quinta-feira, 17 de maio de 2012

2 lados


De Marcelo Rubens Paiva (Estadão)

Imagine no Tribunal de Nuremberg a cena: Líderes e participantes da Resistência Francesa como réus ao lado de nazistas, oficialato da SS e chefes de campos de concentração, já que “os crimes” dos 2 lados devem ser julgados.

Ou se De Gaulle, depois de entrar em Paris libertando a França em 1944, tivesse de responder num tribunal numa cidadela da Alemanha por seus crimes de guerra.

Bom lembrar que a maioria dos membros da resistência francesa, espanhola, italiana e do Leste Europeu era de esquerda, como De Gaulle. Muitos vieram das fileiras do Partido Comunista.

Independentemente do ideal, lutavam, arriscavam a vida, na ilegalidade, com ações de terrorismo e sabotagem, para se livrar da tirania nazista.

Um guerrilheiro francês de boina, comunista de carteirinha, deve ser julgado pela morte de um soldado nazista?

É o mesmo paralelo entre DILMA e seu torturador.

Mesmo, não, parecido. A presidente [ou presidenta, como preferem alguns] não matou ninguém

E sofreu um tipo de tortura que poucos soldados nazistas conheciam.

A quantidade de desinformação que tempos nebulosos geraram é tão grande, que 1 dos papeis da COMISSÃO DA VERDADE é justamente o de educar, debater, trazer à luz, informar.
Sou suspeito. Assumo.

Mas basta ler alguns leitores comentando o post anterior, para confirmar o quão confusa, desinformada e tola é a discussão em torno do dever de punir torturadores.

Se para a maioria dos juristas e órgãos internacionais [como OEA, ONU, Tribunal de Haia] há uma unanimidade- tortura é um crime imprescritível, e o Brasil deve rever e julgar seu passado- o debate aqui se atola na ignorância e arrogância ideológica.

Júlio [ julio_zammer at yahoo.com.br] postou: O você faria se descobrisse que foi a Presidente da República que assassinou seu pai?

Se ele fosse chefe da tortura do DOI/Codi, ditador, líder nazista ou fascista? Não sei. Posso pular?
MB011 [ vorcaos at gmail.com]: Em tempo: NAZISMO = Nacional SOCIALISMO. Nazismo é ideologia de ESQUERDA, durmam com essa. Coloca esses aí na conta junto com os mais de 100 milhões de cadáveres espalhados pelo mundo. Essa é a “verdade” da esquerda. Tão assassinos e psicóticos quanto os nazistas. Salve os militares que nos salvaram dessa desgraça. Esquerda = escória do mundo!

Sem comentários. Só faltou escrever: ALN, Ação Libertadora Nacional; ARENA, Aliança da Renovação Nacional. Tudo faria do mesmo saco, comunistas safados.

Alex Malino: Essa Dilma é mesmo uma bandida, inventando isso agora pra desviar mais uma vez a atenção do povo para o ESCANDALO DO CARLOS CACHOEIRA, Q dito de passagem há muito o que explicar, e muitos políticos aliados a ela envolvido. TOMA VERGONHA POVO BRASILEIRO, PARA DE APANHAR KARAI….Q PORRA! Esquece essa ditadura já foi e passou, já era, vá brigar com os AMERICANOS, eles q financiaram essa merda de ditadura…. o povo burro esse brasileiro viu….acorda brasiiiiilllll

Interessante o email dele,  vprpalmares at hotmail.com. Corruptela da organização em que Dilma tinha 1 papel secundário, a VAR-Palmares, junção da VPR com Colina, que não funcionou.
Rachou meses depois.

Não dá pra entender se ele defende a Al-Qaeda, antiamericano, e por que somos burros.
Mandou mal, Malino.

Já o leitor Anderson [ andersonsorato at hotmail.com] tem uma interessante maneira de entender a História do seu País.

Livros? Pesquisa? Bibliotecas?

Tá, estou sendo irônico. Uma vítima do nosso falido ensino básico.

Aliás, vizinhos dos campos de concentração na Alemanha diziam a mesma coisa, se é que entendi o que ele quis dizer: Perguntei a minha mãe e ao meu pai, como era a vida deles na ditadura, ambos me responderam – Normal, saia e fazia o q queria, como é hoje em dia. Ai me questionei, a mídia (TV/JORNAL etc) reclama da ditadura, pessoas comuns não, a não ser quando inclusas na massa de manobra dos midiáticos e se transformam em zumbi-papagaios, o fato é que pessoas morrem na sua rua e isso náo se torna uma noticia, mas se afeta aos sera midiáticos ou se querem transformar tudo num circo onde eles regem o publico, isso sera falado no mínimo uma semana, a ditadura foi como é a politica hoje em dia, palhaços, corruptos e seus respectivos, s´´o que naquela epoca a imprensa nao podia falar, porque a ditadura nao deixava, e acho que se for para falar com o proprio ego e tentar impor a sua propria verdade, eles deviriam continuar calados, por que o que mais tem no brasil, é alguem esperando a opiniao pronta, pronto pra seguir e defender até o fim.

Na verdade, a grande maioria dos leitores é a favor da Comissão da Verdade. Ufa…

Sua instalação ontem emocionou.

Juntou ex-presidentes concorrentes, opositores, de linhas ideológicas contrárias.

Todos. Descendo a rampa juntos. Aplaudidos.

Nunca se viu isso antes na História do País.

Sinal de que a sociedade democrática amadureceu, quer e apoia o debate.

E mostra a importância da Comissão.

Voltando aos comentários, repare que 4 ou 5 leitores apenas que incendiavam o debate, como numa operação armada.

Como MB011 acima e Marilene [ marilenemcs at yahoo.com.br]: O Srº Marcelo Rubens Paiva trata-se de mais um manipulador de pessoas desinformadas, que fazem parte desta grande massa de manobra existente no Brasil. Com certeza morreram inocentes neste período da ditadura…mas, a grande maioria, eram pessoas que empunharam armas e partiram para cima dos militares das Forças Armadas, para implantar este comunismo idiota existente em Cuba até os dias atuais!! Agora eles são inocentes??? Coitados??? Vítimas???? Aposto que o senhor está atrás também de um auxílio do governo para engordar a sua renda…

E Klaatu [ argos.panoptes.olhos at gmail.com], que, depois de postar uma atrás da outra, chamou um leitor para brigar na rua, sair na mão.

Começou escrevendo: Somando tudo, torturadores, torturados, comunistas, esquerdistas, direitistas, políticos, militares, jornalistas, o que temos: nada, o povo nunca esteve nem ai com isso, os trabalhadores de verdade nunca estiveram nem ai com isso, então os que hoje querem justiça eram os bandidos de ontem e os justiceiros de ontem são os bandidos de hoje. Parem com isso e vão ser honestos e trabalhadores e verão u mundo de forma diferente.

Tentei lembrar ao Klaatu que quem mais sofreu na ditadura foram os trabalhadores, que tiveram seus sindicatos, associações e ligas camponesas fechada.

Muitos foram torturados e mortos, como Manuel Fiel Filho. Francisco Julião, da Liga Camponesa, foi arrastado por um jeep em Pernambuco.

Mas o que este cara leu ou entende?

O negócio para ele é: sob um regime de terror, sejamos honestos e trabalhadores que tudo se resolve.
Usando 1 clichê, faço das palavras do leitor  Marcos Virgílio da Silva [ mvirgilios at yahoo.com], que nem conheço, as minhas:

É impressionante, eu leio os comentários de certos leitores e tenho a impressão de que estou em 1963… Engraçado que tanta gente que diz que “o comunismo acabou”, ou que é uma ideologia ultrapassada, etc, é quem mais se empenha em desqualificar os defensores da Comissão da Verdade, chamando-os de “comunistas”, “petralhas”, etc.

Difícil é tentar explicar para trogloditas deste tipo que quem se opunha ao regime militar não eram apenas “comunistas”, e muitos dos que foram mortos pelo regime também não eram da luta armada. Havia grupos que queriam implantar o comunismo no Brasil? Sim, certamente, mas eles nunca foram maioria na população. E todos os estudos mais atuais a respeito desses movimentos (sim, há pessoas que estudam isso seriamente, em lugar de ficar papagaiando o que Vejas e afins ensinam) mostram que o que precipitou a luta armada foi o Golpe de 64, não o contrário. A democracia foi PELOS MILITARES.

Tem ainda quem ache que os militantes devem ser punidos pelos “crimes” que cometeram. Tirando o fato de que boa parte deles JÁ PAGOU (com exílio, com prisão, quando não com a vida), acho que o que deveriam todos desejar é que houvesse JULGAMENTO, com direito de defesa. Não execuções sumárias, como as que o regime militar promoveu.

Leio o artigo do grande PAULO MOREIRA LEITE, meu vizinho e militante das antigas, na ÉPOCA, e sinto alívio ao ver que existe bom senso entre colegas.

Aqui vão alguns trechos, sobre “as responsabilidades dos dois lados”.

Em negrito:

Criou-se a Comissão da Verdade com uma finalidade específica, que é examinar os crimes da ditadura,  porque esta foi a lacuna deixada pela história. Estamos falando de crimes cometidos por representantes do Estado, em nome dele, e não por qualquer pessoa. E queremos a verdade – não uma guerra de versões nem uma história declaratória. Ou será que vamos julgar o “lado bom” e o “lado ruim” da da ditadura, ou lado “bom” e o lado “ruim” de quem lhe fazia oposição?

Ninguém percebeu que toda ditadura é, por definição, um regime de “um lado só”?

Os atos – violentos ou não, legítimos ou não — cometidos pelos adversários do regime militar foram apurados, avaliados e punidos em seu devido tempo, como demonstram as  7.367 denuncias apresentadas à Justiça Militar entre 1964 e 1979.

No esforço para punir brasileiros que não aceitavam submeter-se a um regime de força, criado a partir de um golpe que derrubou um governo constitucional, o Estado brasileiro cometeu crimes inaceitáveis e vergonhosos. Executou pessoas indefesas, não informou seu paradeiro às famílias nem deu esclarecimentos fidedignos sobre os acontecimentos envolvidos em suas mortes. São estes fatos que a Comissão deve apurar.

O esforço para olhar os “dois lados” do período só faria sentido se naquele período estivéssemos diante de um Poder legítimo, que teria cometido excessos e abusos em nome de seu direito de exercer a violência para garantir o respeito à lei e à ordem.

A maioria dos atos de violência cometidos pelos adversários do regime foram julgados e esclarecidos, com emprego de tortura e violência nos interrogatórios, inclusive contra menores, às vezes na presença de crianças. Quando isso não ocorreu, é porque os acusados não tiveram direito de defesa. Foram executados de modo sumário e covarde em vez de serem levados aos tribunais. Eliminá-los tinha prioridade sobre garantir o respeito à Lei – mesmo a lei do regime militar.

Isso aconteceu porque, entre 1964 e 1985 o Brasil foi governado por um regime que usurpou o Estado brasileiro ao impedir que a população escolhesse seus governantes por métodos democráticos.

A longa noite da ditadura foi uma sucessão de atos anti democráticos e ilegais, que tiveram início com um golpe de Estado e prosseguiram em medidas autoritárias contra a Justiça e os direitos do cidadão.

Por isso seus atos não podem ser nivelados à resistência de quem teve disposição e capacidade de sacrifício para enfrentar um regime de força. Fazer isso implica em embelezar a ditadura, dar-lhe uma estatura moral que ela não possuía e nunca pretendeu possuir, pois governava essencialmente a partir da força bruta.

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