Assassinato não aconteceu, mas Cláudio Antônio Guerra revela que se disfarçou de padre durante ação contra ex-líder de esquerda
Por: Tales Faria e Wilson Lima, colaborou Adriano Ceolin, iG Brasília
03/05/2012
O ex-delegado do DOPS (Departamento de
Ordem Político Social) do Espírito Santo, Cláudio Antônio Guerra, revela
no livro “Memórias de uma Guerra Suja” que se disfarçou de padre para
tentar assassinar Leonel Brizola, fundador do PDT e um dos líderes da
resistência contra a ditadura militar. O disfarce era uma estratégia
para responsabilizar a Igreja Católica pelo atentado.
Segundo Guerra, a operação foi comandada
pelo coronel de Exército Freddie Perdigão (Serviço Nacional de
Informações – SNI) e pelo comandante Antônio Vieira (Centro de
Informações da Marinha – Cenimar). “Os militares também andavam muito
aborrecidos com a Igreja Católica, que estava se alinhando à esquerda,
pela abertura política”, afirma Guerra. Perdigão e Vieira também estavam
à frente do atentado ao Riocentro.
Guerra levava também uma pasta com um
revólver calibre 45. A arma era a preferida dos cubanos. A intenção
também era ligar o governo de Fidel Castro ao assassinato. “Eu me lembro
do boato de que Fidel Castro estava aborrecido por Brizola ter ficado
com o dinheiro enviado por Cuba para financiar a guerrilha do Caparaó (o
primeiro movimento de luta armada contra a ditadura militar). Os
militares estimulavam esses boatos nos quartéis e entre nós”, revela
Guerra. “Com o retorno de Brizola, os comentários sobre o dinheiro de
Fidel apareciam aqui e ali”.
“O objetivo (do atentado) era implicar a
Igreja Católica – resolveríamos dois problemas de uma vez só – e
envolver os cubanos, insatisfeitos com a suspeita de desvio de verba
para a guerrilha do Caparaó; daí a arma calibre 45”, aponta. “O
objetivo, como sempre, era tumultuar o processo de redemocratização do
Brasil”, reafirma o ex-delegado em depoimento ao jornalistas Rogério
Medeiros e Marcelo Netto no livro que acaba de ser publicado pela
editora Topbooks.
A tentativa de assassinato ocorreu quando
Brizola morava em Copacabana, no Rio de Janeiro. A data é incerta.
Guerra conta que foi entre “a chegada dele do exílio, em 1979 e antes da
demissão do chefe da Casa Civil, Golbery do Couto e Silva” em 1981. O
ex-delegado afirma no livro que se hospedou no Hotel Apa, na rua
República do Peru. O hotel existe até hoje. Ele se registrou com
identidade e CPF falsos, concedidos pela Secretaria de Segurança Pública
do Rio de Janeiro na época. “Quando precisava incorporar um personagem
para realizar uma missão, eles forneciam tudo: CPF, identidade, tudo”,
relata.
O ex-delegado revela no livro “Memórias de
uma Guerra Suja” foi até a porta do prédio onde Brizola montado na
garupa de uma moto conduzida pelo tenente Molina, um militar do Cenimar.
Normalmente o líder de esquerda saía de casa “um pouco antes do
meio-dia”, pelas informações do SNI repassadas ao ex-delegado do DOPS.
Naquele dia, Brizola não desceu e o atentado foi abortado. “Havia o
interesse da comunidade de informações em eliminar Brizola, só que
depois houve um retrocesso, uma mudança”, afirma Guerra.
Brizola sofreu uma tentativa de
assassinato no Hotel Everest, no Rio de Janeiro, em 18 de janeiro de
1980, quatro meses depois de chegar do exílio. Uma bomba foi deixada na
porta do apartamento do líder de esquerda mas desativada em seguida.
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