

"Existe inspiração do compositor. Eu estou lançando um CD depois de cinco anos. Já gravei 34 discos e fiz mais de 400 músicas. Não preciso ficar recriando minha história", assevera ele.

(Ao longo desta semana, o G1 publica uma série de entrevistas com sete ícones da música brega. Famosos há 5 décadas, eles permanecem lançando CDs e hoje são reverenciados pela nova geração de cantoras da MPB)

Em 1970, Odair apimentou a dor de cotovelo, senso comum nas canções românticas, ao falar sobre anticoncepcional e prostitutas. É autor de sucessos como "Cadê você", que voltou a ser hit em 90 na voz da dupla Leandro e Leonardo. Por todos os feitos na cultura popular, foi chamado de “cantor das empregadas domésticas” e “Bob Dylan da Central do Brasil”. Nenhum dos codinomes o agrada.
“Nunca entendi essa comparação. Bob tem letras fantásticas, está acima de 10 Chicos Buarques. Eu não tenho essa capacidade. Faço boleros, assim como os Beatles e o Roberto Carlos. Se Paul McCartney fosse brasileiro, também teria sido tachado de brega.”

Na visão do cantor, suas composições não alcançaram apenas um extrato social. Usou como matéria-prima os temas de uma época e se define como “cronista da realidade”. Para ele, difícil não é compor com requinte. “O complicado mesmo é fazer o povo sair cantando e não esquecer o que você produziu. Música elaborada é muito mais fácil de fazer.”

Embora não se incomode em ser reconhecido como um dos reis do brega, não acha que o adjetivo seja sinônimo de uma vertente musical. Na visão do cantor, ele e os demais foram jogados em um balaio sem sentido e preconceituoso. Intelectuais e críticos desqualificaram o trabalho que fazia por conta da penetração de suas canções na baixa renda.
“Brega é uma coisa mal feita, sem qualidade, e isso tenho certeza não faço. Já fui cantor das prostitutas, das empregadas. Eu apenas faço meu trabalho e sempre quero que seja bem feito. Minha música é simples, entendida e aceita por um público também simples. É muito mais difícil ser cantor de brega do que de bossa nova.“
Odair José (Foto: Divulgação) 
Odair José condena os balaios criados por críticos para definir as produções nacionais  (Foto: Divulgação)

Tabus
Sem formação específica, Odair aprendeu a ser músico e compositor sozinho, ou “na rua”, onde acredita ter sido formado. Ao cantar em bares e bordéis, conheceu e conviveu com todo tipo de público. Uma de suas canções mais famosas, “Vou tirar você deste lugar”, sucesso nos anos 70, conta a história do que via ao se apresentar em boates no Rio de Janeiro.“Era comum, eu sabia de muitos casos de homens que se apaixonavam por prostitutas e sonhavam em se casar com elas, tirá-las dessa vida. Compus baseado no que eu via, ouvia enquanto trabalhava.”

 Como a maioria dos cantores românticos, defende que é preciso sentir para escrever e tocar, mas nem sempre suas letras refletem um episódio pessoal. Ele afirma que tem um carinho muito especial pelas prostitutas e não nega que também tenha se envolvido com algumas durante a vida, mas garante que seu maior sucesso não é autobiográfico. (No vídeo, Odair comenta sobre seu processo de composição em entrevista ao programa Fantástico em outubro de 1975).

“Toquei em tudo quanto é boate no Rio. Naquela época não tive relação com nenhuma moça porque eu era apenas o cara do violão. Não tinha dinheiro para ficar com nenhuma delas. Posteriormente, sim.”

Autobiografia

Produzido pelo persuasivo Zeca Baleiro, quem convenceu Odair a lançar um novo disco de inéditas, o trabalho durou dois anos e apresenta duas parcerias entre os cantores – uma delas volta a falar sobre garotas de programa.

“Eu relutei em fazer a melodia dessa música, é a terceira vez que gravo sobre o tema, mas acabei fazendo pela amizade com o Zeca Baleiro, que já tinha escrito a canção.” A inspiração de Baleiro veio durante uma gravação no programa Altas Horas, na Rede Globo. Zeca e Odair foram os convidados, junto com Bruna Surfistinha.

“Assistindo ao Odair cantar 'Vou tirar você deste lugar', com a Bruna lá no programa, achei tudo muito interessante, irônico e acabei escrevendo, mas não fizemos a música para ela”, explica Zeca Baleiro, que define a produção como um disco “super rock and roll.”
“Praça Tiradentes”, nome do novo álbum, lançado no ínicio deste mês, é uma homenagem ao Rio, cidade onde Odair foi morar e tentar a vida como músico aos 17 anos. “É uma pequena biografia, conta minha história.” Com o produto ainda quente no mercado, espera conseguir licença para tocar as novidades nos shows, já que o público sempre clama pelos grandes sucessos.

Ele garante que grava, hoje, por prazer e apenas quando sente que tem algo a dizer. “Estou entre os 20 homens que mais fizeram dinheiro neste país. Gosto de fazer shows e ganho com isso, mas o que construí (direitos autorais) deixaria até meus netos com estabilidade. Só produzo quando tenho vontade. Há momentos em que quero ficar calado.”

Principais discos: 1970 - Odair José, 1971 - Meu grande amor, 1972 - Assim sou eu..., 1973 - Odair José, 1974 - Lembranças, 1974 - Amantes, 1975 - Odair, 1976 - Histórias e Pensamentos, 1977 - O filho de José e Maria, 1978 - Coisas Simples, 1979 - Odair José, 1980 - Odair José, 1981 - Viva e deixe viver, 1982 - Só por amor, 1983 - Fome de amor, 1985 - Eu, você e o sofá, 1996 - As minhas canções, 1998 - Lagrimas, 2000 - Grandes Sucessos, 2001 - Ao Vivo, 2003 - Uma História, 2004 - Passado Presente, 2004 e 2006 - Só Pode Ser Amor.

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