quarta-feira, 28 de março de 2012

HOMENAGEM - Adeus à Ademilde Fonseca a eterna e única “Rainha do Chorinho” – Por Humberto Oliveira


Outro dia estava ouvindo um CD de Ademilde Fonseca, cujas interpretações impecáveis sempre me deslumbraram. A rapidez, o ritmo e o fraseado davam conta de interpretações primorosas de choros antológicos de autores como Pixinguinha, Waldir Azevedo e Altamiro Carrilho, apenas para citar algumas feras.
Denominada “Rainha do Chorinho”, por Benedito Lacerda, músico, compositor e parceiro de Herivelto Martins, Mário Lago, entre outros, Ademilde imprimiu ao choro cantado personalidade única e inimitável. Se duvidarem, basta ouvir sua interpretação de Brasileirinho, Tico-Tico no fubá, Urubu malandro, Odeon e tantos outros sucessos de sua carreira, que infelizmente chegou ao ponto final aos 91 anos.
Ademilde morreu de infarto fulminante na noite desta terça-feira, 27 de março, no Rio de Janeiro, a cantora foi uma das mais expressivas e originais intérpretes da música popular brasileira, que fica mais pobre com esta perda irreparável, pois ela não deixa herdeiras do seu talento único. Assim como houve apenas um “Cantor das multidões”, Orlando Silva; um “Rei da Voz”, Chico Alves; uma “Pequena Notável”, Carmen Miranda; sempre haverá apenas uma “Rainha do Chorinho”, Ademilde Fonseca.
Nascida na localidade de Pirituba, no Rio Grande do Norte, a cantadora iniciou a carreira na década de 1940 e continuava normalmente suas atividades. O último show foi realizado em Porto Alegre. Ademilde deixa uma filha, a também cantora Eymar Fonseca, três netas e quatro bisnetos.
Ainda na adolescência, começou a se interessar pelas serestas e travou conhecimento com músicos locais. Em 1942, se apresentou no programa Papel Carbono, de Renato Murce. No mesmo ano, acompanhada pelo regional de Benedito Lacerda interpretou durante uma festa o choro "Tico-Tico no Fubá", de Zequinha de Abreu, com letra de Eurico Barreiros. O flautista gostou tanto de sua interpretação que tomou a iniciativa de levá-la aos estúdios da gravadora Columbia, na época dirigida pelo compositor João de Barro (Braguinha).
Sua estreia em disco aconteceu em agosto de 1942, num 78 rpm que trazia o choro "Tico-Tico no Fubá" e o samba "Voltei pro morro", de Benedito Lacerda e Darci de Oliveira. Foi a primeira vez que o choro de Zequinha de Abreu composto em 1917 era gravado com a letra escrita por Eurico Barreiros após a morte do compositor.
A partir de 1954, na Rádio Nacional, passou a apresentar-se com os regionais de Canhoto, Jacob do Bandolim e Pixinguinha e também com as orquestras de Radamés Gnattali e do maestro Chiquinho. Em 1957, ficou em terceiro lugar no concurso para a escolha da "Rainha e Rei do Rádio" com 100.445 votos. Em 1958, gravou o LP "À la Miranda", no qual interpretou músicas que foram sucessos na voz da "Pequena Notável", como "Camisa listada", "Uva de caminhão" e "Recenseamento", todas de Assis Valente.
Na década de 1970, apresentou-se em shows no Teatro Opinião no Rio de Janeiro e lançou um LP pela gravadora Top Tape, em 1975. Neste disco destaca-se a faixa "Títulos de Nobreza", que tem também o nome de "Ademilde no Choro". Trata-se de um presente para a cantora da dupla de compositores João Bosco e Aldir Blanc. A letra se refere a diversos títulos de choros, muitos deles gravados anteriormente por ela.
Foi homenageada pela Escola de Samba Imperatriz Alecrinense, em Natal, RN, que desfilou, no Carnaval de 2007, tendo como tema a sua história - ``Saudação da Imperatriz a uma Rainha (Ademilde Fonseca )".

Cantora de importância fundamental na música popular brasileira, e particularmente para o desenvolvimento do choro. Até o seu surgimento, o choro não era para ser cantado e era considerado como um gênero exclusivo dos instrumentistas.
A grande Ademilde vai deixar saudades e merecia ser reverenciada pelo talento e contribuição à música popular brasileira, ao samba e principalmente ao choro. Com sua morte a nossa música perde mais um ícone. Enquanto isso a mídia propaga lixo e mais lixo, deixando de lado e relegando ao esquecimento artistas como Ademilde Fonseca, nossa eterna “Rainha do Choro”. 

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