quinta-feira, 20 de maio de 2010

O festival de besteiras que nos assola


Por: Claudia Carvalho

Normalmente, acho muito divertido assistir às sessões da Câmara Municipal de João Pessoa. As da Assembleia também me fazem rir. Mas, ultimamente, algumas discussões perderam a graça e se tornaram prova inequívoca da falta de instrução e noção de nossos representantes. Notadamente na Câmara, quando os vereadores querem falar sobre pacto com o diabo, fechar as escolas para deixar os alunos assistirem à Copa ou criar uma comissão para analisar as obras de arte da capital, não tem quem aguente!

O saudoso cronista Sérgio Porto, mais conhecido como Stanislaw Ponte Preta, criou o Febeapá: Festival de Besteiras que Assola o País. Nossos vereadores provavelmente nem sabem que Stanislaw existiu, mas recriam, a cada sessão, seu próprio festival de besteiras.

O que dizer do projeto de Eliza Virgínia instituindo a análise prévia dos parlamentares às obras de arte a serem colocadas na cidade? Que qualificação artística têm os parlamentares para dar pitaco sobre arte se nem um discurso sem erros crassos de português eles conseguem concatenar?

Esta semana, vi um sarcástico Hervázio Bezerra na tribuna defendendo Eliza porque o Fórum Permanente de Artes Visuais se insurgiu contra a sandice de parte da Câmara. O sorriso irônico do líder de oposição revelava tudo: não interessa a arte. O que está em jogo é encher os pacovás da Prefeitura de João Pessoa e jogar sobre Ricardo Coutinho a pecha de anticristão que se ele tem, jamais vai querer assumir. Para os vereadores da capital, quem não for cristão é simpatizante do diabo. Ora, bolas! O direito à fé é assegurado. A não tê-la, também. E, de maneira lógica, quem não acredita em Deus, igualmente não acredita no capiroto.

Da discussão sobre arte, surgiu mais uma ideia brilhante: o vereador Mangueira desceu a ladeira do Rangel disposto a revolucionar os conceitos dos pessoenses. Ele, que quer construir um Cristo gigante na entrada do bairro homônimo (que revolução será!), propôs que as escolas estaduais e municipais fechem as portas nos dias dos jogos da Seleção Brasileira. Num país onde a educação pública capenga, os alunos fingem que aprendem, os professores fazem de conta que ensinam, o vereador se preocupa em fazer o sistema funcionar ainda menos.

Mas, infelizmente tem mais. Tem o show de oratória e argumentação do suplente João Almeida. Ao que parece, a licença de Fernando Milanez foi providencial porque o titular do mandato preferiu não se prestar ao papel que João topou encenar. Todo dia, por qualquer motivo, é pau na prefeitura e no ex-prefeito Ricardo Coutinho. Até aí, tudo bem. Há formas e formas de cumprir uma missão. A mais adequada é com informação e desenvoltura. Não é à toa que Hervázio lidera o bloco. Ele sustenta no gogó, sozinho ou acompanhado, sem berrar, o contraponto à administração municipal com a convicção que falta ao suplente peemedebista. O próprio João fala como se não acreditasse numa palavra do que diz e se esforça para parecer crível aos olhos de quem lhe orientou e aos de quem o assiste nas galerias ou na Tv Câmara.

Nesta quinta-feira, mais um suplente desembarcou na Câmara. É Valdir Dowsley, o Dinho, que tentou dizer que seu retorno à Casa de Napoleão Laureano havia sido uma articulação natural do partido, mas com a presença do indomável Aníbal Marcolino em sua posse, o esforço foi vão. O médico e ex-vereador deixou claro que o governador José Maranhão (PMDB) articulou a saída de Sérgio da SAC para reparar o desprestígio de Dinho junto ao bloco do ex-prefeito Ricardo Coutinho. Não se sabe ainda o tom que Dinho vai adotar, mas, não será surpresa se ele se juntar a João Almeida no tiroteio matutino, o que, ao menos, nos livra das derivações infinitas e incompreensíveis do titular, Sérgio da SAC.

De morte!

Por falar em grandes besteiras, será que ninguém viu a faixa bolada pela Prefeitura de João Pessoa para incentivar os idosos a tomar a vacina contra a gripe H1N1? Está lá na entrada do Extra, na avenida Epitácio Pessoa, o rostinho sorridente da saudosa Creusa Pires. Eu sei que Dona Creusa era sinônimo de vitalidade e alegria, mas, isso em vida. Infelizmente, ela morreu. Tenham santa paciência! Que mente brilhante foi essa que não imaginou ser inadequado recorrer a uma pessoa morta para levar os velhinhos a se imunizarem contra um mal que poderia levá-los dessa para uma melhor? Só aqui mesmo para recorrerem a uma morta para destacar a necessidade de qualidade de vida.

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