De Marcelo Rubens Paiva (Estadão)
Imagine no Tribunal de Nuremberg a cena: Líderes e
participantes da Resistência Francesa como réus ao lado de nazistas,
oficialato da SS e chefes de campos de concentração, já que “os crimes”
dos 2 lados devem ser julgados.
Ou se De Gaulle, depois de entrar em Paris
libertando a França em 1944, tivesse de responder num tribunal numa
cidadela da Alemanha por seus crimes de guerra.
Bom lembrar que a maioria dos membros da resistência francesa,
espanhola, italiana e do Leste Europeu era de esquerda, como De Gaulle.
Muitos vieram das fileiras do Partido Comunista.
Independentemente do ideal, lutavam, arriscavam a vida, na
ilegalidade, com ações de terrorismo e sabotagem, para se livrar da
tirania nazista.
Um guerrilheiro francês de boina, comunista de carteirinha, deve ser julgado pela morte de um soldado nazista?
É o mesmo paralelo entre DILMA e seu torturador.
Mesmo, não, parecido. A presidente [ou presidenta, como preferem alguns] não matou ninguém
E sofreu um tipo de tortura que poucos soldados nazistas conheciam.
A quantidade de desinformação que tempos nebulosos geraram é tão grande, que 1 dos papeis da COMISSÃO DA VERDADE é justamente o de educar, debater, trazer à luz, informar.
Sou suspeito. Assumo.
Mas basta ler alguns leitores comentando o post anterior, para
confirmar o quão confusa, desinformada e tola é a discussão em torno do
dever de punir torturadores.
Se para a maioria dos juristas e órgãos internacionais [como OEA,
ONU, Tribunal de Haia] há uma unanimidade- tortura é um crime
imprescritível, e o Brasil deve rever e julgar seu passado- o debate
aqui se atola na ignorância e arrogância ideológica.
Júlio [ julio_zammer at yahoo.com.br] postou: O você faria se descobrisse que foi a Presidente da República que assassinou seu pai?
Se ele fosse chefe da tortura do DOI/Codi, ditador, líder nazista ou fascista? Não sei. Posso pular?
MB011 [ vorcaos at gmail.com]: Em
tempo: NAZISMO = Nacional SOCIALISMO. Nazismo é ideologia de ESQUERDA,
durmam com essa. Coloca esses aí na conta junto com os mais de 100
milhões de cadáveres espalhados pelo mundo. Essa é a “verdade” da
esquerda. Tão assassinos e psicóticos quanto os nazistas. Salve os
militares que nos salvaram dessa desgraça. Esquerda = escória do mundo!
Sem comentários. Só faltou escrever: ALN, Ação Libertadora Nacional;
ARENA, Aliança da Renovação Nacional. Tudo faria do mesmo saco,
comunistas safados.
Alex Malino: Essa Dilma é mesmo uma bandida, inventando isso
agora pra desviar mais uma vez a atenção do povo para o ESCANDALO DO
CARLOS CACHOEIRA, Q dito de passagem há muito o que explicar, e muitos
políticos aliados a ela envolvido. TOMA VERGONHA POVO BRASILEIRO, PARA
DE APANHAR KARAI….Q PORRA! Esquece essa ditadura já foi e passou, já
era, vá brigar com os AMERICANOS, eles q financiaram essa merda de
ditadura…. o povo burro esse brasileiro viu….acorda brasiiiiilllll
Interessante o email dele, vprpalmares at hotmail.com. Corruptela da organização em que Dilma tinha 1 papel secundário, a VAR-Palmares, junção da VPR com Colina, que não funcionou.
Rachou meses depois.
Não dá pra entender se ele defende a Al-Qaeda, antiamericano, e por que somos burros.
Mandou mal, Malino.
Já o leitor Anderson [ andersonsorato at hotmail.com] tem uma interessante maneira de entender a História do seu País.
Livros? Pesquisa? Bibliotecas?
Tá, estou sendo irônico. Uma vítima do nosso falido ensino básico.
Aliás, vizinhos dos campos de concentração na Alemanha diziam a mesma coisa, se é que entendi o que ele quis dizer: Perguntei
a minha mãe e ao meu pai, como era a vida deles na ditadura, ambos me
responderam – Normal, saia e fazia o q queria, como é hoje em dia. Ai me
questionei, a mídia (TV/JORNAL etc) reclama da ditadura, pessoas comuns
não, a não ser quando inclusas na massa de manobra dos midiáticos e se
transformam em zumbi-papagaios, o fato é que pessoas morrem na sua rua e
isso náo se torna uma noticia, mas se afeta aos sera midiáticos ou se
querem transformar tudo num circo onde eles regem o publico, isso sera
falado no mínimo uma semana, a ditadura foi como é a politica hoje em
dia, palhaços, corruptos e seus respectivos, s´´o que naquela epoca a
imprensa nao podia falar, porque a ditadura nao deixava, e acho que se
for para falar com o proprio ego e tentar impor a sua propria verdade,
eles deviriam continuar calados, por que o que mais tem no brasil, é
alguem esperando a opiniao pronta, pronto pra seguir e defender até o
fim.
Na verdade, a grande maioria dos leitores é a favor da Comissão da Verdade. Ufa…
Sua instalação ontem emocionou.
Juntou ex-presidentes concorrentes, opositores, de linhas ideológicas contrárias.
Todos. Descendo a rampa juntos. Aplaudidos.
Nunca se viu isso antes na História do País.
Sinal de que a sociedade democrática amadureceu, quer e apoia o debate.
E mostra a importância da Comissão.
Voltando aos comentários, repare que 4 ou 5 leitores apenas que incendiavam o debate, como numa operação armada.
Como MB011 acima e Marilene [ marilenemcs at yahoo.com.br]: O
Srº Marcelo Rubens Paiva trata-se de mais um manipulador de pessoas
desinformadas, que fazem parte desta grande massa de manobra existente
no Brasil. Com certeza morreram inocentes neste período da ditadura…mas,
a grande maioria, eram pessoas que empunharam armas e partiram para
cima dos militares das Forças Armadas, para implantar este comunismo
idiota existente em Cuba até os dias atuais!! Agora eles são
inocentes??? Coitados??? Vítimas???? Aposto que o senhor está atrás
também de um auxílio do governo para engordar a sua renda…
E Klaatu [ argos.panoptes.olhos at gmail.com], que, depois de postar uma atrás da outra, chamou um leitor para brigar na rua, sair na mão.
Começou escrevendo: Somando tudo, torturadores, torturados,
comunistas, esquerdistas, direitistas, políticos, militares,
jornalistas, o que temos: nada, o povo nunca esteve nem ai com isso, os
trabalhadores de verdade nunca estiveram nem ai com isso, então os que
hoje querem justiça eram os bandidos de ontem e os justiceiros de ontem
são os bandidos de hoje. Parem com isso e vão ser honestos e
trabalhadores e verão u mundo de forma diferente.
Tentei lembrar ao Klaatu que quem mais sofreu na ditadura foram os
trabalhadores, que tiveram seus sindicatos, associações e ligas
camponesas fechada.
Muitos foram torturados e mortos, como Manuel Fiel Filho. Francisco
Julião, da Liga Camponesa, foi arrastado por um jeep em Pernambuco.
Mas o que este cara leu ou entende?
O negócio para ele é: sob um regime de terror, sejamos honestos e trabalhadores que tudo se resolve.
Usando 1 clichê, faço das palavras do leitor Marcos Virgílio da Silva [ mvirgilios at yahoo.com], que nem conheço, as minhas:
É impressionante, eu leio os comentários de certos leitores e
tenho a impressão de que estou em 1963… Engraçado que tanta gente que
diz que “o comunismo acabou”, ou que é uma ideologia ultrapassada, etc, é
quem mais se empenha em desqualificar os defensores da Comissão da
Verdade, chamando-os de “comunistas”, “petralhas”, etc.
Difícil é tentar explicar para trogloditas deste tipo que quem se
opunha ao regime militar não eram apenas “comunistas”, e muitos dos que
foram mortos pelo regime também não eram da luta armada. Havia grupos
que queriam implantar o comunismo no Brasil? Sim, certamente, mas eles
nunca foram maioria na população. E todos os estudos mais atuais a
respeito desses movimentos (sim, há pessoas que estudam isso seriamente,
em lugar de ficar papagaiando o que Vejas e afins ensinam) mostram que o
que precipitou a luta armada foi o Golpe de 64, não o contrário. A
democracia foi PELOS MILITARES.
Tem ainda quem ache que os militantes devem ser punidos pelos
“crimes” que cometeram. Tirando o fato de que boa parte deles JÁ PAGOU
(com exílio, com prisão, quando não com a vida), acho que o que deveriam
todos desejar é que houvesse JULGAMENTO, com direito de defesa. Não
execuções sumárias, como as que o regime militar promoveu.
Leio o artigo do grande PAULO MOREIRA LEITE, meu vizinho e militante das antigas, na ÉPOCA, e sinto alívio ao ver que existe bom senso entre colegas.
Aqui vão alguns trechos, sobre “as responsabilidades dos dois lados”.
Em negrito:
Criou-se a Comissão da Verdade com uma finalidade específica,
que é examinar os crimes da ditadura, porque esta foi a lacuna deixada
pela história. Estamos falando de crimes cometidos por representantes
do Estado, em nome dele, e não por qualquer pessoa. E queremos a verdade
– não uma guerra de versões nem uma história declaratória. Ou será que
vamos julgar o “lado bom” e o “lado ruim” da da ditadura, ou lado “bom” e
o lado “ruim” de quem lhe fazia oposição?
Ninguém percebeu que toda ditadura é, por definição, um regime de “um lado só”?
Os atos – violentos ou não, legítimos ou não — cometidos
pelos adversários do regime militar foram apurados, avaliados e punidos
em seu devido tempo, como demonstram as 7.367 denuncias apresentadas à
Justiça Militar entre 1964 e 1979.
No esforço para punir brasileiros que não aceitavam
submeter-se a um regime de força, criado a partir de um golpe que
derrubou um governo constitucional, o Estado brasileiro cometeu crimes
inaceitáveis e vergonhosos. Executou pessoas indefesas, não informou seu
paradeiro às famílias nem deu esclarecimentos fidedignos sobre os
acontecimentos envolvidos em suas mortes. São estes fatos que a Comissão
deve apurar.
O esforço para olhar os “dois lados” do período só faria
sentido se naquele período estivéssemos diante de um Poder legítimo, que
teria cometido excessos e abusos em nome de seu direito de exercer a
violência para garantir o respeito à lei e à ordem.
A maioria dos atos de violência cometidos pelos adversários
do regime foram julgados e esclarecidos, com emprego de tortura e
violência nos interrogatórios, inclusive contra menores, às vezes na
presença de crianças. Quando isso não ocorreu, é porque os acusados não
tiveram direito de defesa. Foram executados de modo sumário e covarde em
vez de serem levados aos tribunais. Eliminá-los tinha prioridade sobre
garantir o respeito à Lei – mesmo a lei do regime militar.
Isso aconteceu porque, entre 1964 e 1985 o Brasil foi
governado por um regime que usurpou o Estado brasileiro ao impedir que a
população escolhesse seus governantes por métodos democráticos.
A longa noite da ditadura foi uma sucessão de atos anti
democráticos e ilegais, que tiveram início com um golpe de Estado e
prosseguiram em medidas autoritárias contra a Justiça e os direitos do
cidadão.
Por isso seus atos não podem ser nivelados à resistência de
quem teve disposição e capacidade de sacrifício para enfrentar um regime
de força. Fazer isso implica em embelezar a ditadura, dar-lhe uma
estatura moral que ela não possuía e nunca pretendeu possuir, pois
governava essencialmente a partir da força bruta.
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