sexta-feira, 21 de maio de 2010

Paraíba Sem Vergonha


Por Eduardo Varandas

"Os pactos, sem a força, não passam de palavras sem substância para dar qualquer segurança a ninguém."

(Thomas Hobbes)

As pessoas devem ter acompanhado, muito recentemente, o caso de nomeação de servidores fantasmas por um dos senadores da República, representantes do nosso Estado. Mais uma vez a Paraíba faz vergonha aos paraibanos e aos brasileiros que ainda acreditam em princípios como a probidade e a legalidade.

Nem Monteiro Lobato, nas “Reinações de Narizinho”, ousou imaginar que a terra do “faz-de-conta” existisse na vida real. Ei-la cá: o “nosso sublime torrão”! Faz de conta que os nossos políticos são honestos; faz de conta que a Justiça funciona sem morosidade e com eficiência; faz de conta que o poder executivo se preocupa com as crianças em situação de rua; faz de conta que não há caixa dois, licitações fraudulentas, exploração de prestígio, tráfico de influência, nepotismo e todo sortilégio de mau-caratismo, crimes do colarinho branco e desprezo à coisa pública e aos interesses da população.

O jornalista Roberto Cabrini veio aqui nestes dias para investigar a situação de crianças sexualmente exploradas. Coletou imagens de todas as ordens que exibirá em rede nacional na próxima segunda-feira.

Para quem não conhece (o que eu duvido), Cabrini é um dos mais destemidos e competentes repórteres investigativos do Brasil. Foi ele o responsável por vários furos de reportagem na impressa nacional, sendo o mais espetacular deles, quando descobriu o paradeiro de PC Farias, procurado algures e alhures pela Polícia Federal e pela Interpol, o qual estava refugiado em Londres.

Cabrini vai mostrar a cara da Paraíba: um Estado adultocêntrico, machista, escravocrata, falho e desestruturado, cujo poder público mantém o laço histórico com a omissão criminosa, no que diz respeito à ausência de proteção à criança e ao adolescente na Paraíba.

Aliás, nada que as televisões locais, nomeadamente a TV Correio, não tenham mostrado com exaustão e competência, em especial destaque à reportagem que foi ao ar no Correio Espetacular no domingo passado (16 de maio), sob a competente batuta de José Valdez, Diovanne e Wendell Rodrigues.

Penso que, desde a fundação da Capitania Real da Paraíba, quando os senhores de engenhos estupravam as negrinhas de 12 anos, nas senzalas, nada mudou até hoje, pois, na orla de Manaíra, às barbas da Secretaria de Segurança Pública do Estado e da elite que mora naquele bairro, encontram-se meninas de 14 a 16 anos vendendo seus corpos a indivíduos mais abastados da sociedade.

A Secretaria de Desenvolvimento Humano do Estado da Paraíba organizou, no dia 18 de maio próximo passado (dia nacional de enfrentamento à exploração sexual infantil), um excelente debate sobre o tema para uma plateia recheada de psicólogos e assistentes sociais. Foi um dos melhores eventos do qual participei e estou certo de que gerará alguns frutos. Contudo, isto é muito pouco diante da epidemia de destruição sexual que assola a vida das crianças e adolescentes.

Numa cidade do interior do Estado, saibam amados leitores, existem fábricas caseiras de travestis que começam a injetar silicone industrial nos seios aos doze anos de idade e, muitos, após a maioridade, são exportados para a Itália.

Onde está a Secretaria de Segurança Pública? Cadê as prioridades efetivas do governo do Estado, além das metas escritas nos textos pragmáticos do programa estadual de erradicação da exploração sexual infantil?

Não existe, repito mil vezes, nenhum plano estratégico de efetiva proteção à criança e ao adolescente encontrado em situação de exploração sexual, seja a nível federal, estadual ou municipal.

Enquanto isso, nossas crianças e adolescentes amargam os males do sexo precoce e bandido: Vidas ceifadas! Crime contra a humanidade!

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